Tonight's gonna be escrita por Kaline Bogard


Capítulo 3
... a Good Night


Notas iniciais do capítulo

Acabou aqui!

O desafio tem limites. Mas eu gostei do tema. Talvez arrisque uma longfic! Deixei um gancho pra isso...

Boa leitura! E perdoe os erros: não foi betada!



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Assim que saíram da boate ganharam o ar frio da noite. Em frente ao local ainda havia uma fila de pessoas que queria entrar, a animação era alta. Dali foram direto para onde estava estacionado o carro de Shino, uma rua lateral praticamente deserta àquela hora.

— Eu veio num desses — Kiba gesticulo amplo, indicando algo grande — Num desses mais maior. Muitos vocês dentro.

— Um ônibus? — Shino indagou abrindo a porta.

— Acho que sim. Ônibus.

Com o garoto bem acomodado, Shino foi sentar-se ao volante e dar a partida. Não podia acreditar na insanidade do que estava vivendo. Até pensar em "tritão" lhe dava uma sensação engraçada.

Olhou de canto para o desconhecido, que admirava a rua silenciosa na madrugada de sexta-feira. Não demonstrava um pingo de medo ou preocupação por estar viajando com um adulto a que nunca viu na vida antes.

— Você não pode ter confiança assim — teve que fazer o alerta — Não deve entrar no carro de pessoas, nem todas são boas.

Kiba virou-se para ele e sorriu.

— Eu sabe disso. Você tem cheiro gentil, não me preocupa. E eu sou muito forte.

Para provar o que dizia pegou uma das moedas que Shino deixava no porta-moedas, segurou com cuidado entre o indicador e o polegar, que forçou um pouquinho, dobrando o metal praticamente sem esforço. Jogou a moeda torta de volta onde estava.

Shino balançou a cabeça. O que viu era algo que só com a força humana não aconteceria.

Nunca acreditou em fábulas. Mas era inteligente, racional e pouco dado a dramas. Tinha fatos sobrenaturais envolvendo Kiba, e contra fatos não há argumentos.

Deu algumas voltas em silêncio até encontrar um restaurante aberto aquela hora. Teve medo de não ter sucesso e precisar recorrer à uma konbini. Por sorte lembrou-se que ali perto havia um distrito industrial com fábricas que trabalhavam vinte e quatro horas. E foi justamente onde encontrou um restaurante.

— Que cheiro bom! — Kiba farejou o ar ao mesmo tempo em que passava as costas da mão pelo queixo, para limpar um fiozinho de saliva que escorreu. Estava faminto.

— Sente-se ali. Vou pedir alguma coisa — Shino orientou tão logo entraram no local vazio de clientes.

— Quero carne! — o outro exigiu enquanto se acomodava.

Shino ergueu as sobrancelhas e não retrucou. Estava pagando o jantar de uma sereia. Tal criatura exigir carne era até… Aceitável.

Em pouco tempo ia ter com Kiba, acomodando se na cadeira a frente dele.

— Então você é um tritão. E veio pra cá de ônibus…?

— Cadê a carne? — Kiba deixou claro quais eram as prioridades.

— Eles vão preparar. Logo estará pronto.

— Ah — soou meio decepcionado — Sim. Eu montou plano por estações. Quando conseguiu tudo: roupas e esquema eu veio investigar a terra. Seguiu o grupo na praia, eu sou o rei do disfarce! Daí desceu de ônibus e seguiu grupo de novo e assim eu foi parar lá.

História fantástica. Mas não tanto quanto o fato de ser contada por uma sereia.

— Faz tempo que você está perdido na terra?

O garoto levou dedo até o queixo e bateu de leve algumas vezes, pensativo.

— Uns três sóis. Muita coisa pra ver, tudo divertido! Mais eu quero voltar pra casa porque mamãe vai matar eu…

Três sóis. Pela lógica Shino deduziu que devia significar "três dias".

— Você saiu sem permissão?

— Saiu! Meu Clã mora nos abismos, junto com os grandes Reis. A gente migrou por causa dos humanos, mais já migrava normal todo inverno. Não pode sair do território, por causa de outros clãs e predadores. Nômades sai pra água quente seguindo o verão, na agua fria o corpo fica sem energia.

Nesse momento um funcionário veio trazer a refeição. Shino pediu um combo de arroz, gyoza de carne e ensopado. Uma combinação tão bonita e de cheiro tão agradável que fez os olhos selvagens brilharem.

O funcionário afastou-se com uma breve reverência, que Kiba nem viu. O garoto já atacava os gyoza, agarrando dois com a mão e levando a boca para mastigar com fúria. A outra mão encheu-se com o arroz branco e seguiu o mesmo caminho. Sequer dispensou um olhar ao par de hashi descartável.

Shino observou, um tanto chocado. Então lembrou que o outro estava a um tempo sem comer. Além do fato de não ser exatamente… humano.

— Bom — Kiba falou de boca cheia — Muito bom. Que fome!

Isso amoleceu de vez o coração de Shino, afastando qualquer julgamento.

— Seu Clã come o que? — perguntou curioso em saber mais.

— Peixe. Tritão come muito peixe e frutos do mar. E hu… hu… hum — um vermelhão subiu pelo pescoço de Kiba, a medida em que ele corava sem graça. Mostrando que ao menos o sangue tinha em comum com outras espécies.

Enfiou mais dois gyoza na boca e mastigou devagar dessa vez, ganhando tempo.

Shino não precisava ser um gênio para deduzir o óbvio na frase que o outro não concluiu.

— Vocês também se alimentam de humanos…

Kiba desviou os olhos, evitando contato visual.

— Ah, sim. Sim. Mais faz muito tempo que eu não mato vocês. Carne humana nem é tão boa assim, sabe? — mal disse isso e passou a língua pelos lábios, depois moveu a garganta, de um jeito que se fazia ao engolir saliva por ter "água na boca" diante de um prato saboroso — Quero mais disso!

Shino o viu apontar para a gyoza. Sentiu um arrepio incômodo não muito másculo.

— Claro — concordou depressa com a exigência.

—--

O jantar foi um sucesso. Kiba comeu duas porções de gyoza, duas de arroz branco e três do ensopado de carne. Esse último o conquistou por completo. O sabor da carne tenra foi devidamente degustada e apreciada.

— Leva eu pra casa agora? — Kiba indagou ao voltarem para o carro.

Shino respirou fundo. Precisaria dirigir por toda a madrugada para chegar a cidade costeira mais próxima.

— Tem algum ponto específico ou pode ser qualquer praia?

— Qualquer praia. Eu tem um ótimo senso de direção e volta pra casa fácil.

Shino concordou com um gesto de cabeça. Ligou o carro e se pôs a caminho.

— Você fala nosso idioma muito bem — apesar das frases com erros de conjugações verbais e outros pequenos desajustes, era compreensível.

— Caralho, Shino. Eu disse: eu preparou o disfarce. Estudou muito, observou. Tomou cuidado, claro. Pra não ser descoberto. Vocês mudam muito o idioma. Eu aprendeu falar, aí vocês mudam. Cem primaveras e eu ainda não aprendi tudo!

Shino quase deixou o carro morrer.

— Cem primaveras estudando? — repetiu incrédulo.

Aquilo era equivalente a cem anos.

— Eu devia ter começado muito antes. Mais eu demorou um pouco. Quando humanos caçaram Leviathan eu desanimou. Mataram um grande Rei tão gentil… vocês são perigosos. Daí eu deixou pra lá. Mais depois curiosidade voltou.

Leviathan.

Shino virou-se para o garoto sentado ao seu lado no carro popular. As lendas sobre esse monstro marinho se tornaram populares na idade média. Eram citados no livro dos católicos também, cerca de mais de dois mil anos atrás. Porém foi por volta do século XVI que os marinheiros alardearam grandes caçadas.

Kiba não podia ser assim tão velho.

Podia?

— Quantas primaveras você tem?

— Como assim? — Kiba não entendeu — Primaveras são da natureza. Ninguém pode ter.

— Eu perguntei para saber quando você nasceu.

— Eu nasceu quando eu nasceu, caralho. Não lembro do dia… Daí eu cresceu. Tritão nasce filhotinho.

Shino quase sorriu. Quase.

Era impossível esperar que pudesse conversar e compreender todos os aspectos sobrenaturais daquela situação. Só de estar acontecendo já era um milagre. Uma impossibilidade tornando-se realidade.

—--

Por toda a viagem Kiba contou sobre a família. Foi tão empolgado que Shino conseguiu fazer uma boa imagem de Tsume e Hana do Clã Inuzuka.

Também tentou contar sobre a viagem no ônibus, quando se infiltrou como um espião e passou despercebido por dois grupos de turistas! Nem os olhos atípicos ou as marcas chamaram a atenção. Talvez por ser padrão que a atual juventude... não tivesse padrões!

Recontou o susto na boate, quando a torneira "disparou". E como, apesar do susto por ser descoberto por Shino e do medo inicial, a calma do homem o alcançou. E o cheiro gentil que ele exalava sequer diminuiu, deixando Kiba mais confiante para interagir.

Contava suas corajosas investidas para descobrir os grandes Reis quando calou-se, subitamente em alerta.

— Minha casa! Chegamos!! — o tom eufórico tocou Shino. Ele sentia os ombros doerem, pela longa viagem sem pausas.

Antes que dissesse qualquer coisa a estrada fez uma curva fechada. Quando o carro a contornou, saiu numa rodovia que beirava o mar. O cenário se descortinou em uma bela praia, cujo mar se estendia rumo ao horizonte.

Rumo ao infinito.

—--

Shino encontrou um lugar para estacionar num ponto onde terminava o acostamento.

O sol ainda não havia raiado. Não havia ninguém na praia aquele horário. Além de ser um trecho de rodovia longe da cidade mais próxima.

Kiba mal podia se conter de ansiedade. Quando pisaram na areia branquinha rendeu-se e gargalhou.

— Obrigado, Shino! Eu sou muito grato! Adeus! — agradeceu com um sorriso enorme. Então virou as costas e chegou a dar alguns passos a frente, quando a voz do outro o parou.

— Espere!

Shino continuava parado na divisão entre o acostamento e a areia da praia. Era o momento decisivo daquela louca aventura noturna. Ou descobriria que Kiba era só mais um jovem brincando e o fazendo de tolo. Ou confirmaria todos os acontecimentos de conto de fadas.

Sentiu um aperto no peito.

No caso da segunda opção… Não queria simplesmente dizer adeus e abrir mão do impossível trazido pelo destino. “Fique! Isso é a coisa mais incrível que aconteceu na minha vida…

— O que foi? — Kiba o encarou outra vez, sem saber porque foi chamado.

Shino pensou rápido. Precisava de uma desculpa.

Qualquer coisa.

— É verdade que vocês cantam para encantar?

O sorriso esmaecido voltou aos lábios de Kiba. Ver aquelas presinhas afiadas acalentou o coração de Shino.

— Sim! Quer ouvir?

— Quero. Por favor.

Então Kiba cantou.

Algo sobrenatural. Quando a voz soou, foi direto na mente de Shino, não veio em palavras, apenas a melodia cantarolada. Foi tão envolvente que o fez fechar os olhos.

E ele viajou no tempo. Ele voltou ao passado, àquele ponto em que a humanidade era protegida pela inocência do "não saber". Quando a ignorância era a maior rival do progresso e a magia era companhia constante, antes que a ciência viesse clarear com conhecimento, iluminando e exorcizando deuses, criaturas místicas, reinos secretos encobertos pelas sombras.

Shino sentiu estar lá quando os primeiros desbravadores se lançaram ao mar com nada além de coragem e disposição, sem saber se o mar teria um fim e o que encontrariam ao alcançar esse fim.

Sentiu a emoção das descobertas, passo a passo com o medo de monstros e predadores a espreita nas águas profundas. Também sentiu vitória, júbilo, satisfação.

Teve aquela sensação primordial de seus ancestrais quando o mar foi conquistado. E o mundo deixou de ser tão grande. A ingenuidade da raça humana que arrisca os primeiros passos atrevidos visando conquistar o mundo ainda indomado.

Era algo forte, conquanto entristecesse…

Shino abriu os olhos e fitou o infinito céu rasgado pelos raios do nascente. Em um estado de relaxamento e contentamento sem igual, além da confusão mental, se percebeu deitado na areia. A cabeça repousava sobre o colo de Kiba, que acariciava seus cabelos.

— Perdão — Kiba falou com sincera humildade que não combinava com ele — Eu usa canção pra predar humanos. Quase que eu não parou a tempo. Você ajudou eu e eu machucou você.

Shino abriu os lábios e ofegou de leve.

Machucar? Machucar?!

O humano estava tão impactado pela experiência indescritível que "machucar" era um dos verbos que jamais usaria para descrever como se sentia.

Sem poder se controlar ergueu o braço e segurou Kiba pela nuca. Então o puxou para os lábios se tocarem. Foi um toque casto, mas que fez seu coração disparar. Durou menos de cinco segundos, ao abrir os olhos se deparou com íris selvagens e curiosas, fixas em sua face.

— Que isso? Porque fez isso?

Shino sentou-se ganhando tempo. Agiu por instinto. Não sabia explicar.

— Humanos beijam pessoas especiais — não restava dúvidas em sua mente. Nada que conhecia era comparado à canção que o encantou.

— Tudo bem, eu sou muito especial. Agora adeus mesmo. Obrigado pela carne e por me trazer pra casa — despediu-se a segunda vez e inclinou na direção de Shino, farejando o ar ao redor dele — Eu decorou o seu cheiro. Pode visitar você qualquer dia desses!

— Adeus — cedeu por fim. A criatura era incrível. O premiou com um momento mágico e único na vida, porém pertencia à natureza. À ela deveria voltar.

Kiba ficou de pé com um último sorriso. Passou a caminhar em direção ao mar. Primeiro libertou se dos sapatos, que ficaram esquecidos na areia.

Depois foi o casaco de Shino que abandonou-lhe o corpo.

Ele correu nu, sem pudores, depressa e sem olhar para trás. O salto foi lindo. Tomou impulso e lançou o corpo no ar antes que as ondas o tocassem. Mergulhou no mar sendo engolido pelas águas calmas.

Shino assistiu em silêncio, a garganta apertada e o coração batendo pesado no peito. Viu a cauda magnifica se elevar um pouco acima da superfície, longe demais para que notasse o degrade em verde. Ela baixou rapidamente, como se para aplicar impulso ao nado, sumindo nas águas do mar.

Shino esperou sem saber a quê.

Até que foi recompensado. Viu uma silhueta escurecida, meio difícil de se enxergar pois os raios do sol nascente a envolviam. Teve a impressão de ver um braço se erguer e acenar, longe demais para ter certeza.

Apesar disso acenou de volta, triste quando o garoto afundou a segunda vez. E não emergiu mais.

Shino continuou sentado, assistindo ao sol nascer de vez, encerrando aquela aventura completamente impossível que passou.

Devia acompanhar o amigo por segurança e acabou entregando uma sereia ao mar. 

Noite louca.

Conversou com um predador da espécie humana, bom em dar ordens. Ótimo em encantar.

Noite divertida.

Descobriu que contos de fada tem seu fundo de verdade em um mundo místico que os humanos já não acreditam existir, povoado com criaturas incríveis. Mundo do qual Shino entreviu uma tênue brechinha. E desejou vivenciar mais!

Que noite!

I gotta feelin'
That tonight's gonna be
a good good night

 


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Notas finais do capítulo

Acabou!! E aí? Alguém quer ver o Kiba visitando o shinão? Hehe...

Mas meu foco é a segunda temporada de Amor em Pigmentos!

Vejo vocês amanhã. Não... infelizmente não teremos "Marcas da Solidão", mas teremos o desafio de Maio com: nudez vasado! E essa tem saliencia ♥

Espero vocês lá! A fic se chamará: Spot.

Detalhe: a Erin fez uma fanfic em homenagem a "Marcas de Amor". Quem curtiu e quer um gostinho a mais, passa lá:

https://fanfiction.com.br/historia/777507/Desculpas

E deixa um review pra autora ♥ a história está um amorzinho, foi um gesto gentil dela!!

***

Edit: essa arte, do Kiba versão tritão, eu encomendei da Petit Arametti (facebook: @spadechamps1). Ficou linda demais ♥ aproveitem!!



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