Uma Canção de Neus Artells escrita por Braunjakga
I
Palácio flutuante da Ordem, Toledo
13 de agosto de 1714
Na sala de interrogatório, um prisioneiro era levado até Gerard por um dos guardas.
Ele puxa a cadeira e se senta, trêmulo, diante do Interventor,apegado ao capacete.
Era o último a ser interrogado naquele imenso salão e ele, Gerard, estava cansado e entediado. passou a noite inteira interrogando os carcereiros e não conseguiu entender ainda como alguém ajudou Clow a escapar.
Se fosse Enric, teria matado todo mundo das mais diversas formas possíveis por diversão, mas ele era diferente, até nas ameaças.
— Você foi o carcereiro que abriu a cela do Mago Clow, sargento?
— Sim, General!
— O procedimento padrão foi adotado?
— Sim, General, ele foi preso com algemas anti magia e eu estava acompanhado por mais dois dragooners. A cela também é anti magia e lá só funciona o poder da ordem.
— Eu perguntei para os outros dois dragooners que estavam com o senhor que vocês sentiram um “empurrão”, correto?
– Sim… Genera!
O soldado só tremia. Não sabia de mais nada. Ninguém sabia de mais nada.
– Das duas, uma: ou esse mago Clow reverteu a programação mágica das nossas celas ou alguém ajudou ele a fugir...
Nesse instante, Nadja entrou na sala de interrogatórios. O Sargento tremeu mais ainda.
— … Correto, sargento? – Continuou Gerard.
— Si… si… Sim, General!
“Esse cara diz mais ‘sim’ do que eu, que irritante…”, Pensou.
— Qual das duas, Sargento? Ele é bom mesmo ou alguém ajudou ele?
— Ele deve ter tido ajuda externa, General!
— Como pode uma coisa dessas se o palácio tem uma barreira mágica que impede magia vir de fora? Só se alguém ajudou ele daqui de dentro, Sargento!
Temendo pela vida, o Sargento bem raciocinava mais direito. Chorou desesperado:
— Eu não sei, general! eu não sei! Só sei que o poder daquele Clow é de outro nível! A gente sentiu isso quando pegou ele! Ele até pode bater de frente com a gente!
— Pode bater de frente? – Perguntou Gerard, intimidando ainda mais.
— Ele pode ser um inimigo da gente… dos grandes! Nem mesmo a magia de todo mundo junto conseguiu segurar quando a gente pegou ele! A General Nadja é minha testemunha!
“Esse Clow Reed é problema, agora que eu tou percebendo isso; foi um erro trazer ele aqui”, pensou mais uma vez.
— Cai fora, Sargento!
O sargento se levantou da cadeira e se ajoelhou:
— Poupe a minha família, General! Eu não sou culpado de nada! Pode ver as minhas memórias! Eu nem sei como ele escapou! Ninguém ajudou ele! Eu não conheço quem é ele! Prefiro matar mil ingleses do que aceitar subornos da maldita Inglaterra! Com a ordem eu sou tudo, sem a ordem nada!
— Some daqui, Sargento, ou eu vou tacar fogo em tudo!
O homem saiu de lá correndo.
Nadja se aproximou:
— Como está o anjo, Nadja, ele falou alguma coisa?
— Nada, Senhor Gerard, nem com a ameaça de tortura! Revimos as memórias dele e a gente viu que o Mago Clow conseguiu usar magia dentro da cela e transfigurou o anjo… agora como ele fez isso é um mistério!
— O choque que que dei chegou a machucar ele?
— A machucar tanto quanto uma picada de abelha! Eu pus nele uma joia de cura pra caso tenha acontecido alguma coisa dentro dele...
— Você não machucou ele, não é?
— Não! Mas eu coloquei aquele rubi na nuca dele, só por precaução! A personalidade e as memórias dele estão intactas, mas ele virou agora um boneco nas nossas mãos.
Gerard encostou na cadeira e respirou fundo:
— Fico mais aliviado com isso!
— Senhor Gerard, o senhor podia agir diferente! O senhor é muito bonzinho! Por que o senhor não acaba com isso logo de uma vez? E se esse tal de Clow junta forças com os separatistas? A Guerra vai durar anos! E não vai ter adiantado nada ter poupado os coronelas e miquelets que se renderam; muitos ainda podem voltar a ativa se a Generalitat dar mostras sólidas que pode continuar a guerra.
— Eu sou assim, Nadja, eu não quero causar mais problemas na Catalunya do que os separatistas estão causando e já causaram! O povo já sofreu demais! Meu alvo são os coronelas e miquelets e não os civis.
— Mas os civis podem ser separatistas…
— Separatistas ou não, eles têm que ver que somos diferentes; aprenda Nadja: a força pode fazer as pessoas dobrarem o joelho, mas nunca vai conquistar o coração delas. O poder de verdade não está na espada, mas nos sorrisos e num nobre coração. Odeio ter que ter feito aquilo com aquele anjo, mas se a Luna quer provas do que eu sou capaz, ela viu!
— Mas o choque foi fraquinho…
— Mesmo assim…
Nadja sorriu:
— O senhor é muito bobo, senhor Gerard!
— Que eu seja bobo! Eu que sou o interventor da Ordem e quero convencer a todos a mudar os velhos métodos que a gente usava, como o velho Oriol nos pediu e…
Enquanto conversavam, um sino tocou.
— O que aconteceu?
— Armadura! Armadura no telhado! – Uma voz ecoou em todo o castelo.
Nadja olhou temerosa e boquiaberta para Gerard.
— Ar… ma... dura?
— Clow?
II
O pátio externo do palácio flutuante fica na parte de cima.
No geral, servia como aeroporto dos dragões e onde eles faziam seu pouso, além de campo de treinamento dos dragooners.
Quando Gerard e Nadja chegaram lá, havia um círculo de dragooners e oficiais da ordem em volta da armadura.
Junto dela, Luna já estava lá.
Os soldados abriram passagem.
A armadura vermelha como sangue de Enric estava lá, sem o cavaleiro, mas com a capa vermelha das costas cobrindo tudo.
Luna olhou para Gerard:
— Don Gerard, o senhor sabe o que é isso, não sabe? O inglês já está fazendo das suas! Ajudando os separatistas!
— Senhora Luna, vamos nos acalmar! Para pra pensar: como ele teve tempo pra isso?
— Colo ele teve tempo? Você é idiota, Luna? Ele tá atrás da arma dele! A arma dele tá com os separatistas! Juntando um ponto com o outro dá nisso!
– Eu sei bem disso, senhora Luna! Eu acho mais fácil esse tal de Clow atacar eles do que virar amiguinho dos separatas!
— Há quanto tempo a gente não tem um interventor morto na ordem? Há duzentos anos quando o antecessor da Pietra, Xosé Pontón, for morto por um bando de Incas nos Andes! E olha que ele tava do lado do Lluis Soler, o grande! – Disse Luna.
Gerard tirou a capa de cima da armadura. Estava sem capacete.
— Ele ainda tá vivo! Em estado grave, mas ele ainda tá vivo!
Nadja e Luna ficaram espantadas.
— Don Gerard, você vai ter que fazer alguma coisa!
— Então vamos resgatar o Senhor Enric! – Animou-se Nadja. – Talvez a rede de informação da Ordem possa saber onde ele está!
Gerard parou e não falou nada por um tempo, só ficou olhando para a armadura.
Nadja e Luna ficaram confusas e temerosas, tentando adivinhar o que ele pensava.
— Senhor Gerard…
— Don Gerard?
“Resgatar o Enric… ele que foi tão contrário a eu usar a armadura de interventor da Catalunya, justo ele que estava desde quando nasceu na Ordem e se achava mais digno de usar ela… e ainda se acha… se ele morrer, eu posso escolher outro interventor... ele é muito cruel e meu maior obstáculo a criar uma nova ordem… Ele nem me escuta e faz tudo da cabeça dele, porque eu deveria resgatar alguém assim?”, Pensou.
— Senhor Gerard! – Nadja gritou.
— O que foi?
— Vamos salvar o Enric, Don Gerard!
— Vocês tem certeza disso?
As duas ficaram espantadas.
— O conhecimento técnico dele é muito grande, Senhor Gerard!
— Certeza! O que a gente tem é orgulho, Don Gerard, e guardamos ele bem fundo! Nunca, mas nunca admitimos que um interventor morra! É a sua responsabilidade nos vingar!– Berrou Luna.
— Sim, sei, bela vingança! Dez interventores morreram, Luna, ao longo da nossa história! Dez! Vingança não serviu de nada!
— Os sete primeiros foram nos estágios iniciais da ordem, Don Gerard!
— Castela tem cinco interventores mortos e a Catalunya vai ter o seu primeiro… Não precisa de tanto desespero assim!
Luna ficou chocada com a resposta:
— Mesmo se você não autorizar, Don Gerard, eu vou atrás dele!
— Eu não vou tolerar mais insubordinações, Luna!
Um círculo mágico vermelho apareceu sobre os pés de Luna.
Correntes vermelhas saíram de lá e prenderam os pulsos da Interventora de Castela.
As correntes davam choques quando forçadas.
“Eu só precisei pensar e elas apareceram… é isso que me faz interventor da Catalunya, o controle sobre eles... “ Pensou.
Nadja ficou com medo de ser a próxima.
Gerard só queria dar uma bronca nela na frente dos subordinados dela, no próprio castelo. Um castelo onde ela era a Castelã e principal responsável por cuidar dele. Isso era desonroso de se fazer com um interventor da Ordem.
Olhou para Luna e Nadja e viu que elas ainda estavam obstinadas e queriam salvar Enric, apesar do medo.
Ele ainda tinha dúvidas se Clow estava por trás disso e deixou Enric ainda vivo para obter informações.
Desistiu.
As correntes em volta de Luna desapareceram.
— Tudo bem, vão lá e resgatem ele, mas eu não vou me meter! Peguem o Zigor e a Pietra com vocês! Vamos ver se é o Clow quem está por trás disso ou se é a arma desse tal de Clow que foi roubada dele que entrou em ação. De qualquer forma, vamos precisar de toda força possível para estabilizar o território!
Nadja e Luna saíram daquele imenso pátio em revoada, levando o restante de dragooners que não puderam levar da primeira vez, deixando uma pequena tropa para cuidar do palácio.
Gerard olhou para aquilo e teve dentro de si um mal pressentimento.
Tocou na armadura de Enric e pensou, preocupado:
— Enric, se você encostar um dedo sequer na Neus, na família dela… eu não sei o que eu sou capaz de fazer com você!
Continua…
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