Espadas, Chamas e Chifres escrita por Risadinha


Capítulo 10
O Portal


Notas iniciais do capítulo

É, enfim chegamos nesse cap. Sem enrolar muito, bom capítulo, usem alcool em gel, fique em casa e leia esse bom pedaço de ficção.
Boa Leitura!



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Aquilo era um massacre.

Jin sentia os socos, sentia o quebrar dos ossos. Ele estava na arena recebendo todos aqueles golpes, sem poder se defender, lutar contra a força imparável que era o garoto de cabelos prateados.

— Jin!

Ele teve que levantar do seu lugar e correr para o lado de fora. Seguiu o caminho cegamente pelas lágrimas que borrava sua visão. Com o tato das mãos, encontrou uma lata de lixo e a segurou com força.

— Ei, ei, ei.

Seu rosto mergulhou no topo da lata e pôs para fora toda a gastura do interior. Vomitou até perder as forças dos braços.

Então sentiu algo encostar nas suas costas. Era Sieghart, quase confundível com uma mãe pela forma que o segurava, tão preocupado.

— Tá tudo bem — murmurou Sieghart. — Não pensa, apenas respira.

A visão de Jin voltou a embaçar. Todas as sensações rasgavam o interior do seu corpo, mas não saíam, presas em um caos crescente. Sieghart esfregou suas costas, tentando ser o mais sútil possível.

Jin não lutava, mas ainda sentia as dores da derrota de Azin.

***

A existência de Lass era amarga. Ele conseguia sentir o gosto, tão forte e intenso como seus pensamentos. Talvez fosse por isso que as pessoas o odiassem, quisessem o fim da sua vida.

Lass também queria um fim. Ele tirou os óculos estúpidos e jogou no chão. Não era mais preciso manter aquela persona, já distante do estádio e de todos os gritos do público. Àquela hora, a última luta do dia já deveria ter acabado e Elesis o aguardava.

Elesis o esperava. O que ele faria com toda aquela raiva? Não sabia se conseguiria conter tudo aquilo dentro de si, ou se morreria em uma explosão descontrolada de emoções. Ele pôs as mãos na cabeça. Não, não queria que isso acontecesse. Por todo o calor das chamas que o queimava, ele tinha que segurar, não dar motivo para os outros líderes.

Vamos queimar todos. Um por um.

Lass afundou o rosto nas mãos.

E se todos se oporem, vamos queima-los também. O mundo todo se preciso.

Lass, a voz das chamas ecoou. O que você tá pensando?

Ele afastou as mãos da face, vendo através das frestas dos dedos trêmulos os olhares curiosos das pessoas. As chamas que queimavam sobre seus ombros encantavam aos que desconheciam sua verdadeira natureza.

Lass apagou as chamas. O caminho até o castelo continuou, lento e arrastado, mas continuou. Deveria encarar a verdade, e se doesse, bem, sempre doía, não é mesmo?

Ele subiu as escadas e quando chegou no topo, sentiu que tinha muito mais a escalar. Os guardas reais o pararam, mas viram o portador das chamas azuis sob os cabelos pretos. Sendo honesto, Lass desejou ter sido impedido de entrar, porém já estava no interior do castelo, passando pelos cômodos e chegando ali.

— Eu disse que ele viria! — Ronan disse, animado. — Onde esteve...

Ao chegar mais perto da mesa, viram a aparência nova do ninja. Adel riu enquanto Ronan erguia perguntas pelo olhar.

Elesis estava no meio termo. Sorria, mas nervosamente tentando entender o que ele havia feito com o cabelo. Lass também queria entender o que ela havia feito consigo própria, coberta por novos e velhos curativos, mãos cheias de fitas médicas.

— Gosto da sua rebeldia — disse Adel. — Você combina bastante com cores escuras, Lass.

— É... — a espadachim começou a concordar, mas parou, virando a cabeça de lado. — Por que você fez isso?

— É temporário.

Ele puxou uma mecha do cabelo.

— Estava fazendo umas coisas e, sem querer, isso aconteceu.

Ronan e Adel não questionaram, porém Elesis conseguiu entender o motivo da tinta. Não tinham se visto no estádio, agora ela parecia entender o porquê.

— Sente-se, Lass — pediu Ronan. — Agradeço por ter vindo.

Levou mais esforço do que preciso para se mover até a mesa e se sentar. Do outro lado, Elesis sorriu para ele, mesmo parecendo doloroso mexer o lábio cortado.

— Por que essa cara? — perguntou Adel. — Elesis ganhou a luta de hoje. Ela está na final!

— Eu não sei por que você está surpreso — debateu Elesis, sorrindo orgulhosamente. — Era óbvio que eu ganharia. A Lin nem foi tão forte assim.

— Não posso dizer o mesmo do próximo oponente.

O clima da mesa de jantar mudou e Lass não sabia o motivo.

— Como ele ganhou do Azin? — perguntou Elesis.

— Pino é um adversário rápido — respondeu Ronan. — E, aparentemente, impiedoso. Não havia necessidade de quebrar o braço do Azin depois daqueles ataques.

Lass não queria estar ali, mas escutou atentamente. Por ter perdido a luta de Azin, tentava entender como o amigo foi derrotado e, principalmente, teve o braço quebrado. Ao olhar para Elesis, percebeu a tensão no rosto dela, ainda assombrada pelo que viu.

Lass apertou os punhos sob a mesa.

— Eu vou ganhar — firme, disse Elesis. — Perder não é uma opção.

Agora compreendia muito bem. Isso fazia ele se odiar ainda mais.

— Vai ser lindo te ver ganhar do campeão de Arquimidia — falou Adel. — Mas também é um problema, vendo que apenas restou você e ele.

Eles compartilharam do mesmo sentimento pesado, sem ousarem falar alto. Por estar presente, eles não falariam.

— Não se preocupe com isso, Elesis — disse Ronan, despreocupado com sua bebida em mãos. — Dê o seu melhor, não tente nada que ultrapasse seus limites.

Ela sorriu debochadamente.

— Não acho que isso seja uma escolha minha.

— Até porque, você pretende sacrificar a própria saúde pela minha liberdade.

Seus olhos estavam na espadachim, mas sentiu a súbita atenção de Ronan e Adel sobre ele. A falta de palavras de ambos os lados pesou o clima, forçando o sorriso de Elesis desmanchar.

— Do que você tá falando, Lass?

Uma pergunta tão inocente, mas ofensiva ao mesmo tempo. Ele cerrou os olhos, como os lábios.

— Eu sei por que você está no torneio. Eu sei pelo que os outros líderes lutam. Eu sei que eu sou o prêmio.

E toda o desentendimento falso da espadachim sumiu, sua verdadeira preocupação surgindo com um olhar de culpa. Ela tentou dizer algo, algo que seria uma mentira, mas percebeu que àquele ponto, nada convenceria Lass.

Então ele se levantou.

— Lass — Ronan estendeu a mão. Paciência. — Calma.

— Calma?

— Quem te contou isso? — sussurrou Elesis.

Então era isso que a preocupava. Lass rangeu os dentes.

— Importa?!

— Não é que importe, mas...

Tudo que Elesis dissesse apenas pioraria a situação, e por saber disso, ela se encolheu na cadeira, quase desaparecendo.

Adel arrastou a cadeira para trás, chamando toda a atenção para si.

— Vamos conversar, antes que você tente algo.

— Agora vocês querem conversar? Depois de tanto tempo, agora...

Antes de jogar a verdade, Lass não estava com raiva, muito menos disposto a ficar. Seus sentimentos conflitavam com as ideias, mas ele tinha controle; tanto que estava ali. Sem raiva, emoções trancadas em seu peito, ele entrou no castelo e encarou cada um que mentiu, escondeu a verdade dele.

 Agora essas emoções fermentavam dentro de si, prontas para explodirem.

— Entenda, a gente não podia simplesmente te contar isso — explicava Adel. — Não é um simples segredinho que a gente podia deixar você saber.

— E por quê?

Adel segurou a resposta. Lass chutou sua cadeira, um impulso que não conseguiu segurar mais.

— Lass! — Ronan se levantou. — Você precisa entender nosso lado. Não foi simplesmente uma escolha nossa deixar você de fora, envolvia mais coisas.

Lass inspirou, bufando pelas narinas.

— Por quê?

— Você sabe...

— Por quê?!

Lass precisava saber. Machucava o silêncio das pessoas que diziam estar do seu lado. Ronan e Adel tentavam segurar o pouco do que restava do controle da situação enquanto Elesis se mantinha encolhida atrás da mesa.

A indignação fez Lass pegar a faca da mesa e apontar para Ronan.

— Por quê, eu quero saber o porquê! — berrava, agitando a lâmina. — Eu deveria saber! É sobre mim, sobre minha liberdade!

Ronan não se alterou. Toda sua aparência transbordava tédio, e seu olhar para Lass demonstrava o mesmo. Por um instante, Cazeaje estava no seu lugar, um poço de antipatia.

— Você sabe por que a gente não te contou — respondeu Ronan. — Justamente por causa disso.

— Por que eu agiria por impulso? Tacaria fogo em todos os Conselhos? — Ele apertou o cabo da faca. — Por que vocês acham que eu sou um cão louco?

Ronan suspirou.

— Bem, você é capaz disso.

Um estalo com a língua. Lass arremessou a faca, que acertou Ronan no ombro. Isso o derrubou no chão. Lass partiu para cima, pé preparado. Ao chegar perto, chutou o rosto de Ronan com uma prazerosa força.

Ao desferir o segundo chute, foi empurrado para longe.

— Pare com isso!

A espadachim se deitou sobre o corpo do líder, protetiva como um cão com seu dono.

— Por favor, vamos conversar — a voz de Elesis estremeceu.

— Você teve a chance de conversar antes, agora é tarde.

Sem perceber, Adel o agarrou pelo pescoço por trás. Lass se balançou, inclinando o corpo com tudo para frente. Adel foi arremessado, girou no chão e o atacou.

Lass pôs a mão na frente e recebeu a faca com a palma. O líder fez um rápido movimento com os dedos e correntes contornaram no corpo do ninja, puxando bruscamente. Seu rosto foi de encontro com o chão. Sua visão teve uma explosão de cores.

— Fique quieto, Lass!

Ele gritou, forçando as correntes que apertavam seus membros. Ao despertar as chamas, Adel recuou.

— Não me faça te prender por isso, Lass.

As correntes estouraram. Lass pulou com um chute contra Adel. Seu pé foi certeiro na cabeça, derrubando-o contra a mesa.

Elesis veio em seguida. Ela se jogou aos seus pés e abraçou suas pernas.

— Já chega, Lass! Por favor!

— Você concordou com isso.

Ela balançou a cabeça, desesperada.

— Não tinha outro jeito! Já estava decidido e a gente sabia que você não ia gostar, por isso não te contamos.

Seus punhos fecharam com mais força.

— Eu sou um prêmio pra eles, Elesis.

Nunca foi uma surpresa. Desde Cazeaje até o último líder, Lass sabia que todos o viam como uma coisa, um recipiente para um poder muito grande. Esses dois anos, fazendo missões para cada Conselho, provou isso. Eles nunca quiseram ver humanidade nele, apenas o auto controle.

Pois se não queriam ver humanidade, não veriam o auto controle.

— E você concordou com isso — ele repetiu, mais áspero. — Você está em um jogo que me usa como prêmio.

— Eu não te vejo assim! — Ela balançou as pernas dele. — Eu entrei porque alguém tem que lutar por você!

— Mas você escolheu por isso!

— Não tinha outra escolha!

Lass se soltou da espadachim, afastando-se com um desgosto que não cabia nele.

— Você nem tentou, Elesis.

Ter aceitado a proposta de entrar no torneio, sem nem ao menos avaliar outra opção era o que transformava toda aquela situação insuportável. Ronan e Adel não tentaram, como Elesis também não; e manter o silêncio sobre essa decisão apenas dava mais raiva.

Se eles não fossem lutar por outro caminho, que tivessem dado essa possibilidade para ele.

— Saia desse torneio.

Elesis arregalou os olhos.

— Hã?! Não, não vou.

— Elesis—

— Nem ferrando que eu vou! — Ela socou o chão. — Eu vou participar da final e ganhar! Eu vou... eu...

Elesis se apoiou no chão para levantar, então voltou em desequilíbrio. Ela ainda se recuperava da luta contra Lin. Nenhum machucado externo marcava sua pele, porém o interior desabava. Músculos no limite, ossos enfraquecidos, isso e mais eram resultados de uma luta baseada em pressão física.

Lass não precisava ficar ali, vendo a espadachim lutar contra a própria fraqueza.

— Eu vou ganhar, Lass! — ela berrou, mais para si do que para ele.

Ele seguiu para a saída. Arrancou a faca atravessada da sua palma e a jogou de lado. Os passos arrastados de Elesis vieram atrás.

— Não acredita em mim?!

Lass se virou na saída do castelo. Os guardas olharam para ele, em seguida para Elesis, confusos e alertados.

Elesis deu mais um passo e caiu de joelhos. Um fio de sangue escorreu da sua narina, logo uma grande quantidade que ela precisou pôr a mão.

— Você não está entendendo o ponto dessa discussão — disse Lass. — Não é sobre você. É sobre mim!

Ela tentou falar e mais sangue saiu.

— Eu resolvo isso, Elesis. De uma vez por todas.

Então Lass se foi.

Desceu a escadaria do castelo e tomou seu rumo pelas ruas movimentadas do torneio. Uma cidade muito colorida, despercebida pela necessidade de violência de Lass. As mãos livres se abriam e fechavam, ansiosas por armas para empunharem contra seus adversários.

Ao chegar no colégio, o objetivo continuou firme em mente. Lass foi para seu quarto, abriu o armário e pegou a roupa mais escura e pôs os sapatos mais confortáveis. Alguém tinha que tomar o primeiro passo e ninguém era mais perfeito que ele. Praticamente um imortal, uma força imparável pelo poder das chamas azuis. Os Conselhos tinham medo do que ele era capaz, portanto, daria um bom motivo.

Felizmente, Lass tinha uma katana extra, já que a outra continuava na posse de Ronan. Ele a colocou no cinto e deixou o quarto.

Fechou a porta e notou Jin do lado de fora. Era visível o nervosismo nele, principalmente ao esconder o celular no bolso da calça.

Ah, Lass entendeu.

— Pra onde você tá indo? — perguntou risonho. — Todo de preto, parece a morte.

— Não me impeça, Jin.

Ele fingiu o desentendimento. Lass suspirou.

— Eu vou matar os líderes, então não se intrometa.

Isso fez o nervosismo do ruivo ficar mais aparente, ou pior. Jin balançou as mãos.

— O quê? Lass, não!

— Eu vou.

— Não, você ficou louco?! — Jin o segurou pelos ombros. — Você tá escutando o que tá dizendo?! Você vai matar os líderes e isso vai gerar muitos conflitos entre os continentes e... Você ficou louco?!

Uma parte do ninja acreditava que sim, havia enlouquecido; e era uma ótima sensação. Jin apertou com mais força seus ombros.

— Se eu não fizer isso, eu vou morrer.

Jin quase recuou, em conflito. A vida de Lass era mais valiosa, ao menos para o ruivo.

— Mas se você fizer, eles vão te matar — murmurou Jin.

— Que eles tentem.

Continuou o caminho. A mão sobre a katana e a mente aguçada. Quando Jin o segurou pelo braço, a reação de Lass foi automática. Virou-se com o punho fechado, sabendo que isso apenas o afastaria.

Porém acertou o rosto de Jin. Foi um choque ver a face do amigo virada, olhos tão arregalados quanto os dele.

— Por que você não desviou?

Jin colocou a mão sobre a bochecha.

— Lass, pense bem no que você vai fazer agora. Eu entendo por que você tá fazendo isso, mas tenho certeza que tem outro jeito.

Tinha, mas essa não era uma opção que ele estava disposto a deixar acontecer. Ele resolveria com as próprias mãos, sem depender de mais ninguém.

— Desculpa. — Lass apontou para a bochecha. — Desculpa por isso também.

Jin não o impediu, talvez por medo de receber outro soco acidental, talvez por saber que não faria diferença. Lass estava decidido. Seu temperamento havia alcançado um limite, e isso já fazia anos. Apenas não tinha explodido por ser constantemente relembrado das suas consequências e como podiam afetar as pessoas que gostava.

Não que Lass tivesse deixado de se importar com eles, mas se não fizesse nada agora, não existiria mais um “eu” para se importar futuramente.

— Lass?

Poucos passos para atravessar o portão do colégio, mas impedido pela voz suave de Grandiel. Lass não se acostumou com sua nova aparência ainda, como o cabelo curto o tornava numa pessoa mais serena.

— Pra onde está indo? — perguntou Grandiel.

Ter dito a verdade para Jin foi fácil, mas para Grandiel? Lass sentiu um peso no estômago.

— Já entendi — lamentou Grandiel. — Eu soube disso recentemente. Não achei que você fosse tomar uma atitude tão cedo.

Lass também lamentou através do silêncio.

— Sendo sincero, quando eu soube, eu dei uma risada — riu Grandiel. — Pensei “não, não é possível”. Bem... parece que é possível.

Ele se moveu até o banco do jardim, sentando-se com um peso visível.

— Desculpa, é o único jeito.

— Eu entendo...

Pareceu que completaria a frase, com uma provável rejeição à atitude de Lass. Grandiel segurou o silêncio, fechando os olhos e levando seu corpo para frente. Um processo doloroso de observar. Lass quis largar sua katana de lado e ir até seu mentor com um abraço de desculpas; desculpas por sua existência trabalhosa e pelos futuros problemas.

Lass quis, mas não se moveu. Pelo contrário, Grandiel se levantou do banco e foi até ele.

— Só quero que você saiba de uma coisa, Lass. — Ele o segurou pelos braços. Um aperto leve, nada que o fizesse se sentir preso. — Esse é um caminho sem volta. As coisas serão diferentes depois disso.

— Eu sei disso, mas é necessário.

— Apenas peço para quando encontrar aquele idiota, mande ele vir direto pedir desculpas a Lothos, ok?

— Eu vou—Quê?!

A reação de Lass gerou outra reação em Grandiel. Confusão foi simultânea.

— Eu sei que você andou pesquisando sobre a morte do Astaroth — explicou Grandiel. — Entendo como está desconfiado disso.

Foi então que entendeu. De certa forma, Lass suspirou com grande alívio.

O que não durou muito. A chegada de Adel e dois soldados trouxe a tensão de volta, forçando Lass levar a mão ao cabo da katana.

— Ei! — Grandiel se colocou entre eles. — O que está acontecendo?

O tão gentil e amigável Adel não estava presente mais; nem existia traço da sua existência. O líder de Serdin não mudou a postura diante o desentendimento do loiro.

— Estou surpreso por você não ter descoberto ainda, Grandiel.

Lass sentiu o peso do questionamento sobre si.

— Os líderes estão me usando como prêmio para o torneio idiota deles — rosnou o ninja. — E eu vou dar um jeito nisso.

Enfim Grandiel entendeu a gravidade da situação. Ele olhou com tanta preocupação e medo para Lass quanto para Adel.

— Isso é verdade? — ele perguntou ao líder.

— Essa não foi uma decisão minha ou do Ronan! Os outros líderes tinham votado a favor, não havia nada que pudéssemos fazer.

— Mas eu merecia saber! — berrou Lass.

— E agora você sabe e está prestes a cometer um genocídio. Entende agora por que não te contamos antes!

Lass puxou a lâmina da katana, porém foi impedido pela mão de Grandiel sobre a sua.

— E o que pretende fazer, Adel? — Embora visivelmente nervoso, Grandiel falou com calma.

— Prendê-lo. Após ter atacado Ronan e eu, a melhor coisa a fazer é deixa-lo preso até o julgamento.

Lass tentou mais uma vez desembainhar sua katana, mas Grandiel continuou a segurar sua mão.

— Creio que você não tenha direito de fazer isso aqui, em Canaban. Esta é uma decisão do líder daqui, não de Serdin.

Adel sorriu, porém sem nenhuma doçura que tanto o acompanhava.

— Ah, Grandiel, você deve ter esquecido que as leis se aplicam diferente no continente de Vermecia, não é? — Ele jogou os braços pro lado, ciente do poder em mãos. — No momento que haver um líder incapacitado, o outro poderá tomar decisões sobre seu reino e afins. Bem... — Fez um gesto para Lass. — Por Ronan está incapacitado temporariamente, eu tomo as decisões.

— Pense bem, Adel. — Grandiel interrompeu a ordem do líder. — Pense por um instante. Estamos a caminho da final do torneio e você quer prender o portador das chamas azuis, logo agora? Tenha em mente que todos saberão disso, principalmente os líderes.

Atento, Adel abaixou a mão. Os dois soldados recuaram um passo.

— Quando os líderes descobrirem sobre a razão da prisão de Lass, eles escolherão a solução mais cabível aos olhos dele.

Adel não falou, não se moveu. Lass retribuiu, soltando o cabo da katana.

— Não acho que você queira que isso aconteça — concluiu Grandiel.

— E você espera que eu deixe ele solto?

Um bom ponto mencionado, tendo em vista a vontade de Lass ainda em mente. Ele aguardava por uma brecha para fugir, mas Adel não permitiria tão facilmente. Nem mesmo Grandiel.

— Lass não fará nada do tipo. Eu me responsabilizo por ele.

O ninja arregalou os olhos. O que ele estava fazendo?

Grandiel pôs as mãos no peito, quase fazendo uma reverência pela cabeça baixa.

— Se o Lass cometer algum crime, eu me responsabilizarei. Prenda-me no lugar dele, entendeu?

Lass afastou as mãos de Grandiel do peito. A proposta, a forma como se sacrificava por ele, toda essa passividade diante o Conselho o deixava puto.

— Certo!

E simples assim, terminando a conversa com ganhos, Adel voltou a sua personalidade simpática.

— Isso deve ser o bastante para você não fazer nada de errado até o julgamento, certo?

Lass quase socou Adel. Quase. Eles eram amigos de longa data, mas todo o jogo de sobrevivência entre ele e os Conselhos já estava ultrapassando limites.

Levou a mão de volta à bainha, então sentiu o braço de Grandiel contornar seu pescoço.

— Manterei minha palavra, não se preocupe — garantiu o loiro. — O Lass também.

Sem resposta, Grandiel o encarou com seu sorriso nervoso. Lass foi obrigado a engolir toda a indignação.

— Não farei nada.

Sentiu-se traído consigo próprio. Toda a vontade de se libertar das correntes do Conselho, dos desejos egoístas de cada líder, foi negada. A dor foi dilacerante, direto no peito, que arrancou forças das suas pernas.

Quando Adel decidiu partir, Lass se deixou cair no chão.

— Lass...

Ele fechou os olhos, rejeitando as emoções que faziam suas mãos tremerem. Não era raiva, mas como ele desejava que fosse.

— Foi preciso. Sinto muito.

 Tudo era preciso. Tudo era necessário. Exceto sua liberdade.

***

Você é um fardo.

Elesis não quis ter despertado. Estar consciente era lembrar do passado para tomar decisões no presente. Entretanto, ela não queria lembrar de ontem, muito menos tomar alguma atitude em relação a isso. Simplesmente desejava voltar a dormir para fugir de toda essa realidade.

Mas ela precisou levantar da cama. Seu corpo estava mais dolorido. Compreensível, pois todas lutas que teve no torneio fizeram seu corpo ultrapassar certos limites. Portanto, toda sua movimentação do dia seria lenta, cuidadosa.

Querendo arrancar tudo do seu peito, Elesis saiu do quarto e foi aos aposentos de outra pessoa. Tão cedo, nenhum guarda a impediu de entrar no quarto do rei. Ela simplesmente entrou, abriu algumas cortinas e puxou as cobertas da cama.

A primeira reação de Ronan foi tampar a visão com o braço.

— O que, hã? — Então notou Elesis sentada na ponta da cama. — Elesis?

— Bom dia, realeza. Tenho um pedido a fazer para você.

Ronan levou um certo tempo para se acostumar com a claridade. Seu braço caiu para o lado, revelando curativos sob o tecido da camisa. Elesis desviou o olhar imediatamente.

— Se é sobre ontem, já foi resolvido. Lass não vai atacar ninguém e o torneio vai continuar.

Era uma boa notícia, ao mesmo tempo, péssima. Elesis apenas assentiu.

— Não é bem sobre isso, mas envolve o Lass.

Ronan precisou inspirar profundamente antes de entrar no assunto. Pela forma como a espadachim falava, não seria algo agradável.

— Então — ela se ajeitou na cama —, eu vou ganhar a final. Não importa o que aconteça, eu vou ganhar.

Ronan não concordou, não discordou, apenas esperou pela continuação.

— Por isso, vou te pedir para fazer uma coisa: após o julgamento do Lass, quero que você o force a me dar as chamas azuis.

Ronan se sentou abruptamente, o que se arrependeu pela dor despertada no ombro.

— O quê? Elesis, isso é sério?

— Depois eu te explico o porquê, mas eu preciso que o Lass passe as chamas para mim. Eu sou a verdadeira dona, não terá problema se eu tiver.

Ele levou as mãos à cabeça. Elesis teve que se aproximar para continuar.

— Olha, o Lass nunca me daria as chamas. Nunca! Mas ele teria que obedecer a uma ordem sua, como líder do Conselho.

Ronan começava a cheirar a pânico. Ela esperava por uma reação do tipo, era muita pressão posta em seus ombros em tão pouco tempo.

Ele apenas balançou as mãos.

— Isso é loucura. Lass me mataria se eu o obrigasse a isso.

— É por isso que estou pedindo, para saber se você vai poder ou não. Eu sei que é um pedido muito grande, mas você é o único que pode fazer.

— Ele não vai—

— Ele vai ter!

Tão desesperada, a forma mais honesta da espadachim nesses últimos dias. Ronan viu sua verdadeira face, logo se acalmando.

— Eu não posso te prometer isso, Elesis.

Uma triste realidade. Por mais que tivesse uma promessa, quem garantiria que ele a cumpriria? Envolvia Lass e isso gerava tantas incertezas.

— Apenas... — Elesis mordeu o lábio, sentindo a dor do machucado. — Apenas tente fazer algo quando esse dia chegar, ok?

Ronan continuou cabisbaixo. Sua atenção voltou a espadachim ao ter as mãos seguradas.

— Por mim!

Desde a volta de Elesis, Ronan tem enfrentado uma forte fraqueza. A cada aparição de Elesis, a cada pedido dela, ele cedia e começava a desmoronar. Não tinha noção do quanto faltava para cair tudo de uma vez, mas ele segurou firme nesse momento.

Lutou para não deixar transparecer o que sentia.

— Tentarei.

Ao ver o sorriso de Elesis, ele quase deixou ser derrotado. Para sua sorte, a espadachim se levantou da cama em passos saltitantes.

— Valeu. Mesmo!

Elesis deixou o quarto no mesmo ritmo, radiante mesmo depois de atravessar a porta. Com o silêncio, o vazio do cômodo, Ronan deixou desabar. Deitou-se e encarou o teto. A dor em seu ombro despertou, intensa a cada pulsada, como se o fizesse lembrar do erro que cometia em permitir tais pensamentos ainda existirem dentro de si.

Ele merecia ser acertado por outra faca por Lass.

***

A coleira pesava em volta do pescoço de Lass. Fazia tempo desde que se sentia assim, acorrentado.

Ele não sabia mais o que fazer. Tudo dizia para se mover, pegar sua katana e derrubar líder por líder, até que não restasse mais ninguém para pôr uma coleira nele. Porém, tudo também dizia para ficar quieto, terminar seu café da manhã e pensar em algum hobby que não envolvesse o Conselho.

A cotovelada no seu braço o arrancou dos pensamentos.

— Ele sempre tem essa cara?

Lass encarou Amy, sentada ao lado dele. Do outro lado da mesa, Jin assentiu com um sorriso bobo.

— Lass é conhecido por suas carrancas — respondeu o amigo.

— Sabia que carranca te faz ter rugas no futuro? Deveria parar de fazer isso.

Ele a encarou com mais intensidade. Amy devolveu o mesmo olhar. Com todos os curativos, ela parecia uma garota menos delicada do que ela costumava parecer. Lass não tinha visto sua luta, apesar disso, não duvidava da força da mesma.

Felizmente, ela não teve que enfrentar Elesis; o resultado seria pior.

— Mudando de assunto — riu Jin, tentando esconder o nervosismo. — Como foi ontem?

A coleira ficou mais apertada no seu pescoço. Não seria tão fácil esquecer isso, muito menos ignorou a bochecha vermelha de Jin.

— Grandiel e Adel me impediram. Não se preocupe, não farei nada.

Através das palavras lamentosas, o ruivo sorriu. A felicidade genuína de Jin quase cegou Lass.

— Eu fico tão feliz.

— O que o senhor carranca pretendia fazer ontem? — perguntou Amy, curiosa com uma colher na boca.

Sem perceber, ele fazia uma carranca. Teve que a desfazer; era mesmo um vício. De uma forma mais sutil, Lass se voltou para Amy e se sentiu tão curioso quanto ela.

— Você sabe o prêmio do ganhador do torneio?

— O prêmio? — Ela girou a colher, pensativa. — Não contaram para mim, mas acho que a vitória já seja muito, não?

Então não eram todos que sabiam.

— Eu sou o prêmio.

Amy não ficou tão surpresa, ao contrário de Jin, que ficou em choque, então pareceu conectar os pontos ao comportamento de Lass da noite passada.

— Ah — entendeu o ruivo. — Agora faz sentido.

— Um prêmio sem graça — comentou Amy.

Lass inspirou fundo.

— O problema não é apenas isso. A Elesis sabia, e escolheu não me contar.

— Por isso ela estava levando tão a sério o torneio.

— Porque é a Elesis! Ela tem essa mania de querer tomar responsabilidade de tudo e se fuder no caminho.

A orgulhosa e destrutível Elesis nunca deixou de existir, apenas tinha sido escondida por uma versão mais controlada da mesma agora. Eram em situações como essas, como do torneio, que ela voltava ao que sempre foi. O mais frustrante era grande parte das consequências cair sobre Lass, porque, por julgamento do universo, esse era o mais lógico.

— A Elesis se preocupa com você, Lass — falou Jin. — Ela se machuca muito pensando em você.

— Não, ela não pensa. Ela acha que é por mim, mas é por ela.

Lass fechou as mãos em volta da caneca de café. Estava vazia, mas continuava quente.

— Elesis está apenas me usando como desculpa para ter entrado no torneio. Ela quer se sentir mais forte, ela quer desafios maiores. É mais por ela do que por mim.

— Bem—

— Essa é a verdade, Jin. — Lass repousou a cabeça na mesa. Sem energias como a voz arrastada. — E você sabe que sim.

Nenhuma resposta. Ele ergueu a cabeça, vendo que o ruivo encarava a tigela de cereal.

— A Elesis só quer ser reconhecida.

O vermelho na bochecha de Jin pareceu maior, tornando-o tão frágil. A cada dia, ele perdia mais forças e se transformava nesse garoto desconhecido aos olhos de Lass, mas ainda o Jin que conhecia.

— Depois de todo o lance com a Cazeaje, a Elesis se sentiu muito fraca. Você deveria ter visto isso, durante esses dois anos.

Não tinha como mentir, ele tinha percebido. A Elesis pós Cazeaje agia estranha, forçando uma naturalidade que soou normal com o tempo. Ela não tinha mais as outras chamas, no qual deve ter sido o principal conflito com sua atual identidade. Sempre que surgia uma oportunidade de lutar, ela lutava e buscava por mais. Era cansativo, dias e meses contínuos assim. Até chegar no ponto sem volta.

Você é um fardo.

Lass odiava o Lass que falou isso. Não era para ter dito, mas disse, porque era uma verdade, de certa forma. O maior problema era como se expressou, o cansaço e a falta de descanso resultando em palavras tão afiadas que ainda marcavam a espadachim.

— Vocês, garotos, são tão bobos — comentou Amy.

A jovem se comportava indiferente. Terminava sua salada de frutas sem qualquer afeto ao assunto. Isso, até continuar:

— Elesis se sente fraca, sim, é verdade. Mas vocês esquecem que ela gosta de ser independente! Ela odeia depender dos outros, principalmente de um garoto como você! — Ela apontou a colher no meio da face de Lass. — Você é tão ridiculamente forte que isso deixa a Elesis zangada!

— E qual é o problema disso?

— O problema é que ela se torna dependente de você, bobão! — Com o insulto, veio um peteleco no olho de Lass. Ele se encolheu, furioso. — E por isso ela não tem controle do que pode acontecer com você. Ela quer ser mais forte justamente por isso, pra proteger seu bumbum quando o mundo todo se juntar pra te matar.

A ardência de seu olho pareceu piorar com os argumentos de Amy.

— Elesis sempre foi assim — disse a mesma, fazendo bico. — Conheço ela mais tempo que vocês.

Lass quis se sentir mais leve, porém restavam dúvidas. Acreditou em cada palavra de Amy, apesar da infantil voz aguda da mesma.

A jovem deixou a mesa.

— Tenho certeza que a Elesis está no torneio mais por você do que por ela própria. Tente entender o lado dela, ao menos.

Ele iria. Elesis tinha ações e atitudes muito simplistas, movidas por seus sentimentos e emoções. Quanto a sua linha de raciocínio, todos os pensamentos feitos antes dessas ações, era complexo. Lass tentava entender, mas Elesis o evitava, com medo de mostrar sua forma mais íntima.

— Como tá o Azin? — Lass procurou outro assunto para se ocupar. — Eu queria ter visto a luta.

Jin puxou os lábios para o canto. Ele tinha tocado numa ferida ainda aberta.

— Não foi uma luta, durou trinta segundos.

— Trinta?!

— Não exatamente. Talvez mais. — Suspirou, apoiando-se na mesa. — Mas ele tá se recuperando.

Uma onda gelada mexeu com o corpo de Lass. Era uma sensação péssima.

— Você acha que a Elesis poderia ganhar desse cara?

Para surpresa do ninja, Jin pensou.

— Não sei. Aquele cara é muito rápido, não sei se a Elesis aguentaria.

Uma pitada de realismo. Outra vez, Lass odiava tudo isso estar acontecendo por causa dele. Esta poderia ser uma boa motivação para pegar sua katana e resolver pessoalmente.

Entretanto, ele acreditava em Elesis. Ela era forte, muito forte.

Mais forte que o campeão de Arquimidia? Lass apenas precisava acreditar.

***

Elesis tinha piscado e a luta havia acabado. Não conseguiu ter uma reação diante o poder imensurável de Pino. Ele usava duas adagas, mas em nenhum momento o viu usar contra Azin.

O desconforto da dúvida fez Elesis empurrar o chão por uma última vez, forçando seus músculos do braço terminarem a flexão. Ela deitou de bruços e usou esse tempo para recuperar a respiração. O suor escorria por seu rosto vermelho, pulsante como seu coração. O sangue bombeava por seu corpo, também bombeava aquela mana.

Elesis sentia seu calor e não tinha nada que pudesse fazer para evita-lo. Tantos problemas, essa era o menor deles. Faltavam três dias para a final do torneio. Desde a luta contra Lin, a espadachim tem treinado diariamente, intensificando dia após dia. Ironicamente, sentia-se mais fraca.

Elesis se sentou no chão. Suas mãos não paravam de tremer. Ao tentar conter, o medo cresceu e as memórias da luta de Azin passaram por sua mente. Ela revivia aquele momento, todas as sensações de impotência ganhando forma do campeão de Arquimidia.

A última vez que Elesis se sentiu assim foi contra Gerard. Era como encarar um deus proibido.

Ela não ganharia. Decidiu ali, no salão vazio, sua derrota. Por isso ela deixou as lágrimas caírem, o choro silencioso estremecer seu lábio cortado. Elesis estava sempre lutando para não deixar suas inseguranças aparecerem, inclusive para si própria. Se tinha uma pessoa que não podia presenciar sua fragilidade era ela mesma, senão permitiria mais momentos como esse acontecerem.

***

Ronan tirou a camisa, e pelo reflexo do espelho viu o curativo que cobria seu ombro. Encostou apenas as pontas dos dedos e se encolheu no mesmo segundo. Estava mais sensível que ontem.

Arme observou da penteadeira seu machucado.

— Se quiser, eu posso curar.

— Não há necessidade. — Passou a mão por cima do machucado, mais uma vez. — Eu mereci.

Arme reprovou com o olhar.

— Você não precisa aguentar as dores por causa do Lass. Eu entendo o que ele fez, mas você não deveria simplesmente aceitar, Ronan.

— Você não estava lá para ver a reação do Lass.

A feição torcida de raiva não saía da mente. Lass reagiu em fúria, porém foram os olhos magoados que mais o marcaram. O sentimento de se sentir traído, ele entendia bem. E era muito ruim.

— Ronan.

Ele parou de olhar o machucado. Arme estava muito bonita para uma garota de pijama e cabelo com várias presilhas. Uma jovem tão encantadora que não merecia ter.

— Você fez sua escolha. Elesis e Adel também fizeram a deles. Não existe errado ou certo, vocês optaram pelo melhor caminho.

Ronan segurou a nuca, fazendo pressão com os dedos entrelaçados.

— O Lass merecia saber.

— Não é sua culpa!

Ela se levantou e segurou seu braço. Ronan se voltou para o espelho, olhando Arme indiretamente.

— Você fez o possível. Você só está se castigando por causa do cargo de líder.

— Bem, era meu trabalho tomar decisões certas.

— Você não vai desistir disso mesmo, né?

Ninguém entendia o peso que ele carregava. Era o peso do uniforme, o peso do machucado, o peso da tatuagem nas suas costas. Todas elas marcavam com seus erros e ninguém poderia ajuda-lo nisso. Portanto, se ele errasse, ele resolveria consigo mesmo.

Arme enxergou isso, compartilhando da mesma expressão.

— Você não é Cazeaje, Ronan.

— Mas e se eu tiver tratando o Lass como ela tratava? Eu...

— Ninguém tem a crueldade dela.

— Eu sou sobrinho dela. E se está no sangue, tipo uma doença inevitável? Eu posso dormir e acordar amanhã diferente. — Os dedos pressionaram com mais força. — Talvez Elesis esteja certa, eu posso virar minha tia.

Arme se afastou dele, soltou seu braço e se voltou à cadeira diante a penteadeira. Com todo o peso de consciência, Ronan se preocupou com o comportamento da maga.

— Você só acredita porque a Elesis te falou isso?

Arme abaixou o rosto, escondendo-se atrás da franja.

— A Elesis costuma perceber certas coisas.

— Mas não é por isso que você está pensando nela, não é?

Ronan tentou enxergar a expressão de Arme, mas ela se escondia. Estava com medo de ser vista por ele? Então se ajoelhou ao lado da cadeira.

— O que foi?

Arme tirou o cabelo da frente, pôs atrás da orelha. Era como se ele tivesse dito algo péssimo para ela. Magoada, os olhos piscavam com força para evitar qualquer demonstração de sentimento.

— Você ainda gosta da Elesis.

A voz da maga saiu baixo, mas pareceu um estrondo aos ouvidos de Ronan. Seu corpo enrijeceu, dobrando a dor do ombro.

— Hã?

— Você ainda gosta dela, Ronan. Você olha a Elesis como olhava antes.

Sua boca secou, a garganta formigava. Depois de tantas negações, a confirmação veio de outra pessoa.

— Não é bem isso, Arme...

— Eu... — Ela enrolou uma mecha nos dedos. — Não acho que seja uma boa hora para conversar sobre isso.

— Eu também quero entender o que tá acontecendo!

Não era culpa dele. O que sentia não era por vontade própria.

— Ronan...

— É mais complicado que parece, eu não sei como explicar exatamente.

Arme o impediu de continuar com a mão em seu ombro; o ombro bom. Ela sorriu, mas nada disso transmitia uma boa energia.

— Eu não deveria ter tocado no assunto, sinto muito. Você tem coisas mais importantes para pensar, então... — Arme juntou as mãos em súplica. — Vamos deixar isso para depois, por favor?

Ele negou, confuso.

— Não, você é importante...

Arme ficou de pé.

— Ronan, depois.

Ele continuou de joelhos no chão, observando-a ir para a cama. Arme tinha ficado distante de tantas maneiras.

Ronan se sentia mal, ao ponto de poder vomitar. A traição de Elesis tinha sido dolorido, como uma facada em seu peito, mas a dor de trair, embora indiretamente, dava a sensação de estar cuspindo pregos, todos presos dentro de si. Se movesse uma parte do corpo, sentiria as pontas atravessar sua carne.

Depois, Ronan se apegou a isso e levantou. Arme não escutaria nada que dissesse no momento, pois deixaria para um outro momento, quando entendesse o que estava acontecendo com seus sentimentos.

***

— Eu tenho pena de você, Elesis — disse Pino.

Ela deu dois passos para fora do castelo e a voz de entonação irritante veio de trás. Ao se virar, ficou surpresa com o surgimento de Pino. Roupas casuais, um jeito de andar que o fazia ser igual às outras pessoas andando pela rua.

— Se eu fosse você, desistira da final do torneio.

— O quê?! — Ela elevou a voz sem perceber.

— Estou apenas poupando suas energias. Até porque, o resultado está bem óbvio.

De todas as pessoas que Elesis quis socar naquela semana, Pino conseguiu superar todas. Nunca foi um mistério seu lado agressivo, mas presenciar pessoalmente era outra coisa. Elesis foi forçada a se conter, não entrar no jogo, seja qual fosse, do campeão de Arquimidia.

— Veremos isso na arena — disse Elesis.

— Claro, veremos isso na arena.

Elesis aceitou isso como uma despedida e o deixou.

— Mas tenho que dizer... — Pino parou na sua frente de braços cruzados. — Meu líder já decidiu o que fazer com o portador das chamas quando o tiver em mãos.

Ela tinha tentado, mas entrou no jogo mental do rapaz ao ouvir a referência de Lass. Pino tinha conhecimento do prêmio, como do relacionamento deles.

Elesis estava caindo numa teia de aranha e não tinha muito que pudesse fazer para escapar.

— Isso deve te ajudar como motivação para amanhã. — Pino sorriu, como se entregasse um presente para ela. — O portador das chamas azuis será morto. Ele é só um recipiente mesmo, o importante é o que tem dentro.

Ela se forçou a sair da teia, mas já estava presa completamente. Restou apenas olha-lo, paralisada pelas diversas emoções que estavam para transbordar.

— Lute com tudo que você tiver, Elesis. Nos vemos amanhã.

A bomba estava entregue e explodiu segundos depois da despedida. Seu corpo estremeceu, ainda ecoando as palavras de Pino.

Aquilo era uma declaração de guerra.

Elesis tomou rumo em passos longos. Era tanta fúria que sentia a pálpebra do seu olho tremer.

— Você parece estressada.

E como ela estava. Seu caminho até o colégio a fez ter tempo para pensar no que Pino disse, resultado: ela estava mais zangada. Era por isso que buscava seu par de sabres no quarto.

Lire apenas observou do canto.

— Elesis, respire um pouco.

— Eu preciso achar meus sabres, eu... — Ela puxou a caixa de metal sob a cama. — Ele acha que eu não posso vencer, aquele idiota. Quero ver agora!

Elesis ergueu os dois sabres, pronta para usa-los.

— Está falando do Lass?

— Quê? Não! — Ela abaixou os sabres. — Tô falando daquele babaca de Arquimidia. Acredita que ele veio até mim e jogou na minha cara que eu não posso vencê-lo?!

Lire olhou para seus sabres, depois para ela.

— E você consegue?

Isso foi tão ofensivo quanto um tapa na cara.

— É claro que posso! Você não acha que eu posso?

Lire cruzou os braços, desviando o olhar. Não precisava de palavras para respondeu à pergunta. Elesis devolveu os sabres ao cinto com um suspiro.

— Você é forte, Elesis! Mas, vamos ser realista, você viu do que aquele cara é capaz. Ele foi tão rápido, tão... — Ela procurou por palavras, e nenhuma parecia servir para definir a força de Pino. — Eu tenho medo que você possa terminar como o Azin.

— Eu sou mais forte que o Azin!

— Mas não é mais forte que o campeão de Arquimidia.

Era uma unanimidade. Elesis era forte, mas não o bastante para poderem dizer que ela era de fato forte. A espadachim tirou o cinto dos sabres, pondo sobre a cama com uma certa delicadeza.

— Eu tô fazendo isso pelo Lass — ela murmurou.

— E aposto que ele não quer.

Elesis usou a cama como apoio. Seu corpo era puxado para baixo, fazendo a força que usava para se manter de pé em um esforço inútil.

Não fazia porque Lass pediu. Justamente por ele ter negado, ela fazia.

Elesis se afastou da cama.

— Ele vai ter que querer.

Então deixou o quarto com um questionamento da elfa as suas costas. Elesis tomou rumo pelos corredores. Cada passo era uma batida mais rápida de seu coração, acelerando com o aperto dos seus punhos. Lire não tinha mentido, o que a fazia sentir mais ódio de si e de Lass.

Ao entrar no quarto dele, esse sentimento tinha crescido tanto que Elesis quase avançou com um soco. No entanto, ficou parada enquanto o ninja tentava entender o que fazia ali.

— Eu vou ganhar amanhã, queira você ou não!

A reação de Lass foi como esperada. Um estalar com a língua, seco.

— Ainda com isso? Eu já disse, desiste disso, Elesis.

— Por quê?! — Ela deu um passo adiante. — Por que eu deveria?! Estou lutando pela sua liberdade e você fica agindo assim, como se eu tivesse fazendo algo errado!

Lass largou os frascos de poção e produtos químicos. Deveriam ser para seu cabelo, ainda preto desde àquele dia. A cor escura combinava com sua pessoa, intensificando o azul de seus olhos. Um reflexo perfeito das chamas azuis queimando em seu interior.

— Esse é o problema, você não está lutando por mim ou minha liberdade. É por você, Elesis!

— Claro que estou!

— Não, você está lutando para se mostrar, pra mostrar para os outros líderes sua força. — Elesis tentou negar e Lass continuou. — E sim, você está fazendo isso. Porque se você tivesse preocupada comigo, minha liberdade, você teria pensado em outra forma.

Ela não teve tempo para pensar; nem Ronan e Adel. Tudo foi muito rápido, quando percebeu, já estava na festa com um vestido desconfortável.

— Você teria ao menos me contado — falou Lass, a voz desaparecendo com as últimas palavras.

Em partes, ela concordou. Havia outras alternativas, caminhos mais arriscados, porém que fizessem Lass se sentir seguro, no controle da situação. Elesis decidiu sozinha algo que não era dela, apesar de se importar tanto.

— Não importa, tarde demais. Amanhã é a final e eu não vou desistir só porque você pediu.

— Você deveria desistir não porque eu estou pedindo, e sim porque você vai perder.

Mais um tapa ofensivo.

Ela era forte. Ela era forte. Ela era forte.

— Eu vou vencer.

— Desista.

— Não!

Lass bateu com o pé no chão.

— Elesis, se importe com você, uma vez na vida! Você nem está aguentando ficar de pé.

Ela abriu a boca, surpresa. Lass a enxergava através das mentiras.

— É, eu sei que você está com os joelhos doendo depois da luta da Lin. — Ele balançou uma das pernas. — Esqueceu? Eu também sinto.

No momento seguinte, a postura de Elesis mudou. Ela tinha mentido para si, inclusive. Seus joelhos doíam tanto agora que aceitava a realidade.

Mas Elesis decidiu focar sua raiva em outra questão. Puxou o zíper do seu casaco, o tirou e arremessou para o lado.

— Que seja então — ela disse, erguendo os punhos fechados. — Você acha que eu não posso ganhar a luta de amanhã. Ok. Vamos resolver isso aqui e agora.

— Do que você tá falando?

— Uma luta, eu e você, aqui. Sem armas, sem magias ou qualquer coisa do tipo. — Seus punhos apertaram, rangendo pelo roçar da pele. — Me derrube e eu desisto da luta. Eu te derrubo e você aceita de vez o torneio.

A explicação fez Lass piscar os olhos cansados.

— Cê tá de sacanagem, né?

— É sério! Venha, eu te provo que sou mais forte que você.

Lass não fez mais perguntas, nem parecia encarar aquilo como uma piada. Em vez disso, ele fechou os punhos e os ergueu.

Em comparação, Elesis tinha uma postura defensiva, mãos próximas do rosto, enquanto Lass se mantinha na ofensiva, pernas abertas de uma forma espaçosa. Assim ele deu o primeiro passo, e com apenas esse passo, ele estava próximo da espadachim.

Ele a chutou, Elesis agarrou sua perna e girou para o chão. Ambos caíram. Lass se recuperou, avançando para cima com um soco. Foi a vez do seu pulso ser segurado, sendo preso pelas pernas da ruiva. Como uma tesoura, prenderam em volta do seu pescoço e braço.

Elesis puxou seu membro com mais força, como apertou as pernas. Lass perdeu ar, então usou sua única mão livre para afastar a perna que o prendia. Pela expressão séria, era visível que ela não o deixaria ser solto tão facilmente.

Lass forçou seu braço, tentando, ao menos, ter o pulso livre. Também não. Elesis tinha o pegado de jeito e estava disposta a apaga-lo ali, sem nenhuma piedade. Grande determinação, ele reconheceu isso.

Mas ele também tinha um motivo para não perder.

Voltou a segurar a perna em volta do seu pescoço, em seguida, pôs o pé no chão em apoio, logo o outro. Sentindo a consciência escorregar de si, Lass se moveu lentamente, erguendo-se e puxando o corpo de Elesis junto. Ela era pesada, muito pesada. Ao sentir que não encostava mais no chão, ele desceu com tudo.

A pegada no seu pulso afrouxo. Lass puxou a perna de Elesis com toda força, abrindo apenas uma brecha, então se jogou para trás. Rolou pelo chão, enfim livre.

Elesis levantou no segundo seguinte. Como ele, bastou um passo para ela estar perto o bastante para acertar o chute que vinha mirado na sua cabeça. Lass girou outra vez pelo chão. Elesis atingiu a parede, encolhendo-se em volta do pé. Isso podia a ter parado, mas por ser A Elesis, aquilo não aconteceria.

Mais um passo e ela estava caindo sobre ele. Punho erguido que desceu como um meteoro. Lass desviou a cabeça para o lado, ouvindo o som da batida no piso. Com a outra mão, Elesis o segurou pelo maxilar e desceu com mais um soco.

Lass fechou os olhos. Ao abri-los, viu o punho de juntas estouradas próximo do seu rosto.

— Eu venci! — falou Elesis.

 Os movimentos rápidos, a força exercida nessa velocidade, uma combinação perfeita que deixou Lass sem reação. A sensação foi de ter sido derrubado por Jin, a única pessoa capaz de lutar sem uma arma ou magia.

 Elesis afastou o punho do seu rosto, então ficou de pé. Ela se dirigiu à saída, e ver a imagem da espadachim partindo fez Lass sentir um aperto no peito.

— Elesis.

Ela se virou, agitando furiosamente a mão machucada.

— Eu venci, cumpra com sua palavra!

— Uma revanche... — Lass se levantou, desiquilibrando-se para o lado. — Uma revanche.

— Você não me daria uma revanche.

— Só mais uma!

Ela torceu o nariz, porém ergueu os punhos novamente. Lass fechou as mãos e se posicionou, longe de estar numa forma de luta. Era uma postura tão preguiçosa da sua parte.

O punho ferido de Elesis sangrava, em volta disso, um vermelho de inchaço. Ele tinha feito aquilo com ela. Elesis mexeu os braços, como se pesassem estar naquela posição, e as queimaduras de mãos ficaram mais à vista. Ele tinha feito aquilo com ela. Desde sua chegada, tudo que Lass fez pela espadachim foi machuca-la, afasta-la cada vez mais.

Ele deu um passo pequeno à frente. Não queria mais machucar sua amada, mas também não queria que ela se machucasse por ele. Logo seus braços começaram a cansar e deixou de resistir. Sentindo o mesmo peso, Elesis abaixou os punhos, desfez o semblante sério.

Eles não queriam brigar, não queriam mais lutar entre si. Eles só queriam estar juntos.

Lass deu mais um passe e avançou. Agarrou a espadachim pelas pernas e a ergueu contra a parede. Elesis o segurou pela camisa e o beijou. A virada de clima simplesmente aconteceu assim, com a vontade de descerem o soco um no outro para um beijo faminto. Lass a pressionou contra a parede e Elesis apertou seus ombros. Eles sabiam se entender bem.

De um jeito ou de outro, sempre começava em discussão e terminava sobre uma superfície, fosse o chão ou a pequena cama de Lass. Elesis deitava sobre ele, mas se afastava com um olhar diferente. Uma Elesis diferente. Ela o ajudava a tirar a camisa, logo a dela. Era nesse momento, vendo a espadachim de sutiã, que seu corpo começava a aquecer, tanto por nervosismo quanto pelas chamas.

— O que foi? — ela perguntou.

Ele não sabia. Não tinha nada de errado, nada que o fizesse se sentir assim, estranho. Sem uma resposta, Elesis pegou sua mão e levou ao seu seio. O coração de Lass acelerou. Aquilo era um ato de provocação que não sabia como reagir. Sentia o coração da espadachim bater, mas pouco se comparava ao seu.

 Ela perguntou novamente, apenas com o olhar. Enquanto isso, levava sua mão contra os lábios dela. Um beijo, dois beijos e uma mordida na palma. Não foi forte, pois o propósito era outra provocação. E funcionava. Lass se sentia quente, atraído pela garota sobre seu corpo.

Quando ela se deitou sobre si e encontrou seus lábios, sentiu outra vez a sensação de perda de controle. No entanto, agora era diferente. Entre os beijos de Elesis, Lass percebeu como a temperatura do seu corpo não aumentava. Estava quente, mas não esse quente. As chamas estavam quietas. Numa forma de teste, ele se deixou levar pelas sensações que Elesis causava nele. Era bom. Bom até demais. E as chamas continuaram imóvel.

Não entendia o que acontecia, mas pouco importava. Lass se sentou, puxando o corpo de Elesis contra o seu.

— As chamas não tão reagindo — ele murmurou.

Elesis o olhou, percebendo ao passar a mão por seu braço.

— Hum.

— Então... — Ele quase não conseguia falar. — Você quer?

Elesis sorriu.

— Você quer?

Lass se aproximou do ouvido dela.

— Eu quero você.

Ela segurou seu rosto e deu um beijo lento. Sentiu a mão subir por seu torso, parando em volta do seu pescoço. Um contato leve dos dedos, que agarraram agressivamente e o empurraram contra a cama.

— Ótimo! — Disse Elesis. — Então espere pacientemente até o fim do torneio.

Ela soltou seu pescoço e levantou da cama.

O que tinha acabado de acontecer?

— Elesis, o que—

— Eu acabei de dizer. Vamos fazer depois do torneio.

Elesis pegou a camisa no chão e a vestiu. Lass se sentou na cama.

— Não, espera! Você não tá falando sério, tá?!

Ela sorriu, assentindo.

— Mas eu não sei se vou ter o controle das chamas depois...

Era o que o deixava tão desesperado. Quando teria outra oportunidade como essa?

— Bem, torça por mim no torneio. E se eu ganhar — ela segurou seu rosto e se inclinou — a gente faz, com ou sem chamas.

Isso arrepiou Lass.

Elesis soltou seu rosto e se dirigiu à saída.

— Cumpra com a sua palavra! — ela disse.

Com a ida de Elesis, Lass sentiu um frio inconveniente. Tão perto, mas tão longe. Ele precisava de um banho quente.

***

Ronan pôs sua capa dourada enquanto um jovem serviçal prendia seu longo cabelo. Mecha por mecha, seu cabelo foi preso e a franja aparada. Sem mais fios sobre seus olhos.

Ele se viu no espelho antes de sair do quarto. Um rei, aparentemente. E isso bastava, por enquanto.

— Ronan.

Holy o chamou na saída do castelo.

— Estão te chamando no Conselho. Parece que tá tendo um problema nos arredores de Canaban.

— Arredores? — perguntou Arme, vindo atrás.

Ronan também não entendia a preocupação sobre algo tão pequeno. Sempre tinha algum problema pelas redondezas, mas nada que seus soldados pudessem resolver sozinhos.

— Eu também não entendi, mas parece ser sério — falou Holy.

Ele pensou sobre.

— Ronan, você tem que estar presente na cerimônia final do torneio — lembrou Arme.

Era um problema pequeno, ele queria se convencer disso. O problema estava na urgência que seus companheiros colocavam sobre. Nunca o alertavam sobre uma situação facilmente resolvível.

— Eu vou ir no Conselho, vai ser rápido.

Arme o observou descer a escadaria.

— E quem vai ficar no seu lugar?

— Peça ao Adel. Ele sabe falar melhor com o público do que eu. — Ele parou e se virou. — Holy, me acompanhe.

Ela assentiu e desceu correndo atrás do rapaz. Arme continuou no topo da escada, uma certa reprovação marcando seu rosto.

***

Depois da visita de Elesis, Lass não conseguiu dormir. Sendo bem honesto consigo, após a ida da espadachim, ele só conseguiu pensar na possibilidade de acontecer se ela não tivesse o deixado.

Assim foi para a cama. Pensando. Quando acordou, porque ele tinha apagado em algum momento da noite, teve a surpresa reação de tudo isso sob as cobertas.

Elesis era responsável por isso.

Tudo que restou a fazer foi levantar cedo, pôr uma pá sobre o ombro e continuar com seu hobby.

— Seu cabelo ainda tá preto — ouviu Jin comentar, risonhamente.

Lass lançou um olhar irritado, marcado por olheiras. Como ele, Jin também carregava uma pá sobre o ombro.

— É, isso é um sinal para eu não pedir mais ajuda a você.

— Ah, vai! Como eu poderia saber que era uma tinta definitiva?

— Talvez lendo a maldita caixa?!

Jin olhou para o alto, pensativo. Apontou para Lass. Bom ponto.

— Então, quando você pretende dizer para onde estamos indo?

Com a pergunta, eles chegaram no cemitério de Canaban. Jin engoliu seco, mas não deixou de segui-lo.

— Eu tenho que resolver esse mistério do Astaroth — mencionou Lass. — E tem uma forma definitiva para isso.

Pararam diante uma lápide. Pertencia a Bardinar Astaroth.

Lass enfiou a pá no gramado.

— Não precisa me ajudar, se quiser.

— Já estou aqui, vou te ajudar nisso. Estou tão curioso quanto você.

Jin tirou o casaco e arregaçou as mangas. Lass não desviou o olhar dele.

— Por que não vai ver a final do torneio?

O lutador se apoiou na pá.

— Não quero ver. O resultado, eu tenho medo de qual vai ser...

Lass concordou. Uma parte da arena era visível de onde estava, toda a energia atingindo mesmo longe. Por mais que quisesse ver a luta, a melhor decisão era se manter distante. O resultado que fosse, Lass estava preparado.

Seja sua liberdade ou sua cabeça cortada.

***

 As juntas inchadas doíam desde ontem. Elesis tinha colocado gelo, mas as feridas continuaram e as dores apenas pioravam com o mover dos seus dedos. Segurar o cabo do sabre tinha se tornado um desafio.

Elesis olhou sobre o ombro. O corredor continuava vazio. Arme tinha avisado a ela que Ronan não viria agora, pois estaria resolvendo um problema no Conselho. Isso também explicava por que ela ouvia a voz de Adel ecoar pela arena, em vez do líder de Canaban.

Quando chegou o momento de ir, Elesis respirou fundo. Estava sendo difícil se manter de pé, ter que se mover era pior. O caminho até a arena levou anos, e ela desejou durar mais, nunca ter que sair dali e enfrentar ele.

Elesis parou e encarou Pino do outro lado da arena. Seu almoço quase subiu por sua garganta, talvez por uma razão de medo ou por uma razão de raiva. Era difícil saber o que sentia em relação ao seu adversário.

Adel continuava a falar e ter toda a atenção para si, menos a dela. Elesis não tinha ideia do que ele falava, mas ouvia seu nome em algumas sentenças. Pino também não aparentava se importar com o que era dito, já que seus olhos não desviavam dela.

— Os dois campeões estão preparados?

Pino assentiu sem hesitação.

Elesis desembainhou os sabres em um sinal positivo. Levou uma das lâminas ao rosto, depositando um beijo sobre o metal frio. Sua mão não parava de tremer, tanta insegurança que a tornava irreconhecível. Nunca, em toda sua existência, tremeria diante um inimigo. Ela já enfrentou Cazeaje e Gerard; ninguém se comparava a eles.

Mas o medo de perder a liberdade de Lass a estremecia.

— Preparar!

Com medo ou não, Elesis se posicionou com seus sabres. Não existia outra opção além de vencer.

— Lutem!

Elesis passou ao lado de Pino com dois cortes seguidos e somente parou ao atingir a lateral da arena. Cansaço estremeceu suas panturrilhas, mas os olhos continuaram com o vermelho intenso.

Quanto a Pino, havia desaparecido e surgido do outro lado da arena. Intocado.

Elesis continuou. Os sabres era a melhor arma que ela poderia usar na final. Com uma espada, ela era rápida, com duas, tinha total alcance da área a sua volta. Mas isso não estava sendo o bastante para enfrentar Pino. Sua velocidade de esquiva se igualava aos cortes dela. Quanto mais tentava, mais distante ficava de acerta-lo. Ele se habituava bem à situação, numa questão de segundos.

Elesis estava usando uma boa quantia do berserk e nada. Nenhum acerto. Nenhum cansaço no adversário. Ela começava a entrar em desespero.

— Eu esperava mais.

Pino bateu no seu punho, tanta força que a fez perder um sabre. No mesmo movimento, pelo que pareceu ser, ele acertou um chute contra seu peito. Elesis piscou e se deparou no chão, caída em uma posição ridícula. Ela levantou, quase voltando ao chão pela tontura.

Somente agora, percebeu a falta de arma de Pino. Ele não tinha nenhuma, exceto por seu sabre que pegava do chão.

— Ei!

— O quê? Quer de volta? — Ele sorriu. — Vem pegar.

A provocação, esse foi o despertar da realidade. Elesis foi tomada por ira, apenas ira. Pino não estava levando a luta a sério, não tinha metade do esforço que teve na luta contra Azin. Ele brincava com ela.

Elesis moveu o sabre para o lado e arrastou seu pé para frente. Seu coração palpitava intensamente, carregado pela raiva que tomava conta de cada parte do seu corpo. Era um calor, ardente em volta dos seus olhos.

Segurou o cabo firme e deixou ser levada pelos instintos. O ar foi partido ao meio com seu único movimento. Um instante estava parada, no outro, diante Pino com o corte horizontal. Novamente, o ar foi cortado, a barreira do som quebrada, restando apenas o som de chicote seguido pelo silêncio.

A poeira abaixou. Pino continuava de pé, mas o corpo jogado para trás, quase deitado sobre o único braço que usava de apoio. O outro braço se ocupava com o sabre que atravessava o peito de Elesis.

Calor transbordou por seu torso e costas. Ela tentou se mover, ter uma reação, sendo o suficiente para despertar todas as sensações.

Pino sorriu. Ele arrancou a espada de seu peito. Elesis não suportou o próprio peso de continuar de pé, então desabou de joelhos.

Seu coração transmitia dor. Ela pôs a mão por cima, sentindo o sangue derramar de sua palma.

— Você deveria ter me escutado.

Por trás da voz de Pino, Elesis ouviu seu nome ser chamado diversas vezes. Não era uma torcida, eram gritos desesperados.

— Eu esperava mais de você, Elesis.

Era a primeira vez que via Pino. Não aquelas facetas, o verdadeiro. Ele tinha um olhar diferente, apesar da expressão ser a mesma.

Elesis abriu a boca e um corte foi feito na sua garganta. A velocidade, ela simplesmente não conseguia acompanhar. Sua única reação foi segurar o sangramento, da forma mais inútil possível. Ela bateu com o rosto no chão, cuspindo sangue e saliva.

A visão borrada começou a escurecer. As pernas que se debatiam pesaram de cansaço. O frio que aguardava nunca chegava, apenas um calor crescente. Ela era o próprio sol. Quente. Brilhante.

Elesis se despedaçou até não restar mais nada.

***

No momento que pisou no Conselho, Ronan sentiu algo de errado. Não ali, em algum lugar. Ele foi informado que uma ameaça desconhecida rondava pelos arredores de Canaban, destruindo tudo por seu caminho. Por que tinha que ser logo no dia da final do torneio? Estavam conectados? Estava disposto a descobrir.

Mas também ansiava por assistir à final. Sentia-se péssimo sabendo que a luta de Elesis começava agora e ele não estava lá, torcendo por ela.

— Se quiser, eu posso ir resolver esse problema — contou Holy. — Não deve ser grande coisa.

— Não precisa, parece ser muito importante. Para essa pessoa ter passado pela minha barreira, ele deve ter passado por Serdin, que não foi capaz de segura-lo. É... — Coçou o queixo. — Ninguém seria louco de fazer isso.

Ronan parou de andar quando algo atravessou a janela do corredor. Holy se colocou na sua frente imediatamente.

Tinha sido uma pessoa, escondida pela longa capa e capuz. Ela se levantou sobre os cacos de vidro, enfim expondo seu rosto. Parecia uma criança, a estatura pequena, o rosto juvenil. Se aproximasse mais um passo, veria que ultrapassava a altura de Holy por poucos centímetros.

Aparentemente, um desconhecido inofensivo. Mas não era isso que Ronan sentia.

— Você.

Ele apontou para Ronan. Esse simples gesto revelou mais da sua aparência. Uma cruz preta na testa e cabelos roxos.

— É o Erudon, não é mesmo?

Ronan ergueu as sobrancelhas.

— Ronan Erudon, sou eu. Quem é você? O que quer?

O garoto torceu o nariz.

— Ah, Ronan. Estou procurando por outro Erudon.

O interesse de segundos atrás desapareceu do desconhecido. No entanto, Ronan levou a mão ao cabo da espada, lentamente.

O garoto percebeu e isso o paralisou.

— Mas você vai dar trabalho, pelo que vejo. Bem...

Ronan quase foi derrubado pela revelação de mana do mesmo. Era esmagadora. Pela reação de Holy, como a sua, deveria sentir o mesmo.

Mova-se, berrou Ronan para si. E ele se moveu. Tirou a espada da bainha, deu um passo e—

O disparo de energia atravessou seu crânio. Seu corpo não se mexeu, mas balançou inconscientemente. Procurava por forças enquanto se segurava pelo fio de consciência.

Que então se rompeu.

Holy não conseguiu piscar, nem mesmo quando viu seu rei desabar no chão. Um buraco escuro no lugar do olho esquerdo.

Ela se voltou para o garoto. Ele abaixou a mão que formava uma arma com os dedos. Antes, assoprou a fumaça das pontas, toda sua falta de empatia surgindo no pequeno gesto.

 — Você...

Ele a olhou. Holy apertou os punhos, segurando as lágrimas.

— Você...!

Tirou de seu cinto o pequeno martelo. O objeto brilhou e cresceu até ficar da mesma altura que ela. O garoto riu.

— As Deusas nunca te perdoarão.

Holy segurou o cabo com as duas mãos.

— Não estou procurando por perdão, garotinha.

Esse foi o gatilho para o ataque da paladina.

***

O caixão estava vazio.

Lass esperava por isso, mas não conseguiu evitar de ficar surpreso. No fundo, existia uma expectativa de encontrar o corpo de Astaroth, ou seus restos mortais; qualquer coisa que pertencesse ao seu antigo mestre.

— Ele foi enterrado aí — disse Jin, tão surpreso quanto ele. — Eu lembro... Eu vi o corpo do Astaroth.

— Ter visto o corpo não prova muito. Podia ser falso, ou ele se enterrou vivo e depois foi desenterrado.

Típico de Bardinar Astaroth.

Lass bateu as mãos de terra. As palmas vermelhas pelo esforço exercido para descobrir uma verdade que já desconfiava antes. A surpresa que sentia deveria ser positiva, porém se resumia em uma negatividade. Isso o deixava triste. Só não tinha certeza se era uma tristeza por Astaroth estar vivo ou por ele estar certo.

Lass não sabia mais o que era real.

— Lass.

Fora da cova, Jin olhava para outra direção. Lass saiu do buraco, vendo a pessoa que se aproximava. Conseguiu o reconhecer antes de parar perto deles.

Além do mais, a mana de Duel era sentida a quilômetros de distância.

— Duel?! — Jin questionou. — Não sabia que você estava na cidade.

A última vez que Lass tinha visto Duel, foi antes de toda a situação contra Cazeaje e Gerard. Ele era um asmodiano muito forte, e por isso não ousava interferir em problemas mundanos. A neutralidade era a melhor regra que ele podia ter enquanto vivesse em Ernas, porém, Lass começou a desconfiar disso ao sentir sua aura agitada.

Duel nunca ficou nervoso.

— Lass, eu preciso que você venha comigo.

A voz grave saiu baixa, mas perfeitamente audível.

 — Ir? — Seu desconfio cresceu. — Para onde?

— Venha comigo, é importante.

Jin lançou um olhar discreto para ele. Também desconfiava.

Lass se moveu, tentando fazer o movimento da sua mão até sua cintura em algo natural. Seu coração congelou pela falta da katana.

— Sabe, Duel...

Lass teve tempo de reagir à aproximação de Duel, mas não o suficiente para esquivar do ataque da espada. A eclipse era uma espada com dois lados: um afiado e outro cego, justamente feito para esmagar. Ele foi acertado na barriga pelo lado cego, então arremessado.

Lass girou, batendo em lápides até parar sobre uma. Sem noção do espaço a sua volta, a mente ainda girando, ele não conseguiu fazer muito. Através da visão turvada, viu Duel se aproximar, sendo parado com a entrada de Jin no seu caminho.

Ele esticou os braços, as mãos trêmulas.

— Espere, Duel. O-O que é isso? O que o Lass fez pra você?!

— Saia.

Jin estremeceu. Lass não tinha se levantado ainda, estava se recuperando da porrada. A única opção restante era de ajuda-lo. Defende-lo. Mas o que era Jin contra Duel? O Duel.

— D-Duel...

Jin se aproximou com as mãos abertas, mas foi recebido pelo mesmo golpe de Lass. A espada bateu em seu peito, numa força colossal. Sentiu seus pés se distanciarem do chão, então se distanciarem, indo mais e mais. Quando notou, ele voava. Entre as nuvens, voou e logo tomou um pouso de emergência.

Atravessou uma superfície dura e parou sobre outra. Vozes confusas o rodeavam. Jin não conseguiu manter a atenção nas perguntas, mas no céu visto através do buraco sobre ele.

O céu estava azul, poucas nuvens. De repente, a cor calma do azul começou a ser tomada por um tom róseo. Como uma mancha que se espalhava lentamente.

Isso foi tudo que Jin viu antes do seu mundo ficar escuro.

***

Aquela era uma situação estranha. Se pudesse usar uma palavra melhor, Lupus usaria constrangedora.

Edel não queria ver a final do torneio, pois, de acordo com ela, já estava decidido e seria uma completa perda de tempo. Lupus não tinha muito pelo que concordar, nem discordar, por isso decidiu vagar pela cidade ao lado dela. Sem nenhum rumo.

Isso, até o encontro com Regis. Lupus tinha tentado se esconder nas barracas, fingido que não o conhecia; mas seu pai o conhecia e Edel conhecia o grande caçador de recompensas de Elyos. Foi inevitável.

Como também as perguntas foram.

— Espera — Regis a olhou bem, depois para ele. — Você é a namorada do Lupus?

Lupus tentou evitar esse momento, mas não tinha como fugir, aparentemente.

— Namorada? — Edel experimentou a palavra na boca. — Não sei. Eu sou sua namorada?

Ele também tentou evitar isso.

— Não estamos namorando — ele respondeu para ambos. — É... complicado.

— Como você consegue dizer isso com uma garota tão bela desse jeito?

O rosto de Lupus esquentou. Era raiva, ele tinha certeza que era isso. Não era vergonha porque Lupus Wild nunca coraria diante seu pai e a garota que gostava. E essa era a quarta situação que ele tanto tentou evitar.

— Não se preocupe — disse Edel para Regis. — Seu filho é orgulhoso demais para declarar qualquer coisa com as próprias palavras.

— Ah, meu outro filho também é assim. Parece ser uma coisa deles.

— Mesmo? Sempre achei que o Lupus fosse o mais frio.

Lupus se colocou no meio deles, literalmente impedindo a continuação da conversa. Ele lançou um olhar ranzinza para seu pai.

— O que você quer?

— Eu queria ter uma conversa com você, sobre toda a possibilidade do Berkas. Trouxe algumas munições novas que possa te interessar.

Edel contornou o braço por seu pescoço, usando-o de apoio.

— Ainda com isso em mente?

Ele assentiu, sério. Edel deu uma leve risada de deboche.

— Por que você tem tanta certeza que o Berkas pode aparecer em Ernas? Não parece algo absurdo demais?

Sim, soava absurdo saindo de sua boca. Se alguém contasse o mesmo para ele, não acreditaria. Berkas era uma criatura colossal, seu surgimento em Ernas necessitava de tantos fatores que ele tinha dor de cabeça pensando em todo o processo.

Mas Lupus acreditava. Não era porque uma senhora tinha dito para ele, e sim como ela tinha dito. Isso mudava tudo.

Lupus se viu preso no assunto quando tentou se afastar, mas não conseguiu. Já estava para acontecer. O sinal veio do céu, direto na barraca ao lado deles. As pessoas se assustaram e correram para longe. Ao contrário, Edel se aproximou do local.

O corpo estirado sobre os pedaços da barraca logo foi reconhecido; pela mana, não pela aparência.

— Lass? — Lupus não acreditava.

Seu irmão estava de cabelo preto, porém o profundo corte em seu peito aberto era o que o tornava irreconhecível. Edel se ajoelhou ao lado dele e Lupus fez o mesmo. O ninja cuspia sangue, mexendo as mãos sujas igualmente.

— O que foi? — Edel perguntou. — Quem fez isso com você?

— Por que você não está se regenerando?

Na verdade, Lass estava, mas era tão lento que pouco conseguia ver.

— Isso é obra de uma espada.

Regis estava atrás deles, olhos que não piscavam. Ele não sabia como reagir.

Então apareceu o culpado. Duel pousou, a eclipse de lado, suja de sangue. Lass segurou com mais força o braço deles, tentando se levantar ou afasta-los.

— Duel, o que é isso?! — Perguntou Lupus.

Duel apontou para Lass.

— Eu preciso dele.

— Para quê?!

Duel não era alguém de muitas palavras, Lupus tinha esquecido disso. Mas era de atitudes. Ele ousou se aproximar, parando com a entrada de Regis no caminho. O revólver que segurava não era o bastante para enfrentar a eclipse, porém era uma arma e isso valia.

Antes que qualquer luta pudesse começar, um brilho no céu os alertou; menos Regis e Duel que mantiveram o contato visual. Lupus precisou ficar de pé para ver de onde vinha.

Então seus olhos arregalaram. O faixo de luz vinha do centro da arena do torneio e subia ao céu, conectado ao portal roxo que começava a abrir. Ele tomou comprimento suficiente para algo sair dele. Então, isso caiu do portal.

Ao colidir no chão, Lupus havia caído junto. Todas suas forças desapareceram ao vislumbrar o brilho das suas escamas marrons. Mesmo distante, Berkas era uma criatura de tamanho pavoroso. Ele rugiu e toda a cidade estremeceu.

O que estava para acontecer?


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Notas finais do capítulo

Review?
* É kkkkkkkkk Agora vocês entendem por que eu estava ansiosa por esse capítulo. Agora a história começa. Digamos que tudo isso até agora foi um prólogo.
* Já peço para não entrarem em desespero e ficarem perguntando sobre algum personagem. Não se preocupem, eu lembro de todo mundo e não vou deixar de lado kkk Falo isso pq vai ser bem comum daqui em diante.
* Próximo cap pode demorar, então já peço um grande perdão.



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