O namorado da minha melhor amiga. escrita por A garota do livro


Capítulo 6
O Aniversário do Guilherme.




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Na sexta feira à noite vou com a minha mãe jantar na casa da sua amiga. Sempre achei a amizade das duas tão bonita. São amigas desde o ensino médio e mesmo com o passar dos anos nunca se afastaram, é muito raro isso acontecer.

— Eu trouxe vinho – minha mãe diz quando Adriana abre a porta.

Adriana é uma mulher linda, tem o cabelo bem curtinho e os olhos arredondados que combinam com seu nariz pequeno. Ela está sempre sorrindo, mesmo durante seu divórcio eu nunca a vi deprimida.

— Quem vai dirigir? – Ela pergunta quando já estamos dentro da sua casa.

— Viemos de Uber – Minha mãe explica.

Enquanto preparam o jantar eu me sento na sala e ligo a televisão. Bruna me manda uma mensagem de voz:

— Aline, não esquece que amanhã é o aniversário do meu irmão, você tem que vir – Sei que não é um convite, mas uma convocação.

Esqueci completamente o aniversário do irmãzinho da Bruna. Nem presente eu comprei, como vou chegar amanhã de mãos abanando?

Mando uma mensagem de voz para ela:

— Amiga ainda bem que você me lembrou, porque eu esqueci. Não comprei presente!!!

Bruna responde com uma mensagem de texto:

“não esquenta”

Ela me manda um foto sua com um vestidinho rosa de alçinha, o vestido marca bem as suas curvas.

“comprei hoje, vou usar amanha”

“Ual que corpaço. Ficou lindo em você”

“Te vejo amanhã” Bruna encerra a conversa.

Corro até a cozinha.

— Mãe, amanhã é a aniversário do irmão da Bruna.

— Cuidado Suzana – Adriana alerta minha mãe, colocando uma forma quente sobre o fogão.

— E? – ela olha pra mim.

— Não comprei nenhum presente.

— Fala que depois você entrega.

Minha mãe é pratica, ela sempre arruma a solução para um problema em segundos.

— Eu não vou aparecer de mãos abanando – balanço a cabeça.

— Depois do jantar podemos ir até o shopping – Adriana sugere.

— Ou isso ou a Aline vai ficar me importunando com esse assunto.

Adriana pisca pra mim e eu dou um largo sorriso.

No dia seguinte me arrumo para o aniversário. Coloco um vestido preto de alçinha para combinar com a Bruna, um tênis branco e amarro uma camisa jeans na se cintura caso esfrie mais tarde. Passo um pouco de maquiagem, não sou boa nisso, o que eu sei fazer é o básico do básico. Antes de sair do quarto, tiro uma foto em frente ao espelho, faz tempo que não posto uma foto minha. Pego o presente que compramos ontem no shopping, é um lego, tenho certeza que ele vai gostar o Guilherme adora lego.

— Vamos mãe? Já estou pronta.

Ela vai me levar até a festa mas não consegui convencê-la de participar da festa de jeito nenhum.

— Você viu as chaves – ela pergunta quando aparece na sala.

— Está na sua mão – dou risada, ela está toda atrapalhada.

— Estou com a cabeça nas nuvens.

— Eu percebi. Viu o passarinho verde foi?

Já faz algumas semanas que eu percebo que minha mãe está distraída. Esses dias eu peguei ela conversando com o filho do vizinho no estacionamento, eles devem ter mais ou menos a mesma idade e quando ela me viu ficou toda sem graça, quase me pediu desculpas por conversar com um homem. Será que ela pensa que eu nunca vou aceitar que ela namore com outra pessoa? Eu quero mais é que ela seja feliz.

— Vamos, quero voltar logo – ela abre a porta.

— Tem certeza que não quer ir a festa?

— Absoluta.

Ela me deixa na casa de Bruna e vai para o supermercado, nunca vi alguém gostar tanto de supermercados.

O portão social está aberto e eu entro. Cumprimento algumas pessoas que encontro pelo caminho. Bruna está sozinha na sala ligando o videogame, não usa o vestido que me mostrou ontem por foto, está com uma calça jeans e uma bata branca.

—Ué, cada o vestido? – pergunto chamando sua atenção.

— Ficou muito curto – ela me da um abraço.

— Isso nunca foi um problema para você – Bruna nunca ligou para isso.

— Hoje não to afim.

Percebo que ela não quer ficar se explicando. Fico aliviada por encontrá-la sozinha e não com o Miguel.

— Cadê o aniversariante?

— Está com algum amigo por ai. Sua mãe não quis vir?

— Sabe como minha mãe é com festas. Foge como o diabo foge da cruz.

Miguel entra na sala e entrega um copo d’água para Bruna.

— Obrigada – ela o beija e eu desvio o olhar.

Isso é tão estranho pra mim, sinto que não deveria estar aqui.

— Oi Aline – Miguel acena para mim de longe.

— Oi – dou um sorrisinho fajuto.

Bruna volta sua atenção para o que estava fazendo. Miguel me encara, ele literalmente me encara dos meus pés a cabeça, parece que vai me engolir com os olhos. Fico tão sem graça que saio da sala imediatamente. Do jeito que ele me olhou eu senti como se estivesse nua, de repente o cumprimento do meu vestido me incomoda, talvez devesse ter escolhido outra roupa, isso é a festa de uma criança.

O quintal já está cheio de convidados. A decoração é inspirada no lego, eu disse que ele adora. A casa da Bruna é linda, nos fundos da casa tem um quintal enorme com piscina e um espaço gourmet com churrasqueira, mesas e cadeiras. Eles contrataram a decoração, não é nada extravagante mais está muito lindo.

Guilherme me vê e corre na minha direção.

— Que bom que você veio – ela abraça minha cintura.

— Você acham mesmo que eu ia perder seu aniversário? – abaixo um pouco e dou um beijo na sua bochecha.

Entrego o presente para ele.

— Não precisava – fica todo feliz com o embrulho nas mãos – obrigada.

Guilherme corre e se junta as outras crianças para abrir o presente. Ele é tão educado, não é a toa que a mãe dele sente tanto orgulho.

Reparo que quase todas as primas e algumas tias da Bruna estão de vestido ou shorts, me sinto melhor em relação a minha roupa. Eu gostaria de ser aquele tipo de garota com opinião formada que não se importa se todo mundo está com uma roupa diferente da sua, mas eu não sou assim.

Marina acena pra mim, ela está entada sozinha.

— Vem cá – ela grita para mim.

A Bruna não suporta a Marina, na verdade ela não é próxima de nenhuma prima. Sempre diz que todas são frescas e superficiais.

Melhor me sentar do que ficar parada aqui como uma estatua.

A cumprimento com um beijo no rosto e sento.

— Então, o que achou do namorado da Bruna? – reparo nas suas unhas enquanto ela coloca o cabelo para traz, são enormes e estão pintadas de rosa fluorescente.

— Ele é legal.

— Achei ele um gato. Mas me conta, você ta namorando?

— Não.

Fico pensando como deve ser chato conversar comigo. Não tenho nenhuma novidade para contar, nada que surpreenda alguém, não sei nem o que vou fazer depois do ensino médio. Não pinto as unhas de rosa fluorescente, não tenho cabelos coloridos ou uso roupas extravagante e divertidas. Não sei nem mesmo usar delineador ou colocar cílios postiços. No momento sou boa em me colar para baixo.

Marina não liga pra minha falta de assunto. Ela conta sobre a escola – também está terminando o ensino médio – e como é namorar um garoto a distância. Seu namorado mora no Canadá e ela o conheceu pela internet. Eles se viram uma única vez, nas férias de final de ano. Ela me conta que sua mãe não aceitou essa história de namoro a distancia, ela cancelou a internet da casa e escondeu todos os aparelhos eletrônicos que tivessem acesso a internet. É muito divertida sua maneira de contar a história e eu choro de rir.

Marina fala bastante e troca de assunto rapidamente, chego a me perder com seu raciocínio. Com o passar do tempo deve ser cansativo conviver com ela todo dia, principalmente quem gosta de ficar em silêncio por algum momento, porque ela não para de falar, nem por um segundo sequer.

Continuo entretida com sua conversa que mal reparo em alguém do meu lado até que eu sinto uma cutucada forte.

— Você some do nada e nem me avisa – Bruna está parada ao meu lado e irritada.

— Agora eu tenho que te avisar a cada passo que eu dou?

— Não, mas você nem falou comigo direito.

— Pode parar com essas paranóias – digo bem séria.

— Desculpa ai então – ela se afasta e eu permaneço no meu lugar.

Não sei o que está acontecendo, nunca fomos de brigar e parece que agora não conseguimos mais nos entender.

Me forço para não ir a traz dela, não sou um cachorro para ela tratar desse jeito. Toda vez que passa perto da mesa ela me olha ressentida. Finjo que não tem nada errado. Algumas pessoas se juntam a nossa mesa e vira uma bagunça. Otávio é tio da Bruna e ele é cheio de história para contar, todo mundo sabe que a maior parte é mentira, mas ninguém liga porque ele é uma figura.

Vejo que Bruna e Miguel se sentaram sozinhos, eu sinto uma pontada de ciúmes tanto pelo Miguel quanto pela Bruna, mas vendo os dois assim juntos percebo que eles foram um casal muito bonito. Ela sorri para ele de um jeito doce, ele retribui o sorriso e acaricia seus cabelos.

Decido me juntar a eles.

— Posso me sentar? – pergunto quando me aproximo.

Bruna sorri para mim.

— Claro que pode. Prefiro você aqui do que com a Marina.

Fico incomodada com seu comentário. O que tem de errado com a Marina? Ela foi muito simpática comigo. Sento-me e fico olhando para ela.

— O que foi?

— Nada.

Ficamos em silencio até que Miguel me pergunta:

— E então, você ainda canta?

— Raramente, quase que só em baixo do chuveiro.

— Por quê? Se bem me lembro você tem uma linda voz.

— Obrigada – sinto minhas bochechas queimarem – depois de um tempo eu sai do coral.

Eu deixei de fazer várias coisas que me lembrava ele.

— Sinto saudades do coral.

— Eu também. Fiz algumas aulas de violão e um pouco de piano.

Miguel conta que também sabe tocar alguns instrumentos e o que ele mais gosta é bateria. Sempre quis fazer aula de bateria, mas minha mãe não deixou. Onde iríamos colocar uma bateria no nosso apartamento? Sem contar nas reclamações que receberíamos dos vizinhos. Quando fiz aula de piano eu exercitava na casa da minha tia e foi por esse motivo que eu parei.

Miguel fala sobre como foi parar em uma banda, foi baterista por um tempo e depois vocalista. Chegou até participar de um show em um barzinho. Sua sempre foi contra essa idéia e infernizou até ele desistir, ela não queria um filho envolvido com álcool e drogas. A mãe dele é uma pessoa bem antiquada.

Relembramos várias histórias e conversamos por um longo tempo, tinha me esquecido como ele é divertido e engraçado. Bianca não participa da conversa, ela nem tenta e quando olho para ela, esta com uma cara azeda como se tivesse chupado um limão inteiro.

De repente ela se levanta e se afasta sem dizer nada.

Eu e Miguel nos entreolhamos.

— Você deveria ir a traz dela – digo.

— Daqui a pouco ela volta.

Quando Bruna volta está com um copo de caipirinha na mão. Miguel interrompe o que está falando e a encara.

— Vai com calma – ele aponta para o copo que está em sua mão.

— É o primeiro copo.

— Você não deveria beber.

— Porque não?

— Porque mulher não deve beber.

Como assim mulher não deve beber? Quase caio na gargalhada, tem pelo menos umas cinco latas de cerveja em cima da mesa que ele bebeu.

Ele continuam a discutir ignorando minha presença:

— Você ta brincando né?

— Não. Mulher é frágil, e tem muito babaca no mundo que se aproveita dessa fragilidade, ainda mais quando uma mulher está bêbada.

Não é a mulher que não deve beber e sim o homem que não deve ser babaca, eu penso mas não falo nada.

— É fofo você se preocupar, mas eu estou na minha casa, com a minha família e você não é babaca. Ou é?

Se eu pudesse aplaudia esse tapa na cara de pé.

— Vou ao banheiro – ele diz.

Quando Miguel se afasta Bruna me fuzila com os olhos.

— Ta tudo bem? – pergunto.

— Não Aline, não está tudo bem.

Bruna bate o copo na mesa. Nunca a vi desse jeito.

—Então me fala o que ta acontecendo.

— Me responda sinceramente. Você gosta do Miguel?

Ela é direta e reta.

— Não.

— Vou reformular a pergunta. Você já gostou do Miguel?

Bruna não desvia os olhos de mim e com certeza percebe que eu fico sem graça com a sua pergunta. Penso em um milhão de respostas, mas eu não posso mentir para ela, chega de ficar omitindo.

— Sim. Ele foi o primeiro garoto que eu gostei.

— Porque você não me disse nada? - percebo pela sua voz que ela está com raiva.

— Nunca rolou nada entre a gente. Sempre fomos amigo e só isso. Tudo que eu sentia ficou no passado.

— Sério? Porque não parece. Você aparece aqui vestida assim – ela aponta para meu vestido – toda maquiada, desfaz de mim e depois fica conversando com meu namorado como se eu nem estivesse presente.

— Todo mundo está dando em cima do seu namorado então. Da uma olhada a sua volta, só você ta derretendo dentro dessa calça jeans.

Levanto-me com tudo, tenho vontade de jogar o resto da caipirinha na sua cara.

— Você me enganou.

— Não, eu só não te contei que gostava dele porque não queria que isso te impedisse de ficar com ele – sinto que estou prestes a chorar – Pensei que nossa amizade fosse mais importante do que isso.

— Nossa amizade deixou de ser importante quando você mentiu para mim.

— Eu nunca menti para você.

Algumas pessoas percebem nossa discussão e ficam olhando tentando entender o que está acontecendo.

Ando para dentro da sua casa sem olhar para traz. Chamo um Uber para me levar embora, até minha mãe chegar vai demorar muito e não quero ficar aqui nem mais um minuto.

Passo pela sala e esbarro em Miguel fazendo com que ele derrame em si todo o liquido do copo que está em sua mão. Não paro para ajudá-lo e nem peço desculpa.

Espero alguns minutos na calçada até o carro chegar. Quando me sento banco traseiro eu respiro fundo e o choro vem à tona. Choro em silêncio, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Sinto-me tão humilhada e injustiçada. A única coisa que fiz foi tentar ser uma boa amiga e olha só no que deu.


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