O namorado da minha melhor amiga. escrita por A garota do livro


Capítulo 5
Língua de trapo




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Chego a escola com a cabelo molhado por causa da chuva. Bruna está sentada no meu lugar, quando ela me olha percebo que tem algo errado.

— Podemos conversar? – é mais uma ordem do que um pedido.

A sigo para fora da sala até o banheiro feminino. Ela para na minha frente, seu rosto está sério.

— O que o Miguel estava fazendo na sua casa ontem?

Será que ele contou para ela?

 Agora é a oportunidade de falar tudo para ela, sinto que se eu falar o que Miguel foi e talvez ainda seja para mim ela vai me odiar por não ter contato antes. E se eu estivesse em seu lugar? Como eu ficaria?

— A tia dele mora no mesmo prédio que eu – dou um sorriso amarelo.

Bruna continua séria com os braços cruzados.

— Então vocês já se conhecem?

— É, nos conhecemos.

Parece que cada vez eu fico mais enrolada nessa história.

— Porque você não me falou nada? Você vai concordar comigo que isso está muito estranho Aline.

— Fazia muito tempo que eu não o via – decido não falar dos meus sentimentos por ele – no dia que você me mostrou a foto eu tive a sensação que o conhecia, mas ele está tão diferente.

— Vocês eram amigos?

— Sim. Ele fazia parte do coral da igreja assim como eu.

— Só isso? – ela está desconfiada.

— Se não acredita em mim é melhor a gente parar a conversa por aqui – fico ofendida – eu nunca tive nada com seu namorado, ele só foi um amigo, só isso.

Saio do banheiro. Bruna corre atrás de mim.

— Aline, me desculpe – ela me alcança – não queria te ofender. Só achei estranho ele bater na sua casa.

— Se foi ele quem te contou que foi até lá, porque não contou o motivo? Eu também gostaria de saber.

— O que você está insinuando?

— Eu não estou insinuando nada Bruna.

— Não foi ele que me contou que foi até lá.

Felipe! Que garoto intrometido.

Quando entro na sala, sento em meu lugar e olho furiosa para o língua de trapo.

—Qual o seu problema? Sua língua é muito grande para ficar dentro da boca?

Ele tem a coragem de rir da minha cara. Como alguém pode ser tão petulante?

— Só queria te ajudar.

— Ajudar? Eu não preciso da sua ajuda, muito menos que você fique fazendo fofoca.

— Não seria mais fácil você contar pra ela que existe ou já existiu alguma coisa entre vocês? Aí ela decide o que fazer.

— Eu vou te falar uma única vez. Não existe nada entre a gente, você não sabe nada sobre mim, então fica na sua. Você não tem o direito de se meter na minha vida.

Ele olha profundamente nos meus olhos.

— Sei uma coisa sobre você, que você é uma ótima amiga. Não deixe ninguém ficar entre vocês duas.

— A pessoa que está entre nós é você.

Me viro e abro meu caderno. Ele me cutuca algumas vezes, mas não olho para traz.

Chega a hora do intervalo e Bruna sai da sala sem me esperar. Fico decepcionada com ela, eu nunca esconderia que já fui namorada do seu namorado. Não fui completamente sincera com ela, mas não menti, só não falei sobre o que eu sempre senti por ele. Nunca aconteceu nada entre a gente, nem um beijo, nem um abraço sequer. Tenho medo de dizer o que sinto e isso se tornar real, desde que eu me afastei e depois ele foi embora eu luto contra esse sentimento. Evito pensar o que seria de nós se eu não tivesse me afastado e se ele não tivesse se mudado. Essa dúvida cruel sempre me assombrou. Agora eu tenho um ótimo motivo para esquece-lo de vez, deixar isso para traz, mas não é tão fácil quanto parece. Não dá para mandar no coração, não tem como reinicia-lo como fazemos com um computador, é impossível apagar a memória ou mudar um sentimento da noite para o dia, isso leva tempo. Eu não sou de desistir fácil, e eu sei que vou conseguir. Ele é só um garoto, a minha felicidade não depende dele, depende só de mim. A Bruna é minha melhor amiga e eu não consigo imaginar a nossa amizade acabar por causa de um garoto, eu não aceitaria de nenhuma forma nos encontramos na rua e fingir que somos completas estranhas.

Vou a traz dela. Bruna está sentada em um canto sozinha. Me sento ao seu lado.

— Fico muito magoada por você duvidar de mim. Nunca faria nada que pudesse te fazer sofrer.

— Eu sei – ela pega minha mão – É que eu nunca gostei de alguém assim, ele é especial para mim.

— Dá para ver nos seus olhos

Ela me abraça e tudo fica bem. Bruna está feliz e eu também, estou feliz por ela.

De tarde Samanta me liga:

— Oi, você está de boa? – ela pergunta quando atendo o telefone.

— Estou assistindo como conheci sua mãe.

— Você ainda não terminou?

— Ainda nem sei que é a mãe.

— Você é muito lenta, eu não sosseguei até saber quem era a mãe – Samanta manda o irmão dela que está gritando feito um doido ficar quieto - Vamos tomar um milk shake?

— Claro!

— Me encontra na Lanchonete da Estela daqui meia hora.

Desligo o telefone e troco de roupa. Vou caminhando, a lanchonete não fica muito longe de casa. Quando chego Samanta já está me esperando na mesa que costumamos sentar.

— Oi amiga – dou um beijo na sua bochecha.

— Como anda as coisas?

— Está tudo bem, e com você?

Nós pedimos um milk-shake e Samanta me conta sobre o término do seu namoro. Ela não está triste, na verdade já faz algum tempo que não vejo ela tão feliz, parece aliviada. Samanta me conta que o ex-namorado sempre traia ela e ela aceitava, eles tentavam ter um relacionamento aberto, mas como ela gostava muito dele no começo não se sentia confortável. Conforme foi passando o tempo ela gostava cada vez menos dele, mas não conseguia terminar o relacionamento, ela se acomodou com a situação. A gota d’agua foi ele ter ficado com sua prima, ela terminou o namora assim que soube.

— Aquela garota é uma piranha – ela fala da prima.

Conto para ela sobre Bruna e Miguel. Samanta lembra bem dele, ela fazia parte do coral da igreja também.

— Então a patricinha está namorando com seu Crush – ela levanta uma sobrancelha.

— Ele não é meu Crush.

— Mas já foi. Você me deixava irritada de tanto que falava dele, das suas covinhas.

Eu dou risada.

— Não acredito que você lembra!

— Eu queria muito esquecer isso. Queria muito mesmo.

— Meu Deus, como eu era chata.

— Você ainda é.

Faço uma careta para ela mostrando a língua.

— Mas então, você não sente mais nada por ele? – Ela pergunta terminando seu milk-shake e fazendo aquele barulho chato com o canudo.

— Se eu falar que não sinto eu vou mentir, mas é muito confuso. Acho que é mais uma curiosidade sobre o que poderia ter sido e não foi, sabe?

— Você se arrepende de não ter dito que gostava dele.

— Exatamente. Pensei que se eu falasse e ele não sentisse o mesmo por mim eu ficaria arrasada, só que foi muito pior não falar, desde que ele foi embora eu nunca consegui enterrar esse sentimento.

— Deveria falar tudo isso para ela.

Não, eu não devo falar. Devo esquecer de uma vez por todas.

— Estava pensando que talvez se eu falar para ele eu consiga esquecê-lo. Se eu souber que ele sabe tudo que eu sentia, vou conseguir deixar isso para traz.

— Eu não gosto da patricinha, mas você não pode fazer isso. Fala com ela primeiro, porque e se ele ficar mexido? Se isso deixar ele confuso em relação ao que ele sente por ela, e o que sente por você? Pode ser que ele sinta alguma coisa por você.

— Se ele gostasse de mim porque está namorando outra garota?

— Porque você fugiu dele.

Será que o Miguel gostava de mim?

— Isso explicaria ele ir até a minha casa ontem.

— Ele foi até a sua casa? – Samanta fica de queixo caído – Amiga, está história vai dar ruim.

—A tia dele mora no mesmo prédio, aí ele passou lá para dar um oi, mas a Bruna já sabe, o língua de trapo da minha sala já contou pra ela.

Samanta chacoalha a minha mão.

— Aline, olha disfarçadamente o gato que está entrando na lanchonete.

Me viro um pouco e olho discretamente. Falando no Diabo. Felipe entra na Lanchonete.

— O que será que esse garoto está fazendo aqui.

— Você o conhece? – Samanta não tira os olhos dele. Ela sorri para ele descaradamente.

— Sim, ele é da minha turma na escola.

— Ele se mudou semana passada, é o novo morador da rua.

Fico chocada com a informação.

— Você tem certeza?

— Sim, eu e minha mãe fomos dar boas vindas, mas a mãe dele não pareceu muito feliz com a nossa presença.

— Ele morava em uma mansão no melhor bairro da cidade. Eles são podres de rico, ou eram.

— Talvez agora sejam minimalistas.

Samanta está bem interessada nele.

— Na boa, ele é furada.

— Porque?

— Acho que ele curte relacionamento aberto.

— Sai fora – ela para de olhar pra ele – vou no banheiro.

Quando Samanta se afasta da nossa mesa ele olha na minha direção, me levanto e caminho até onde Felipe está sentado. Sento a sua frente.

— Então quer dizer que você está morando no subúrbio? – Dou uma risada maldosa.

Para mim não faz diferença ele morar em um bairro nobre ou no subúrbio, mas para ele deve fazer muita diferença e eu quero dar o troco pelo o que ele fez hoje.

— É temporário – ele não demonstra nenhuma reação.

— Moro temporariamente na periferia a dezessete anos. Bem-vindo ao clube – pisco para ele.

— Pensei que você seria a última pessoa que ia tirar com a minha cara por isso. Pode espalhar a notícia, uma hora todos vão saber mesmo.

O garçom entrega um lanche para ele e um refrigerante.

— Não vou contar para ninguém. Não sou como você.

Vejo Samanta sair do banheiro, me levanto antes que ele possa dizer qualquer coisa. Nós duas saímos da lanchonete e no caminho para casa eu recebo uma mensagem, é do Felipe.

“ Desculpe por hoje”

Guardo o celular no bolso sem responder.


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