O namorado da minha melhor amiga. escrita por A garota do livro


Capítulo 12
Cinema.




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No colégio as fofocam sobre Felipe aumentam. Os alunos comentam sobre a possível falência dos seus pais, a maioria não acredita nos boatos mas isso não impede que usem isso para provoca-lo. Felipe parece não se importar com os boatos e provocações dos outros alunos, ele lida com bom humor levando tudo na brincadeira. No fundo eu sei que ele já está de saco cheio das pessoas comentarem sobre a sua vida, ele não consegue disfarçar isso quando vamos embora juntos. Eu sabia que essa de fingir que não esta nem ai, não ia durar muito, até o dia que o assunto da aula foi a vida do Felipe. Os que se diziam seus amigos começaram a falar para quem quisesse ouvir que agora ele só anda duro, antes Felipe até pagava pros amigos ir no role, agora não tem dinheiro nem pra pegar um ônibus. Fiquei muito irritada ouvindo esses absurdos. Felipe manteve a calma e ficou quieto até um garoto tocar no nome da sua irmã.

— Se eles estão realmente pobres, quem sabe agora a gente pega a gostosa da irmã dele.

— Porque você não cala sua boca? – Felipe deu um soco na mesa.

Eu queria que ele levantasse e socasse a cara desse garoto.

— Ficou nervosinho – o idiota riu.

Felipe levantou mas não foi até o garoto. Ele ficou de pé em frente à lousa e o professor parou o que estava fazendo para ouvi-lo. O professor de química deixa os alunos fazer o que quiser em sua aula, ele só observa e interfere quanto tem agressão física.

— Não tenho que me explicar para ninguém aqui, mas to de saco cheio dessas especulações. Meu pai levou um golpe e perdeu muito dinheiro.

— Agora está explicado essa sua amizade com a Aline – Uma garota o imterrompe.

Claro, tinha que me colocar no meio da história.

— Vocês deveriam entender que a Aline merece estar aqui. Ela não tem os privilégios que nós temos, não pode tirar nota baixa, tem que ter quase cem por cento de presença e ainda agüentar comentários como esse, todos os dias. Só para que vocês reflitam, quem tem dinheiro não são vocês e sim o pai de vocês. Assim como a situação financeira da minha família mudou da noite para o dia, inclusive, por causa que o pai de um aluno do colégio deu um golpe no meu, a situação financeira de qualquer um de vocês podem mudar também, assim do nada. Dinheiro não é tudo na vida – todos ficaram em silêncio – E como meu amigo fez quentão de lembrar, já paguei o role de muita gente, não ligo se fizerem o mesmo por mim. Agradeço a atenção de todos.

Felipe deu um sorriso debochado e sentou em seu lugar. Me segurei para não rir da cara de tacho dos idiotas, eles sussurraram baixinho e comentaram entre si. O professor aproveitou que os alunos estavam quietos e explicou a matéria.

Depois eu agradeci ao Felipe por ele ter me defendido e ele me convidou para ir ao cinema no sábado. Claro que aceitei.

Mesmo estando ansiosa e animada para sábado fico preocupada com a Bruna. Ela ultimamente anda cabisbaixa, sua neurose com arrumação piorou e não tem paciência com ninguém. A Bruna fala que Miguel é muito controlador e ela odeia isso nele, eu disse para ela que ela tem que deixar bem claro seus limites e que ela não gosta de ser controlada, mas parece até que tem medo de expor o que ela está sentindo. Sinto que esse namoro não está fazendo bem para ela. Tenho vontade falar o que eu acho sobre o seu relacionamento, mas sei que ela não vai aceitar. Tudo que eu posso fazer é ficar por perto, ela sabe que pode contar comigo para qualquer coisa.

....

Finalmente é sábado, acordo cedo mas fico enrolando na cama. Sábado é meu dia favorito, meu pai sempre fazia macarrão com queijo no jantar e alugava vários filmes – quando não existia netflix – passávamos horas juntos no sofá e eu adorava compartilhar esses momentos com meus pais. Agora que lembrei dele algumas lágrimas começam a rolar. Fecho meus olhos e lembro de como era seu rosto, seus olhos castanhos iguais ao meu e sua gargalhada, eu amava o som da sua voz. Me pego pensando muitas e muitas vezes para onde vamos quando morremos? Será que meu pai pode me ver e ouvir? Será que ele sente orgulho de quem tenho me tornado?

Acredito em Deus e de certa forma no paraíso, não tenho muita certeza sobre como seria viver eternamente no paraíso, mas acredito que há um bom lugar reservado para as pessoas boas. Espero que meu pai esteja feliz onde estiver, não acredito que ele simplesmente deixou de existe, nós viemos de algum lugar então temos que ir para algum outro lugar.

Me levanto e depois de me trocar e escovar os dentes vou para a cozinha. Minha mãe está tomando café e lendo jornal, eu a abraço pelas costa apoiando meu queixo em seu ombro. É tão bom poder abraça-la, eu sei que um dia ela também não vai estar aqui. Pode ser que eu morra primeiro, tudo na vida pode acontecer, mas enquanto estou aqui e ela também eu posso abraça-la.

— Quanto amor – ela ri.

— Eu te amo muito mesmo.

Dou um beijo em seu rosto e me sento do seu lado.

— Eu te amo muito mais – ela ajeita meus cabelos – que tal se a gente fizer macarrão com queijo hoje a noite?

Pelo jeito não fui só eu que estive pensando em meu pai.

— Pode ser amanha? Hoje eu vou no cinema, se esqueceu?

— Ah, é claro. Seu encontro – ela da uma risadinha.

— Não é um encontro.

Ela me provoca durante todo o café, me faz prometer contar para ela cada detalhe, parece até que ela é adolescente.

Quando vou me arrumar eu visto uma porção de roupa e parece que nada fica bom. Como está frio coloco uma meia preta, bota, um vestidinho azul que eu amo e jaqueta.

Felipe me avisa por mensagem que já está lá fora me esperando, minhas mãos estão frias e estou um pouco nervosa. Controlo a respiração, não tem motivos para estar assim, nós já ficamos sozinhos muitas de vezes e somos amigos.

Me despeço da minha mãe que fica toda eufórica dizendo que estou linda. Desço os degraus tomando cuidado para não cair da escada.

O encontro para em frente a portaria e meu coração palpita. Felipe está com o cabelo bem penteado, veste uma calça jeans escura e uma jaqueta preta bem parecida com a minha. Nunca o vi tão bonito, ele fica bem de preto. Quando me vê abre um largo sorriso.

— Ual – ele diz quando passo pelo portão em sua direção – Você está linda – pode parecer loucura mas eu vejo seus olhos brilharem.

É a primeira vez que ele me elogia desse jeito e demoro um pouco para responder.

— Obrigada – tenho certeza que minhas bochechas estão coradas.

Felipe pede um Uber e durante o caminho vamos conversando sobre os filmes que estão em cartaz. Decidimos assistir um sobre duas espias. O clima entre nós está diferente, sei que alguma coisa mudou e acho que ele também sabe.

No Shopping decidimos ir direto para o cinema, compramos os ingressos e depois ficamos perambulando até a hora da sessão. Ele me conta sobre o golpe que o pai levou. Dá para perceber o quanto ele o admira e o quanto lamenta isso ter acontecido. O pai do Felipe investiu muito dinheiro em um novo negócio, ele foi induzido a investir e perdeu todo o dinheiro. Foi um choque para toda a família, mas ele me diz que isso também os uniu. Antes seus pais não tinham muito tempo para estar com os filhos, agora passam mais tempo juntos e costumam fazer coisas simples como jogar cartas ou assistir um filme comendo pipoca.

Felipe olha para o relógio.

— A sessão já começou – ele diz.

Corremos para a sala de cinema. Ainda está passando os trailers, fiquei tão entretida com a conversa que me esqueci da hora. Ele sai para pegar pipoca e depois volta com dois baldes cheios. Dou risada, um só seria o suficiente.

— Obrigada – Agradeço quando ele me entrega um balde de pipoca.

— Acho que a gente fala de mais.

— A culpa é sua.

Ele me olha ofendido.

— Sou culpado por gostar de conversar com você?

Como ele consegue ser tão fofo? Se eu fosse corajosa eu ia me aproximar e beija-lo, mas como não sou apenas sorrio e como minha pipoca.

O filme é hilário, choro de rir em várias cenas e Felipe também. O ruim do filme ser bom é que prende nossa atenção de um jeito que até esqueço que ele está ali do meu lado e até o momento não tentou nenhuma aproximação. O filme acaba e a gente sai da sala rindo e comentando sobre as cenas mais engraçadas.

— Então gostou do filme? – Felipe me pergunta.

— É muito bom. Adoro comédia.

— Eu também. Vamos comer um lanche?

Não estou com muita fome, mas topo assim mesmo.

— Vamos.

Nós caminhamos lado a lado conversando até que ele faz algo inesperado. Felipe pega a minha mão e segura enquanto andamos. Nós dois estamos andando de mãos dadas como um casal e não somos um casal! Não consigo prestar atenção em mais nada, ele continua falando sobre alguma coisa e eu não escuto uma palavra.

Sinto meu celular vibrar no bolso da jaqueta e automaticamente e pego e atendo sem ver quem é:

— Alô.

— Aline – demoro um segundo para reconhecer a voz da Bruna. Ela está chorando – preciso de você.

— Bruna? O que aconteceu? – Paramos de andar e Felipe observa meu rosto.

— Eu sofri um acidente – ela está soluçando – estou no hospital. Você pode vir para cá?

Eu entro em pânico. Solto a mão do Felipe e ele me olha preocupado.

— Meu Deus, você está bem?

— Não – ela chora ainda mais.

— Fica calma, eu estou indo. Qual hospital?

Ela me fala o hospital e desliga.

— O que aconteceu? – Felipe me pergunta.

— A Bruna está no hospital, parece que sofreu um acidente. Desculpa, eu tenho que ir – não queria estragar o passeio – depois eu te ligo.

— Eu vou com você – ele diz como se fosse obvio.

—Tem certeza? Se quiser ir para casa não tem problema.

— Tenho certeza.

Saímos do shopping direto para o hospital. Quando a gente chega temos dificuldade para ver a Bruna, eles não querem deixar dois menores de idade entrar. Como ela está sozinha e eu imploro para a recepcionista liberar pelo menos minha entrada, ela consegue liberar a minha entrada e do Felipe. O hospital parece um labirinto e nos perdemos pelo menos duas vezes antes de encontrá-la.

Bruna está sozinha deitada em uma maca dentro de uma salinha. Ela está com um curativo na testa e com escoriações no rosto e braços. Quando ela me vê as lágrimas rolam pelo seu rosto.

— Aline – ela estende sua mão e eu me aproximo. Pego sua mão com delicadeza, tenho medo me machuca-la.

— Amiga, como você está? – passo a mão no seu cabelo.

— Toda quebrada – ele tenta sorrir e é o sorriso mais triste que eu já vi.

— O que aconteceu? Porque você está aqui sozinha?

Bruna olha para Felipe que está parado próximo a porta. Ele acena com a mão.

— Oi – ela olha para mim – pensei que estava sozinha.

— Vou esperar lá fora – Ele diz e sai.

Ele só queria ajudar, mas entendo que ela não quer que qualquer pessoa a veja assim.

— Então, onde está a sua mãe?

— Por favor Aline, não liga para ela – sua mão está tremula.

— O que aconteceu Bruna? – começo a ficar preocupada.

— Eu cai da escada – ela diz

— E você estava sozinha? Veio sozinha até aqui?

Sei que ela está escondendo alguma coisa.

— O Miguel me trouxe.

— Onde ele está?

Bruna começa a chorar. Não sei se ela está com dor, ou se ta chorando por outro motivo.

— Desculpa. Vou parar de fazer perguntas. Quer que eu chame a enfermeira?

— Não. Eles já me medicaram – ela seca as lágrimas – estou esperando para fazer o raio-x.

— Então logo você vai pra casa.

— Estava na casa do Miguel – ela começa a contar o que aconteceu – nós começamos a discutir, eu tropecei e cai da escada. Ele me colocou no carro e me trouxe aqui e depois foi embora. Pensei que ele ficaria comigo, mas ele ainda estava com raiva.

Como alguém faz isso com a própria namorada? E daí que os dois brigaram, a garota está toda machucada e ele a deixa no hospital e some? Fico com tanta raiva que se ele aparecer por aqui sou capaz de socar sua cara.

— Fala alguma coisa – Bruna olha para mim apreensiva.

— Acho que deveria avisar seus pais.

— Não.

Não entendo porque ela não quer avisar os pais, mas respeito a sua decisão. Fico ao seu lado todo o tempo. Felipe me manda mensagem perguntando se preciso de alguma coisa, se está tudo bem ou se estou com fome. Tranqüilizo ele dizendo que está tudo bem. Deixo claro que ele pode ir embora, mas ele fica e isso me faz gostar dele ainda mais.

Bruna faz o raio-x e retorna no consultório médico. O Doutor dá alta para ela. Graças a Deus não quebrou nenhum osso. Vai sair do hospital com leves escoriações, três pontos na testa e alguns analgésicos.

Encontramos Felipe cochilando em uma cadeira de plástico na sala de espera. Toco em seu ombro e ele abre os olhos.

— Como ela está?

— Está bem, o médico já deu alta. Vamos embora?

Ele levanta e se alonga.

Fora do hospital encontramos Miguel ao lado do carro. Eu o fuzilo com os olhos. Bruna fica parada ao meu lado como se não soubesse o que fazer. Olho para ela.

— Nós temos que conversar – ela diz triste.

— Tem certeza? Você precisa descansar.

— Vou pedir para ele me levar para casa.

— Bruna, qualquer coisa você me liga. Entendeu? Qualquer coisa.

Estou preocupada com ela.

— Obrigada – ela me abraça.

Bruna agradece ao Felipe e depois atravessa a rua. Miguel fica lá, parado com as mãos no bolso observando ela atravessar. Pelo menos ele abre a porta do carro e a ajudar entrar.

— É impressão minha ou você está zangada?

— Estou.

— Quer falar sobre isso?

No caminho para casa conto para Felipe o que aconteceu, ele também acha a história da Bruna mal contada e concorda com a raiva que estou sentindo do Miguel. O Miguel que eu conhecia era totalmente diferente.

Comemos um cachorro quente na esquina de casa e consigo me distrair um pouco dos problemas da minha amiga.

Felipe me acompanha até o condomínio.

— Obrigada por hoje, pelo cinema, pela pipoca e por ter ficado no hospital por horas.

— As horas no hospital eu vou cobrar – ele ri.

— Eu sabia que você não estava lá à toa.

— Nós podemos sair de novo – ele sugere.

— Isso é um convite? – ergo a sobrancelha.

— Isso é uma convocação.

Abro um largo e ele fica me olhando. Espero ele dizer ou fazer alguma coisa.

— Acho que vou indo.

— Espera – eu me aproximo e não acredito no que estou prestes a fazer.

Sou um pouco mais baixa que ele, então ergo meus olhos para olhar dentro dos seus. Chego tão perto que posso sentir sua respiração. Antes que desista eu o beijo, no começo ele fica surpreso mas depois corresponde. Ele me abraça enquanto nos beijamos e se pudesse desejar uma coisa é que nunca acabe, com certeza é o melhor beijo da minha vida.

Quando nos afastamos ele sorri para mim e eu retribuo. Acabei de beija-lo e não sei bem o que fazer então dou um tchau rapidamente e passo pelo portão correndo. Estou tão eufórica como se fosse meu primeiro beijo.  


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