O namorado da minha melhor amiga. escrita por A garota do livro


Capítulo 11
Alguém importante.




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Domingo de manhã eu e minha mãe vamos ao mercado comprar os ingredientes para o almoço. Não gosto de ir no mercado com ela, uma compra que demoraria meia hora dura uma hora e meia. Quando ela entra no mercado é como se estivesse em um Shopping Center, ela quer passar por todos os corredores e olhar todas as promoções, como se olhasse vitrine de sapatos. Tenho esperanças que hoje ela seja mais rápida. Vejo ela enchendo uma sacola com batatas.

— Vai precisar de tantas batatas assim? Já que sei que você vai me colocar para descascar.

Minha mãe ameaça colocar mais batatas na sacola, então ela ri e amarra a sacola.

— Você vai fazer sala para o Felipe – ela pisca para mim cheia de segundas intenções.

— E se ele não for? – fico olhando para as batatas.

— Tenho certeza que ele vai.

Minha mãe continua a compra. Sigo ela com o carrinho pra lá e pra cá. Fico muito irritada com um homem que para na minha frente e ocupa praticamente o corredor inteiro, ele fica olhando o preço de alguma coisa. Praticamente grito para ele me dar licença, pois ele não ouviu as outras centenas de vezes, ele sai do caminho com a cara feia. Sem noção. Minha mãe demora mais do que eu esperava.

Em casa eu a ajudo subir e esvaziar a sacolas, depois ela me dispensa e eu me jogo no sofá. Ligo a televisão, em um canal está passando Harry Potter e a Pedra Filosofal. Esse é meu filme favorito da série, já assisti centenas de vezes e nunca enjôo.

Escuto minha mãe falar com o porteiro, minutos depois a campainha toca e eu atendo.

Lá está Felipe e sua mãe parados em frente à minha porta.

— Bom dia. Entrem – dou um espaço para os dois passar.

A mãe do Felipe me cumprimenta e ele também.

Minha mãe vem até a sala. Ela já está de avental.

— Oi, é um prazer conhece-la – Minha mãe diz para a mãe do Felipe.

— O prazer é meu.

As duas já falaram por telefone mas é a primeira vez que se vêm pessoalmente.

— Oi Suzana – Felipe dá um tchauzinho de longe.

— Oi Felipe – ela sorri para ele – Então, mãos a massa? – Ela pergunta para a Márcia.

— Mãos a massa.

As duas vão juntas para a cozinha. Nossa cozinha é americana então da cozinha dá para ver a sala e vice versa.

— Senta ai – digo para Felipe. Ele se senta de um lado do sofá e eu do outro – se quiser que eu troque de canal é só falar.

— Gosto de Harry Potter. Não sou fã, como aqueles Potter alguma coisa.

Dou risada.

— Potterhead.

— Esse negócio mesmo.

Eu gosto muito de Harry Potter mas também não sou uma Potterhead. Acho que não sou tão fã assim de nada. Costumo assistir mais de uma série por vez, e quando gosto bastante até pesquiso sobre os atores e sobre a série, mas nada que me torne fã de carteirinha.

Ficamos um tempo em silêncio prestando atenção no filme. Toda a vez que eu assisto é como se fosse a primeira vez, eu fico tão empolgada com os acontecimentos, mesmo sabendo o que acontece no final.

— É a primeira vez que você assiste? – Felipe pergunta.

— Talvez a vigésima primeira – Sorrio para ele e repito a próxima fala que é da Hermione.

— Você é Potterhead – ele balança a cabeça.

— Não, esse é meu filme favorito da série e sempre assisto quando está passando. Sou um pouco repetitiva para algumas coisas.

— Eu também. Devo ter assistido mais de vinte vezes Piratas do Caribe e a Maldição do Pérola Negra.

— Não consigo gostar de Piratas do Caribe – digo sinceramente.

— É zoeira né?

— A mais pura verdade. E só piora quando aquele polvo que toca piano aparece, ele me causa arrepios.

— Velho, aquele personagem é muito bom. Ele toca órgão e não piano.

— Independente do tipo de instrumento, ele é nojento.

— Ele é um polvo amaldiçoado, você queria o quê – ele ri.

— Que ele fosse menos nojento.

Torço o nariz.

Eu assisto filme de todos os tipos. Com cabeças rolando e tripas para fora, só que aquele polvo é demais para mim.

Escuto minha mãe e a Márcia rindo na cozinha, fico feliz que aparentemente as duas estão se dando bem. Pelo o que a Samanta me disse, Márcia não foi muito simpática com elas. Eles estavam se mudando e acredito que ela não estava no melhor dos seus dias. Tento não julgar as pessoas por apenas um dia ou uma atitude. Todos temos dias ruins e muitas vezes tomamos as atitudes erradas.

Assistimos todo o filme enquanto a comida fica pronta. O cheiro invade a sala e Margareth aparece se esticando todinha.

— Eu me esqueci da gata – coloco a mão na cabeça – vou colocar deixar ela no meu quarto.

— Não esquenta. Tomei antialérgico – ele pisca para mim.

— Tem certeza?

Ele faz que sim com a cabeça.

Minha mãe nos chama para almoçar. Margareth é a primeira que vai para a cozinha.

A mesa está posta, minha mãe colocou sua melhor louça e também a toalha de mesa mais nova. Se tem uma coisa que ela faz bem é receber visitas.

— O cheiro está delicioso – digo.

A mãe do Felipe abre um largo sorriso.

O cardápio é simples; arroz, feijão, bife a milanesa, batata, farofa e salada. Espero Felipe e sua mãe se servir e então chega minha vez, eu capricho no meu prato e quando sento a mesa reparto no prato da Márcia. Dizem que gente rica come pouco, só de olhar o pingo de comida que ela colocou, fico com fome..

A comida está deliciosa, do jeitinho que eu gosto.

— Nossa está uma delicia – Felipe diz olhando para minha mãe.

— Foi sua mãe que fez, eu só ajudei.

— Parabéns mãe.

— Obrigada. Eu fazia um monte de coisas errada e não sabia – ela olha para minha mãe – Suzana, não sei como te agradecer.

— Imagina. Pode pedir ajuda quando quiser.

Eu não falo nada pois estou ocupada comendo. Quando todo mundo termina de comer eu recolho os prato e vou para a pia.

— Aline, pode deixar que vou limpar a cozinha – minha mãe fala.

— Pode deixar mãe.

— Hoje que eu estou te liberando da louça você não quer?

— Eu ajudo a sua mãe – Márcia fala para mim.

— Então ta bom – Tiro o avental sorrindo.

Felipe e eu voltamos para a sala. Penso em pegar algum jogo ou propor um passeio, ficar o dia inteiro sentado no sofá em pleno domingo é muito chato.

Bruna me manda uma mensagem:

“Ta fazendo o que?”

“Nada”

“Vem pra cá”

“Fazer o que ai?”

“Meu vô esta aqui, ele quer te ver”

O avô da Bruna é um fofo, gosto muito dele, ele sempre me tratou como uma de suas netas.

“Posso levar alguém? Estou com visita”

“Claro que pode. Não precisa nem perguntar deer”

Ontem nós discutimos feio sobre a festa de sexta. Ela entendeu que foi muito chato me deixar lá sozinha, me pediu desculpas e eu a desculpei. Não fico magoada com ninguém por muito tempo. Olho para Felipe que parece entediado sentado no sofá, será que ele vai aceitar ir na casa da Bruna?

— Topa da uma volta?

— Aonde?

— Na casa da Bruna.

Ele torce o rosto demonstrando que não gostou da idéia.

— Eu gosto desse filme – ele aponta para a televisão.

— Vamos! A família dela é muito legal, você vai gostar.

— Não tenho amizade com ela. Pode ir, eu fico aqui numa boa.

— Eu não vou sem você.

Pego o celular para avisar a Bruna que eu não vou, quando Felipe diz:

— Vamos lá então.

— Você vai gostar.

Pulo do sofá e visto a blusa que está no mancebo. Calço os tênis e aviso nossas mães. As duas concordam em nos deixar sair, minha mãe até paga um uber pra gente. Ela gostou mesmo do Felipe.

No caminho ele pergunta se a Bruna não vai achar ruim ele aparecer comigo lá, eu digo que não mas isso não parece convencê-lo. Quando chegamos, toco a campainha e é a Bruna que abre o portão.

— Oi – ela olha para o Felipe muito surpresa. Aposto que ela esperava qualquer pessoa menos ele.

Dá para perceber que ele está sem graça. Entramos na casa de Bruna, a mãe dela nos encontra no corredor e me abraça com um grande sorriso no rosto.

— Você está sumida. Sentimos sua falta – então ela olha para o Felipe que está a traz de mim – A Bruna não me contou que está namorando.

Ai meu Deus.

— Ah, não. O Felipe é um amigo.

Todos nós ficamos sem graça.

— Desculpa – ela coloca a mão na testa – às vezes eu falo demais. É um prazer conhece-lo Felipe, fique a vontade.

Ela da uma risadinha para disfarçar o mal entendido. Olho para Felipe, aparentemente está tudo normal com ele.

Entramos na sala e encontramos o pai da Bruna, o avô, Guilherme e Miguel. Quando Guilherme me vê ele levanta e corre na minha direção.

— Aline – ela abraça minha cintura. Guilherme é alto para a sua idade mas eu também sou alta então ele ainda não bate nem no meu ombro – que saudade.

Eu bagunço o cabelo dele.

— Também estava com saudades de você. Já montou o lego que eu te dei?

— Montei assim que a festa acabou, ficou irado. Vem ver – ele me puxa pela mão.

— Primeiro vou dar oi pro pessoal ta bom? – Ele faz uma cara triste – Esse é Felipe, meu amigo.

Ele bate na mão dele corre em direção a cozinha chamando a mãe.

O avô da Aline levanta e me dá um abraço apertado.

— Oi Florzinha, como você está? – ela aperta minhas bochechas – essa menina é linda demais.

Abro um sorriso largo para ele.

— Eu to bem e você? Estava com saudades.

— Eu to ótimo. Só alegria – ele percebe a presença de Felipe e pergunta – quem é esse rapaz bonito?

Todos me olham de um jeito estranho, ficam com os olhos semicerrados c com um meio sorriso no rosto.

— José esse é Felipe, Felipe esse é o José o avô da Bruna e a pessoa mais doce que eu já conheci na minha vida.

— É uma prazer conhece-lo – Felipe estende a mão.

— O prazer é meu rapaz – ela da uma daquelas gargalhadas gostosa – sentem, estava na melhor parte da história.

Cumprimenta-mos Miguel e o pai da Bruna. Miguel fica nos observando pensativo, depois de alguns minutos a Bruna aparece na sala me olhando de um jeito estranho. O que deu nas pessoas hoje, todo mundo vai ficar me olhando de um jeito estranho? Evito ficar olhando para os outros.

Felipe parece à vontade e presta atenção nas histórias de pescador do avô da Bruna. Ele ficou bastante tempo em alto mar e tem bastante história para contar. Fico feliz por vê-lo. Deixo Felipe por um tempo na sala para ver o lego do Guilherme que já me chamou umas dez vezes. Ele montou direitinho, disse que montou o barco sozinho.

— Você está escondendo as coisas direitinho – Bruna fala em tom acusador aparecendo no quarto do irmão.

— Já sei – reviro os olhos – você acha que estamos juntos, mas não estamos.

— E o que ele estava fazendo na sua casa?

O que ela tem com isso?

— Ele estava em casa e eu decidi trazer ele. Se quiser nós vamos embora.

— Eu não disse que não quero ele aqui.

— Então ta – dou de ombros.

Volto para sala. Miguel e Felipe estão sozinhos na sala, os dois não parecem muito à vontade conversando. Miguel pega o seu violão e me oferece para tocar, eu recuso.

— Você não vai recusar cantar uma musica.

— Eu to enferrujada.

Faz tempo que não canto na frente das pessoas e assim de surpresa vai ser horrível. Tento me esquivar de qualquer jeito. Miguel insiste tanto que eu concordo.

Ele toca a musica All Star Azul, eu vivia cantando essa musica e pelo jeito ele se lembra bem. Começo cantando baixinho e aos poucos eu me solto, cantar para mim é algo natural, apenas sinto a musica e tento expressar o que a letra diz.

Quando dou conta todo mundo está na sala nos observando. Nem por um minuto minha voz vacila ou esqueço a letra, mesmo me sentindo um pouco constrangida eu canto a musica todinha. De todas as pessoas ali as únicas que já me ouviram cantar foram Miguel e Bruna.

Todos me elogiam e eu fico lá dizendo que não canto tão bem assim. Em meio a toda conversa e burburinho, percebo que Miguel e Bruna começam a brigar. Miguel toma o celular da mão da Bruna e fica mexendo sem a sua permissão, ela fecha a cara mas não diz nada, depois que ele devolve o celular os dois começam a discutir. O Pai da Bruna percebendo a discussão interfere na briga, ele chama os dois em um canto e o clima fica pesado. Me viro para Felipe que parece não perceber o desentendimento e digo:

— Vamos embora?

— Claro.

Damos um tchau coletivo e saímos de fininha. Voltamos para casa de ônibus e no meio do caminho sugiro passar na sorveteria. A sorveteria está vazia, hoje não foi um dia quente. Pedimos um Sunday e sentamos um de frente para o outro.

— Sua voz é incrível – Felipe diz.

— Obrigada.

— Já pensou em se tornar cantora?

— Claro que não.

Nunca pensei mesmo.

— Porque não?

— Porque eu não acho que canto tão bem assim

— Ah, você canta sim! Eu fiquei impressionado.

Ele está tão empolgado falando sobre isso, é fofo.

— Desse jeito eu vou me inscrever no The Voice Brasil.

— Eu apoio.

Dou risada.

— Fazia muito tempo que eu não cantava na frente de outras pessoas.

— E porque você parou?

— Meu pai me apoiava muito, ele sempre pedia que eu cantasse para ele e ficava todo bobo. Depois que ele se foi pensei em sair do coral até que eu conheci o Miguel, nós viramos amigos e então eu continuei. Acho que naquele momento ele preencheu um espaço vazio e então depois a família dele se mudou. Foi então que parei de cantar.

— Vocês formam uma bela dupla – não gosto de ouvir isso dele – ainda sente alguma coisa por ele?

Felipe fica atento olhando para meu rosto esperando minha resposta.

— Não – além de não poder mais gostar do Miguel eu também não quero mais gostar dele – Ele foi muito importante para mim, mas passou e ninguém vive de passado.

— Antes eu não sabia como alguém acaba se tornando tão importante assim – ele diz pensativo.

— Você falou no passado.

— Falei? – ele diz se fingindo de bobo.

— Sim. Então, quem é essa pessoa importante?

Algo dentro fica gritando que sou eu. Parece loucura mas também quero seja eu.

— É segredo – ele pisca para mim e meu coração quase para.

Ficar com Felipe seria a pior escolha, ele já deixou bem claro que não se apega a ninguém e eu também sei que eu costumo de cair de cabeça principalmente nos assuntos do coração. Eu nem sei se gosto dele. Ele tem demonstrado ser um amorzinho, isso porque somos amigos e não sei como ele seria se fosse mais que isso. É como se eu estivesse entrando em uma zona desconhecida e todos meus sentidos estão em alerta. Deveria me distanciar, mas meu coração me diz para seguir por esse caminho que eu não faço idéia aonde vai parar.


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