Rachadura no roteiro 

Já havia passado um tempo considerável desde que Luíza havia encerrado suas histórias. A forma dramática como havia o feito, deixou um rombo no coração e claro, no orçamento. Não poderia se dar ao luxo de ficar quebrando suas coisas como nas novelas cheias de burguesas.

A seA mente entrando em abstinência de palavras. Sem pastas pra documentos, com os dedos tremendo pra começar qualquer coisa e orgulho ferido. Qualquer coisa mesmo.

Desesperada, o que lhe restou foi o Messenger. Uma curiosidade até então desconhecida, é que  poderia digitar mensagens pra si mesma.

Fundo do poço. Estava quentinho, como sempre.

Já estava na terceira hora de problematizações sobre desenhos infantis que era obrigatoriamente convidada a assistir diariamente. Já havia passado os olhos por seus livros já lidos - não eram muitos,claro - e perdido a vontade de ler. Ela era mais escritora que leitora. Uma escritora!

Uma escritora cruel que abandonou seus personagens.

Luíza já sabia como terminaria. Culpada.

Cansada.

Será que poderia voltar? Seria só um…

Alice Green estava diante de si. Dessa vez, sem todo o amor com o qual escreveu, e sim com olhar crítico aguçado de quem também lia. O ponto máximo, o local onde tudo se acabou. O furo no roteiro. A parte que não deveria estar ali. O que diabos havia acontecido naquele dia?

Luíza estava há dias com excesso de melancolia. Não era TPM, não eram os traumas do passado, não era a gravidez. Era só um período triste, um dia nublado. Três personagens tristes haviam nascido naquele dia, e ela teve a bendita ideia de escrever o capítulo 38. Um ataque que deveria passar e estreitar os laços entre os dois herdeiros, terminou da forma mais violenta e cruel. Por que havia feito aquilo? Tantas outras voltas teve que dar pra que eles se encontrassem de novo, e por quê? Emoções não escreviam cenas!

Fechou o documento como se sua mão estivesse queimando. Jogou o celular pela cama, e ele foi pulando pelo colchão que nem macio era. Pulando, pulando… e caiu do outro lado. Ótimo. Mais um rombo no orçamento.

Malditos furos de roteiro!