Rei escrita por HANABI PROJECT


Capítulo 2
Ligação escarlate: O espadachim de olhos amarelos


Notas iniciais do capítulo

Sejam bem-vindos, novos e antigos leitores!! Espero que estejam curtindo a história!
Como prometido, aqui vai o capítulo dessa semana, recém saído do forno, com cheirinho de novo! Dessa vez, introduzindo o espadachim de olhos amarelos, um dos meus personagens favoritos! Espero que gostem dele tanto quanto eu! hahaha ♥

Sem mais delongas, aproveitem!!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/776526/chapter/2

Um ano havia se passado desde que Rei tomara posse da espada. Ela estava estudando em seu quarto quando ouviu gritos. Vestiu-se apressadamente e correu na direção do som, notando que vinha do quarto de seu mestre.

Os irmãos Kimura e Ushida estavam ajoelhados perante o corpo inerte de Lyan Shu. Em desespero, Rei se ajoelhou perto dele, com lágrimas nos olhos.

— O que é isso...? - Murmurou a garota em pânico.

O mestre fora apunhalado no peito. A adaga ainda estava fincada em seu corpo enquanto ele estremecia de dor.

— Mestre! - Gritou Rei. - Eu irei salva-lo! Vocês dois, tragam meu estojo médico, agora! - Berrou ela, com as mãos trêmulas. Quando saíram, continuou: - Quem... Quem fez isso com você?

Lyan Shu segurou as mãos de Rei. Era a primeira vez que ele a tocava desde o incidente que a trouxera ao planeta.

— Minha... filha. - Balbuciou ele, com a voz fraca. - Eu estou feliz. Não tenho arrependimentos nessa vida. -  Engasgou com o próprio sangue.

— Não fale! Você vai ficar bem! - Rei replicou, com a visão turva.

— É tarde demais...

— Não!

— Escute, Rei. Você não deve... se deixar sucumbir a...

O mestre nunca completou a frase. O brilho em seus olhos apagou e ele morreu bem ali, diante de Rei. Naquele instante, a garota conheceu um sentimento que jamais havia lhe acometido antes: O ódio. Porque? Porque o mataram? Pensou, em desespero. Rei retirou a adaga do peito do mestre com as mãos trêmulas, notando que a arma possuía o símbolo do templo. Quando os irmãos retornaram com seu estojo médico, Rei ergueu-se e encarou-os.

— Quem foi? - Interrogou ela, com a mão no punho da espada. - Quem fez isso com ele!?

Os homens pareciam apavorados. Antes que pudessem respondê-la, Rei desembainhou Kouhai e os matou com um golpe limpo da espada. Possuída pelo espírito maligno de Tensei, que se libertara das amarras mentais no momento de fraqueza, ela caminhou pelo templo matando todos que apareciam em sua frente sem pestanejar. Vocês pagarão por isso! Os pensamentos dela e os de Tensei se misturavam entre si. Seu próprio corpo parecia fora de controle e logo tudo ficou fora de foco e desapareceu diante de seus olhos.

Quando recobrou a consciência, estava parada, na chuva. Centenas de corpos jaziam inertes aos seus pés e suas roupas estavam manchadas de sangue. O templo fora completamente destruído. Até mesmo a paisagem ao redor fora drasticamente devastada. Eu fiz isso? Indagou a si mesma, em desespero. O único lar que ela conhecia agora estava em chamas e a única família que possuía, morta. Ela os matara. Naquela noite, Rei decidiu que jamais sacaria sua espada novamente.

Sem saber o que fazer ou para onde ir, a jovem vagou sem rumo por muitos quilômetros. Ela jamais saíra do templo, de modo que não conhecia nada do mundo e da realidade da vida. Logo descobriu que do lado de fora tudo era mais difícil. As pessoas passavam fome e sofriam com doenças. Mães criavam seus filhos sozinhas, enquanto os homens lutavam na guerra. Determinada a se redimir pelos seus pecados, ela decidiu se tornar uma andarilha, caminhando de vilarejo em vilarejo para atender os feridos, doentes e negligenciados.

Rei se banhava em um rio quando ouviu passos vindo em sua direção. Suas roupas e espada tinham sido deixadas na margem do córrego, de modo que estava desprotegida.

— Olá, garotinha. - Um homem surgiu por entre as árvores, sorrindo.

— Mulheres como você não deviam andar sozinhas por aqui. - Murmurou um segundo.

Ambos vestiam armaduras vermelhas, símbolo do tirano que havia assassinado o imperador, dezesseis anos antes.

— Não se aproximem! - Gritou Rei. - Não quero machuca-los.

— Nos machucar? - Riu um deles. - Nós que vamos machucar você.

Com um olhar sedento, eles se aproximaram, prontos para agarra-la a qualquer momento. Foi então que um espadachim todo de preto surgiu por trás deles como uma sombra, matando-os um por um. Sem motivo ou explicação, ele os cortou com golpes rápidos, deixando um rastro de sangue sob o solo e então jogou as roupas para ela e lhe deu as costas para que se vestisse.

— Quem é você? - Indagou Rei, cobrindo sua nudez.

— Meu nome é Seiji. - Replicou ele.

Seus cabelos eram negros, assim como o roupão que ele vestia por cima das vestes. Os olhos cor de âmbar, selvagens como os de uma fera, emoldurados pelo rosto fino e bronzeado pelo sol. Uma tatuagem podia ser vista desde a base do pescoço até a clavícula: Uma espada atravessada sobre o olho que tudo vê.

— Por que matou esses homens?

— Porque são soldados do imperador. E porque estavam prestes a estuprar uma garota inocente. - Ele se aproximou, avaliando-a. Era a mulher mais bonita que já havia visto em toda sua vida. Seu cabelo e pele eram alvos e os olhos cor de púrpura. Ela era pequena, mal batia na altura do peito de Seiji. Embora parecesse frágil e delicada, não estava assustada. - E quem é você? - Perguntou, por fim. - Mulheres não podem portar espadas no território do usurpador.

— Meu nome é Rei. - Respondeu ela, de forma tímida. - Sou apenas uma andarilha. Trato os feridos da guerra.

— Aqueles homens eram nojentos, mas estão certos em uma coisa: Você não devia andar sozinha por aqui. É perigoso.

— Fala como se também não fosse perigoso. Acaba de assassinar dois soldados bem diante dos meus olhos.

— Tudo bem, você venceu. - Ele ergueu as mãos em sinal de inocência, fazendo algumas pulseiras se remexerem. - Para onde está indo?

— Para o vilarejo mais próximo.

— Quer dizer, Todo? - Indagou ele, erguendo uma sobrancelha. - Este é o caminho errado.

As bochechas de Rei ficaram coradas. Ela podia ser perita em muitos assuntos, mas ainda estava tentando se acostumar à vastidão que o outro lado dos muros do templo reservava.

— Não tem problema... Não importa muito para onde estou indo, desde que chegue a algum lugar. - Rebateu, com uma expressão triste.

— Ei, você está bem? - Perguntou ele, aproximando-se, meio incerto. - Aliás, por que está fazendo tudo isso? Quer dizer... andando sozinha e cuidando de desconhecidos. Parece... solitário.

Rei lembrou-se do mestre Lyan Shu, do seu corpo ensanguentado e de todas as vidas que ceifou em seguida. As expressões turvas de horror dos cadáveres jogados pelo chão de pedra do templo, o sentimento de culpa que a invadiu após a constatação de que ela mesma havia feito aquilo, o cheiro de sangue e morte pairando entre os corredores frios. Tudo a acometeu subitamente, fazendo-a se sentir pequena, impotente. Sua mente entrou em colapso, enquanto o corpo tremia violentamente. Folhas, pedras e a própria água do rio começaram a levitar ao seu redor descontroladamente. Seiji nunca tinha visto algo assim antes.

— Ei! - Gritou ele, tentando acorda-la do transe em que se encontrava. - Pare com isso, vai acabar se machucando!

Rei não parecia ter escutado. Sem saber bem o que fazer, Seiji cobriu o espaço restante entre eles e a abraçou. Por alguns segundos, nada aconteceu. Demorou um tempo, mas logo os objetos que voavam sem rumo caíram e a jovem desmaiou em seus braços.

Quando Rei abriu os olhos novamente, era noite. Ela estava deitada próxima a uma fogueira, que crepitava com um som reconfortante. Seiji a havia coberto com o próprio roupão e estava sentado do outro lado, observando o céu tranquilamente.

— Você está bem? - Indagou ele, sem encara-la.

— Sim. Desculpe por antes. - Falou timidamente. - Não conheço muitas pessoas.

— Não se preocupe. - Rebateu ele, gentilmente. - Pegue. - Estendeu um peixe na direção dela.

— Não, obrigada. Eu não... não como animais.

— Sem chance! Você por acaso é um monge ou algo do tipo? - Riu, divertido. Quando ela se manteve em silêncio, ele acrescentou: - Impossível! Não aceitam mulheres.

— Eu era a única.

— Espera aí. Quer dizer que você realmente conviveu com monges?

Rei assentiu.

— Sim. Durante dezesseis anos. - Revelou. - Eu deixei o templo há dois dias. Nunca tinha saído antes.

— Por isso é tão idiota. - Ele fez uma careta. - Não sobreviverá por muito tempo desse jeito.

A menina baixou os olhos, triste.

— Não faz diferença.

Seiji nunca conhecera uma garota com aquele tipo de personalidade. Ele estava impressionado e impactado de formas inexplicáveis. Rei parecia doce e frágil, incapaz de machucar outras pessoas.

— Não diga coisas assim. - Pediu ele, pela primeira vez com uma expressão séria. - Não sei o que aconteceu com você, mas... Mesmo que tenha perdido tudo, ainda há algo pelo qual vale a pena lutar. Caso contrário, você não estaria aqui.

— Tem razão... - Rei suspirou. - Não posso morrer antes de me redimir pelos meus pecados.

— Eu irei com você até Todo. - Seiji disse, repentinamente. - Pegue. - Dessa vez ele lhe deu uma maçã e um sorriso reconfortante.

— Seiji... Eu queria saber... - A garota parecia meio sem jeito. Ela nunca tinha conversado com alguém da sua idade antes. - O que foi aquilo que você fez, no rio... Para me impedir quando meu poder saiu de controle?

As bochechas dele coraram suavemente.

— Como pode não saber o que é? - Rebateu ele.

— Os monges eram proibidos de ter qualquer tipo de contato físico. Até mesmo meu pai, ele... Não podia.

Que cruel, pensou Seiji. Rei havia passado dezesseis anos confinada em um templo, apenas na companhia de homens adultos. Sem outras crianças para brincar e proibida de receber afeto por conta dos votos sagrados aos quais os monges eram submetidos.

— Se chama abraço. - Murmurou ele.

— E para que serve? - Perguntou Rei, curiosa.

— Bem... Depende. Você abraça alguém quando está feliz ou com saudade... Ou quando a pessoa está triste, assustada ou quando você gosta dela.

— Isso quer dizer que gosta de mim?

Seiji nunca se sentira tão envergonhado na frente de uma mulher antes. A pureza da pergunta dela era sem precedentes.

— Sim. - Respondeu ele, desconcertado.

Lágrimas encheram os olhos dela.

— Estou tão feliz... Nunca me disseram isso antes.

— Ei! Não se acostume. Só falarei isso dessa vez. 

Rei sorriu pela primeira vez, aquecendo o coração dele.

— Tudo bem. Uma vez é o suficiente.

— Vamos dormir agora. Temos uma longa caminhada até Todo amanhã.

Ele estava prestes a se deitar, quando ela o impediu, puxando a manga de sua camisa suavemente.

— O que foi? - Indagou ele, encarando-a.

— Pode fazer mais uma vez?

— O que?

— O abraço. - Pediu. Ao observar a expressão dele, acrescentou: - Sinto muito! Não parei para pensar que talvez seja inapropriado! É só que... Estou um pouco assustada.

Seiji esticou os braços na direção da garota e disse:

— Tudo bem. Venha.

Seiji a envolveu suavemente, sentindo quando seu pequeno corpo amoleceu, reconfortado no peito dele. Outras mulheres já o tinham abraçado antes, mas nada parecido com aquilo. Não havia segundas intenções nas ações de Rei. Ela era ingênua como uma criança. Quando se separaram, Seiji estava sem jeito.

— Pronto, agora vamos dormir. - Disse ele, deitando-se rapidamente sobre o terreno no qual estavam acampados.

Para sua surpresa, a garota deitou ao lado dele.

— O que foi? - Indagou Rei, notando a expressão dele.

Seiji estava prestes a protestar, mas o protesto morreu na garganta. Era inútil argumentar. Rei não entendia nada sobre relações humanas e não tinha experiência suficiente para entender que homens e mulheres que há pouco se conheceram não tinham intimidade o suficiente para esse tipo de comportamento. Mais do que isso, ela não parecia se dar conta de sua beleza excepcional e de que homens ruins poderiam tirar proveito de sua inocência.

— Boa noite. - Murmurou ela, fechando os olhos.

Seiji se permitiu observa-la durante alguns minutos, se questionando em que poderia estar pensando. Rei dormiu rapidamente, aparentando fadiga. Ele suspirou e fechou os olhos, sentindo um estranho borbulhar dentro de si mesmo. Algo que ele não vivenciava a algum tempo: preocupação.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Vejo vocês na semana que vem!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Rei" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.