Premonição: Congelados escrita por VictChell


Capítulo 3
Acidentes


Notas iniciais do capítulo

☠ - Terceiro capítulo. Espero que gostem =D
☠ - Totalmente dedicado ao desenvolvimento dos personagens. Quero que os leitores conheçam mais sobre eles antes que qualquer coisa possa acontecer =D



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So you go and you stand on your own

And you leave on your own

And you go home and you cry

And you want to die

 

Chris parou o carro sob um dos poucos postes de luz acesos que ladeiam a estrada. Ao seu lado, Jake permanecia em silêncio, temendo que suas palavras pudessem machucar qualquer outra pessoa que estivesse dentro do carro. Assim como Jake e Melissa foram com Chris até a pista Howclover em seu carro, o amigo sugeriu que o casal voltasse com ele – querendo, assim, evitar olhares e possíveis discussões com o resto do grupo.

Desde que saíram do local onde presenciaram o fatídico acidente, nenhum dos amigos ousou quebrar o silêncio dentro do veículo. As mãos de Jake tremiam dentro dos bolsos de seu jeans escuro. A princípio, achou que estivesse com frio e resguardou seus dedos para aquecê-los. Com sua atenção menos agitada e mais focada em si, percebeu que seus nervos arfavam com o pavor e seu sangue pulsava sob sua pele.

Jake piscou três vezes antes reparar que o carro estava parado em frente à sua casa.

— Obrigado. – Disse timidamente, mas não saiu de imediato. Olhou para a entrada da sua casa por algum tempo antes de puxar a maçaneta da porta do passageiro. Contudo, não a abriu.

— Acho que sou eu quem deve agradecer. – Chris fala apoiando a mão no ombro do amigo. Não precisou de mais explicações além daquela frase, Jake entendeu o que suas palavras queriam dizer.

Melissa deixou que uma lágrima escorresse pela sua bochecha. Sentada no banco traseiro, olhando o gesto de Chris e pensando na amizade dos dois. Na amizade de todos eles. Isso teria acabado se Jake não tivesse avisado ou se manifestado. Uma amizade que, naquela noite, poderia ter sido sepultada juntamente com suas almas. Algo tão bonito e leal se dissiparia de um minuto para outro. Puft.

— Estou feliz que vocês estejam bem. – Jake alterna o olhar entre Chris e Melissa. – Todos vocês. Nunca deixaria que algo ruim acontecesse aos meus amigos. – Ele queria dizer que os ama, pois é o que verdadeiramente sente. “Melissa é o sol que iluminava sua estrada e Chris é aquele quebra-molas chato que comede suas posições”, ouviu isso uma vez de uma voz que cochichou de algum lugar do seu interior uns anos atrás. Ele titubeia, se engasgando com as palavras e, por fim, não conseguindo as pronunciar.

Melissa queria desabar em lágrimas por mil razões diferentes, mas julgou não apropriado naquele instante. Estava frágil, bem como Chris e Jake, pensou então que não precisava desestabilizar ainda mais aquela noite. Tudo o que queria era ir para casa, caçar uma faca na cozinha e raspar sob seu peito esse desespero que a fere por dentro. Ela se inclina para o banco da frente a fim de dar um beijo leve no rosto do amigo.

Despediu-se com poucas palavras. Falou com uma voz fraca, quase desvanecendo junto com sua energia – sempre muito garrida.

Ele se despede dela com um olhar amigável, que sai satisfeita do carro.

Jake e Chris se encaram por um breve momento, aliviados, mas, ao mesmo tempo, apreensivos. Melissa abre a porta do passageiro por fora e estende a mão para o namorado.

— Vamos, amor.

Jake sai.

— Jake, Mel. – O casal encara o amigo, que congela de repente. Tenta falar alguma coisa, mas desiste, por fim dizendo – Fiquem bem.

Eles assentem com a cabeça e caminham pelo gramado até a porta. Jake aufere sua chave do bolso e tenta destrancar a fechadura.

Melissa ouve o barulho do carro de Chris diminuindo conforme ele continua seguindo a extensa alameda. Ela olha em volta. Tá tão escuro essa rua hoje. Clima que combina com o humor da noite. Pensou. As casas vizinhas estão igualmente soturnas: sossegadas e desalumiadas – como se ninguém morasse nelas. Não há carros passando, não há ruído de televisão ligada, nem de cachorros latindo. A noite está de luto ou algo assim? Melissa pensou tentando desviar os pensamentos ainda ancorados à pista Howclover. Muito quieto. Silêncio demais. Exceto por... Tic, tic, tic. Foi quando a loira percebeu que Jake ainda tentava abrir a porta. As mãos dele tremem e não conseguia acertar a chave na abertura da fechadura.

— Jake, deixa que eu faço isso. – Ele passa as chaves para ela sem dizer nada. O frio emana de suas mãos, arrepiando a garota. – Você tá com as mãos muito geladas. – Se preocupa.

Melissa abre a porta e ambos cambaleiam para dentro. Jake se joga no sofá com as pernas um pouco bambas. Melissa o fita de pé ao lado da entrada. Queria perguntar se Jake está bem ou como ele estava se sentindo, mas seria perda de tempo, de saliva e provavelmente ela nem iria ter uma resposta. Claro que ele não está bem, seu rosto (e todo o resto) demonstrava isso. Ela queria dizer algo para conforta-lo, para mostrar que está ao seu lado, que compartilha da mesma dor, mas não sabe o que dizer. Está atarantada.

Ele a encara de volta numa desconfortável quietude esperando um retorno, mas nada vem.

— Vou fazer um chá pra você. – Ela finalmente diz.

— Não. – Ele murmura calmamente.

— Uma água, então. Ou café bem quente.

— Eu não quero nada disso, Mel.

— O que quer então? Eu faço. – Suas palavras saíram tremidas, assim como os joelhos de Jake.

— Senta aqui comigo.

Ele esperava que Melissa não o achasse desequilibrado, insano ou algum tipo de sobrenatural. Não queria que ela o visse com outros olhos. Estava preocupado que ela começasse a achar que ele causara a morte daquelas pessoas e ficasse com medo do próprio namorado. Mel não pode me deixar agora, preciso de você.

A loira camba para o sofá e Jake a abraça forte. Um pouco receosa, ela retribui o gesto. Eles se apinham por uns minutos até Melissa perceber seu olhar orvalhando. Ela se apruma de frente para ele e enxuga seus olhos delicadamente com os polegares.

— Mel, eu não sei o que aconteceu. Não sei o que rolou lá dentro da Howclover, eu juro. Não tenho nada a ver com toda essa merda. Eu não sei nem como eu consegui saber. Como eu vi... – Ele fala tentando não marejar a visão novamente. Explica-se como se estivesse num interrogatório.

Ela encostou suas testas até que seu nariz achasse o dele.

— Vai ficar tudo bem, Jake. – Ela tentou o acalmar.

— Acredita em mim? – Ele a abraçou ainda mais forte, a trazendo para mais perto.

— Isso não é culpa sua. Nada disso é. Foi um acidente, Jake.

Ele pende a cabeça olhando para o vazio entre as mechas de cabelo da namorada. Seu olhar vago fazia Melissa se sentir mal e inútil.

Ela sabia exatamente o que se passava na cabeça do namorado. Já vira isso em diversas séries de TV, livros, filmes e até em reportagens em revistas ou internet. Já havia visto no próprio rosto de Jake há alguns anos atrás – depois do acidente ocorrido com seu irmão. A mente de Jake ativou a preocupação do mundo e agora está trazendo isso para si. Ele obviamente se sente culpado pelo que aconteceu. Ele não pode se sentir assim.

Melissa resgatou de sua memória seu antigo namorado. Entrou em fartas discussões consigo mesma quando começou a namorar Jake, sobre seus sentimentos manifestados anteriormente e durante seu namoro. Sentia-se apaixonada e totalmente entregue ao que julgava ser uma afeição indômita, contudo percebeu e se reconheceu só após seu término – quando viu o quadro todo de si mesma num relacionamento que sentia não ser dela. Onde está a saudade quando você não está? Onde está o desejo quando você não se preocupa em me tocar? Onde está nosso futuro? Apesar de ter gostado, se apaixonado e, talvez, amado, algumas coisas não foram feitas para acontecer. Ele foi parte de sua história e o agradece pelo engrandecimento dela como pessoa, assim como ela o ajudou a se ver num relacionamento, e a cada dia se entender mais como individuo.

Assim que começou a namorar Jake, teve a sensação de ter os mesmos sentimentos, as mesmas emoções e as mesmas dúvidas, entretanto havia algo em Jake que ela nunca pensaria em experimentar antes. Difícil demonstrar com palavras ou simbolizar em sua imaginação. Preferia acreditar que seus sentimentos amadureceram com o tempo a cogitar que eles simplesmente mudam como o clima. O desejo de estar com ele e o respeito mútuo sobre a conexão que eles formaram era extraordinário e inefável, tão forte que precisava pôr para fora e tão inexprimível que não saberia como fazer, porém fazia. Assim como ele também fazia. Não era necessária qualquer palavra, simplesmente se entendiam.

A mulher, dona de radiantes fios loiros e olhos cerúleos, queria estar sempre ao seu lado, compartilhar momentos, memórias, alegrias e tristezas. Ela sabia que aquele era um momento de sofrimento para Jake e que toda a dor dentro dele borbulhava. O brilho que ele antes carregava nos olhos se extinguiu como fumaça, e o que restou lhe gritava para que ela não o abandonasse. Para que o compreendesse.

Eu nunca vou te deixar pra trás, meu amor. Só sigo em frente com você! Ela precisava que ele soubesse que sempre poderá contar com ela. É verdade. Eu sei. Então disse:

— Eu acredito em você. – Falou com convicção. Sabia que o namorado não tinha nada a ver com o que aconteceu na pista Howclover. Poderia fazer um discurso, tentando pôr para fora todos os sentimentos, mas isso era tudo o que ele precisava ouvir naquele momento.

A cor voltou a brilhar nos olhos azuis de Jake. O sangue impeliu nas suas veias. Ele alisou o cabelo loiro da garota à sua frente, respirou fundo e suspirou. Encarou um infinito dentro dos olhos dela, quase se vendo num perfeito reflexo.

— Obrigado.

— Eu te amo. – Ela disse. E Jake a puxou delicadamente pelas bochechas, dando-a um beijo singelo.

Melissa retribuiu na mesma sintonia. Os lábios de Jake estavam frios, e, assim como seus dedos, faziam Melissa se arrepiar. Ela não se importa. Jake vai ficar bem, vamos ficar bem. Ele só precisa de um banho quente e uma cama macia.

O momento é interrompido pelo toque do celular do rapaz, que nem por um momento hesita em soltar Melissa.

— Não acha melhor atender? – O celular tocava e vibrava no bolso dele, chamando atenção de ambos. – Vou fazer um chá quente pra você.

Ele assente com a cabeça. Melissa dá um selinho nele e se levanta rumo à cozinha.

— Alô? – Atende.

Por gentileza, esse é o telefone do Sr. Townsend?

— O que? – Jake não reconhecia a voz do outro lado. Afastou o celular do ouvido e checou o número. Desconhecido.

Estou falando com o Jacob Townsend?

— E quem quer falar? – Diz num tom brando, porém na defensiva.

Aqui é o agente Wong, Sr. Townsend. O senhor poderia comparecer amanhã à delegacia para responder algumas perguntas sobre o recente acidente na pista Howclover?

Congelou.

— Mas... Policia? Não entendo. – Jake contraiu o peito em aflição. Pronunciou a palavra polícia mais alto do que gostaria, alarmando Melissa no outro cômodo.

Imagino que o senhor já saiba do ocorrido. Uma testemunha, sobrevivente do episódio, declarou que o senhor se manifestou um pouco antes do acidente. Gostaríamos apenas de esclarecer o ocorrido com algumas perguntas.

Não havia nada que Jake pudesse fazer para mudar a decisão do policial. Se negasse sua presença, iria se declarar axiomaticamente culpado de qualquer eventualidade que possa ter causado o acidente. Querendo ou não, teria que comparecer.

— Ok, tudo bem. Que horas?

Quando achar mais apropriado para o senhor. O importante é que tenhamos essa conversa amanhã.— Pronunciou as palavras de forma sóbria, trazendo mais uma onda de preocupação para o corpo de Jake. Soou ríspido do outro lado do telefone e um pouco ansioso quanto ao encontro.

— Ok. Vou estar aí amanhã.

Estaremos a sua espera, Sr. Townsend.

Desligou.

Jake notou Melissa o observando da porta da cozinha. Seus olhos desabafavam com temor. Compartilharam, então, o mesmo aperto no peito do qual estavam tentando escapar.

 

 

Brandie saiu do carro de Josh há exatos oito minutos. Não conseguia acreditar que Marcie tinha morrido. Tentando manter-se esperançosa, afastava a imagem do corpo da irmã caído entre os destroços da Howclover da sua imaginação. Ela não aceitaria isso. Podem ter havido sobreviventes... Marcie pode ser uma delas.

A garota encarava a porta de sua casa preparando-se para o que viria em seguida. Abre.

A TV da sala estava num alto volume. A escuridão abocanhou Brandie assim que deu o primeiro passo sobre o piso de madeira. Todas as lâmpadas estavam apagadas, o breu dominava todo o recinto. Parada à porta, Brandie encarou a única fonte de luz que provinha do seu lar, aquela que vazava da televisão.

Sua mãe estava sentada no sofá com ambas as mãos contraídas ao peito. Seu marido, pai de Brandie, estava de pé ao lado da mesinha de centro com uma expressão assustada. Na TV, seu recente contato com a quase-morte é transmitido. Uma repórter, num elegantíssimo traje, divulga o que acontecia naquele momento ao lado de fora do que sobrou da Howclover Ice Space:

...desabou após uma explosão. O acidente deixou muitos mortos, até agora já foram encontrados treze corpos nos escombros. Nenhum foi identificado. Vários feridos estão sendo encaminhados para o hospital mais próximo. Ainda não se sabe o que ocasionou esse desastre ou o que pode ter ocorrido, mas os bombeiros estão trabalhando...— O Sr. Scheer, que estava com o controle remoto na mão, rapidamente corta o som ao ver a filha parada atrás deles chorando silente.

— Filha! – Apressa-se para abraça-la. A mãe faz o mesmo.

— Eu estava preocupada! Você está bem? Está bem? – A Sra. Scheer falava afobada. – Por que vocês não atendem o celular?

O pai dava beijos no topo da cabeça da filha, deixando suas lágrimas umectarem as tranças nagô dela. Os dois a abraçavam forte como se ela fosse escapar por entre suas palavras a qualquer momento.

— Eu estou bem, mãe. – Diz quase sem voz.

— E a sua irmã? Cadê ela? – Sr. Scheer pergunta fitando a porta entreaberta que Brandie deixou atrás de si.

A garota não respondeu, apenas fechou os olhos. O Sr. Scheer captou a resposta implícita no gesto e deixou que seus olhos desabassem ainda mais.

— Brandie? Filha? – O coração da Sra. Scheer bate forte. – Filha, cadê sua irmã?

O Sr. Scheer andou apreensivamente até a porta, observou a rua deserta mal iluminada e a fechou. Sua mulher viu o ato como uma morosa peça de teatro e gritou alto, sentia como se um punhal tivesse atravessado seu peito.

— Ela não saiu. Marcie não conseguiu sair a tempo. – Brandie pronunciava as palavras com dificuldade, estava se afogando no próprio choro.

Sr. Scheer abraçou forte a esposa, que caiu em seus braços soluçando. Brandie encostou-se à parede não sabendo o que fazer ou dizer, então apenas deslizou até o chão.

Na TV, a repórter ainda falava sobre o acidente. Brandie encarou a tela atentamente. Não importava o que a mulher dizia – seu pai pôs no mudo de qualquer jeito – o que chamou a atenção da garota foi algo visual. No plano de fundo da matéria, paramédicos atendiam exasperadamente pessoas que tiveram ferimentos leves – provavelmente aqueles que conseguiram sair primeiro – e entre eles estava um dos seguranças que expulsaram ela e os amigos da Howclover. O mesmo que não a deixou voltar para buscar a irmã.

 

 

Chris abriu uma garrafa de vodca e deixou que o conteúdo escorresse por sua garganta. O liquido queimava como ácido. Queria esquecer-se daquela noite. De tudo que aconteceu. Eu quase morri. Se não fosse o Jake, eu poderia estar morto. A vivência da quase-morte o aterrorizava. Chris não estava preparado para morrer, tinha grandes planos para sua vida. Primeiro, se formar em jornalismo era uma prioridade. Até lá procurava não ter distrações, como, por exemplo – e um ponto importantíssimo –, prender-se a algum compromisso amoroso. Em outras palavras: namorar. Ter um relacionamento agora parecia impossível na mente do garoto, apesar de desejar ter alguém ao seu lado. Ele via o brilho nos olhos de Jake quando está perto de Melissa, a paixão nos arrepios da pele de Diana quando beija Josh. Ele queria aquilo, mas não fazia parte dos seus planos. Não por agora. Afogava seus desejos e emoções, escondia sua paixão da garota que amava. Às vezes julga-se um criminoso por matar seus sentimentos toda vez que ela está por perto, porém a futura carreira promissora deve ser posta como maior ponto de interesse. Foi assim que seus pais foram criados, foi assim que eles o ensinaram.

Chris dá mais um gole na garrafa e se senta sobre o gramado nos fundos de sua casa. É uma enorme área, com direito a um parquinho infantil improvisado – que seu pai construíra quando ele era criança – e uma pequena casa, com apenas um quarto, um banheiro e uma cozinha bem pequena. Seu enorme terreno o fazia se sentir sem rumo às vezes. Perdido dentro da minha própria casa. Argh. Onde eu durmo hoje?

Resolveu ir para o lar acoplado nos fundos. Sabia que não conseguiria dormir depois dessa noite, e se isso realmente acontecesse, ficaria vagueando pelos cômodos com a garrafa de bebida em uma das mãos – feito um zumbi arrastando correntes. Temendo acordar os pais, optou pela casinha. Ele e seus pais costumavam chama-la de edícula de hóspedes— apesar de não ser exatamente uma –, pelo tamanho deveras pequeno e só ser usada quando uma visita é convidada a passar a noite.

Entre as duas casas, o parquinho – já velho – enfeitava o gramado ardentemente verde.

 

 

Subitamente Jake despertou. Tudo o que ele vira em sua visão mais cedo, agora queimava seu cérebro com lembranças inoportunas. Não quero me lembrar disso, não quero. Argh! Pensou passando as mãos no cabelo. Melissa dormia ao seu lado. Estava vestida apenas com uma camisa do namorado, que parecia uma túnica em seu corpo. O peito se movia ao ritmo de sua respiração, seus cabelos dourados coloriam o travesseiro branco e o perfume, agora já mais enfraquecido, adocicavam o ar. Jake se sentiu aliviado. Ela está bem. Estão todos bem. Todos?

Uma corrente de ar frio soprou janela adentro, o que o fez lembrar-se de suas mãos. Não estavam mais geladas. E suas pernas não pareciam estar mais trêmulas. O garoto levou as mãos ao estomago numa sensação de desconforto e sentiu como se algo o estivesse mastigando internamente. Algo dentro dele, que há muito estava adormecido, acabara de acordar. Ele sabia que tinha alguma coisa se escondendo na escuridão da sua mente, em cada canto mal iluminado de suas memórias, em cada lembrança que desejava ser esquecida, e essa coisa estava tentando rastejar para fora das sombras.

Delicadamente se levantou. Melissa se mexeu um pouco, mas não ousou acordar. Ele caminha para o banheiro a fim de lavar o rosto. Enquanto a água descia da bica e enxaguava suas mãos, lembrou-se do gelo derretendo sob os patins. Flashes da visão o assombram por alguns segundos. Jake tenta andar, mas seu corpo parece exausto de se mover. Seus membros têm dificuldades com a flexibilidade, parecem estar cimentados com as cotoveleiras, joelheiras, luvas e capacete. Ele pisa no gelo, quebrando-o em placas sensivelmente grandes, que cedem consoantes seu peso.

Água sobe selvagemente por entre as rupturas. A principio, o pouco da inundação atrapalha os patinadores a saírem do ringue, logo as chapas vão se fragmentando e todos ao redor são aspirados para baixo inopinadamente, até que, por fim, Jake é igualmente libado para o mesmo caminho.

A água fria invade suas roupas aos poucos até estar inteiramente submerso. Estranhamente não sente falta de ar ou uma sensação de afogamento, apenas desconforto. Quer sair dali, assim como todos. Os patinadores nadavam cada um para um lado; uns para a esquerda, outros para a direita e os mais espertos nadavam para a superfície, onde um clarão é refratado em sua direção. Todos parecem peixes e aquilo era, definitivamente, um aquário. Não um aquário qualquer, ali os peixes nadavam por suas vidas. Precisam sair. Precisam sair agora. Em contraponto à parte superior, quanto mais Jake descia os olhos pelas águas, mais escuro elas iam se tornando. Ele encarou a escuridão – que parecia se aproximar cada vez mais – e sentiu um familiar medo lhe invadir o corpo, queimando seus ossos. Tentou fechar os olhos, mas sentia-se mais vulnerável se não pudesse ver. De algum local das profundezas, um tubarão branco assoma, e era dele que as pessoas ali, aparentemente, tinham medo.

No meio da claridade azul da água, ele pôde identificar uma figura loira se debatendo. Como uma energética spinulosida, a imagem de Marcie se debatia freneticamente para longe da fera.

O tubarão se aproximava da loira, que tentava nadar na direção oposta ao animal. Parecia não saber como fazer, dava chutes e socos na água, porém não saia do lugar. Debatia-se como uma lula do mar presa numa placa de petri. Jake tenta nadar até ela o mais rápido que pode. Cada segundo conta. A besta assombra ao redor de Marcie. Ele grita para ela abrir os braços, o que não adiantou, pois a água não permite que o som chegue até ela. O bicho se aproxima cada vez mais da garota. Jake está muito longe, era tarde. Os finos dentes da fera se engancharam em seu torso, a levando para o interior do véu negro. Um fundo azul escuro que enegrecia conforme mais fundo submergia. Era o infinito. Jake observava o tubarão levar Marcie para o infinito. O que será que tem lá? Morte? Alívio? Outra vida? Ou apenas... o fim?

As imagens vão se obliterando até ele reavivar. A água escorria por entre seus dedos. Estava no banheiro, sozinho. Sem aquário, sem tubarão. Olhou-se mais uma vez no espelho, respirou fundo e espirrou um pouco do liquido morno em seu rosto. Devaneio. Foi só um devaneio.

Devagar, ele abaixou sua calça de moletom e tirou sua camiseta preta de algodão até ficar inteiramente nu. Um bolo se formou em sua garganta ao se encarar no espelho. Viu sua imagem refletida, mas não reconhecia o rapaz no espelho. Como alguém que rolou um lance extenso de escadas abaixo, ele se viu fraco, assustado, desorientado e muito machucado. Sua panturrilha direita possui diversos arranhões fundos que se estendem até o peito do pé. Sua coxa exibe fundas marcas já cicatrizadas que percorrem a volta da perna, quadril e uma parte da cintura. Ele passa a mão pelos sulcos da pele e deixa que algumas lágrimas escorram de seus olhos. Soltou um arquejo que atraiu sua atenção.

— Isso não pode estar acontecendo. – diz baixinho. – De novo não.

 

 

Harper beija Jasmine sob o fulgor da despreocupada manhã. A luz do sol banhava o quarto, aquecendo ainda mais o casal. Ambos já estavam acordados há pouco mais de uma hora, mas não se atreveram a deixar o aposento, tampouco os lençóis. Na noite anterior, após saírem da Howclover, Harper levou Jasmine para um jantar o qual julgava ser de extrema importância. Seria o momento em que apresentaria a namorada à sua mãe e irmã. Apesar de seu romantismo exacerbado e preocupado, não estava tão receoso quanto imaginava que ficaria, logo decidiu tomar a situação como um encontro necessário caso quisessem se firmar como um “casal de verdade”.

Seu pai falecera quando era bem pequeno, dois anos após sua irmã mais nova nascer. Seu rosto perdeu a estampa com o tempo, assim como todo o resto. Não por ter tido um displicente pai – o que não era verdade –, mas sim por, de fato, Harper ter o perdido há muito tempo. O rosto do Sr. Mitchell estampava apenas alguns retratos da casa de sua mãe, pois nem mais na memória de sua irmã ele fundeava.

A falta de figura paterna o fez ter um amor incondicional pela mãe e pela irmã – ainda maior do que ele achava que teria se o pai estivesse ali –, as mulheres mais importantes de sua vida. O jantar era a prova de que Jasmine não é apenas uma namorada, mas a verdadeira razão de fazê-lo mudar de ideia sobre casamentos – que até então era repelida por Harper.

Stacy Mitchell, irmã de Harper, logo se encantou por Jasmine e sua beleza. Assim como o irmão, Stacy tem um ótimo olho para quem tem “o dom” nas passarelas. Enquanto Harper é fotógrafo de moda – com uma relação empregatícia muito particular com uma grande empresa do ramo –, Stacy planeja os eventos de sua filial da mesma empresa na qual Harper mantem um estrito contrato. Ela sempre esteve conectada ao meio da moda, entre belos modelos e maravilhosas garotas, sabendo reconhecer uma matriz em potencial. Ao longo do jantar, Stacy se apegava a pensamentos constantes sobre apresentar a namorada do irmão às passarelas, a indecisão do convite selou os lábios de Stacy assim que Jasmine mencionou sua idade: vinte e oito anos.

A mãe de Harper demorou para se deixar ser conquistada por Jasmine. A Sra. Mitchell travou uma barreira contra qualquer namorada que o filho já teve – apesar de nunca ter apresentado uma de suas namoradas à sua família. Na verdade, nenhuma delas poderia sequer ser chamada de “namorada”. Jasmine foi efetivamente a primeira a ser apresentada com essa intenção.

Foi quando Jasmine disse que seus pais morreram, deixando ela e seu irmão órfãos, que a Sra. Mitchell pareceu abrir mais espaço para uma receptividade. Jasmine e Jasper perderam os pais após a formatura da garota no high school, os desamparando completamente. Jasper Martinez saiu da cidade por uma oferta de emprego que lhe foi proposta. Jasmine conseguiu um trabalho num shopping durante o dia e nas noites dos finais de semana, trabalhava na pista de patinação vinculada ao centro comercial. A mãe de Harper não ficou impressionada com a história, mas, com certeza, abaixou a guarda depois do discurso.

Posteriormente ao jantar, Harper ficou feliz da namorada ter se dado bem com a mãe e irmã. Já Jasmine ficou vibrante por ter arrancado alguns sorrisos da sogra nas demais conversas.

Durante o jantar, no meio da refeição, a TV do restaurante reproduzia uma matéria sobre um acidente na pista de patinação Howclover. Não estragou a noite dos namorados, mas provocou uma dose de angustia e aflição em Harper e Jasmine. As entranhas da garota se contorceram dolorosamente, como se ela tivesse contado uma mentira tenebrosa que fora infortunadamente descoberta. Sentiu-se fortemente errada; como se estivesse no lugar errado, na hora errada e com as pessoas erradas. Pensou por um segundo, há poucas horas eu estava naquele lugar e agora estou jantando, conversando e rindo. Eu deveria estar preocupada, deveria lugar pra a Melissa para esclarecer a história do Jake, pensamento que logo se esvaiu de sua mente após duas taças e meia de vinho.

Agora, ambos estavam submersos no desejo um do outro. Ela o queria, e ele estava ali. Harper beijava seu pescoço de baixo para cima enquanto ela envolvia as pernas em torno da sua cintura. O único tecido que os cobria era a branca e larga colcha de seda. O caminho de beijos deixado por Harper em sua pele morena arrepiava cada centímetro de seu corpo. Os gemidos que escapavam da garganta dela o deixavam excitado. Apesar de sentir seu desejo hirto entre suas coxas, Jasmine pôde enxergar a tensão nas veias de seu pescoço e na expressão cabisbaixa.

Harper se movimentava devagar. Os olhos azuis penetrantes do rapaz não faziam o efeito de costume nela. Provavelmente não era a intenção dele.

— Harper, está tudo bem? – Encostou a mão em seu rosto.

Ela conseguiu a atenção dele, que parecia estar com a mente em outro planeta.

— Eu? Estou muito bem. Por quê? Você não? – Ele passa os dedos entre os seios nus dela.

— Você não me parece muito concentrado.

Ele dá de ombros.

— Tá em outro lugar, né? – Jasmine insistia.

Harper se joga ao seu lado na cama com um muxoxo.

— Desculpa. Tô encanado. – Diz ele pegando na mão dela entre os lençóis.

— Tá pensando em que? – Ela fica de bruços para olhar seu rosto e ajeita o cabelo desgrenhado.

— O que aconteceu ontem. Lá na pista. – Ela assente. – O cara previu aquilo tudo, Jas. Nós corremos risco, por um fio. Saímos sem um arranhão e... e...

Ela presta atenção.

— E é estranho. – Termina ele, com falta de uma palavra melhor.

— Estranho? Como assim? Nós estamos bem, graças a Deus! E ao Jake. Mas por que tá encanado com isso? O que vale é ainda estarmos vivos e... Ok, temos que agradecer a ele.

Harper encara o teto. Será? Pensa.

— Jas, já ouviu falar sobre o voo 180?

Ela pareceu não entender a relação, apesar de conhecer.

— Sim. Aquele avião que explodiu no ar, certo?

— É, mais ou menos. Não é isso que eu quero dizer. É sobre as pessoas que saíram antes do avião decolar.

A atenção de Jasmine foi despertada, visto que dessa parte da história ela não tinha conhecimento. Ergueu uma sobrancelha indicando interesse e Harper continuou.

— Um garoto teve uma visão de que o avião iria explodir na decolagem. Ele tentou avisar todo mundo. Tentou alertar que se não saíssem, iriam morrer. Todos eles.

— Não conseguiu. – Jasmine sabia, pois o voo explodiu mesmo. Fato ocorrido há alguns anos.

— Bom... Algumas pessoas saíram do avião. Poucas, mas saíram.

A garota ficou pensativa, entendendo onde Harper pretendia chegar com essa história. Disse:

— Igual a nós.

— Exato. O mais estranho é que todas essas pessoas que saíram do voo 180, hoje, estão mortas. Todas elas morreram em estranhos acidentes. Tipo, depois... Sei lá. Nunca consegui entender bem como isso poderia ter acontecido.

A frase atingiu a garota como um tapa na cara. Não fazia ideia sobre esse segmento da história. O voo 180 foi uma tragédia que abalou o país na época que ocorreu, Jasmine lembrava bem, mas nunca ouviu falar sobre o menino que previu o acidente.

— Como sabe disso?

— Tá na internet, Jas. – Harper não conseguiu conter um riso. – Mas os detalhes são difíceis de achar. Tenho um amigo que conhece bem essa história. Ele é fascinado pela morte e essas coisas que todo mundo prefere fugir ou não falar sobre. – Ele faz uma pausa lembrando-se do rosto desse amigo. – Ele é muito sinistro. Quando a gente se conheceu, ele vivia falando desses acidentes esquisitos que levavam as pessoas à morte, que tudo isso fazia parte de um plano.

— Que louco. – Jasmine para de observar o namorado e se deita como ele, encarando o teto. – Que tipo de amigos você tem?

Harper ri.

— Ele não é bem um amigo. Dividimos um apartamento quando sai de casa. Assim como você. – Ele aponta para o nariz dela. É verdade, Jasmine divide o apartamento com uma garota chamada Libby desde quando largou a faculdade.  – Eu não tinha pra onde fugir, eu morava com ele. Entende a situação, né? – Os dois começam a rir da conjuntura que Harper se encontrava naquela época.

— Como você não está num hospício hoje? – Ela brinca.

— Oh, ele me deixou louco e sim, fui parar num hospício. – Ele faz uma pausa e sobe em cima dela de novo, completando. – Mas eu fugi.

Harper beija a namorada, que fica presa nos braços dele. Pronta para recomeçar a relação concúbita que antes foi suspendida, o celular dele apita.

— Ah! – Ele pega o aparelho e aperta um botão, desabilitando o barulho. Era algo como um despertador, porém ficou claro o que era depois de ele dispensa-la. – Jas, preciso trabalhar daqui a uma hora.

— Temos tempo.

— Queria que tivéssemos. – Ele diz beijando-a. – Tenho que tomar banho e me arrumar.

Ela bufa e se joga na cama. Harper levanta num pulo, entrando pela porta do banheiro.

— Ah, e não tem café. Se importa em ir comprar um pouco pra gente?

Ela se perde em pensamentos. Tudo o que Harper falou parece, de alguma forma, fazer sentido. Voo 180, pista Howclover, acidentes estranhos... São peças que não se encaixam muito bem a principio, mas fazem parte de um mesmo desenho. Ela deu um start na sua imaginação e tentou conecta-las através de Jake, mas não chegou a nenhum resultado. Precisaria saber mais sobre o voo 180 e mais sobre a visão de Jake para conseguir concretizar alguma coisa em sua mente.

— Jasmine? – Ele grita do aposento adjacente.

Ela ouve seu nome e desperta do transe.

— O que?

— Café, Jas. Você vai...

— Eu compro, pode deixar. – Ela grita de volta.

 

 

— Obrigada por vir. – Melissa agradece Brandie enquanto Jake faz os pedidos no balcão da cafeteria. – Não queria ficar sozinha enquanto o Jake tá na delegacia.

— Tudo bem. – Diz ela calmamente. Seus olhos vermelhos denunciam sua difícil noite à base de lágrimas e insônia. – Eu precisava sair de casa um pouco. Meus pais estão meio que surtando.

— E você? Tá meio que... Surtando? – Melissa fala num tom preocupado.

— Hum. Eu não sei. Chorei a noite toda e fiquei gritando no travesseiro. Isso é surtar? – Ela pergunta, esperando que a resposta seja sim. – Meus pais estão de olho na TV, para ver se há alguma noticia de reconhecimentos dos corpos e tal.

— Você acha que ela possa estar viva? – Melissa pergunta.

Jake chega com três cafés. Ele puxa uma cadeira e se senta.

— Ela está? – Brandie se dirige à Jake.

Ele é pego de surpresa.

— B, a Marcie... – Ele se lembra do devaneio no banheiro. O tubarão a levando para as profundezas. Será que isso significaria algo? Em sua visão, Marcie é esmagada contra uma coluna, será que a ausência deles na pista poderia ter mudado isso? – A Marcie pode estar viva.

— Você acha? – Brandie abre um leve sorriso automático movido pelas expectativas.

Melissa observa o namorado encher a amiga de esperanças.

— Bom, a gente mudou um pouco as coisas... Talvez com a nossa saída ela também tenha mudado.

Brandie desmancha o sorriso.

— As chances de você ter mudado alguma coisa lá dentro são baixas, né? – Brandie coça os olhos disfarçando as lágrimas.

Ele engole em seco e responde:

— Acredito que sejam quase inexistentes. – Ele fala com dor no coração. Podia não ser apegado à Marcie ou mesmo amigo dela, mas ele sentia por Brandie, que era uma de suas melhores amigas. – Eu não sou um bom entendedor de predestinação, morte e essas coisas, mas eu acredito no destino. E ele pode ser mudado.

Ela balança a cabeça e beberica seu café.

— Jake, não é melhor você ir? – Melissa fala. – Quanto mais cedo for, mais cedo vai sair de lá.

— O que eles querem com você? – Brandie pergunta.

— Parece que alguém me ouviu quando eu falei no microfone. – Jake joga a cabeça para trás. – Uma das pessoas que saíram ilesas contou pra policia que eu disse o que ia acontecer.

Brandie fica pensativa.

— Seja quem for, passou a impressão errada. – Melissa falou. – Estão achando que você provocou isso. E não é verdade.

— Não é preciso um dom especial para saber disso. Só espero que não aconteça nada. Essa é a última coisa que me faltava agora.

Veio um estalo na cabeça de Brandie. Quando viu a TV na noite passada.

— O segurança! O cara que expulsou a gente. – O casal olha curioso para a amiga. – Pensa bem, como a policia chegou até você? Ninguém sabia seu nome, só as pessoas que trabalhavam lá. Provavelmente os seguranças e o dono foram perguntar o que aconteceu pro Doug depois que saímos. E ele contou. O Doug sabia seu nome.

— É verdade. – Jake virou o café. – Essa porcaria toda só está acontecendo por que eu tentei avisar esse pessoal. Tentei tirar eles de lá!

Melissa apoia os cotovelos na mesa e passa as mãos nervosamente pelo cabelo.

— Todos deviam ter acreditado. – Brandie fala. – Todos. – Ela pensa em Marcie.

— Tanto faz. – Ele dá de ombros. – Não tem mais nada o que eu possa fazer. – Ele coloca a mão no ombro de Brandie, demonstrando apoio. Beija os lábios de Melissa, pega seu café e se levanta. – Vejo vocês depois. – E sai.

— O Jake está sendo forte. – Brandie diz, não tendo ideia do que Melissa viu na noite anterior. – Acho que ele estava mais propicio de surtar do que qualquer um de nós. – Brandie então viu Melissa enxugando os olhos. – Mel?

— Sabe, acho que todos nós estamos querendo parecer fortes, mas a verdade é que estamos despedaçados por dentro.

Brandie não pôde discordar.

 

 

Josh abriu a porta e entrou em casa. Diana estava apreensiva de frente para a TV, assistindo os noticiários. Ainda falavam das vítimas e de como o número de corpos encontrados cresceu durante a noite.

— Alguma coisa nova? – Josh perguntou se sentando ao seu lado. O cabelo úmido deixava o suor escorrer de suas costeletas e molhar a camiseta que usava. – Na academia só falavam disso. Contei pro Elijah que eu estava lá ontem e o cara quase endoidou.

— Conseguiram identificar alguns corpos. E acho que outros vão levar mais tempo. Teve a água, o fogo e mais o desmoronamento, muitos corpos estão irreconhecíveis. – Ela diz com pesar nas palavras. – Segundo o que dizem aí.

— Que sorte a nossa ter consigo sair antes. – Ele solta uma risadinha. – Se não fosse o Jake, poderíamos estar tão mortos quanto esse pessoal. Já parou pra pensar o quanto isso é louco? Quero dizer, podíamos estar mortos agora. – Josh volta a olhar para a televisão. – Não sei se é sorte por ter saído ou azar por estarmos lá naquela hora e naquele dia. Eu prefiro pensar que é sorte... É, temos sorte. E eles tiveram azar.

Ela meneia a cabeça.

— Podia ter um pouco mais de respeito. Não se trata de sorte ou azar. Muitas pessoas morreram lá, gente que nós conhecíamos. E poderia ter sido a gente também, não se esqueça. Você mesmo acabou de dizer.

Ele a encara por alguns segundos.

— Quem a gente conhecia? Todos que conhecíamos saíram pela porta dos fundos. Esqueceu?

Ela olha para ele incompreensivelmente.

— A Marcie, Josh!

— Não conhecíamos ela, Diana. A Brandie sempre disse que a Marcie não queria contato com os “amigos chatos da irmã”. – Disse ele fazendo sinal de aspas para se referir que aquelas palavras eram da própria Marcie.

— E o Doug?

— Grande merda. O cara era chato pra caralho, se a Howclover não o matasse, eu faria.

— Ai, meu Deus! – Ela diz se levantando. – Não banca o idiota. Não agora, por favor.

— Aonde você vai?

— Pegar um copo d’água, pra poder me ajudar a engolir as merdas que você diz. – Ela fala zangada. – Você não se ouve?

— Não falei nada demais, só a verdade.

— A verdade? Me diz onde você estava essa manhã. Eu não te achei quando acordei. – Ela coloca as mãos na cintura.

Embora a casa de Josh estar sempre muito cheia, e não gostar de dormir com a namorada enquanto os pais e irmãos pequenos estão presentes, ele abriu uma exceção na noite anterior. Não quis se afastar de Diana enquanto estivesse escuro, não quis se soltar de seu abraço enquanto conversavam sobre o lençol. Não quis admitir que, no fundo, temia que não conseguisse ter mais a namorada em seus braços.

O casal dividiu uma cama de solteiro sob um teto enfeitado com estrelas luminosas. A ornamentação foi feita pela irmã mais velha, Susan, depois de dizer que aquela constelação fluorescente iria disfarçar a tinta descascada que Josh nunca quis reparar. Nenhum dos dois conseguiu dormir durante aquela noite. Enquanto Diana tinha medo de fechar os olhos, Josh insistia na desculpa de que os gêmeos – seus irmãos mais novos – o acordavam de meia em meia hora para drenar qualquer momento silente com seus choros de desamparo.

— Eu fui malhar, Diana.

— É, tem ido muito à academia. – E faz uma careta.

— Hã? – Josh a encara tentando interpretar seus pensamentos. – Que merda é essa agora?

Suas desconfianças sobre a traição de Josh aumentavam cada manhã, porém ela enxergava a verdade em suas palavras. Estava todo suado e fedendo que nem um gambá. Com certeza estava na academia. Pensou, sem se desviar para qualquer outra linha de pensamento.

— Nada. Só vá tomar banho antes que esse sofá tenha que ser queimado.

 

 

Jake estava sentado numa saleta mal iluminada e com cheiro de material de limpeza. Dois agentes policiais estavam à sua frente fazendo perguntas sobre a noite passada. O garoto temia parecer culpado, deixando as pontas dos seus dedos gélidas.

— Você disse o que exatamente? – Perguntou o policial negro e troncudo. Sua voz grossa soava ameaçadora. Cada palavra que seus volumosos lábios articulavam, faziam a espinha de Jake cintilar. Ele estava de pé, andando de um lado para o outro.

— Eu tentei avisar o que ia acontecer. – Tentou responder de maneira firme.

— E como sabia o que ia acontecer, Jake? – Demandou o segundo policial, esse uns cinco centímetros mais baixo que seu parceiro, cabelos compridos (terminando um pouco mais abaixo das orelhas) e com uma barba short boxed. Sua voz não causava tantos arrepios quanto à do agente Barry Wong, seu comparsa.

— Eu tive tipo um pesadelo antes de entrar na pista. – Falou automaticamente, como se ele tivesse sido treinado para essas perguntas.

Tipo um pesadelo? – Barry Wong deu um sorriso irônico e fitou o parceiro. – Ele disse pesadelo? – E voltou a encarar Jake, agora sem vestígio do sorriso recente. – Pesadelos não causam acidentes, Sr. Townsend.

— Mas foi o que aconteceu. Eu vi tudo. Vi que aquilo ia acontecer, eu fiquei com um pressentimento ruim e quis alertar.

— Está dizendo que teve uma visão? – Agora é o agente Jack Fry quem perguntava. Ajeitou os longos fios negros para trás das orelhas, como se quisesse ouvir melhor.

— Err.. – Jake vacilou por alguns segundos e continuou. – É. Isso mesmo. – Não queria usar essa palavra, ela parecia muito superficial. – Uma premonição.

Os agentes entreolharam-se.

— Jake, você tem dificuldades para dormir? – Jack Fry está pronto para anotar a resposta em uma prancheta. Diferente de seu parceiro, ele está sentado numa cadeira do outro lado da mesa onde Jake está. Enquanto Barry aparentava ter um temperamento ríspido e mercurial, Jack parecia estar calmo, e isso fluía por suas palavras tranquilas, quase oníricas.

O rapaz não entende. Como assim?

— Não, eu não tenho. – Os policiais o encaram. – Quer dizer, normalmente não. Ontem eu não consegui dormir muito bem, mas foi por causa do que aconteceu.

— Usou algum medicamento para dormir? – O agente Fry continua.

— Não usei.

— Já usou alguma vez? – Insiste.

— Nunca usei nada para dormir. Não tenho problemas com meu sono. – Ele fala preocupado de que esses sejam questionamentos que possam induzi-lo a se contradizer. – Não entendo essas perguntas.

— Você é fumante, Jake? – O agente Fry anotava tudo em sua prancheta. Tomava notas de mais coisas do que pareciam estar sendo ditas ali. – Tem depressão ou bebe muito álcool? Frequenta o nutricionista? Já teve casos de sonambulismo ou esquizofrenia? Está ou já foi infectado pela fêmea Anopheles?

Jake não conseguiu acompanhar as perguntas do agente Fry. Não sabia o que responder, nem o que dizer. Ouvia sua voz apaziguadora, mas sua atenção focava em Barry Wong arrastando os pés atrás do parceiro. Ele estava impaciente. Ou era o que queria que Jake pensasse.

— Desculpa. O que?

— A fêmea Anopheles. Você tem malária, Jake? – Jack Fry ressaltava a doença.

— Não tô doente. – Jake afirmou. Resolveu falar o mínimo.

— E quanto às drogas. Você usa? – A pergunta foi proferida por Barry Wong.

— ... Ou já usou? – Completou Jack num tom de reprovação.

— Não uso drogas. – Ele balançou a cabeça. – Escuta, o que aconteceu lá foi do nada. Foi um pesadelo de dez segundos na minha cabeça. Não posso explicar. – Nenhum dos policiais se manifesta e Jake dá de ombros.

Barry Wong sai da sala e Jack Fry segue atrás.

— O que acha?

— Ele não parece ter planejado tudo aquilo ou algo do tipo. – Wong desaprova a despreocupação do parceiro em relação à Jake. – O garoto disse que previu o acidente e tentou avisar as pessoas. O depoimento da testemunha confirma tudo isso.

— Tá de brincadeira, Fry? – Wong falava com a mão massageando uma das têmporas. – Está me dizendo que acredita que o cara foi tocado por um anjo?

— Você sabe que previsões não são inexequíveis. Já aconteceu muitas vezes. – Jack defendia a posição de Jake. – Não tô dizendo que foi isso que aconteceu aqui, mas as pessoas tem sensações ruins o tempo todo.

— Não pode estar acontecendo isso aqui. – Wong negava com a cabeça. Pensa sobre o acidente por um minuto e volta seu olhar para Jake sentado dentro da sala.

 

 

Jasmine entra numas das poucas cafeterias abertas naquele dia. Aquela era uma das únicas que funcionavam aos domingos por estar perto da delegacia e seus policiais serem o público mais ativo.

Ela fita um quadro grande atrás do balcão com fotos de todos os cafés e os preços estampados ao lado. Ela corre o olhar por todo o painel e decide levar o habitual.

— Vou querer dois do número seis para eu levar, por favor. – Diz ela à atendente.

— Jasmine? – Melissa a chama de uma mesa perto da janela. Ela estava acompanhada por uma amiga.

— Oi Mel. – Ela se aproximou. – Brandie, né?

— Isso. – Respondeu a garota de tranças nagô.

— Como vocês estão? Souberam do acidente que aconteceu na Howclover? Vi na televisão ontem a noite.

— Estamos quase bem. – Disse Melissa olhando para Brandie, que encarou suas mãos. – A irmã da Brandie não conseguiu sair.

— Ah, eu não sabia. Sinto muito.

— Ela sempre foi teimosa. – Brandie tentou forçar um sorriso, que não convenceu nenhuma das duas outras garotas.

— E o Jake? Como ele está? – Jasmine tentou tirar o foco da irmã de Brandie. Ela está sofrendo, não precisamos falar sobre isso.

— Meio confuso e conturbado. E para melhorar a situação a policia ligou pra ele ontem para vir à delegacia hoje.

Jasmine sacou de primeira o motivo.

— Nada de ruim vai acontecer. O Jake não teve nada a ver com isso. – Ela fez uma pausa. – Né?

— Claro que não, Jas. – Melissa bufa. – O Jake salvou a gente. Não pode desconfiar dele assim.

Ela está certa. Jake só tentou advertir a todos que saíssem do local. Ele não queria machucar ninguém. Assim como o garoto do voo 180 que tentou salvar os passageiros. E os que saíram, morreram.

Então Jasmine conta a história do voo 180 para as garotas. Melissa não tinha muita ideia sobre isso, já Brandie conhecia a história por alto. Toda a história que Harper havia contado mais cedo: Voo 180, as pessoas que saíram, as mortes esquisitas e tudo o que o amigo de Harper lhe contou.

— Dois números seis para a viagem. – Grita uma atendente.

— É o meu. – Jasmine se despede da amiga e de Brandie. Cata seu pedido e sai.

 

 

Jake abre a porta da delegacia e enfrenta o vento frio. Fecha o zíper de seu casaco e desce a escada de oito degraus em frente ao local. O sol não brilhava mais como fazia umas horas atrás, e as nuvens pareciam dançar em volta dele.

— Oi, Jake Townsend? – Uma voz feminina o chamou.

— Oi. – Ele vê uma garota com cabelos negros e um cardigã largo vermelho. – Quem é você?

— Eu estava esperando para falar com você. – Ela se aproxima e estende a mão. – Sou Sondra Shell.

Ele aperta a mão dela desconfiado.

— E queria falar comigo? Nos conhecemos? – Pergunta ele confuso.

— Ah, não. Tenho um blog de notícias. E ouvi dizer que você previu o que ocorreu na Howclover Ice Space.

Ele não precisou perguntar como ela sabia daquilo. Sondra não aparentava ser nova, mas não tinha rugas de uma mulher que estava perto da velhice. Chutou mentalmente uns trinta e poucos anos para ela. O bastante para ter alguma experiência em obter informações. Estava ao lado de fora da delegacia, aparentemente esperando – especialmente – por ele, e isso já dizia muito.

— Você é jornalista. – Ele arriscou.

Ela sorriu.

— Na verdade, sim, eu sou jornalista. Fui mandada embora depois de certos... Bom, fiz uma infeliz matéria que me abriu a porta da rua. É o preço que se paga por dizer a verdade nesse país.

— Sinto muito. – Diz sem sinceridade.

— Ah não. A matéria estava ótima, fiquei bem feliz com ela. O problema foi de quem eu escrevi. Não ficaram satisfeitos com as minhas notas e ameaçaram processar o jornal. Bom, o que veio a seguir é bem óbvio, né? – Ela ri. – Enfim, com um blog ninguém irá me censurar. E posso dizer que fiquei bem interessada com a sua trama.

 

 

— Alô? – Brandie atende seu telefone. – Mãe? Oh, meu Deus! Ok. Estou indo. – Desligou eufórica. – Mel, eu preciso ir. Ligaram lá pra casa. O corpo da Marcie foi identificado. Ela estava com os documentos no bolso... – Ela desaba em lágrimas. – Eu acreditava que ela poderia estar viva ainda.

— B, sinto muito. Muito. – Disse abraçando a amiga.

— Eu preciso ir, Mel. Quero estar com os meus pais na hora do reconhecimento.

— Ok, vai sim.

Elas se despedem e Brandie dispara em direção à porta. Ela puxa uma das maçanetas e congela feito uma estátua encarando o lado de fora.

— Mel. – Chama.

Melissa se levanta da mesa e segue para onde a amiga parou. Do outro lado da rua, Jake conversava com uma garota de cabelos tão escuros quanto carvão.

— Bom, acho que ele já saiu. – Brandie disse antes de dar um aceno de mão torto para a amiga e aligeirar os passos.

Melissa parte para a outra calçada, chegando por trás de Jake.

— Jake, já saiu? Por que não voltou pra cafeteria? – Diz ela entrelaçando seu braço ao dele.

— Ah, eles não me liberaram há muito tempo. – Ele olha para a blogueira e a apresenta. – Mel, essa é Sondra. Essa é Melissa, minha namorada.

— Prazer, Melissa. – Sondra levanta a mão com um sorriso simpático.

— Oi. E vocês se conhecem? – A loira aperta a mão de Sondra.

— Na verdade, agora já. Queria que Jake me contasse melhor o que houve na pista Howclover antes do acidente. – A blogueira pôs-se a explicar.

— Você é da policia? – Melissa pergunta analisando o figurino da garota.

— Não, Mel. Ela é uma blogueira. – Melissa olha torto para o namorado. – Nos encontramos aqui fora.

— Ah, já entendi. Quer acessos? Procure cães e gatos, eles fazem sucesso. – Melissa falava rudemente com Sondra. – Não vai conseguir isso explorando a tragédia dos outros, ok?

Ela puxa a mão de Jake.

— Eu não ia... – Sondra tenta defender-se, mas suas palavras são atropeladas pela impaciência de Melissa.

— Jake e eu ainda estamos sensibilizados pelo que aconteceu ontem. E ainda estamos tentando entender tudo isso. Se puder nos dar um pouco de espaço e privacidade seria muito gentil da sua parte. – Ela caminha arrastando ele atrás de si.

Sondra não os segue, apenas os observa vagarem para longe. Melissa estava certa, eles precisavam de tempo para absorver o que acontecera e ver as consequências desse acidente na vida deles.

— Mel, ela não quer invadir o espaço de ninguém. – Diz ele já um pouco distante de onde estava com Sondra.

— Ela quer se dar bem à custa do que aconteceu com você. Já pensou no que ela receberá em troca de uma coisa dessas?

Jake não questionou. Achava que Melissa tinha o direito de estar descontente, afinal ela também está envolvida nessa história. Sondra poderia querer se dar bem, porém Jake sabia que contar com as próprias palavras sua versão, a verdadeira, não o faria perder nada. De qualquer forma, o que o garoto não negava era que a proposta era tentadora e parecia bem propício a aceita-la.

 

 

— Chris? – Josh, Diana e Sierra tentavam acordar o amigo.

Diana arrumava as coisas fora de lugar. Chris derrubara tudo na noite anterior tentando achar a cama. Sierra dava tapinhas de leve no rosto do amigo, que estava deitado ao pé do sofá.

— Chris? Acorda! – Sierra estava ajoelhada com a cabeça de Chris no seu colo.

— Ele quebrou o porta-retratos. – Disse Diana erguendo o objeto com a moldura torta e rachada. Debruou de volta a foto com a armação curva, gretando o vidro que a protegia. Ela pousou o objeto na horizontal sobre uma mesa de madeira.

O rapaz acordou. Estava entre o sofá e uma mesinha de centro, deitado sobre o piso de madeira. Claramente foi incapaz de achar a cama.

— O que... – Olhou em volta tentando se localizar e ver quem estava com ele. Rapidamente sua mente clareou. – Eu apaguei ontem, né?

— Tu teve é um blackout, mano. – Josh ergue duas garrafas. Uma vazia e a outra aberta ainda carregando uma ridícula dose.

— Oh! – Chris se lamentou. Viu sobre a mesa de centro, uma lata de cerveja aberta e amendoins espalhados. Viu uma cadeira virada e um objeto quebrado. – Parece que eu dei uma festa.

— Festa de um só. – Diana disse.

— Eu viria nessa festa. – Sierra apoiou a atitude de Chris. Beber para assimilar a noite passada? A garota achou o melhor alvitre que algum deles poderia dar e a melhor opção seria seguir.

Josh vira o resto da porção que tinha em uma das garrafas e segue em direção à cozinha para descarta-las. Diana se jogou numa poltrona coçando os seus fios loiros – que agora pareciam muito desbotados – enquanto Sierra ajudava Chris a se sentar.

— Meus pais sabem disso? – Chris aponta para a porta aberta.

— Acho que não. Quando chegamos eles disseram que você estava dormindo na edícula. – Diana respondeu. – Então viemos pra cá e... E você tava jogado aí. Achei que tinha desmaiado.

— Eu achei que tivesse morto, cara. – Josh desvira a cadeira caída e volta para a cozinha.

— Eu fui mais racional e achei que estivesse só dormindo mesmo. – Sierra anunciou sua posição, tirando sorrisos tímidos de Josh e Diana. Chris ainda estava tonto para entender. – Pela cara que eles estavam, não devem saber de nada sobre o que aconteceu ontem. – Mencionou.

— Eu não contei. Quando cheguei, eles já estavam dormindo. E de manhã eles não assistem TV, saem logo para o trabalho. Então... – Esclarece Chris com a voz arrastada.

— Chris, são duas horas da tarde. – Diana não evita um riso singelo.

— Ah. – Ele bufou. – Nunca mais vou beber.

— Aqui amigo. – Josh volta da cozinha lhe trazendo um copo de água. – Toma isso e vai jogar uma água fria no corpo. Rápido.

— Por que a pressa? – Ele quis saber.

Ninguém falou de primeira.

— Vamos ver a Brandie. – Diana começou.

— Ela e os pais reconheceram o corpo da irmã. Marcie está mesmo morta. – Sierra completou.

 

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Notas finais do capítulo

☠ - É isso. Capítulo sem muita ação, porém necessário. Dei uma continuidade para as emoções dos personagens pós-acidente. E o que eu realmente queria com esse capítulo: fazer vocês conhecerem melhor eles.
☠ - No próximo capítulo terá a primeira morte. E ela é uma homenagem à minha morte favorita em toda a saga Final Destination. Não vai ser muito difícil de descobrir KKKKKKK



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