Last Chance escrita por Thaís Romes


Capítulo 11
Todas as conversas que não queremos ter.


Notas iniciais do capítulo

Oi gentes!
Disse que vou concluir essas histórias hahaha, olha eu aqui com capítulo novo.
Espero de verdade que gostem.



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SELINA KYLE

“É como se ele precisasse dá própria miséria, entende? É como funciona para ele.” Foi essa a frase que me fez deixar tudo para trás e fugir como se minha vida dependesse disso.

Não sou do tipo boa moça, nunca fiz questão de ser. Procuro equilíbrio, bem e mal as vezes precisam ser parceiros para que as coisas possam fluir como necessário. Mas só daquela vez eu quis ser boa, agir do jeito certo, colocar outra pessoa antes do meu interesse. Outra que não fosse minha melhor amiga, minha irmã. A autora dessa frase, a mesma que foi responsável por me incriminar e usar como moeda de troca. Definitivamente não sirvo para ser boa.

—Vou tomar um banho – digo baixo, mas alto o bastante para tanto Jason quanto Bruce que me ladeavam escutarem. – Podem lidar com esses detalhes sem a minha presença, a garota vai dar conta do recado.

—Vou subir também – Nissa se pronuncia, e preciso tirar o chapéu para a audição da Al Ghul que não me revira o estômago.

—Pode deixar, pai – Damian se adiante, quando o morcego estava prestes a dizer algo a respeito. – Mostro os quartos a elas.

Acho que todos os Wayne sofrem de mania de grandeza. Provavelmente por nunca precisarem pegar em uma vassoura na vida, não sabem como é bom ter um apartamento de dois quartos, sala, cozinha e banheiro. Talvez uma pequena área externa onde bata sol. Sempre me perguntei o que vai ser da mansão quando Alfred não estiver mais aqui, confesso que a ideia de Bruce e seus garotos fazendo um mutirão da faxina no fim de semana lavaria minha alma.

Essa casa é mais uma incrivelmente exagerada entre suas propriedades, pelo amor de Deus, eles tiveram só um filho. Tudo bem que meu morcego vem colecionando órfãos, mas não é como se Marta e Thomas Wayne pressentissem a filantropia vigilante que seu filho criaria.

—Esse é seu quarto – Damian aponta para uma porta dupla no final do corredor do terceiro andar.

Queria entender o motivo de ele ter se voluntariado para me acompanhar até o quarto, talvez por que a tia também falou que queria o mesmo, ou simplesmente queria sair do meio dos outros. Nunca vou saber. Agora caminha entre nós duas, com o corpo encostando na gente de forma inconsciente vez ou outra. Esse pirralho é quase fofo, se mantivesse a boca fechada é claro.

—Leva sua tia ao dela? – pergunto parando em frente a porta.

—Claro, não é como se você soubesse onde ele fica – diz com seu ar arrogante e prendo um sorriso antes de dar as costas a eles e entrar. É só abrir a boca e o pirralho arruína todo o clima.

Travo já na entrada, meu queixo com certeza deve ter batido no chão. A porra do quarto é do tamanho de todo o meu apartamento, e isso por que não entrei no closet ou no banheiro ainda. Retiro minha máscara a jogando junto ao meu chicote sobre o sofá branco e pomposo no centro do ambiente e caminho em direção a porta que julgo ser o closet. Não me surpreendo ao ver que aquilo é gigantesco, mas prendo o ar ao perceber que todo o lado esquerdo está repleto de ternos de marca, roupas masculinas e no fundo sapatos variados, mas no direito havia vestidos e roupas casuais femininas, todas do meu tamanho e dentro do meu estilo. Isso aconteceu no triplex em que estávamos, mas não cheguei a pensar a respeito, só agora minha ficha parece cair.

—Tem um lugar para seu traje – sigo o som da voz grave e vejo Bruce escorado no batente da porta, com minha máscara e o chicote na mão.

—Não tem que ficar limpando minha bagunça – recrimino olhando para os objetos que ele segurava, mas tudo o que faz em resposta é ignorar.

Ele passa por mim até o final do closet, a parte lisa entre nossas partes e me olha esperando que me aproxime. Vou até ele que pega minha mão e toca um ponto mais fundo da parede, quase imperceptível e ela se retrai antes de girar, revelando dois manequins, um com uma roupa do Batman e o outro feminino com um uniforme meu, nem sei como ele conseguiu. Ao lado pequenos compartimentos com os nossos equipamentos, mas ele abre uma gaveta de vidro especifica e coloca minha máscara junto a outras que estavam arrumas a perfeição lá dentro. Prende o chicote no suporte ao lado do meu traje.

—Pode colocar o que está usando aqui – abre outra gaveta, depois um pequeno armário me mostrando onde estavam as botas reservas.

—Acho um desses em cada uma de suas casas? – semicerro os olhos o fitando de lado e o vejo dar de ombros.

—Vou te dar privacidade – começa a sair, me fazendo suspirar em um misto de exaustão e desespero.

—Antes, pode me ajudar com esse zíper? – minha voz é calma, provocativa, mas meu coração está a ponto de saltar de minha garganta.

Meu zíper e frontal, totalmente acessível as minhas mãos, o que deixa a real intensão dos meus atos, escancarada. Ele para e fica estagnado no mesmo lugar, sem se virar novamente em minha direção. Espero, não tem muito o que possa fazer, não andamos jogando conversa ao vento ultimamente, mas ainda assim Bruce trocou minhas roupas todos os dias enquanto estava me recuperando, dormimos agarrados um ao outro como se nossas vidas dependessem disso, ainda assim não parecia a ponto de perder o controle como agora. Fecha e abre as mãos e vejo seus ombros subindo e descendo como se estivesse respirando fundo.

—Então?

—O que quer de mim, Selina? – sua voz é baixa, ainda mais grave do que de costume e terrivelmente ameaçadora.

—O que significa tudo isso? – gesticulo para o ambiente ao meu redor, mesmo ele não podendo me ver.

—Nós íamos nos casar, é de se esperar coisas desse tipo em um casamento – mais uma vez respira fundo.

Agora sou eu quem não tem palavras e me arrependo por ter incitado o inicio dessa conversa. Merda, eu e minha boca sem noção. Bruce se vira e cruza os braços esperando uma resposta. Eu mesma, sozinha e sem ajuda me encurralei. Mordo os lábios desviando meus olhos dos dele, seu olhar é como a porra de um raio x, me sinto exposta.

—Então? – me imita, erguendo uma sobrancelha.

—O que quer de mim, Bruce? – repito o mesmo que ele havia dito, minha voz me traindo, entregando o quanto estava afetada.

—Não vai conseguir lidar com minha resposta – responde e me sinto encurralada outra vez.

—Nunca pensou que eu posso ser só a vadia que te abandonou no altar? – sugiro, na expectativa de o fazer recuar.

—E depois quase morreu para proteger minha identidade e a dos meus garotos? – rebate inabalável, seus olhos estudando cada maldita reação que tentava conter, depois solta um longo suspiro. – Não sou bom em te odiar, Cat. E costumo ser bom em quase tudo – agora sou eu quem recuo. Não esperava sinceridade depois de jogar o nosso grande tabu em sua cara. Merda morcego!

—Nós – suspiro contendo as lágrimas. – Não poderia dar certo no fim das contas – abraço meu próprio corpo, mas o vejo revirando os olhos.

—Por que?

—Do que está falando? – o encaro confusa, mas só havia desafio em seu rosto ridiculamente bonito.

—Por que não daríamos certo, foi o que disse, quero saber o motivo – finge distancia, sabe que eu sei que é fingimento e não dá a mínima para isso.

—Sou uma ladra.

Era uma ladra – corrige. – Não que isso já nos tenha impedido de alguma coisa antes.

—Todos conhecem minha identidade – acrescento. – Isso iria te expor – agora ele tem um mínimo sorriso no rosto e dá um passo em minha direção.

—Nós tínhamos um plano, isso não seria um problema se seguíssemos o plano.

—Eu acreditei que estava te colocando em risco – confesso encarando meus próprios pés, a verdade é que estou exausta demais para continuar com nossos joguinhos ou orgulho. – Holly me contou no dia do nosso casamento que aquilo seria usado pelo Bane para te expor, falou que você sabia e que não estava se importando – minha voz vai diminuindo ao me lembrar da traição da minha melhor amiga, a pessoa que mais confiei no mundo. – Você me tirou da cadeia quando estava no corredor da morte, como ter o nome associado a alguém assim pode ser benéfico?

—Você não cometeu nenhum daqueles crimes, nós provamos isso – agora estava parado na minha frente, posso sentir o calor de seu corpo emanado para o meu. – Ela colocou fogo naquele orfanato, Cat – diz com carinho, secando as lágrimas que nem percebi que havia soltado. – Te incriminou propositalmente, sei que a amava, mas não me parece justo te ver sofrendo desse jeito.

—Eu confiava nela, era minha família – dou de ombros com tristeza. – Não poderia arriscar, não a sua segurança. Pensei que era matemática simples, o que eu quero, contra o que a cidade inteira precisa.

—Tudo bem – me puxa para seus braços e deito a cabeça em seu peito, permitindo que me console.

—Sinto muito – murmuro apertando meus braços em volta dele.

—Eu sei disso.

Permanecemos abraçados, ele me deixa extravasar meus sentimentos, provavelmente deve estar fazendo o mesmo. De alguma forma minha mão passa a acariciar suas costas sob o suéter grosso que usava, sinto seus músculos ficando tensos, seu abraço ganha mais força. As mãos deslizam para minha cintura e a apertam me fazendo arfar. Sei onde aquilo acabaria, mas estava me lixando, precisava dele o resto que se exploda.

—Estamos de acordo? – a voz grave em meu ouvido faz minhas pernas amolecerem e ele passa a me segurar mais forte para me manter sobre meus pés.

—Que acordo? – sussurro sem conseguir ter muita coerência enquanto o sentia tão perto.

—Você, eu. Tudo isso já é um caminho sem volta, Cat – mordo os lábios quando ele pressiona seu corpo contra o meu. – Não precisa dar nome se não quiser, mas estamos juntos, estamos juntos até quando não estamos. Sabe tão bem quanto eu.

Ele se afasta para me encarar, aceno com a cabeça, incapaz de encontrar minha voz e sou empurrada contra a parede em seguida. Suas mãos passam para meu rosto e quando me dou conta estávamos nos beijando em um misto de desespero, fúria, saudades e algo mais intenso, forte e sufocante que tento não dar nome, mesmo tendo plena consciência do que se trata. Então ganho a tal ajuda com o zíper, meu uniforme desliza para o chão, assim como seu suéter, o cinto que usava, minhas roupas íntimas são rasgadas e impaciente me ergue em seus braços. Só não grito quando nossos corpos se unem, por que ele me silencia com um beijo. Bruce está certo, não tem volta, definitivamente não posso ser uma boa menina nesse caso. Eu o amo.

FELICITY SOMOAK

Jason e John colocam Oliver em uma das suítes onde nós ficaríamos essa noite. O quarto de William é do lado do nosso, mas nem estranho quando ele entra comigo. Não estava mais disposta do que ele a o deixar. Os nossos amigos saem e vejo meu marido deitado na cama gigantesca, sedado, com seu rosto completamente disforme, os olhos roxos inchados, lábios e supercílios estourados, sem falar que havia trincado uma costela.

John imobilizou seu corpo e cuidou de suturar e tratar cada machucado, depois Bruce e Dick Grayson se juntaram a ele. Mas isso já foi o mais longe que posso suportar, deixar que o batam para provar um ponto é doentio. Me sento no sofá de couro preto e bato no lugar ao meu lado chamando William. O FBI comprou a história de que Oliver não é realmente o Arqueiro Verde, mérito da surra somada a competência de Jason, que peitou a agente Watson declarando que não confiava nela, ou em 99% do departamento de polícia da cidade, argumento que foi reforçado quando a delegacia virou cinzas. Agora sei o nome e sobrenome do 1% que detém sua confiança, o que quase me faz sorrir em meio a toda essa merda. Bobby Harper é uma garota badass, salvou meu garoto hoje o que lhe garantiu uma aliada para a vida toda.

—Ele vai ficar bem? – a voz insegura de Will me desperta.

—Vai sim – respondo o puxando para meus braços. – Sinto muito William, deveríamos ser quem o mantém seguro, isso não está certo.

—Mas vocês me mantiveram seguro, Felicity. Passou todo o tempo em que estávamos na delegacia tentando me tirar da vista de todo mundo a nossa volta – garoto esperto, e eu pensando que ele estava apavorado. – Olha como meu pai está só para garantir isso – suspira, deitando a cabeça em meu ombro.

Me apeguei tanto a esse menino que não imagino mais um dia se quer sem ele. O que pode ser egoísmo julgando a vida que seu pai e eu levamos. Merda, o afastar agora me mataria. A forma como ele suspira enquanto acaricio seus cabelos me faz ter certeza que a separação seria igualmente dolorosa para ele. O que vou fazer de agora em diante?

—Gosto da prima do Roy, acho que ela vai conseguir ajudar a gente – diz depois de tanto tempo, que já pensava que havia dormido.

—Ela é mesmo muito legal – sorrio.

—Jay está super na dela – agora a voz é animada me fazendo rir. – Pela primeira vez ele não parecia querer começar uma briga com alguém!

—Você também percebeu isso? – questiono em meio ao riso o vendo concordar.

Nesse momento Oliver se move na cama, ganhando de imediato a nossa atenção. Desperta alarmado e olha em volta e em seguida, posso ver o desespero quando se senta ignorando a dor que aquilo deve ter causado. Seus olhos varrem todo o quarto e relaxam no instante que nos encontra, sorrimos e acho que ele tentou retribuir com seu rosto arruinado.

—Está ficando velho, pai – Will começa com ar petulante que aposto que deve ter adquirido com a convivência com Thea. – Uma costela e o rosto quase deformado? – me olha de esguelha. – Acho que exagerou naquela história sobre ele enfrentando super soldados ou o Flash fora de controle, Felicity – implica e preciso prender o riso.

—Esse moleque está mesmo falando isso? – Oliver murmura, mas não conseguimos decifrar suas expressões com todo aquele inchaço. – Deveria educar melhor o seu filho, Hon! – entra na brincadeira e agora é William quem prende o riso.

—Claro, quando ele implica com você passa a ser só meu – reviro os olhos me levantando e puxo meu garoto comigo em direção ao pai. – Como se sente? – questiono me sentado ao seu lado, William o pula na cama, sentando do outro lado.

—Não sinto nada, estou dopado – volta a se deitar, fechando os olhos, mas suas mãos nos seguram quase que inconscientemente.

—Não deve dizer coisas como “dopado” na frente da criança – assinalo me deitando ao seu lado, nosso filho faz o mesmo.

—Will tem dez anos, não posso dizer que o “papai está vendo unicórnios” e esperar que ele acredite – reclama e escuto a gargalhada do William.

—Acho que a palavra é “chapado”, não “dopado” – Will corrige me fazendo arregalar os olhos e ficar sobre meus cotovelos para encará-lo. – É verdade! – justifica com seus olhos inocentes.

—O que devemos fazer? Acha que devo ensiná-lo a se defender? – Oliver falava sozinho. – Ele é bom com aquele arco de brinquedo, mas será que deixo nosso filho tocar em uma arma de verdade? Viu o garoto do Bruce, o menino virou um vigilante no inicio da adolescência, não quero isso para o William, mas não quero ele longe, ou Deus me livre, morto. Sei que também não pode lidar com nenhuma dessas possibilidades, você passou a viver e respirar por ele, tanto quanto eu – dispara. – Podemos só o ensinar a se defender, e esperar que nunca precise usar isso na vida, mas a verdade é que ele provavelmente vai precisar...

—Pai! – William o chama, do mesmo jeito que Oliver costuma fazer comigo, mas eu estava na mesma neura que meu marido, seria incapaz de interferir. Oliver se assusta e olha para o garoto. – Está falando como minha mãe! – ri do desespero de seu pai completamente chapado. – Pode me ensinar a me defender se isso vai deixar vocês tranquilos, sinceramente gosto muito mais do que ela faz, não precisa nem mesmo sair de casa para ser uma ameaça aos bandidos, é super legal!

William diz isso com naturalidade e duvido que se quer tenha percebido o que fez. Oliver e eu nos encaramos e sinto meus olhos se encherem de lágrimas, mas o garoto parece apenas se divertir com o estado alterado do pai. Tivemos o pior dia possível, mas de alguma forma ele se transformou no melhor de todos com apenas uma frase.

BOBBY HARPER

Me sento no balanço de madeira na varanda ao lado da porta. Eles de alguma forma tinham uma mala de roupas do meu tamanho no quarto que é cinco vezes maior do que minha casa. Depois de me livrar do meu uniforme de trabalho encontrei um par de jeans debotados e uma camisa de algodão com estampa da Barbie vestida como o exterminador do futuro. Não sei quem escolheu, mas com certeza a pessoa captou meu humor irônico.

—Oi – escuto uma voz rouca e me viro em sua direção, vendo Dick Grayson passar pela porta e se encostar no beiral a minha frente.

Ele é ainda mais bonito do que eu venho me acostumando. Sua pele é clara e cabelos incrivelmente escuros, tem olhos tão cinzas que são como correntes elétricas enfeitando seu rosto de traços masculinos fortes e bem desenhados. Isso tudo sem falar no corpo, que, uau! Mas ver um cara assim tão gato só serviu pra me alertar que eu provavelmente estou mais encrencada do que sabia. Dick é quase a manifestação viva da beleza, mas até ele fica sem graça perto do meu mais novo amigo, o garoto problema em pessoa.

—Oi – retribuo o cumprimento, sem muito animo.

—Como está lidando com tudo? – a preocupação em seu rosto parece real. – Quando descobri a identidade do Bruce, cogitei fugir de casa – confessa em tom de brincadeira, mas não sei julgar se aquilo é real ou não.

—Tive um pai vigilante, que mesmo sendo um bombeiro pensava que isso não era bastante heroico ou perigoso, precisou vestir uma máscara e ser morto. Um primo que até poucos meses pensava que também estava morto, e adivinha a razão – sorrio, mas não o dou tempo de responder. – Ele havia se tornado um vigilante, e agora... – me calo antes de soltar besteira, mas Dick dá um sorriso de lado, transbordando empatia.

—Conheceu um cara legal e ele também é um vigilante – completa.

—Você deveria fingir ignorância e me deixar pensar que isso não está estampado na minha cara – reclamo franzindo a testa para ele que apenas dá risada.

—Fala com ele – argumenta e contenho minha vontade de soltar uma risada de puro desdém.

Procurei por Jason assim que toda aquela explicação havia acabado, mas o garoto provou ter sido criado pelo Batman. Não havia nem sinal de sua saída e olha que parece ter levado o prefeito que foi espancado e parecia meio drogado na ultima vez em que prestei atenção. Ainda assim saiu da sala de forma silenciosa, sem atrair a menor atenção se quer para si. Depois tem o fato dessa casa ser enorme, não acho que minha escola no fundamental chegava a ter esse tamanho, como ele espera que eu o encontre?

—Seu irmão está me evitando, Grayson – respiro fundo, e passo a me balançar. – Jason se manteve fora do meu caminho depois que aceitei fazer parte do plano insano de vocês.

—Ele não fez isso não – Dick aponta para a porta me fazendo parar abruptamente.

Jason estava escorado, de braços cruzados sobre o peito nos encarando, agora usando suas roupas civis, uma camisa vermelha, jeans escuros e botas de combate. Dick se afasta do beiral e passa por ele batendo de leve no seu ombro antes de entrar e então Toddy ocupa o lugar onde Grayson estava antes, me encarando de um jeito que não consigo entender.

—A verdade é que eu já morri, então pode pular essa parte – é a primeira coisa que diz, fazendo meu queixo cair, como diabos eu devo responder uma coisa dessas?

—O que?

Ele ri da minha confusão. Os olhos se voltando para o céu estrelado sobre nossas cabeças. Aproveito para reparar em suas costas largas, a postura perfeita. É claramente um vigilante, só não vi antes por ser estupida mesmo. E olha que me encontrei com o Arqueiro, falei e até mesmo toquei nele. Me sinto uma completa idiota agora.

—Antes de ser o Capuz Vermelho, fui o segundo Robin – começa a dizer e minha cabeça dá várias voltas, quando me dou conta estou de pé ao seu lado, precisando erguer a cabeça para conseguir ver seu rosto.

—Capuz Vermelho, o cara de capacete com as pistolas? – gesticulo fazendo arminhas com os dedos, o que o faz me encarar divertido antes de assentir. – Como consegue respirar naquilo?

—Qual é o problema com meu capacete? – devolve a pergunta, mas a forma que diz me faz sentir que já havia martelado a mesma questão em sua cabeça por dezenas de vezes, o que não é verdade.

—É uma bola vermelha, não sei como não morre sufocado dentro daquilo – argumento sentindo que deveria me defender por algum motivo, ele respira fundo em resposta. Okay, parece que o capacete vermelho é um assunto delicado, vigilantes, quem pode os entender?

—Vem comigo.

Com isso entra na casa e o sigo. Nós subimos dois lances de escadas e ele para em frente a primeira porta do corredor a abrindo. Seu quarto é ainda maior que o meu, mas aquilo parece mais um apartamento. As paredes são cinzas, com pôsteres de bandas e mulheres de biquini. Bem previsível. Uma tv de tela plana gigante, em frente a um jogo de sofá cinza, havia uma mesa com quatro cadeira do outro lado, em frente a uma bancada cheia de armários embutidos na parede e uma geladeira, o quarto desse cara tem uma geladeira! Isso e um micro-ondas. Sua cama ficava ao fundo, ao lado havia uma escrivaninha e o que foi a única surpresa, uma estante que ocupava metade da parede, lotada de livros.

—Sabe ler? – implico apontando para a estante.

—São todos de colorir – dá de ombros passando por uma porta no fundo do quarto.

Seu closet tem uma grande variedade de jaquetas marrons que parecem idênticas para mim. Seguidas por jaquetas pretas, sobretudos e muito jeans. Já estava esperando as correntes de prata e um suporte inteiro para piercings, mas ele para diante de uma parede lisa e toca nela. Foi a coisa mais legal de toda essa casa pretenciosa. A parede se retraiu e girou, revelando um manequim com o uniforme do Capuz Vermelho, e um arsenal gigante ao fundo, vejo o arco e a aljava em um suporte, mas não tem nenhum sinal aparente ao restante do uniforme. Ele sobe na plataforma e retira o capacete do manequim.

—Aqui – estende para mim, mas continuo imóvel. O que o faz revirar os olhos e pressionar algo e o capacete se estende, então coloca aquela coisa na minha cabeça.

—Nossa – exclamo surpresa.

O capacete é tecnológico. Ele começa a se ajustar para minha visão, personalizando coisas como luz e foco, quando pressionei os olhos ele se estendeu com o zoom fixando no emblema de morcego de seu uniforme. A tela começou a descrever tecido e materiais que compunham o tecido.

—Consegue respirar, Bobs? – pergunta com ironia, que resolvo ignorar e apenas concordo.

—Perfeitamente – sussurro deslumbrada. – Aqui está me dando bastantes detalhes sobre você – fixo meu olhar nele e o capacete começa a trabalhar. – 1,86 de altura, oitenta e dois quilos, 7% de gordura corporal?

—Isso não é muito educado – reclama tentando sair do meu foco.

—Seu coração está bem acelerado. Nível de estresse aumentando em...

—Chega – para em minha frente e pressiona os dois lados do capacete, o retirando da minha cabeça com facilidade. – Vou dizer ao Bruce para ativar o reconhecimento personalizado nessa coisa.

Devolve o objeto para seu lugar e pressiona a lateral da parede fazendo ela voltar ao normal. Nós saímos do closet e ele se joga no sofá, me sento na outra ponta, esperando o resto da história que ele havia iniciado na varanda. Jason me oferece uma almofada antes de se virar em minha direção.

—Quanto você já deduziu?

—Vejamos – suspiro. – Oliver Queen é o Arqueiro Verde original, meu primo eu já sabia. Thea provavelmente era a Speed, a arqueira vermelha que desapareceu a alguns meses. Não conheço o Espartano, o vi sem uniforme lá embaixo ao lado da outra mulher que não sei quem é também.

—John e Nissa – esclarece sem fazer nenhum mistério.

—Por mais que esses nomes não me digam absolutamente nada, não deveria manter os segredos deles? – franzo o rosto e ele dá de ombros.

—Decidimos te contar de qualquer forma, confiança é uma via de mão dupla Bobs – filosofa e tento não revirar os olhos.

—Agora que me disse que é o Capuz Vermelho, então acho que Grayson deve ser o Asa alguma coisa – isso o faz rir. – O nome é complicado!

—Não precisa gravar o nome dele – aquilo claramente o diverte.

—Damian é o atual Robin, tem outro, o Robin de roupa vermelha, mas não está aqui, não é mesmo? – ele assente concordando. – Selina não é segredo, seu pai foi o que mais me chocou, mas acho que ter muito dinheiro torna as pessoas estranhas, olha o Queen.

—Você é mesmo uma policial nata – elogia com um sorriso contido, hoje ele não está com a habitual carranca psicopata de sempre. – Acho que conseguiu decifrar quase tudo sem ajuda.

—Acredite, não queria ter feito isso – reclamo cruzando meus braços com a almofada sobre meu peito. – Eles são pessoas decentes – justifico sob seu olhar estranhamente paciente. – Passei o dia com a primeira dama e aquela mulher se colocaria como escudo para salvar o enteado sem pensar duas vezes. Thea é uma garota legal, não conheço bem os outros, mas até você merece mais do o que esse tipo de vida pode oferece – sussurro baixando os meus olhos para a almofada em meus braços.

—Deve ser mais complicado para você, depois de perder seu pai e primo por causa do senso de justiça deles – começa a dizer. – Não sou o mais heroico, pode acreditar. Não penso muito antes de cruzar a linha, o que me faz estar sempre em conflito com o Batman.

—Está se sacrificando para proteger a família de pessoas que não eram ligadas a você – digo o obvio e seu rosto tem um pequeno vislumbre de surpresa, antes dele se recompor. – Mas estou mais interessada na tal história de morte, o que isso significa, você é alguma espécie de zumbi? – sussurro a ultima parte me inclinando em sua direção, o que o faz tombar a cabeça para trás e soltar uma sonora gargalhada.

—Bobs, Bobs – murmura em meio ao riso. – Isso foi divertido – começa a se recompor com esforço. – Como comecei a te contar lá fora, eu fui um dos Robins...

—O segundo – solto e me arrependo de imediato ao ver a diversão que aquilo desencadeia em seu rosto.

—Isso, nerd. Bruce me encontrou quando eu tinha quase dez anos, era um pivete e estava roubando os pneus do Batmovel.

—Você é louco? – exclamo chocada e ele dá de ombros.

—Uma mãe drogada e um pai alcoólatra e abusivo, não tive muita escolha – meu coração se aperta pela forma displicente que ele trata a própria dor. – Mas ao invés de me dar uma surra, o que eu esperava. Batman me comprou um sanduiche e nós comemos juntos em frente a baia de Gotham.

—Para um garoto, isso deve ter sido irado – sorrio imaginando a cena.

—Foi sim – concorda, perdido em suas lembranças. – Depois um agente social apareceu em minha casa, não demorou e eu fui para um orfanato onde não passei nem um dia e já estava sendo adotado pelo bilionário da cidade. Descobri seu segredo em tempo recorde, mas não é como se ele já não esperasse, eu era... Bem, ainda sou uma peste.

—Assumir é sempre o primeiro passo, amigo – debocho séria o fazendo esboçar um pequeno sorriso.

—Os anos passaram e acho que de todos que usaram aquele manto do Robin, eu fui o mais entusiasmado. Venerava o Batman e a ideia de ser um herói. Mas não era disciplinado como Grayson, não escutava sem revidar, tornava as coisas difíceis com frequência, mas tinha talento para o trabalho – passa a mão nos cabelos. – Reencontrei minha mãe quando estava com dezessete anos, ela estava tentando se reabilitar e Bruce concordou que mantivesse contato. Mas fui traído...

—Olha, não estou assim tão curiosa mais – interrompo ao ver a dor sufocante em seus olhos azuis. – Não sou tão enxerida a esse ponto.

—Estou bem, Bobs – dá um sorriso fraco. – Quero que saiba.

—Não parece bem.

Em um impulso me sento mais perto dele, estávamos de frente um para o outro agora, minhas pernas cruzadas em cima do sofá, ele tinha um braço apoiado em um dos joelhos enquanto a outra perna estava esticada ao lado do meu corpo. Coloco a almofada no meu colo e ofereço uma mão para ele. Jason observa minha mão por alguns segundos sem se mover e quando comecei a pensar em recolhe-la ele a segurou. Seu toque é cálido, as mãos enormes, mas bonitas. Dedos longos e veias aparentes, com a palma larga. Sua pele contra a minha gera um contraste bonito.

—Era um chamado, parecia que minha mãe havia sido sequestrada – recomeça a dizer, passando o polegar no dorso de minha mão entrelaçada a sua. – Fui impulsivo como sempre, Batman estava ocupado, mas era minha mãe, não poderia sentar e esperar. Então saí escondido e bem, ela havia me entregado para o Coringa – engulo em seco, mantendo meus olhos em nossas mãos. – Ele me espancou até estar quase morto com um pé de cabra, e explodiu o galpão onde me prendeu com minha mãe dentro.

—Sinto muito – sussurro em um fio de voz.

—Bom, não tem que sentir, não fiquei morto por muito tempo – minimiza outra vez, me fazendo estremecer.

—E como é isso? Voltar a vida? – faço careta. – Não é nada como Jesus, quer dizer, você não tem jeito de messias – agora ele solta uma gargalhada me fazendo levantar os olhos para o encarar.

—Esquisita – fala me olhando em meio ao riso.

—Zumbi – murmuro sozinha em resposta, mas pelo brilho divertido em seu olhar, sei que conseguiu entender.

—Existe uma coisa, chamada Poços de Lazaro, ele pode trazer pessoas mortas de volta a vida – explica quando termina de debochar da minha lógica. – Nissa, Thea e Roy estão tentando acabar com todos eles, aquelas coisas nem deveriam existir – o rancor em sua voz se torna aparente. – Ra’s Al Ghul, o pai de Nissa e da mãe do Damian é o dono de um deles. Foi quem havia recrutado o Coringa para o trabalho de me manter afastado do Batman, mas o Coringa é insano, não se deve nunca esperar que ele siga qualquer ordem ou plano. Ao saber sobre minha morte o velho Al Ghul sentiu que deveria recompensar o Batman, matar um adolescente está fora dá linha até para a Liga dos Assassinos.

—Foi assim que você reviveu? – pergunto tentando soar delicada, Jason assente, observando nossas mãos.

—Mas não era exatamente eu, o poço fica com uma parte de sua alma ao te devolver a vida. O que subiu daquelas águas foi uma besta insana com treinamento nível militar – respira fundo, posso sentir que estava sendo cuidadoso agora. – Ra’s e Thalia me treinaram tentando me dar algum tipo de sentido, depois que comecei a responder bem eles iniciaram uma lavagem cerebral, mas Nissa quebrou cada tentativa. Ela escondida me fez lembrar do meu mentor, da causa pela qual lutava e depois me ajudou a fugir, me entregando a uma velha feiticeira que remodelou minha alma.

—Nossa – é tudo o que consigo dizer.

—Não termina ainda, voltei a ter certa consciência, mas tem muita fúria – ele olha para sua mão livre, como se aquilo fosse uma arma. – Fiz uma limpa em Gotham, Batman ficou louco tentando entender quem seria bom o bastante para frustrar até mesmo ele. Tentei o obrigar a matar o Coringa... Tenho uma lista de coisas horríveis que não quero que saiba, mas acho que deveria saber. Não sou um cara bom, sinto tanta raiva que preciso me controlar a todo tempo para não ceder a ela.

—Você matou esses bandidos? É o que quer dizer com isso de “limpa” – engulo em seco, tentando soar firme. Jason assente envergonhado. – Está com raiva agora?

A pergunta o faz levantar os olhos para me encarar, claramente confuso. Seu rosto não era como a um mês atrás. Não tenho vontade de me encolher em sua presença desde que tomei um porre e o fiz bancar a babá. A verdade é que ele me parece um cara completamente normal. Bom, lindo, do tipo estrela de cinema e super modelo, mas tirando a aparência, um cara bem normal.

—Não tenho raiva de você, se é o que está pensando – a voz volta a ser cuidadosa.

—Sei que não tem – garanto o vendo relaxar um pouco. – Não me assunta mais a um bom tempo, Todd – sei que é besteira tentar o distrair, mas sei que se continuarmos nesse assunto ele só vai se afastar, julgando que estou com medo ou coisa parecida.

—E quando foi que consegui te assustar? – ergue a sobrancelha, nem acredito que isso funcionou.

—Os primeiros cinco minutos depois que nos conhecemos – dou de ombros minimizando o caso, acho que gritei com Roy e talvez até com ele naquela ocasião, mas não posso justificar meu gênio ruim, é quase patológico. – Depois fica fácil de te entender.

—Nunca ninguém usou a palavra “fácil”, para me descrever Bobs – implica.

—Posso usá-la de várias formas – empino o nariz. – Jason Todd perde a cabeça fácil, fácil – começo a contar nos dedos, soltando minha mão da dele o que me faz ver uma pequena careta se formar em seu rosto. – Todd pode quebrar sua cara fácil...

—Vai continuar usando isso com sinônimos para minha falta de paciência, não vai? – ergue a sobrancelha, tentando se manter sério.

—Claro, tenho mais meia dúzia delas!

—Você é bem tagarela, Harper – revira os olhos, jogando a almofada que estava entre nós longe, gesto esse que sigo com os olhos a cada segundo. – Está assuntada agora? – nego com um aceno e ele se aproxima, parando bem a minha frente. – Não sou mesmo um cara legal, nem de longe estou perto do que você merece.

—Isso é algo que eu, não você, devo julgar – agora estávamos tão perto que posso sentir sua respiração quente em meu rosto.

—Gosto de você, Bobs, e não costumo gostar de ninguém – sussurra com os lábios quase me tocando, começo a fechar meus olhos por reflexo.

—JASON! – escutamos a voz de Roy e nos afastamos em meio ao susto. – Viu a Bobby? – parece desesperado. – Ela desapareceu!

Jason se levanta bufando, e vai em direção a porta. Ele a abre e vejo meu primo com o semblante devastados, o que parece aplacar a indignação do novo amigo. Me levando tentando não parecer culpada de nada ao me aproximar.

—Essa Bobby? – Jason abre mais a porta, deixando que Roy me visse. – Estava respondendo as perguntas dela.

—Fiquei preocupado! – entra a passos largos me abraçando. – Pensei que tivesse fugido.

—Um Harper nunca foge da briga, não lembra do que a vovó nos ensinou? – brinco despertando nele um pequeno riso nervoso.

—Acho que não temos um bom gênio, e ela justificava dessa forma – murmura se afastando para me olhar nos olhos. – Está mesmo bem com isso?

—Só nenhum de vocês morrendo no processo – semicerro meus olhos e o encaro, depois faço o mesmo com Jason que nos observava com os braços cruzados sobre o peito e um sorriso quase sereno no rosto, o que está acontecendo com esse cara?

—Acho que posso lidar com esses termos – Todd é quem responde, mas não parecia estar falando sobre minha ameaça recente, pisca para mim e Roy concorda, sem entender o significado oculto daquilo.


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Notas finais do capítulo

Então gentes, me contem o que acharam!
Bjnhos!



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