Shadow escrita por Course


Capítulo 6
V - O julgamento


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores maravilhosos!
O capítulo de hoje é um capitulozão! O maior, até agora. Há tanto para acontecer que ficou impossível reduzi-lo e imagino que isso não seja um problema para vocês.

Preciso contar que esse capítulo pode causar polêmicas.
Bella é uma das personagens mais aclamadas do mundo todo, então fiquei com medo de expressar os sentimentos iniciais da Eve. Quero lembra-los que, apesar dela ser uma Cullen, também é uma Volturi e, de certa forma, ela tem um lado selvagem em seu interior.
Aproveitem o capítulo!



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O julgamento

 

Eu odiava poucas pessoas nesse mundo.

Sulpicia era meu foco de ódio, pois sempre que possível, ela tramava contra mim na tentativa de me afastar cada vez mais de meu pai e fazer-me ser expulsa ou morta pelo clã.

Eu odiava Caius pelo mesmo motivo que Sulpicia, apenas o acréscimo de já ter presenciado de perto algumas de suas ameaças se cumprindo, como o assassinato de toda e qualquer empregada humana por quem me afeiçoei ao longo da vida, até que aprendi a ignorá-las o máximo que me for permitido.

Eu odiava Jane e Alec, pois eles sentiam-se os superiores da guarda e, desta forma, achavam que tinham o direito de me olharem com desprezo. Odiava mais Jane, pois ela sentia-se filha de meu pai tanto quanto eu e, assim, competia comigo por tudo. Roupas, cômodos favoritos, refeições e, claro, o afeto raríssimo do líder maior. Alec, eu só odiava por saber que suas ações estavam diretamente relacionadas ao espírito protetor que ele tinha para com a irmã.

Agora, eu acabara de perceber que havia aumentado essa lista para alguém em especial que deveria estar morta: Isabella Swan.

Enquanto caminhava em passos firmes pelos corredores, pegava-me sentindo uma energia diferente ecoar pelas paredes, como se uma presença notoriamente importante estivesse nos alcançado. Uma penumbra tensa, repleta de espinhos e farpas, parecia ter sido lançada aos quatro cantos de nossa fortaleza, fazendo-me, até mesmo, encolher meus braços, na tentativa de não me sentir tão afetada.

Debra e Demetri me seguiam em passos largos e eu sabia que ambos estavam me acompanhando não para me ajudarem, mas pela curiosidade de conhecerem a humana que causou tanta destruição em Edward Cullen.

Eu odiava a humana. Odiava o fato de que ela não respeitava nossas leis e aparecera ali sem ser convidada. Odiava o fato de que sua pura e simples existência fora o suficiente para, obviamente, fazer meu irmão mudar de ideia e negar-se a morrer. Não estava querendo dizer que valorizava a ideia de vê-lo morto e, sinceramente, era um alívio conceber que ele não seria assassinado pela corte pela exposição ao público italiano. Contudo, Isabella Swan poderia vir a ser um motivo plausível para a sentença de morte de ambos os irmãos, já que ela estava ali de corpo e alma, com todas as memórias de prova da consciência de nosso mundo secreto e viria a ser a destruição de minha família Cullen.

Nossa, como eu odiava Isabella Swan.

As portas do salão do trono estavam fechadas e, com isso, o guarda de prontidão encarava-me com evidente temor de minha reação. Marshall era um dos guardas de baixa patente na corte, então, certamente, por já conhecer minha fama de conseguir tudo o que eu quisesse, temia que eu o deixasse em más condições com o líder maior ao invadir a sala.

― Sinto muito, lady Eve, mas a reunião é privada para, somente, os que lá dentro estão. ― Marshall nem esperou que terminássemos de atravessar o corredor para anunciar suas ordens.

― E eu sinto muito, Marshall, que terei que arrancar seu pescoço e queimar suas entranhas se não me deixar passar agora.

Marshall tinha uma habilidade peculiar de detectar os movimentos que qualquer um possa fazer antes que o faça, numa fração mínima de segundos. Contudo, graças à minha sombra, eu era imune à isso também, então, ao erguê-la pude ver seus olhos vacilarem e encararem ao seu entorno, como se eu fosse houvesse desaparecido de sua visão.

Parei a centímetros de distância dele e o encarei com uma das sobrancelhas erguidas.

― Você terá três segundos para se afastar, ou então diga adeus à sua existência patética. ― Reafirmei minha ameaça, sabendo o quão confuso, inseguro e desconfortável ele estaria naquele instante por não ser capaz de prever meus movimentos com antecipação.

― E-eu sinto muito, lady Eve, mas são ordens do seu pai e-e...

Não dei tempo para ele terminar sua frase. Num movimento rápido, lancei a lateral da minha mão esquerda de encontro ao seu pescoço e causei uma fissura expressiva com meu movimento em seu corpo, deixando o interior pálido de Marshall exposto.

Imediatamente ele gritou e ergueu ambas as mãos para cobrirem o ferimento que causei.

Eu sabia que poderia intercepta-lo e degolá-lo ali, facilmente, mas não era necessariamente minha intenção mata-lo. Eu só queria passagem e assim o consegui, já que ele foi forçado a dar alguns passos para o lado, afim de buscar apoio na parede mais próxima.

Debra e Demetri assistiram a tudo sem nenhuma expressão de surpresa, já que situações como aquela eram frequentes em nossa fortaleza. Prosseguiram a espreita, aguardando meus movimentos seguintes, sem dizerem uma palavra sequer.

Quando empurrei ambas as portas e adentrei no espaço a minha frente, senti, por um curto período, todo o tempo ao meu redor paralisar enquanto eu absorvia cada nova informação coletada naquele lugar.

Duas pessoas estavam de costas para mim, não tão distante. Uma delas era obviamente Alice, com seu comprimento diminuto, dando-lhe a feição de uma pequena fada, com os cabelos curtos e roupa em tons pasteis, ela acompanhava uma outra garota, centímetros mais alta, de cabelos cor de chocolate, batendo na metade das costas. Diferente do estilo moderno de minha irmã, esta não possuía roupas elegantes. Roupas bem mundanas, como as que eu costumava usar para me esconder entre a multidão no pavimento superior, na superfície, em Volterra.

Mais a frente tínhamos Felix, que prendia sua mão no pescoço de Edward, que estava caído no chão, com uma rachadura espessa em sua face esquerda, exprimindo a dor que parecia sentir em suas feições. Ambos estavam próximos ao início dos degraus que direcionava a atenção de todos para os três tronos bem-dispostos na parte de maior destaque da sala. Caius, olhava diretamente para Edward com emoção, meu pai observava tudo com grande fascínio, enquanto Marcus matinha suas feições entediadas para tudo que acontecia a sua frente.

E para finalizar o cerco, Jane e Alec prostravam-se atentamente, à direita da sala, bem próximos ao trono, observando tudo atentamente, com fascínio similar ao de Caius.

― Ora, ora. Parece que recebemos mais visitas, mas meu convite para a recepção se perdeu nos corredores, pelo visto.

Meu salto titilava pelo piso de mármore, enquanto eu coloquei-me a desfilar pelo salão com a postura mais firme que me era permitida naquele instante.

No momento em que coloquei os olhos em Edward jogado no chão, soube que não seria capaz de ficar ali sem fazer nada e deixar minha família pagar pelo erro que a humana trouxe a tona com tanta vontade.

― E ainda trouxeram um lanche. ― Deixei que as palavras saíssem assim que passei exatamente ao lado da humana que, dessa vez, tive a chance de encarar face a face.

Ela era normal. Definitivamente normal. Como Edward pode se apaixonar por alguém tão mundana? Sua pele era pálida e leitosa, ridiculamente sem cor ou brilho. Seus olhos, castanho-chocolates, olharam-me de volta com um temor surreal e aquilo fez-me sentir umas gotinhas de poder deslizar pela minha língua. Ah, como eu odiava aquela humana.

Foi então que senti seu cheiro e compreendi. Bella cheirava como algo extremamente apetitoso. Possuía uma fragrância mais forte que a maioria dos humanos e, portanto, destacava-se no salão com bastante aptidão. Era, isso, não era? O odor que exalava que chamou a atenção de meu irmão.

― Eve! ― A voz fina de minha irmã Alice esgueirou-se até mim e eu só pude realmente encará-la quando já estava bons passos a frente e em uma posição confortável o suficiente para não ficar de costas para nenhum ali. Acomodei-me ao lado esquerdo do trono, ficando diretamente de frente para Edward e Felix no chão e Jane e Alec do outro lado do salão.

― Alice. Se tivesse avisado que estava a caminho, teria reservado uma tarde para fazermos compras no shopping, em Milão. Não é sempre que temos a visita ilustre de um Cullen pela Europa, quem dirá dois.

― E meio. ― Brincou Demetri, ao meu lado, enquanto apontava com o queixo para a humana.

― Estamos sem tempo para interrupções aqui, Eve. Há um caso gravíssimo em julgamento. ― Caius rosnou do alto de seu trono olhando-me com indulgencia.

― Ah, claro. ― Sorri com falso afeto ― Bom, vamos aos fatos, então. Até onde me lembro, faço parte do conselho.

Dei uns bons passos em direção a Felix e apoiei minha mão em seu ombro.

― Acho que já basta, querido. Obrigada pelo que quer que tenha sido sua atitude.

Ele levantou-se contragosto, mas fez o que eu pedi e afastou-se alguns centímetros, enquanto dava espaço para Edward, agora visivelmente recuperado, erguer seu corpo e olhar-me com uma espécie de agradecimento velado em seus olhos.

Felix era incapaz de me destratar na frente de meu pai ou desrespeitar uma ordem direta minha.

― Edward, você, em alguma hipótese, revelou o segredo para qualquer um dos humanos em Volterra, nas últimas horas?

― Não. ― E para dar ênfase, ele negava também com a cabeça, enquanto deixava seus olhos caírem para nosso lado, provavelmente olhando para Isabella, visivelmente ciente de que minha pergunta não estava referida ao caso dela.

― Não é sobre isso que se trata este novo julgamento, filha amada. ― A voz cortante de meu pai fez-me olha-lo imediatamente e fui pega de surpresa ao vê-lo pronuncia-las em seu inglês perfeito ― Como vê, temos diante de nós a prova viva de que os Cullens quebraram, sim, nossa mais valiosa lei. Relevaram nossa condição a uma humana. À Isabella. ― Ele deixou o nome da mundana escapar de seus lábios como uma cobra chamando por sua presa.

Suspirei e voltei-me para o problema exposto ali na nossa frente, que encarava-me com total curiosidade furtiva em seus olhos, analisando meus possíveis próximos passos.

― Usou um termo muito eficiente, pai. Ela é uma prova viva. Se dermos um jeito nisso, não será um problema. ― Sugeri, por fim, e sorri de forma afetada para Isabella que perdeu a cor de seu rosto com surpresa às minhas conclusões.

― Não. ― Grunhiu Edward ao meu lado, colocando sua mão fortemente em meu pulso, chamando minha atenção ― Ela não é um risco.

― Eu nunca contaria o segredo de vocês pra ninguém. Vocês têm a minha palavra. ― Ouvi sua voz pela primeira vez e, extasiada de medo, quase senti pena da sua nova posição diante de tantos vampiros ávidos para eliminar sua tosca vida.

― A palavra de uma humana não vale nada para nós. ― Caius interviu.

― Concordo plenamente, tio. ― Surpreendi a todos dizendo aquilo e fiz uma leve pressão em meu braço para soltar o aperto de meu irmão ― Acho que é mais eficaz simplesmente eliminarmos nosso problema pela raiz e então teremos tudo resolvido.

― Você não vai matar a Bella, Eve. ― E lá estava Edward novamente defendendo a humana.

―  E quem disse mata-la? ― Ergui meus olhos até os seus, já que ele era bons centímetros mais alto e notei uma surpresa em suas feições.

Abaixei minha sombra por curtos instantes, apenas para lhe dar o privilégio de compreender do que se tratava minha ideia e senti uma tensão aumentar evidentemente.

― Nós podemos transformá-la na nossa espécie, então não haverá provas de que ela é um risco, já que será uma de nós.

― Sim. ― Meu pai imediatamente concordou.

― Não. ― Edward, novamente, resmungou.

― E se não houver jeito? ― Por fim, Alice soou não tão distante de nós agora, já que aproximava-se erguendo a mão e encarando meu pai no alto de seu pedestal. ― Eu vejo que Bella será uma de nós, em breve.

Alice possuía um raríssimo dom e, provavelmente, um dos mais almejados por meu pai. Ela podia ver vislumbres do futuro. Pequenos fragmentos de decisões a serem tomadas que ocasionarão em alguma reação futura. E, com sua mão erguida ao meu pai, que, com apenas um toque, tinha a chance de navegar pela mente de qualquer um, era o que ela oferecia a ele agora: um vislumbre do futuro de Isabella.

Notei que as feições de Edward transformaram-se para pesarosas, possivelmente lendo a mente da irmã atentamente e recebendo a mesma notícia que meu pai, que rapidamente retirou-se de seu trono e colocou-se a frente de Alice, enquanto tocava sua mão erguida.

Todo o salão ficou em um silêncio profundo, enquanto aguardava o posicionamento do líder Volturi.

Fiz-me obrigada, por fim, a encarar Isabella que observava atentamente a cena, enquanto tinha Edward ao seu lado novamente, já que ele se afastara rapidamente para posicionar-se de guarda prostrado pela amada, como se estivesse disposto a morrer ali e agora por ela.

Senti o sabor amargo da inveja brotar em minha garganta e notei uma leve menção de divertimento nos olhos de Edward enquanto ele me encarava. Ergui minhas barreiras mais uma vez e o olhei fulminante por pegá-lo analisando meus pensamentos de forma desrespeitosa e invasiva.

Aro finalmente fez seu movimento, afastando-se de Alice com um olhar estupendo nos olhos enquanto sorria em divertimento pelo que acabara de presenciar.

― É fascinante. Ver as coisas que você viu... Em especial aquelas que ainda não aconteceram!

―  Mas acontecerão. ― Cortou, Alice, enquanto colocava-se ao meu lado, buscando uma espécie de proteção de meu pai velada.

― Bella será vampira. Uma belíssima e fantástica vampira. ― O sorriso nada amistoso de meu pai voltou aos lábios, segundos antes de continuar a falar ― Sim, sim, está bem determinado. Certamente não há problema.

E aí senti o ar  de calmaria brotar em meu entorno por sentir que um enorme progresso fora alcançado ali. Minha família parecia livre de problemas, finalmente.

― Aro. ― Um tom de queixa era evidente em Caius.

― Meu caro Caius, não se aflija. Pense nas possibilidades! Eles não se unirão a nós hoje, mas sempre podemos ter esperança quanto ao futuro. Imagine a alegria que a jovem Alice, sozinha, poderia trazer à nossa pequena família... Além disso, estou terrivelmente curioso para ver como a Bella ficará!

Alice, então, foi-se colocando cada vez mais perto de nosso irmão e da humana, criando uma barreira de proteção feita de vampiros para ela, quando se encaixava ao lado dela que ainda estava livre e exposto.

As palavras de meu pai trouxeram à tona uma realidade sombria com diversas facetas.

Primeiro, antes de eu chegar ali, certamente meu pai havia feito o convite à Edward e Alice para se unirem à nossa família, e sabe-se lá mais o quê. Além disso, havia algo curiosamente especial em Isabella, já que meu pai a observava com um desejo ardente nos olhos enquanto se pronunciava. Junto à todas essas informações, certamente havia uma ameaça velada e perigosa. Quando citou Alice e sozinha numa mesma frase, senti um pesar brotar em meu coração ao refletir sobre o que o clã Volturi era capaz de fazer para que isso seja possível. Matar não era um crime e eliminar um clã inteiro só para pegar uma das partes de um todo era quase que um jogo estratégico para meu pai, que fui capaz de o observar fazê-lo por diversas vezes ao longo dos séculos.

― Então, estamos livres para partir? ― Edward indagou extremamente ansioso.

― Apesar das garantias que Alice nos fornece em sua visão do futuro, creio que seja mais eficiente que nós mesmos enviássemos alguém para os acompanhar e vigiar este caso. ― Meu tio Marcos colocou-se a falar, surpreendendo a todos ali.

Aro o olhou um tanto quanto curioso com sua proposta e aguardou, assim como todos, por maiores esclarecimentos.

― Os outros vampiros podem achar que amolecemos nossas leis e que, ao permitir esta oportunidade de remissão dos Cullens, outros poderão vir a falharem e ganharem novas chances.

― E quem sugere que enviemos, irmão? ― Caius indagou igualmente curioso.

― Não é óbvio? Eve é nossa melhor opção.

E aquilo causou espanto a todos, arrancando arfares de surpresa de cada membro presente naquele salão.

― Estupidez, é óbvio! Eve não sairá de Volterra.

 A ardência que a voz de meu pai causou em meu rosto foi surreal. Eu estava tão envergonhada quanto irritada com sua postura, mas fiz meu melhor para permanecer impassível, já que eu o notara me observando.

― Eve já fugiu de nós uma vez. ― Caius alertou.

― E dessa vez não estará fugindo. Ela terá permissão da corte para uma missão de observação ou eliminação. Nossa melhor e mais ágil vampira para lidar com o caso dos Cullens.

― Inadmissível. ― Prosseguiu em negação meu pai.

― Vamos deixar que ela decida, o que acham? Afinal, irmão, sua filha também faz parte do conselho, de acordo com sua vontade. ― Marcus contra-atacou.

E aí, todos os olhos no salão voltaram-se para mim num mesmo instante.

Antes de dizer qualquer coisa, ponderei que precisava ser esperta para a primeira oportunidade que eu tinha na vida de obter uma missão da corte de nossa família. Abaixei o véu da minha sombra e olhei para o trio de convidados a minha frente, como se os analisasse atentamente, mas emitindo através de pensamentos, sinais de alerta para Edward, pedindo que ele confiasse em mim e em meus próximos passos.

― Eu só irei se confiarem a mim a chance de matar Isabella caso os Cullens não a transformem num prazo de um ano.

A palidez no rosto da humana triplicou e Alice colocou-se, agora, em posição de defesa da Isabella, olhando-me com total pavor e medo.

― Aprovo a ideia e o prazo. ― Caius, de repente, pareceu mais amistoso do que toda a minha vida.

Olhando-o pelo meu ombro esquerdo, pude notar um breve sorriso complacente para Jane e Alec que o encaravam.

Havia algo muito sombrio por trás daqueles sorrisos que eles trocavam.

― Papai, o que acha? Eu não irei sem sua aprovação. ― Tentei, por fim, minha última abordagem, ciente de que chama-lo daquela forma era um jeito de acariciar seu ego.

Por breves instantes ele pareceu analisar a situação e ponderar os riscos eminentes.

― Em um ano você voltará? ― Ele quis garantias.

― Ou até antes, se os Cullens cumprirem com sua palavra. ― Reafirmei minha posição.

Mais uns segundos em silêncio, até que finalmente uma posição foi tomada.

― Sim, Eve. Então vá. Como um castigo por ter fugido pelo dia inteiro de ontem. Mas vou querer atualizações semanais sua. Aguardarei por suas cartas e, caso não haja retorno, enviarei Demetri em sua busca. ― Algo em seu tom de voz fez parecer sua última palavra pronunciada como, na verdade, caça.

― Tenho certeza que não será necessário enviar Demetri, papai. E acredito que os Cullens me entediarão tanto que não haverá tanto para ser contado, contudo, ainda sim, o farei. Enviarei cartas semanais para o senhor.

― Agora, todos afirmados em suas ideias, gostaria de pedir a licença de nossos convidados, pois, ao que me parece, Heidi já está se aproximando.

Ao falar aquilo, meu pai anunciou a chegada da refeição para o banquete de comemoração do aniversário do meu tio Marcus e, pega de surpresa com a notícia, encarei solícita meus irmãos e a humana, assentindo com a cabeça, como se pedisse para que me acompanhassem.

― Precisamos sair logo. ― Murmurei para Edward, segundos antes de erguer minha sombra novamente e liderar o pequeno grupo que agora se retirava do salão.

Demetri pareceu curioso o suficiente para abdicar do banquete para nos seguir pelo corredor, pois eu podia sentir seu cheiro permear o ambiente, misturando-se ao dos Cullens e da humana.

― Não estamos indo rápido o suficiente. ― Ouvi Alice sussurrar atrás de mim para quem quer que fosse e tentei apressar meus passos, para parecer condescendente à situação deles.

Olhando pelo ombro, captei um olhar de confuso em Isabella, e percebi que ela não fazia ideia do que estava prestes a acontecer.

Um estrondo mais afrente no corredor escuro era audível e logo notei o grande grupo se aproximar. Possivelmente quarenta ou cinquenta humanos, guiados por Heidi, seriam o banquete da vez.

Contemplativos com a beleza do corredor de pedras pelo qual passavam, sequer notaram nossa presença incomum. Focados apenas em analisarem o entorno do local e conversarem entre si sobre as peculiaridades observadas, até então.

― Eve! Você retornou e nem me procurou. ― Um sorriso amável em seus lábios podia ser observado enquanto se aproximava. Heidi usava nossa língua materna, então senti-me mais confortável para responder também em italiano.

― Guarde um ou dois para nós. ― Pisquei para ela e sorri sarcasticamente enquanto me afastava do centro do corredor, dando espaço para ela e o grande número de turistas passarem.

Ao perceber que Demetri também me acompanhava, Heidi apenas assentiu com a cabeça e seguiu seu caminho, passando por meu grupo, agora encostado nas paredes escuras de pedra, na companhia dos humanos que serviriam de alimento para a corte e a guarda principal.

  Voltamos a andar pouco antes de ouvir meu pai anunciar boas-vindas aos humanos que adentravam no salão principal:

  ― Bem-vindos, convidados! Bem-vindos a Volterra!

Antes que pudéssemos alcançar a primeira bifurcação que nos garantiria acesso aos aposentos que eu estava planejando levar meus irmãos, começamos a ouvir os gritos de pavor proveniente dos humanos que, certamente, estavam sendo imediatamente atacados.

Senti um arrepio circular minha coluna e fui forçada a olhar para trás, notando, pela primeira vez, Isabella com olhar de enjoo e uma feição amedrontada, enquanto era carregada pelos braços de meu irmão.

Olhei com indagação para meus irmãos que apenas balançaram a cabeça, com relutância, expressando total desafeto com a opção alimentícia de nossa família.

E ali, pela segunda vez, em menos de vinte e quatro horas, senti vergonha da minha cultura e forma de viver.


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Notas finais do capítulo

Eu quero mostrar pra vocês a evolução da Eve enquanto "pessoa". Não queria montá-la como alguém perfeito demais e repleta de amores por pessoas que nem conhece, porque isso seria contraditório, já que ela é filha também de Aro. Mas, pra todos os efeitos, queria deixar algumas entraves de laços com o Carlisle, como, por exemplo, a tentativa dela de agradar ambas as famílias (transformando a Bella, por exemplo, ela iria agradar os Cullens, que não ficariam de luto pelo Edward, assim como o Aro, que conseguiria "pesar a mão da justiça" para o erro dos Cullens de revelarem a identidade para a Bella).

Há muito para acontecer, assim como há muito para enlouquecer a gente kkk
Espero vocês nos comentários!
Beijos!



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