Shadow escrita por Course


Capítulo 4
III - O Conselho


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Demorei, mas voltei!
Fiquei uns dias sem internet, por este motivo desapareci por um tempinho.
Entretanto, cá estou com mais um capítulo.
Enjoy :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/776196/chapter/4

| 3 |

O Conselho

― Edward, eu...

― Não, Eve, você me garantiu que ajudaria no que eu precisasse. ― Soando a grosso modo, Edward olhava-me enraivado, logo percebendo minha hesitação totalmente justificável.

Edward possuía um italiano perfeito e pela primeira vez pude observar isso enquanto conversávamos em minha língua materna.

― O que você precisa, nem sempre é o que você quer. ― Contrapus, dando um passo para trás e analisando atentamente a situação a minha disposição ― Edward, se você não queria vê-la como vampira, por que raios se envolveu com ela? Ela era estupidamente humana, não viveria tanto quanto o que nós podemos viver.

― Mas viveria mais do que apenas dezoito anos, Eve. Ela não merecia morrer tão jovem, ela... ― Ele arfou, totalmente revoltado.

Eu nunca havia visto ou ouvido falar numa versão deprimida e trágica de Edward Cullen, então, sinceramente, não sabia muito bem como agir àquele fato. Imediatamente, a ideia de contatar meu pai ou Esme veio em mente, mas logo a ideia escapou-me, já que eu sabia que eu havia dado minha palavra de que não contaria nada a ninguém da família.

― Edward, veja bem, nós podemos, só... sentar e conversar, pelo menos?

― Não. ― Ele grunhiu ― Não há tempo, de qualquer modo. Um dos vampiros da guarda me seguiu até aqui perto e em breve nos encontrará neste beco. Estão me vigiando atentamente, esperando que eu não faça nada estúpido.

― E não devia mesmo! ― Eu digo totalmente autoritária ― Meu pai nunca permitiria que você expusesse nossa condição aqui em Volterra, Edward. Seria morte na certa.

Merda! Eu acabara de lhe dar um gatilho para agir.

― Então, Eve, me garanta que Aro e os demais farão o que eu pedi mais cedo e nada de exposição será necessária. ―  As mãos dele voaram até meus braços e apertaram de forma forte e indelicada.

Antes que eu pudesse fazer qualquer movimento para interromper sua investida agressiva, ele soltou-me abruptamente, e afastou-se em um bom passo de distância.

―  Seu namorado nos encontrou. ―  Ele dissera segundos antes de eu sentir o odor de Demetri impregnar todo o beco ao nosso redor.

― Porra, finalmente encontrei você. ― Dem olhava-me furtivamente, obviamente absorto com a minha presença tão próxima a de um outro Cullen ― E você ― Voltou-se brevemente ao meu irmão ―, Aro ordenou seu retorno aos nossos aposentos. Ofereceremos um quarto até que a decisão seja tomada pelo conselho.

― E quando eu terei a resposta do conselho? ― O tom grave da voz de Edward acusava totalmente sua agressividade tão exposta naquele instante.

Imediatamente pensei na minha função do conselho, que antes fora de meu pai, Carlisle, e agora eu assumia de bom grado e senti o olhar de Edward cair sob mim.

― Então é melhor voltarmos o quanto antes para que o conselho se reúna e decida.

Só então eu havia percebido que, com tanta informação e agressividade, eu havia abaixado a guarda e permitido que Edward acessasse minha mente, além de permitir que Demetri utilizasse sua aptidão para rastreamento e me localizasse no beco com mais facilidade.

Tomei o cuidado para reerguer minhas barreiras novamente e senti uma ardência repentina tomar conta de minha garganta. Um dos péssimos efeitos reversos à minha condição de manipulação do meu estado biológico estava justamente no fato de que minha sede se tornava maior e mais agressiva do que a maioria dos vampiros, fazendo-me uma quase estripadora quando se elevava muito.

Aproveitei, então, que caminhávamos lentamente em direção ao território da fortaleza dos Volturi, para sussurrar discretamente no ouvido de Demetri, que tinha um de seus braços enlaçado em minha cintura, as palavras:

― Eu estou faminta.

Eram apenas três palavras, mas que causavam uma reação certeira em Dem. Seu olhar pousou rapidamente no meu rosto e um sorriso sombrio percorreu o trajeto em suas bochechas até formarem pequenas rugas entorno dos olhos.

― Eu imaginei que ouviria isso quando te encontrasse, então deixei algo especial separado para você no seu quarto. Felix quis brigar pela comida, mas eu consegui garantir que seria seu.

Ouvi um gemido vindo de Edward, o que fez olhar para trás e analisar suas feições que agora tinham uma expressão enojada do que quer que Demetri estava imaginando.

Eu compreendia sua repulsa por nosso estilo de vida e, de certa forma, me envergonhava que ele estivesse ali para saber o que eu estava prestes a fazer. Quando passei dois meses com os Cullens, fui forçada a me adaptar à alimentação baseada em sangue de animal a qual eles seguiam e, mesmo com relutância, conseguia me satisfazer o mínimo para ficar próxima aos humanos, sem mudar minha condição biológica para humana. Era um feito quase impossível, mas, ainda sim, permissível com muita força de vontade.

⚜⚜⚜

O alimento selecionado por Demetri era exatamente o que eu mais gostava. De acordo com sua descrição singela, o homem acorrentado em meu quarto era um tarado que estava a espreita em um dos becos de Volterra, aguardando qualquer uma das turistas passar para aproveitar-se dela de forma nojenta e agressiva. Dem sabia que eu tinha preferência por homens, principalmente pela capacidade sanguínea ser maior, entretanto, como em toda caça, eu optava sempre por algum homem com histórico de agressão ou qualquer coisa negativa a seu respeito. Assim, eu era capaz de me sentir justiceira enquanto sugava a vida do ser humano a minha disposição, incapaz de sentir qualquer remorso ou culpa.

Depois de me alimentar com devoção ao sangue quente que me fora fornecido, optei por tomar um longo banho e me esvair de toda a camada de poeira ou sujeira em meu corpo antes de me reunir ao meu pai e meus tios na sala do trono. Eu sabia que eles provavelmente estariam enfurecidos por minha ausência ao longo do dia e, deste modo, eu me esforçaria ao máximo para agradar aos três.

Diferente das demais mulheres Volturi, eu preferia abrir mão das capas longas e negras que cobriam seu corpo, assim como os vestidos pesados. Sempre optava por uma calça de bom corte, uma camisa com decote canoa, expondo meus ombros e meu coturno predileto de salto alto e cadarços. Todos em tom preto, para agradar a etiqueta do meu clã, é claro. Naquele dia, em questão, optei por colocar meu colar com o brasão do Clã Volturi, na tentativa de agradar mais um pouco meu pai e amaciar a situação com meus tios.

Definitivamente, enquanto me encarava no espelho e observava meu globo avermelhado reluzindo na pele pálida, eu dedicava-me a sonhar um pouco com uma vida em que, ao invés de olhos vermelhos, eu os teria dourados, assim como a família Cullen, e seria capaz de sobreviver apenas me alimentando de sangue animal. Era um sonho puramente fantasioso, mas, ainda sim, um sonho. Meu sonho.

Quando dei-me por pronta, após prender meu cabelo escuro em uma longa trança e deixa-la cair nas costas, segui meu caminho até o centro da fortaleza, permitindo que todas as minhas barreiras de proteção caíssem por um breve instante, pois, assim, seria mais fácil anunciar minha chegada.

Minha sombra funcionava como uma espécie de véu mental. Como um tecido que eu movimentava facilmente, na maioria das vezes, impedindo que qualquer tipo de poder sobrenatural fosse usado contra mim. Meu pai Carlisle gosta da teoria de que, como eu fui escondida por muitos dias na fortaleza Volturi antes de ser descoberta por ele, em um quarto, chorando de fome, eu acabei, enquanto humana, adquirindo uma habilidade de me esconder de tudo e todos ainda muito nova. Por isso, herdei esse dom após minha transformação, aos meus dezoito anos. Quando ainda era humana, os rastreadores, como Demetri por exemplo, não tinham facilidade de seguir meu cheiro, meu pai tinha dificuldades de ler minha mente quando me tocava; ele dizia que eu tinha uma aptidão espontânea para força-lo, em poucos minutos, a confundir minhas lembranças com as sua e, logo, ele estava perdido no próprio pensamento, incapaz de acessar o que quer que eu tivesse em mente, pois uma sombra negra nos separava, feito um precipício.

Os novos brinquedinhos da guarda, Alec e Jane, os irmãos prodígio, também tiveram a chance de me testarem. Possivelmente, eram os mais fortes de toda a guarda, já que tinham poderes psíquicos de invadir a mente de qualquer humano ou vampiro e proporcionar grandes tragédias. Alec possuía um gás tóxico que roubava todos os sentidos da presa instantaneamente. Já Jane era capaz de proporcionar dor física e mental a qualquer um, utilizando apenas seu olhar e foco total à vitima que desejava.

Quando os dois chegaram à nossa casa, quase que seguindo a mesma história que a minha, ainda humanos, eu me senti um pouco traída por não possuir mais a história exclusiva dos Volturi. Porém, quando fora designado a eles apenas um papel na guarda, eu senti minhas seguranças se esvaírem e soube que jamais haveria ali uma outra ou outro que tivesse o mesmo patamar que o meu. Não era ciúmes, mas medo de que, quando fosse considerada descartável, como muitos outros, Caius e Sulpicia conseguissem o que tanto desejaram ao longo da minha existência: a minha morte.

Houve sim um tempo em que me senti amada e acolhida dentro do território Volturi, entretanto, tudo pareceu mudar quando a sede de poder do meu pai ficou em maior evidência e nossa relação cada vez mais distanciada, pois eu sabia que tudo o que ele conseguia ver em minha face era o abandono de meu pai Carlisle que optou por partir.

 ― Chegou tarde hoje, pequena Eve. Passeou muito pela cidade?

Felix fazia a guarda inutilmente das portas principais da sala do trono e fui forçada a sorrir para ele ironicamente por seu comentário insípido.

― Isso mesmo, Felix, continue servindo de apoio para essa parede, se não ela pode cair a qualquer dia.

Sabia que as palavras o haviam afetado, mas pouco caso fiz disso. Depois de anos tentando alguma relação comigo, imaginando que eu seria como meu pai, adepta a bigamia, finalmente ele deu-se por vencido e percebeu que, apesar de uma relação conturbada e repleta de brigas e discussões, eu permanecia fiel à Demetri ― não que fosse uma via de mão dupla, já que eu sabia que ele e algumas vampiras da Guarda Inferior possuíam um caso.

― Eu vou estar aqui para presenciar o dia que você cairá do seu pedestal, princesa.

E com essa ameaça retumbando em meus ouvidos, entrei no salão em que claramente eu era esperada.

Todas as paredes pálidas de mármore em meu entorno contrastavam perfeitamente com os três tronos negros dispostos na parte de maior destaque da sala. Outros dois vampiros faziam a guarda lateral, como se velassem o repouso dos líderes acomodados em seus assentos. Definitivamente aquilo me causava sempre vontade de rir, como uma boa piada, mas forçava-me a manter-me erguida e impedir que qualquer sentimento meu pudesse ser levado em má consideração, principalmente em um dia como aquele.

―  Ora, vejam quem está de volta. Lembrou-se do caminho de casa, Eve? ― Com sua frieza de costume, Caius fora o primeiro a comentar sobre minha escapada.

― Deixe a garota, irmão. Na idade dela, nós também gostávamos de passear pelo mundo humano e caçar livremente, buscando alimento exclusivo. ― O de aparência mais velha entre os três, meu tio Marcus sempre fora o meu favorito. Mesmo com o falecimento de sua esposa pelas mãos de meu pai, ele nunca deixara de ser afetivo à moda Volturi comigo. 

Notando suas palavras, percebi que novamente Demetri havia mentido por mim. Logicamente eu não poderia interpretar aquilo como um sinal de afeto, mas uma tentativa de disfarçar sua vulnerabilidade por ter me deixado escapar da cama pela manhã e não obter nenhuma informação precisa do meu paradeiro.

― A que devo a honra de sua presença, querida filha? Imagino que a sobremesa que Demetri deixou no seu quarto a tenha satisfeito, pois vejo suas feições bem mais alegres que ontem ou o dia anterior. ― Meu pai, sentado no trono central, sorria calidamente em minha direção enquanto mantinha uma mão pausada no queixo e analisava-me atentamente enquanto me aproximava do trono.

― Eu soube que Edward esteve aqui mais cedo e fez um pedido tanto quanto... hm... inusitado. ― Eu não era de rodeios, assim como meu pai Carlisle havia me educado e eu agia contragosto ao que meu outro pai desejava.

― Ah, sim. ― Ele assentiu, agora encarando um ponto fixo e distante em alguma das paredes atrás de mim ― O jovem Edward deseja morrer.

― Um tolo, preciso dizer, apaixonar-se por uma humana. Quase patético. ― Caius comentou ― Ainda bem que a humana está morta. Revelar nossa real natureza a um humano ainda é uma transgressão às nossas leis.

Eu percebi o caminho ao qual Caius estava seguindo, então fui forçada a intervir.

― Agora que a humana está morta, não há o que ser cobrado de Edward. Portanto, em minha opinião, eu acredito que não seja necessário respeitar o pedido de morte dele. ― Fui firme ao colocar meu ponto de vista, ciente de que ofenderia o pálido e loiro tio que me encarava com fervor.

Em minha opinião. ― Caius cuspiu ― Você não tem nada de Carlisle, não é mesmo? Seu estúpido pai não colocaria tanto sentimentalismo em palavras.

― Já basta, Caius! ― Meu pai ergueu uma das mãos, silenciando meu tio ― Vamos deixar o passado no passado, sim? Carlisle hoje possui seu próprio Clã para se preocupar. Veja, filha, quanto ao seu ponto de vista, concordo totalmente. A menina humana está morta e já não é um problema para nossa espécie. Portanto, estou ponderando a ideia de declinar a solicitação de Edward.

― Sem consultar nossa opinião, irmão? ― Marcus indagou, olhando com curiosidade para o líder ao seu lado.

― Eu imagino que todos nós concordamos que os poderes de Edward são inestimáveis demais para deixa-lo falecer e levar consigo sua dádiva. ― O líder maior contrapôs ― Ou vocês acreditam que o simples fato de um luto qualquer é o suficiente para considerar a morte de um vampiro tão valioso quanto ele?

― Eu apoio sua decisão, meu pai. ― Assenti e permiti-me sorrir totalmente complacente.

― Desde que a escolha dele seja igual a sua, não é mesmo Eve? ― Caius novamente alfinetou.

― Desde que seja o melhor para nossa espécie, tio. ― Rebati imediatamente e o encarei contragosto, sentindo o tom ameaçador em suas palavras atingirem-me diretamente.

― Sim, eu concordo com sua decisão, irmão. ― Marcus, depois de um breve momento analisando a situação, confirmou o que eu já imaginava.

― E quanto a você, Caius? Acha que o melhor seria manter Edward vivo?

Um silêncio breve ecoou pelo espaço enquanto eu podia ver as feições do meu tio menos agradável moldar-se em um sorriso assombrador.

― Deveríamos convidá-lo a se unir a nós, já que os Cullen não foram o suficiente para mantê-lo vivo.

Aquela ideia fez um calafrio percorrer minha espinha. De fato, eu imaginava que um dos três chegaria a essa conclusão e, definitivamente, Caius era o mais propenso a esse tipo de ideia.

― Sim, essa seria uma boa ideia. Concordo em número, gênero e grau. ― Meu pai agora compartilhava do sorriso, como se já esperasse aquela reação do irmão.

― Mas e se Edward não aceitar viver conosco? ― Indaguei, totalmente ciente de que as outras opções não eram boas.

― Ora, querida, certamente ele será livre para ir. Não há o suficiente de provas para mantê-lo em cativeiro ou mata-lo.

Suspirei, aflita. De certo modo, gostava da ideia de que os poderes de leitura de mentes de Edward eram mais que o suficiente para fazê-lo ser importante para o meu Clã, entretanto, ao recordar de sua face expressando dor e luto, temi que uma ideia cruel viesse a se formar em sua cabeça e ele cometesse algum erro terrível.

― Vamos chama-lo agora? ― Meu tio Marcus indagou.

― Se permitirem ― Interrompi o que quer que meu pai fosse falar ―, eu gostaria de conversar com ele antes. Para reafirmar o ponto de que ser um de nós seria uma grande vantagem em sua vida.

Os três fitaram-me ao mesmo instante, cada um esbanjando curiosidade em seus olhos, apesar de os sinais de alerta ali serem claramente diferentes.

― E como você poderia fazer isso? ― Caius indagou.

― Tivemos Carlisle em comum. Talvez eu saiba lidar com ele de uma forma mais... apropriada antes dele receber a notícia que vocês estão preparados para dar.

Mais uns segundos de silêncio antes de uma resposta final de meu pai.

― Então vá, criança. E traga Edward Cullen para nosso lado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Entendam que, apesar de Aro pensar que Eve faria algo do tipo, nem sempre as coisas serão como os Volturi esperam.
E não se esqueçam também que ela viveu por quase quatrocentos anos com eles, então sabe de toda a ganancia do pai. Qualquer coisa pra ela seria melhor do que ver seus parentes corrompidos à índole Volturi. (Estou explicando isso para que vocês compreendam a reação dela no capítulo seguinte)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Shadow" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.