Shadow escrita por Course


Capítulo 3
II - Família


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores!

Esse capítulo foi postado ontem, entretanto, tive que o apagar para revisar a história do "St. Marcus" novamente. Eu pensei em criar uma figura ficcional, entretanto, achei mais interessante manter a versão original de Marcus como um padre antigo que "expulsou os vampiros" da cidade italiana.

Espero que curtam esse capítulo e comentem o que acharam.



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Família

Era o melhor momento do ano para me esgueirar entre a multidão no período noturno em que me encontrava. De certo, imaginava que diversos dos guardas já estavam por aí, perambulando sem destino, vestidos de seu melhor disfarce, para tentarem me localizar no meio da folia noturna de Volterra.

Era véspera do Festival de St. Marcos, o que significava uma noite repleta de bebedeiras, boates lotadas e muitos, muitos humanos dispostos a se perderem em algum cubículo com uma morena bonita e, definitivamente, nunca mais serem encontrados. Apesar da ideia de divertir-me com qualquer tarado retumbar em minha mente, nesta noite em questão, eu tinha uma missão maior.

Sentada em uma mesa, no fundo de uma das tavernas mais badaladas, eu era, possivelmente, o ser mais discreto entre tantas mulheres vestidas com peças curtas e chamativas, todas com alguma tonalidade vermelha ou os homens pouco sóbrios que vez ou outra lançavam-se entre qualquer uma das mulheres disponíveis para tentarem a sorte da noite. De fato, normalmente, alguém como eu não conseguiria se esconder com tanta facilidade, devido às dádivas que minha condição concedia e fazia com que qualquer um a minha volta encantasse-se por mim. Entretanto, para uma noite como aquela, todo cuidado era pouco. Assim, muni-me da melhor maneira possível de artefatos capazes de me esconder entre as sombras permissíveis e fiquei ali aguardando atentamente o meu pacote que, em breve, seria-me entregue.

Já fazia dois meses desde a última carta de meu pai e eu sabia que muita coisa havia mudado em sua vida e de sua atual família. Aparentemente, eles tiveram que se mudar da cidade atual que seu clã havia se instalado, já que um de meus irmãos cometera o erro de se apaixonar por uma humana. Nada absurdo, na verdade, até compreensível para Edward, afinal, tudo em sua vida era diferente da dos demais do Clã Cullen ou, até mesmo, dos Volturi. Apesar de nunca mais ter visto ninguém dos Cullen pessoalmente, depois dos últimos quarenta anos que fugi pela primeira vez da fortaleza que era obrigada a chamar de lar, eu sabia que eles prosseguiam na tentativa de se passarem por mais humanamente possível entre cidades e mais cidades, na tentativa de se estabelecerem como uma família feliz e completa. Contudo, dessa vez, após o romance proibido entre Edward e uma humana, Isabella, eles tiveram que partir, devido a um acidente provocado por um derramamento de sangue desnecessário.

Eu acompanhava as cartas que meu pai encaminhava como uma fanática por novelas televisionadas e aquilo tudo descrito ali era fascinante demais para o gosto de meu pai, Aro. Certamente, ele jamais sonha que eu as receba, afinal, fui estritamente proibida de manter contato com o Clã Cullen, após minha furtiva fuga há quarenta anos para conhecer melhor meu pai, sua esposa e meus irmãos, quando eles ainda estavam em Denali, no Alasca, com o Clã daquela região que também seguia a mesma premissa da família Cullen.

A garçonete da taberna, Kristie, e eu éramos o que eu podia considerar como confidentes. Ela já possuía quase sessenta anos, mas nunca ousara comentar sobre minha aparência que raramente mudava. Eu sempre dedicava um tempo maior para me maquiar e fazer parecer algumas rugas de expressão em minha pele, enquanto eu saía para a taverna, mas, de fato, era quase impossível disfarçar a minha pele que, apesar de todos os esforços, ainda emanava um brilho natural e deixava transparecer minha condição jovem eterna.

Sem muito estardalhaço, como de costume, ela se aproximou de minha mesa, deixando uma caixa larga de papelão sob ela junto de uma caneca cheia de cerveja e afastou-se, ainda mantendo o sorriso no rosto, como se não tivesse feito nenhum dos movimentos anteriores.

― Obrigada. ― Tive tempo de dizer, antes que ela se afastasse totalmente.

Optei por deixar a caixa no sofá ao meu lado, já que minha mesa era uma das de esquina e eu tinha o privilégio das melhores acomodações. Sem esperar muito, desfiz-me das fitas adesivas que me impediam se acessar o conteúdo da caixa e logo fui pega de surpresa quando me deparei com uma outra caixa, agora preta e forrada com seda, em seu interior. Retire a segunda caixa, abandonando a anterior, e coloquei-a com cuidado sob a mesa, enquanto erguia a tampa cuidadosamente, ansiosa para o que viria a seguir.

No interior da tampa, lia-se “Feliz Aniversário, Eve!” e um sorriso enorme cresceu em meus lábios ao me deparar com a diversidade de coisas que havia ali dentro. De fato, meu aniversário havia ocorrido dias atrás, contudo, por falta de oportunidade, eu não pude vir buscar minha encomenda mais cedo. Era preciso muito cuidado e discrição para conseguir atravessar a cidade até ali. Normalmente, como o dia de hoje, eu levava aproximadamente um dia inteiro para despistar completamente a guarda com segurança e me esconder entre as mesas da taverna sem ser notada.

Em um embrulho de seda, pude encontrar um modelito de um vestido crepe preto, solto e extremamente sensual, com o que parecia ser uma fenda na frente e as costas completamente descobertas, em contradição com a frente, que possuía tecido até a gola que se encaixaria perfeitamente em meu pescoço. Definitivamente era um presente da Alice, uma das minhas irmãs na família Cullen. Ela era fanática por moda e sempre que podia enviava-me uma de suas peças elaboradas para mim. Fiz uma nota mental de arrumar uma desculpa para não enviar uma foto experimentando o vestido quando encaminhasse minha próxima carta. Depois disso, encontrei o que parecia ser um porta-retratos com moldura dourada e uma tulipa vermelha seca colada em um quadro pintado em tons prata e preto. No verso do porta-retratos, um cartão colado com fita adesiva com os dizeres “Uma flor para uma flor. Seu irmão, Emmett”. Sorri enquanto recordava-me do mais forte e alto dos meus irmãos, que basicamente era um piadista quase sempre e o cartão fora uma tentativa falha de produzir mais uma de suas piadas irônicas e engraçadas. Para seu azar, achei o presente fofo e gentil demais para absorver com tanta graça suas palavras.

Em seguida, viera uma caixa aveludada com um colar de pérolas e um par de brincos com dois pequenos diamantes em cada um, formando laços brilhosos, emoldurados no que parecia ser prata pura. Automaticamente assimilei que aquele fosse um presente de Jasper ou Rosalie, mas só pude confirmar o remetente quando peguei uma outra caixa aveludada, agora menor, com uma letra elegante numa pequena folha cinza com o dizer “De sua irmã favorita” e lá havia a pulseira de pérolas de Rosalie, o que confirmava Jasper como o dono do colar e brincos. Não sabia muito sobre ele, afinal, sempre retraído quando me aproximava e extremamente discreto, ele não gostava de admitir que minha presença, principalmente quando eu fazia bom uso dos meus poderes, o incomodava diretamente. Já Rosalie eu conhecia muito bem, afinal, assim como Alice, ela adorou me fazer de boneca por alguns dias, arrumando-me para sairmos e conhecermos a cidade e conversar sobre trivialidades que não fossem totalmente voltadas para a vida vampira. Afinal, de todos os meus irmãos, somente eu e Rosalie possuíamos o desprezo pelo o que ser vampira havia tirado de nós: a chance de sermos normais. Mesmo que as concepções passadas fossem diferentes e a forma que ocasionou nossa transformação também.

Por fim, havia também um envelope dourado, com um papel visivelmente grosso em seu interior, que acreditei ser a tão esperada carta de meu pai. Entretanto, ao invés disso, o que ganhei fora uma passagem de ida para o que parecia ser a localização atual deles e um bilhete singelo, escrito por Esme, já que eu conseguia reconhecer sua caligrafia romântica tão bem, dizendo-me: “Você sempre será bem-vinda ao nosso lar. Amamos você, mamãe e papai.” Li aquilo mais vezes do que me era permitido pelo tempo que ainda me restava distante da fortaleza Volturi e permiti que algumas lágrimas escapassem de meus olhos enquanto eu era obrigada a guardar tudo novamente na caixa e apressar-me para ir embora.

Sequer beberiquei a cerveja, mas prestei-me a deixar uma nota de cem na mesa antes de me retirar às pressas da taverna. Do lado de fora, a rua estava igualmente movimentada, com carros indo e vindo a uma velocidade consideravelmente alta, provavelmente cada um buscando um lugar para aproveitar as festas badaladas disponíveis antes do feriado religioso que começaria a partir da meia-noite. Certamente que o feriado era uma fraude. O santo tão exaltado sequer chegou perto de afastar os vampiros de Volterra, já que era um deles. Meu tio Marcus foi um padre muito conhecido que usava crucifixos e água benta em celebrações fajutas, alegando que, assim, afastaria as pragas dos vampiros de nossa cidade. Deste modo, foi condecorado um Santo em sua morte e atualmente, em seu dia de aniversário, é celebrado a expulsão dos vampiros de Volterra. Gosto de pensar que, no fundo, é somente mais uma data para bebedeiras e farras dos humanos, já que poucos são os que realmente ainda acreditam na possibilidade de meu tio Marcus ter existido e, certamente, expulsado bestas bebedoras de sangue da Itália.

Eu apertava a caixa firmemente em meu peito, enquanto caminhava, com meu longo gorro vermelho caindo na frente de meus olhos, pelas ruas menos movimentadas, até encontrar um beco discreto o suficiente para fazer o que precisava ser feito.

Encontrei um latão de lixo à espreita e usei-o para deixar todos os presentes caírem dentro. Eu teria que eliminar tudo, como sempre. Nada de vestígios de contato com os Cullens para coloca-los em perigo. Era um preço baixo a se pagar, para manter aquela que considerava minha família longe das garras da ganância do trono Volturi.

Observando o envelope dourado reluzindo pela luz do luar, senti um calor súbito em meu peito aumentar e minhas mãos, tomando forma própria, se guiaram até o papel e retiraram-no de lá e enfiaram o envelope dentro da minha bolsa rapidamente. Em seguida, respirando fundo e pausadamente, peguei o pequeno vidro de álcool que eu carregara para a ocasião, assim como o isqueiro que sempre carregava comigo. Joguei o líquido inflamável por todo o conteúdo, sentindo um aperto no peito por imaginar Alice forrando a linda caixa manualmente, com a ajuda de Esme e possivelmente Rosalie. Além disso, peguei-me sentindo a culpa de precisar me livrar das ― que eu sabia ser ― pérolas favoritas de Rosalie, bem como o vestido que eu amara. A tulipa seca estava ali, também, encarando-me acusatoriamente enquanto me preparava para me desfazer dos presentes que moldavam o amor que cada dia mais crescia pela família que me fora negada.

Mesmo a distância, Carlisle, como meu pai, moldara meu caráter por meio de suas cartas ao longo dos anos. Sempre que encontrava um novo membro, ele fazia questão de enviar alguns pequenos dizeres das pessoas para mim e eu era grata a cada nova pessoa em seu Clã que o impedia de seguir em solidão. Primeiro fora Edward, salvo de uma gripe espanhola no início do século XX, em seguida Esme, depois Rosalie, seguida por Emmett. E, por último, uniram-se a eles Alice e Jasper. Cada um com uma particularidade que os tornava uma família forte. E, notoriamente, aquilo atordoava o Clã Volturi. Eu sabia disso, pois conseguia enxergar a inveja de meu pai, Aro, quando qualquer um mencionasse o valor e força dos Cullens próximo a ele. Antes, eu acreditava ser apenas o ciúme por nosso pai ter-nos abandonado e encontrado o amor em novas pessoas, contudo, agora, com a maturidade em sua amplitude, eu sabia que era muito mais.

― Acho que Alice não ficaria muito contente em vê-la se desfazendo tão depressa do vestido que fez pra você. ― Uma voz sombria soou a minha frente e fui pega de surpresa ao notar, bem diante de mim, um par de olhos dourados observar-me no escuro.

Imediatamente desfiz-me de minha condição humana e voltei à forma vampira num raio de centésimos de segundos, preparada para quem quer que fosse à espreita. No segundo em que tive minha visão apurada, graças aos benefícios da imortalidade, notei um jovem de feição endurecida, pele esbranquiçada e um topete dourado a minha frente, usando roupas tão negras quanto a noite.

― Edward! ― Eu quase voei, de tão alto que pulei em direção ao corpo esguio de meu irmão ― Eu não acredito que é você aqui!

Retribuindo o abraço, senti o calor comum de seu corpo inundar-me enquanto forçava-me a criar barreiras imediatamente de meus pensamentos, já imaginando que ele estava espreitando minha mente para obter qualquer informação imediata sobre mim.

Pois, se eu era capaz de surpreendentemente mudar minha condição biológica de vampira para humana, além da minha capacidade de imunizar-me de poderes diversos, como os do meu pai de acessar a mente das pessoas com um toque, Edward possuía o dom de ler os pensamentos imediatos das pessoas, mas, como o conhecia bem pelas cartas que escrevíamos para o outro ao longo das décadas, o que eu chamava de presente, ele entendia como maldição.

Senti todo o meu corpo estremecer, enquanto um dos efeitos colaterais começava, forçando toda parte de meu corpo arder como brasa viva queimando cada mínima parte que existia em meu interior. Necessitei de uns minutos para me recompor, mas, assim que o fiz, fui capaz de afastar-me somente o suficiente para ter uma visão de seu rosto e senti um quase sorriso formar-se em seus lábios quando provavelmente ele notou quando eu ergui o que fora, há tempos nomeado por meu pai de sombra, para impedi-lo de acessar meus pensamentos.

― Veio se desculpar pessoalmente por não ter me enviado um presente de aniversário? ― Sorria, totalmente alegre e absorta no verdadeiro presente que era estar diante de uma das pessoas que mais confiava na vida.

― Na verdade, não, Eve, sinto muito. ― Empurrando-me gentilmente, Edward afastou-me de seu abraço e eu pude notar, por fim, que havia uma enorme escuridão rodeando sua face. Algo de muito errado havia acontecido a ele.

― O que houve? ― Indaguei, insistente ― Algo aconteceu ao meu pai? Ou à Esme?

― Não, nada aconteceu a eles. ― Ele fora enfático ao falar, mas percebendo a dúvida crescendo em meus olhos, prosseguiu ― Bella está morta.

― Oh...

Eu sabia o quanto ela era importante para meu irmão. Não que ele tivesse escrito muito sobre ela, já que no último ano, dedicou tanto tempo da sua vida à humana que absolutamente deixou de escrever com frequência para mim, deixando a cargo de Emmett, com suas piadas, Rosalie, com seu desprezo à Isabella, e Alice, com suas fantasias românticas, a me revelarem maiores detalhes da humana que roubara o coração dele.

― Eve, por consideração a todos os anos que... bem, que escrevemos um para o outro, eu venho lhe pedir um enorme favor.

― Sim, irmão, o que precisar.

Ele estava fatidicamente passando pelo luto. Não era algo que eu tenha presenciado de perto, afinal, as ocasiões mais próximas que passei pelo que imaginava ser o sentimento, fora quando meu pai, Carlisle, há quase quatrocentos anos atrás, optara por abandonar o estilo de vida Volturi e buscar por algo mais próximo da condição de vida humana e, por último, quando eu escolhera viver com os Cullens, mas fui obrigada, sob ameaças de Caius e Marcus por meio de uma carta, a retornar à Volterra, tive que sentir a dor de partir sem me despedir daqueles que, em poucas semanas, me afeiçoara grandiosamente.

― Antes, preciso que prometa que, de forma alguma, tentará entrar em contato com nossa família. Por mais que eu imagine que Alice muito em breve tomará ciência da minha situação, não gostaria de que mais ninguém interferisse em minha condição. E lembre-se, Eve, você acabou de me garantir que me ajudará no que eu precisar.

Assenti diversas vezes, apesar de ainda estar abalada com a quantidade de informações que eu acabara de absorver em tão pouco tempo.

― Você tem minha palavra, Edward. O que precisar de mim.

― Então, Eve, eu preciso de sua ajuda para que Aro, Caius e Marcus autorizem meu pedido para minha morte.

Oh, merda. Por essa eu não esperava.


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Notas finais do capítulo

Agradeço aos 6 leitores que surgiram e se interessaram pela história em apenas um dia de publicação. Dedico esse capítulo à vocês ♥

Um beijo e um queijo :*



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