Shadow escrita por Course


Capítulo 12
XI - Francês


Notas iniciais do capítulo

Bom, vou tentar ser o mais breve possível aqui, apesar de ter muita coisa para dizer.
Primeiro, queria agradecer à Gih por ter se juntado ao seleto e incrível grupo de leitores que comentam a história. Agradeço também às meninas que continuam deixando suas opiniões, elogios, dúvidas (e até pedidos para o surgimento de certos... hm... lobos aqui na história). Eu amo saber o que estão achando do enredo, da Eve e dos planos mirabolantes que alguns personagens criam por aí.
Queria lembrar aos leitores fantasmas que não precisam ter vergonha, medo ou insegurança de comentar (nem mesmo preguiça, vençam esse mal!). Eu me disponho a responder à todos, independentemente das palavras que escolham para comentar (até mesmo comentários ofensivos eu estou aberta a debate).

Sobre esse capítulo: Aqui inicia-se um MARCO na vida da Eve.
Eu não queria apressar as coisas e ainda não quero. Acho que já deu pra perceber o quanto a Eve é complexa e, pela vida distante da realidade dos humanos, pode enfrentar algumas inseguranças ou se exaltar com facilidade à alguns comentários (não se esqueçam que ela é a princesinha dos Volturi e tem uma posição alta na corte dos vampiros).
Nos próximos capítulos, prometo destrinchar melhor a relação da Eve com cada personagem e, aos poucos, vamos vendo-a abrir brechas para conhecer verdadeiramente esse mundo.



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Francês

Era quarta-feira, exatamente o meio da semana, e eu estava faminta.

A cada passo que dava em direção às portas duplas azuis à minha frente, sentia todo o meu corpo quase derretendo de tanto nervosismo. Cada ser vivo que estava ainda no estacionamento e atravessava o mesmo trajeto que eu, fazia questão de me encarar atentamente. Talvez fosse a bolsa Gucci que estava pendurada em meu ombro. Ou o gorro Mizani que fui forçada a usar por conta do frio indescritível e insuportável que eu sentia. Ou, quem sabe, as duas figuras super protetoras que caminhavam ao meu lado, desfilando confortavelmente em direção a entrada, como se fizessem aquilo por toda a vida deles.

Eu queria muito ter minha visão apurada para ouvir o que as duas meninas loiras, próximas à escada, estavam sussurrando enquanto me encaravam. Assim como gostaria muito de decifrar o que os lábios de um garoto alto e loiro murmuravam para seu colega que sorria descaradamente para mim.

Era isso.

Eu era a porcaria de um farol no meio daquela infinidade de adolescentes, prestes a entrar, pela primeira vez na vida, numa escola. E, para compensar, estava terminando o meu terceiro e último pacote extra grande de batatas chips que eu comprara no dia anterior e decidira que seria meu café-da-manhã hoje.

― Eve, relaxa. ― Ouvi a voz de Alice soar ao meu lado, enquanto ela tinha uma das mãos laçadas na do Jaz e sorria animada para mim ― Você vai se sair bem.

― É, garota. Parece que você está prestes a enfartar. ― Debochado, meu irmão soou um pouco distante e eu sabia que o cheiro de humanos ali tão próximos era um incômodo infindável para ele. Sabia disso, pois sentiria o mesmo se não estivesse me arrastando por aquele espaço com minha sombra em sua elevação máxima, protegendo-me de qualquer tipo de deslize que poderia vir a ter.

― Talvez eu esteja enfartando mesmo, quem sabe? ― Sussurrei, movendo pouco a minha boca para não dar margem a nenhum humano ali me decifrar.

Terminei com minhas batatas e depositei na cesta de lixo o pacote, para ficar com minhas mãos livres.

O prédio da escola era uma coisa cinza, meio pálida e sem graça, combinando totalmente com todo o restante da cidade pacata que eu passaria os próximos cinco meses. Já estava há uma semana em Forks e, depois de me alimentar diversas vezes ao longo dos últimos oito dias, decidi munir-me de forças e aceitar ingressar na escola.

Estávamos adiantados, pois eu deveria passar na secretaria, contudo, eu não fazia ideia de que a chegada de mais uma Cullen à cidade teria a receptividade que estava tendo. Alice confidenciou que eu já era um assunto em tanto na boca das pessoas. É claro que o retorno de toda minha família deu o que falar, mas o ápice ocorreu quando eles adotaram mais uma filha, em Los Angeles, onde, teoricamente, viveram os últimos seis meses.

A história dos Cullens em Forks era a seguinte: Jasper e Rosalie Hale eram sobrinhos da Esme que, após torarem-se órfãos, foram adotados pela tia caridosa. Acontece que esse amor pela adoção de crianças mais velhas não parou por aí. Em seguida, eles adotaram Edward, Emmett e Alice. Por fim, quando eles se mudaram para a Califórnia, me conheceram no hospital em que Carlisle trabalhou e descobriram que eu era uma adolescente órfã, oriunda da Europa, que fazia parte de um grupo de jovens que iniciaria com uma prestação de serviços ao local, contado histórias para crianças. Ridículo, eu sei. Assim, Esme sentiu no coração que era hora de completar a família com o 8º membro e eu fui adotada.

 Eve Cullen.

A mesma garota que agora atravessava os corredores abarrotados de adolescentes e armários escolares, em direção à secretaria para entregar minha papelada de transferência da Angeles High School ― Escola essa que sequer tive a chance de frequentar, pois fui instantaneamente adotada pelos Cullens assim que cheguei aos Estados Unidos.

Eu sabia que parecia ser uma boneca totalmente infantilizada com a roupa que usava, pois, no momento em que chegara ao balcão que era meu destino, fui pega de surpresa com o olhar da secretária ruiva em minha direção que indicava totalmente um afeto tremendo.

― Vejam, só. A pequena Eve Cullen. ― Como se já me conhecesse há eras, pegou o papel que eu oferecia e, em seguida, entregou-me outros ― Seja bem-vinda, docinho. Aqui está o seu horário e as autorizações de transferência para frequentar todas as aulas que você foi alocada.

― Francês? ― Eu li bem alto minha próxima aula ― Eu achei que ia fazer mandarim.

Como língua estrangeira, havia pedido para Edward me colocar em alguma que eu não conhecia. As opções eram francês, espanhol e mandarim. As duas primeiras eu já conhecia de cor e quase implorei para que ele me encaixasse na Mandarim, com medo de morrer de tédio nas outras duas.

― Oh, sinto muito, querida. A turma já estava cheia.

O sorriso cálido de Alice emergiu e, ali, senti que não havia muito a ser feito.

― Tá, acho que posso tentar. ― Suspirei e dobrei os papeis, enfiando no bolso da minha parca marfim.

― Sem frustração, Eve. Você está só começando. ― Assinalou Jaz, enquanto nos acompanhava pelo corredor.

Cada vez mais, alunos entravam no lugar e começavam sua rotina diária. Parecia meio cômico pegá-los nos observando, mas evitando esbarrar na gente, como se tivéssemos algum tipo de doença.

― Nossa família não é tão popular assim. ― Notei enquanto passávamos para o pátio interior da escola, cheio de bifurcações para os outros prédios de aulas.

― Sua aula de francês é no prédio 2. ― Avisou Alice, sem muita disposição para comentar sobre o que eu falara antes ― Cuidado com o garoto de casaco verde, ele vai tentar pegar seu celular no bolso pra anotar o próprio número.

Argh! Tecnologia.

Uma aberração, em minha opinião. Não estava acostumada a usar computadores, notebooks, celulares ou qualquer coisa do tipo e aquilo era um problema seríssimo no século XXI. Então, eu era forçada a andar com uma placa metalizada muito cara no meu bolso que era multifuncional. Servia para navegar na internet, jogar alguns jogos, fazer ligações, trocar mensagens, ouvir música e ainda capturar fotografias. Em uma semana, eu fui forçada a ter aulas tutoriais de Alice por todas as madrugadas, para me habituar ao uso, na tentativa de não parecer ainda mais deslocada naquele lugar.

― Você está me dizendo que ele vai invadir minha privacidade e pegar meu celular? ― Ergui a voz, parando no meio do caminho para olhar meus irmãos atordoada ― Com que espécie de humanos vocês convivem?

Eve! ― Alice chamou minha atenção, diminuindo o tom de voz ― Cuidado com a forma que você fala. Vai acabar levantando muita bandeira.

― Eu sou da Europa, vocês da colônia devem achar tudo o que eu falo elegante demais. ― Defendi-me imediatamente.

Jasper deixou escapar uma risada e começou a puxar a namorada para longe, em direção ao prédio mais próximo com um enorme 3 pendurado na parede, ao lado da entrada.

― Vamos acabar nos atrasando para nossa aula. ― Ele ponderou e, em seguida, relembrou-me: ― Prédio dois, Eve.

― Não podemos ir agora ― Ouvi minha irmã falar baixinho, enquanto era arrastada pelo namorado ―, o garoto do time de Lacrosse vai puxar assunto com ela.

Alice!... ― A repreensão do meu irmão fora a última coisa que ouvi antes de meus ouvidos humanos não serem mais capazes de captar som algum.

Ah, essa ideia de ser humana o tempo todo já estava me dando nos nervos!

Como se já não bastasse ter aceitado aquela maldita ideia de frequentar a escola, só para agradar minha família e fazer de conta que a balança do que era necessário e o que eu estava disposta a suportar equilibrada. Afinal, nos últimos oito dias, não tive muito tempo para organizar meu plano de manter Isabella humana tempo o suficiente para que eu aproveitasse minha liberdade.

Não. No fim das contas, ainda não havia desistido totalmente daquilo, apesar de uma parte obscura da minha alma tentar me fazer repensar e refletir sobre como afetaria a vida da minha família com aquela decisão. Se eu pudesse, na verdade, garantir que todos ficariam a salvo com ela transformada...

Então, o que, em tese, era necessário, era que eu conseguisse um tempo sozinha para articular minhas ideias e ponderar minhas opções, já o que eu estava disposta a suportar eram algumas horas, numa sala fechada, ouvindo professores diferentes me ensinando sobre o mundo em que eles vivem.

Ah, Céus! Só agora me toquei que teria aula de matemática!

Essa ideia de ser humana e armar um plano para salvar minha família estavam me dando nos nervos.

De fato, não seria uma missão impossível encontrar o prédio 2, já que o imenso número em tom vermelho estava pendurado no lado de fora de um prédio acinzentado. Como todos os outros, estava situado em uma área com cimento em seu entorno, garantindo uma visão bem industrial de toda a estrutura.

Um suspiro escapou, enquanto me forçava a caminhar até sua entrada, sabendo que corria o risco de esbarrar em algum jogador de lacrosse ― seja lá o que for isso ― e tentar ser o mais sociável o possível, para não causar uma má impressão no primeiro dia.

Ao entrar no prédio, senti imediatamente um calor reconfortante se achegar até mim, já que do lado de fora, ainda havia resquícios de inverno por toda parte. O espaço se diferenciava do prédio principal, com apenas portas, alguns bancos e murais para que eu pudesse observar, fui pega contemplando algumas pinturas da turma 02B de Artes, retratando uma adaptação surrealista europeia de alguns pontos turísticos no estado de Washington. Eram realmente trabalhos caprichosos, apesar de estarem sob folhas A4 e feitos com lápis de marcas duvidosas, com traços únicos e meticulosos, podia perceber a essência de cada pseudo-artista nas gravuras. Alguns projetaram traços mais fortes, dando um ar mais vívido às ilustrações, enquanto outros buscaram apenas reforçar as sombras, deixando à cargo das multiplicidades de cores usadas, de forma leve e fraca, chamar a atenção do público.

― Então, você é do tipo artística?

Dei um pulo, sobressaltando-me em surpresa com a voz que soara bem perto de mim.

Olhando imediatamente para o dono da falta de educação, encarei um jovem que aparentava ter, possivelmente, vinte ou trinta centímetros a mais que minha baixa estatura e notei-o olhando descadaramente em minha direção.

― Pelo visto, os americanos têm mesmo dificuldades em aprenderem a boa e velha educação. ― Resmunguei, não para ele especialmente, mas porque, naquele momento, percebi que ainda era incapaz de manter uma conversa amistosa, principalmente porque podia sentir meus batimentos cardíacos pulsarem no peito.

― Você deve ser a Eve Cullen. ― Seus olhos azuis sorriam junto dos lábios, em minha direção e repreendi-me imediatamente por achar as covinhas em suas bochechas atrativas.

Ele tinha seu corpo esguio e evidentemente musculoso encostado na lateral do mural que antes eu observava e, segurando a mochila em apenas um dos ombros, pude notar um bastão pendurado na lateral, que pendia no ar, segurado apenas por uma espécie de suspensório firme que impedia o objeto de cair ou se soltar.

― E você o americano sem educação. ― Rebati instantaneamente.

O que eu havia combinado antes, mesmo? Ah, é! Uma boa impressão. Eu precisava garantir uma boa impressão.

― Opa! Parece que alguém está tendo um péssimo primeiro dia. ― Erguendo ambas as mãos para o alto, em rendição, ele deu um passo para trás ― Mas, não. Eu não sou um americano sem educação. Sou Ethan Mitchell, a seu dispor.

Respirei fundo e, fazendo um esforço tremendo, estiquei a mão, oferecendo um comprimento.

― Muito prazer, Mitchell. ― Soltei, forçadamente ― E... sinto muito pela grosseria. Você me pegou de surpresa.

Aceitando meu aperto, pude ver que sua mão era larga o suficiente para quase que cobrir a minha completamente.

― Tranquilo. O pessoal de Forks está acostumado com a hospitalidade dos Cullens.

O que ele quis dizer com aquilo?

Franzindo o cenho, soltei minha mão da sua da forma mais gentil que consegui e fui atrás dos meus papeis de informação, na tentativa de me distrair e descobrir o número da sala que eu estava buscando.

― Francês? ― Ultrapassando mais um limite da boa educação, ele estava agora bem perto, analisando o papel com meus horários, ao meu lado ― Uau! F03. Incrível.

― O que significa isso? ― Apontei para o código ao lado da disciplina, sendo o mesmo que ele usara a pouco.

Vacilando, optei por olhá-lo e peguei-o sorrindo para mim, com simpatia.

― Isso significa que você é um crânio no francês. Ou que erraram ao te colocar na turma de nível três.

― Ah, bem... ― Suspirei, gravando os códigos da sala, antes de começar a andar, seguida pelo humano educado. ― Não, eles não erraram.

― Então é dessa parte da Europa que você vem? Da França?

Olhei-o surpresa com a pergunta. Parece que realmente as fofocas corriam apressadas por ali.

Levei mais tempo do que normalmente levaria para responder, porque, de repente, me peguei pensando que já estava a quase três horas com minha sombra erguida e, até então, nenhum incidente acontecera. Um humano estava calmamente ao meu lado, caminhando, sorrindo, e eu era incapaz de sentir nenhuma necessidade de sugar seu sangue ou nada do tipo. Na verdade, o simples perfume de um bom banho tomado era o que ele exalava naquele instante.

Fazendo a curva no corredor, encontrei imediatamente a sala onde teria minha primeira aula e respirei aliviada. Até que aquela coisa de escola não era tão difícil. A porta ainda estava aberta e era sinal de que o professor não entrara ainda.

― Tudo bem, não precisa responder minha pergunta. ― Evans suspirou, rendido, mas não tão chateado.

― Ah... ― Arfei ― É... hmm... Desculpe. Eu meio que estou tentando lidar com a experiência de frequentar pela primeira vez uma escola. ― Expliquei imediatamente.

― Espera, o que? ― Ele segurou meu pulso, fazendo-me parar no meio do corredor com ele ― Primeira vez em uma escola? Nossa, uau! Quer dizer... uau!

O que eu havia dito de tão errado? Carlisle me contara que era normal alguns adolescentes terem aula em casa e realizarem exames apenas para provarem suas competências e habilidades para ingressarem na faculdade. Afinal, aquela era a história que estávamos contando para eles.

― O que foi? ― Perguntei, puxando meu braço de volta e arrumando a alça da bolsa que estava querendo cair pela quarta vez naquela manhã.

― Não, é que... quer dizer. A gente meio que já deveria estar acostumado com as bizarrices dos Cullens e-

Não pude permitir que ele prosseguisse com aquela frase.

Bizarrice? ― Eu gritei, pouco me importando com o escândalo que fazia e alguns alunos que realmente pararam por ali por perto estariam olhando ― De quem você pensa que está falando? ― Grunhi e apontei o dedo em sua direção.

― Opa! Espera aí, Eve. Desculpe, eu só...

― Nunca mais ouse falar qualquer coisa do tipo da minha família, estamos entendidos?

Incapaz de deixar aquilo daquela forma, empurrei minhas duas mãos de encontro ao seu peito inutilmente, já que ele sequer se movera um centímetro. Droga de forma humana fracote.

― Ou eu juro por todos os deuses que mato você!

Batendo o pé fortemente no chão, girei os calcanhares no chão e caminhei furiosamente para a sala de aula, que agora tinha um pequeno grupo de alunas ouvindo tudo atentamente e com caras de espanto em minha direção.

Quando cheguei à porta, elas fizeram um movimento para dentro, para que, assim, eu pudesse entrar na sala também.

― Caramba, ela é mesmo bem temperamental. ― Ouvi uma delas dizendo, enquanto eu procurava um lugar para me sentar.

Optei por me sentar aos fundos da sala, na última cadeira da fileira próxima às janelas de vidro que iluminavam o espaço com a luz do dia. Minha meta, naquele instante, era simplesmente encarar as gotas da chuva que deslizavam pelo vidro até o professor chegar. Mas acabei captando um movimento ao meu lado, de algum aluno escolhendo a cadeira justamente ao lado da minha e deparei-me com o aluno do lacrosse.  Aparentemente, ele também frequentava minha turma e aquilo me fez perceber que o destino que era bizarro. Sentando-se ao meu lado, com apenas alguns passos de distância, por conta do corredor, ele jogou sua mochila no chão de forma preguiçosa e esticou todo o corpo, como se estivesse se espreguiçando. 

Fez menção de balançar a cabeça, como um aceno simpático, mas eu o perdi de vista, pois eu decidira virar meu rosto em direção contrária, para voltar a atenção às minhas amigas gotas.

Sabia que estava me deixando levar pelos sentimentos humanos que afloravam na pele. Agora, sem minha sede por sangue, os outros sentimentos se misturavam profundamente em meu ser, junto da fome insaciável por comida humana que sempre estava ali, pontando na boca do meu estômago. Eu precisava me controlar se quisesse provar dos meus limites, assim como havia prometido para minha família. Então, tratei de permanecer em segurança, mantendo meu celular dentro da bolsa para impedir que o tal garoto da jaqueta verde se aproximasse e totalmente atenta à chuva que caía na janela ao meu lado. 

O professor não demorou a entrar, felicitando a turma com um bom-dia na língua ensinada e todos retribuíram, em uníssono ao mestre.

Ele aparentava ter quase quarenta anos e ao julgar pelo suéter de qualidade e a calça caqui que usava, possivelmente sua remuneração alta não se dava apenas ao trabalho na escola como professor.

Vejam bem, temos uma nova aluna em nossa turma. ― Em francês, ele anunciou quando me pegou o encarando. Em seguida, prosseguiu em sua língua materna: ― Eve Cullen, estou certo?

― Oui. ― Assenti, confirmando e resguardando meus sorrisos que havia pensado em espalhar ao longo do dia, pois percebi que as pessoas naquela cidade realmente não tinham uma boa visão da minha família.

― Seus irmãos Rosalie e Emmett eram ótimos nesta disciplina. Estou contente por termos mais uma Cullen entre nós. Por que não se apresenta para a turma, senhorita Cullen?

― Em francês? ― Precisei perguntar, para ter certeza.

Oui. ― Ele retribuiu com um sorriso.

E, no fim das contas, me apresentar em todas as turmas, usando o inglês ou francês, fora o que eu fizera ao longo dos primeiros tempos, nas aulas de línguas estrangeiras, cálculo II e Biologia II. Sempre relatando os mesmos fatos: Nasci na Itália, órfã desde sempre, fui transferida para um grupo social em Los Angeles e lá conheci Carlisle. Nunca frequentei escolas antes, pois o orfanato que eu fazia parte fornecia os conteúdos de estudo.

Eu deixei de lado algumas coisas que Emmett queria que eu usasse para me exibir, como o fato de eu ser fluente em sete idiomas, especialista em anatomia humana e áreas mais específicas em contextos históricos. Além disso, eu amava a geografia e era capaz de desenhar qualquer mapa de qualquer território já descoberto. Certamente, falar sobre aquelas coisas causariam um constrangimento maior, então, optei por seguir o discurso padrão.

Acabou que nas outras aulas o americano sem educação não estava lá para me perturbar, então simplesmente optei por apagar da minha mente a sua existência e seguir em frente com meu dia. 

O horário do almoço não demorou a chegar e com ele a expectativa para ver meus irmãos e compartilhar minhas primeiras impressões da escola. Claro que, para chegar no refeitório, precisei pedir informações para uma garota baixinha na minha turma de cálculo, que se apresentou como Alessa. Muito simpática, me acompanhou até o imenso salão branco no prédio principal, repleto de mesas e cadeiras por toda a parte e já recebendo os alunos para seu horário de almoço.

Eu achei que o dia não poderia simplesmente ser ruim totalmente até que me deparei com uma dura realidade: meu horário de almoço não seria o mesmo que nenhum dos meus irmãos. E se eu achava que estava tudo bem aturar aquelas pessoas me encarando de forma estranha até o momento, eu não fazia ideia do que um refeitório abarrotado poderia ser capaz de me proporcionar.

 

 


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Notas finais do capítulo

Por favor, comentem sobre Ethan.

Queria taaaanto dar um spoiler sobre ele, mas Eve me mata se eu revelar de cara.

Só uma dica (guardem essas palavras pelos próximos capítulos): Nem tudo o que parece, realmente é.

Não esqueçam dos comentários, de favoritar a história e refletirem se estamos caminhando a uma direção que Shadow merece uma recomendação.

Obs: Ao longo dos capítulos, daremos alguns curtos saltos de tempo, já que eu acharia muito entediante relatar a rotina diária da Eve pra vocês, sendo que tudo o que ela faz é se adaptar à essa vida, estudando, reclamando dos humanos e comendo.



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