Enquanto todos nós nos sentávamos o tal garoto Oliver foi ao púlpito, não consigo entender ainda, mas sinto que há algo faltando nessa história de sequestro. Como alguém consegue ficar DOIS ANOS sequestrado no nosso governo atual, com tanta gente te vigiando?

— Boa noite queridos colegas, estou muito feliz em estar de volta a New Age. Esses dois anos foram bastante difíceis para mim, mas graças aos esforços da nossa polícia, e claro, dos meus pais, estou aqui de volta para correr atrás de todo o tempo perdido. Espero que possamos ser bons colegas. Desejo um bom ano escolar a todos. - Após finalizar o discurso Oliver foi sentar-se na cadeira vaga ao lado da diretora, enquanto isso Hartley assumiu seu posto para finalizar o seu discurso de boas vindas.

— Queridíssimos alunos, espero que todos sejam receptivos ao senhor Malloy, e senhor Malloy espero que este seja um ótimo ano para você, que possa superar todos os horrores que passou enquanto estava longe de nós. - Ok, não dá mais, qualquer um com um pouco de noção conseguiria perceber que Hartley não estava sendo nem um pouco sincera. Olho para Maddie com cara de tédio e no momento em que ela percebe isso chama a minha atenção discretamente. - Bom, isso é tudo, podem voltar aos seus dormitórios, já estamos perto do horário do toque de recolher. Senhor Malloy, peço que me siga para que possa lhe mostrar seu quarto. - É isso, o grande anúncio era a chegada de um aluno que foi sequestrado a dois anos, que agora voltou e que não parece estar nada feliz com isso. Enquanto saiamos percebi que Maddie estava com uma cara bastante desanimada.

— Vamos lá Maddie, você realmente achou que algo de bom iria ser anunciado aqui? O que me surpreendeu foi que eles não anunciaram outra regra.

— Layla, você realmente contagia todo mundo com seu pessimismo. Não consegue ter o mínimo de esperança de que talvez algo nesse inferno possa mudar?! - Oi? Madelaine irritada?

— Amiga, calma. Respira.- Segurei em seu braço fazendo-a parar no meio do corredor. Eu tenho esperança, mas sinceramente, não nesse lugar, sabe que se eu pudesse voltaria para o México com meu avô. - disse em sussurro, para que só ela pudesse ouvir. - Mas porque você se irritou tão fácil? Se eu soei rude, me perdoa, por favor.

— Quer a verdade Layla? Eu cansei de ser o que esperam de mim. Aquele garoto conseguiu ser tirado daqui e não aproveitou pra fugir desse país. Será que só nós duas conseguimos enxergar o quão errado esse mundo ficou?!

— Você sabe que não, Yudi e Nara…

— Yudi e Nara? Não sabemos nada desses dois, só sabemos que eles fugiram. Não sabemos nem se eles estão vivos!- Ela quer chorar, e se eu não tirá-la daqui agora ela vai desabar.

— Maddie, calma. Vem comigo. - Puxo-a pelo corredor para um lugar que só nós duas conhecemos nessa escola.

No primeiro ano nesse lugar, eu acabei pirando um pouquinho. No meio da noite, decidi que seria uma ótima ideia fugir da NASI, o que aconteceu foi que eu quase fui pega por um dos guardas, entrei numa porta qualquer no corredor e percebi que ali havia um tipo porta no chão, quando abri dei de cara com uma escada, no final dela havia uma sala totalmente branca cercada de portas de vidro. Fiquei escondida ali até sentir que poderia voltar ao meu quarto, naquele momento toda a minha coragem para fugir já tinha se esvaído. Esse lugar se tornou meu esconderijo de tudo e todos, e algum tempo depois, o de Maddie também.

Ao chegar no nosso “portal” minha amiga desabou no chão chorando, não consegui fazer nada além de abraçá-la. Tudo vai ficar bem, sempre fica.

…….*…….

Não conversamos mais sobre a crise de Maddie noite passada, estamos no refeitório, novamente sentadas com Alexa e suas fiéis escudeiras, e novamente, não estou prestando atenção em nada do que elas estão dizendo. A única diferença para o dia de ontem é que minha amiga também não parece fingir se interessar na conversa.

Mas algo logo chama minha atenção, Nate está entrando no refeitório com seu melhor amigo, Francesco, e com alguém que consegue prender mais minha atenção do que ambos. Ao lado dos dois meninos está, ninguém mais, ninguém menos que o senhor Oliver Malloy, ao perceber que estou o encarando, ele parece endireitar a postura e posso ver a superioridade, que acha que tem, estampada em seu rosto.

Diferente dele, Nate e Francesco sorriem para mim. Devolvo o sorriso de forma constrangida. Será que alguém conseguiu perceber isso? E como assim constrangida?

— Olhem só meninas, parece que o nosso quaterback, senhor Lawford está interessado em nossa amiga.- Diz Alexa, olhando para mim. - Conte-nos Layla, há quanto tempo isso está acontecendo entre vocês? Ele já foi falar com seu pai? Não me diga que é estão namorando escondidos, por favor!

— O quê? Não, nós não estamos namorando. Formamos uma dupla na aula de literatura, é só por isso que ele me cumprimentou.- Garota enxerida.- Nate e eu somos apenas amigos.

—Nate? - Pergunta Caterina. Droga, não acredito que dei um fora desse, agora vou ter que explicar para essas insuportáveis, tirando a pobre Anne que ainda não me perguntou nada, do porque de ter chamado Nataniel pelo apelido.

— Ele achou mais prático chamá-lo assim do que ter que usar o sobrenome para tratar-nos em aula.

— Minha cara, obviamente o senhor Lawford está interessado em você! - Alexa retoma a fala. Caterina, não parece estar nem um pouco feliz com minha explicação. - Só não vê quem não quer.- Preferi não responder, não preciso dar satisfação da minha vida para Alexa. Não demorei muito para sair do refeitório, Maddie e eu seguimos pelo caminho contrário das outras meninas que estavam sentadas conosco.

Minha primeira aula do dia é de álgebra, o que não está contribuindo nem um pouco para a minha felicidade, ao chegar na porta da minha sala me despeço de Maddie, entro e como de costume me sento num lugar bem escondido, rogando para que ninguém escolhesse sentar ao meu lado, o que acaba acontecendo.

Poucos minutos após a aula começar escuto alguém bater à porta da sala, quer dizer, não só eu como todos na sala. Ao abrir a porta a professora se depara com a diretora Hartley e logo atrás dela nada mais nada menos que Oliver Malloy.

— Perdoe-me senhorita Suzzane, mas como sabe, o senhor Malloy acabou de retornar para a escola após um período bem obscuro de sua vida. Peço que releve se ele acabar se atrasando para suas aulas nesses primeiros dias. Estamos fazendo de tudo para que ele se adapte rápido. - Disse Hartley com sua pose impecável.

— É claro que sim diretora, também farei tudo que estiver ao meu alcance para ajudá-lo senhor Malloy. - Respondeu a professora, olhando para Oliver.- Pode se sentar, logo ali atrás há uma cadeira desocupada, ao lado da senhorita Martínez.- NÃO, NÃO NÃO!

— Obrigado professora. - Diz Oliver, ele então começa a caminhar em minha direção e a única coisa que passa pela minha cabeça, é a cena que aconteceu no refeitório. Enquanto a diretora sai da sala e a professora começa sua aula Oliver se senta ao meu lado e começa a prestar atenção na aula, me ignorando totalmente. Então vai ser assim? Ele não vai nem me cumprimentar? Ele viu que eu estava nessa mesa, e não vai nem me falar um “oi” por educação? Ele sabe que se ninguém mudar de lugar nessa sala, vamos ser uma dupla o ano todo? Quem esse garoto pensa que é?

Ou melhor, porque eu me importo com isso?