Hoje é oficialmente meu primeiro dia de aula, são seis e cinquenta da manhã e eu já estou quase pronta para poder ir tomar o café da manhã, enquanto Maddie está no banheiro, ela sempre demora mais do que eu para acordar e para terminar de se arrumar.

— Madelaine eu acho bom você se apressar, não quero chegar tarde no refeitório, se você demorar demais eu vou te deixar pra trás! - gritei para ela.

— Eu não vou demorar muito amiga, espera só um pouquinho.

— Nem tenta Maddie, eu te conheço, toda vez que você fala que vai demorar só um pouquinho a gente perde o início do café! - Não entendo o porque a Maddie se arruma tanto para as aulas, afinal não podemos usar maquiagem, o uniforme é padrão, e nosso cabelo tem de estar impecavelmente arrumado e preso.

— Pronto Señorita Layla, vamos?

— Vamos Mrs. Maddie. - Eu disse já saindo do quarto, enquanto estávamos indo em direção ao refeitório Alexa, a garota que falou conosco ontem no salão de apresentações, e suas fiéis SEGUIDORAS, afinal tenho quase certeza que essas garotas só andam com Alexa para poderem ter os mesmos benefícios que ela, se juntaram a nós.

— Bom dia minhas queridas, animadas para o primeiro dia de aula? - Perguntou Alexa.

— Não. - Opa. - Quero dizer, eu estou mais do que animada, é um sentimento que não consigo descrever em palavras! - Me corrigi antes que fosse tarde demais.

— Nós te entendemos Layla, afinal esse será um grande ano. - Disse Caterina, uma das seguidoras. - Estou tão animada para a nossa formatura! - A formatura é a única festa em que não somos supervisionados, quer dizer, não no local onde ocorre a festa, fora dele tudo continua do mesmo jeito.

— Eu também! Mal posso esperar, quero poder escolher o meu vestido logo – disse Anne, a outra seguidora. Ela é a mais simpática das três, sinto que também não concorda com a maioria das regras aqui, mas também percebo que ela tem medo de se expressar. Quem não teria com amigas assim?

— Anne, lembre-se que uma dama nunca deve falar muito alto, nós devemos sempre ser discretas. - Alexa consegue acabar com a alegria de qualquer um, a pobre Anne apenas parou e assentiu com a cabeça. Se eu tivesse percebido mais cedo que ela era assim tão parecida comigo e com Maddie não a teria deixado se aproximar de Alexa e Caterina. Chegamos ao refeitório depois de 10 minutos que ele já estava funcionando, eu sei que pode parecer loucura, mas prefiro chegar cedo ao refeitório para ter mais tempo para mim antes do começo do dia letivo.

Sentamos todas juntas numa mesa e ficamos escutando as baboseiras que saiam da boca de Alexa e Caterina, Maddie e Anne falavam algo de vez em quando, já eu preferi ficar calada, não tenho uma paciência tão grande quanto a minha amiga, por isso sei que o melhor a se fazer é sempre deixar Maddie falar e eu apenas concordar com o que ela diz. Acabei de comer faltando 10 minutos para o refeitório fechar e me dirigi ao meu armário para pegar os materiais da primeira aula, que seria de biologia. Já comentei que é engraçado o fato de estudarmos todos os sistemas do corpo humano, mas que quando estudamos o sistema reprodutor, meninas só estudam o sistema reprodutor feminino e meninos só estudam o sistema reprodutor masculino? Seria cômico se não fosse tão trágico.

Cheguei a minha sala e fiquei esperando a chegada do professor, ele se apresentaria e depois começaria a explicar o plano de ensino dele para nosso ano, todas as aulas hoje serão dessa mesma forma, um dia inteiro de apresentações.

Uma garota que eu nunca havia visto antes nas aulas sentou-se ao meu lado e tentou começar uma conversa comigo perguntando se estava animada para a aula, eu respondi que sim e comecei a mexer no tablet fornecido pela escola para que ela entendesse que eu não queria conversar, sei que isso foi grosseiro, mas eu realmente não quero conversar com ninguém na aula hoje. O professor chegou algum tempo depois, então todos sentaram em seus lugares para o início da aula.

— Bom dia a todos, bem-vindos a primeira aula de biologia do ano. Meu nome é Cristhoffer Turner, e espero que vocês gostem do que lhes será ensinado. Vejo que temos alguns novos alunos aqui e sei que nós iremos nos conhece melhor ao longo do ano, e para os alunos que já frequentavam a minha aula bem-vindos de volta. Bom, agora eu vou apresentar a vocês o plano de ensino para o nosso ano.

Professor Turner, o mais idiota dos professores, é óbvio que ninguém quer comentar sobre isso, mas Cristhoffer Turner é um pedófilo assumido. Desde que comecei a estudar aqui percebi como ele olha para as alunas e também que ele já assediou muitas delas. Sei disso porque já o vi tentar beijar, a força, uma garota que na época estava no terceiro ano, ela conseguiu sair do lugar e depois pediu dispensa da aula dele, alegando que não estava conseguindo entender a matéria da forma como ele explicava. Nunca contei isso a ninguém, nem mesmo para Maddie, mas desde então procuro me manter o mais longe possível dele, mesmo que isso seja difícil, já que tenho aula com ele 4 vezes por semana.

Devo admitir que não prestei atenção alguma na aula, além dela estar realmente chata, o assunto Nataniel Lawford voltou a tona na minha mente, já que, uma das minhas aulas hoje é de literatura.

A realidade é que não sei o que fazer se ele vier falar comigo hoje, nunca nessa escola as pessoas me viram conversar mais do que 10 minutos com alguém que não seja Maddie, nunca me viram perto de um menino se quer e minha maior preocupação é o que essas pessoas pensarão de mim quando me virem conversando com o Nate, afinal, mesmo que eu não estivesse fazendo nada de mais as pessoas diriam que estava.

As aulas seguintes se passaram muito devagar, já que para todas elas seguiu-se o combinado de apresentação do professor e apresentação do plano de ensino, para minha alegria a última aula antes do intervalo seria com Maddie, o que me deixou um pouco mais contente.

Ao final da aula caminhamos em direção ao refeitório, pegamos nossos lanches e fomos nos sentar em baixo da arquibancada do gigantesco ginásio da NASI, mal comecei a comer e Maddie me perguntou:

— Então… Nós realmente vamos fingir que o Nataniel não falou com você ontem e que ele não te pediu para chamá-lo Nate?

— Madelaine, o que você quer que eu faça? Que eu enlouqueça só porque um garoto me pediu para chamá-lo pelo apelido? A resposta do porquê ele fez isso é óbvia, ele prefere que as pessoas o tratem como Nate e pronto! - Disse, dando uma mordida em meu sanduíche logo depois.

— Layla Martínez, eu te conheço e sei bem que você está tão interessada nesse assunto quanto eu. Você já pensou, por exemplo, no que dizer pra ele caso ele venha falar com você hoje?

— Sim, direi: “ Olá Nate, como vai? Eu também estou animada para o início das aulas”, afinal, essa foi minha resposta pra tudo hoje. - Respondi sem animação alguma. - E também não acho que ele virá falar comigo hoje, afinal, depois de 3 anos sem notar a minha existência não acho que mudará sua postura logo no último ano.

Maddie não me fez mais nenhuma pergunta relacionada ao assunto Nate, terminamos de comer e ficamos mais algum tempo conversando antes que o sinal que indicava o fim do intervalo soasse e nos fizesse voltar às nossas respectivas aulas

…….*…….

Não posso negar que o assunto Nataniel ainda não saiu da minha cabeça, mas posso dizer que as minhas duas aulas após o intervalo foram mais tediosas do que as que vieram antes. O sinal tocou indicando que era o horário da última aula, a aula que teria com Nate e eu realmente queria que ele não viesse falar comigo, nunca gostei e nem fui o centro das atenções em um lugar e não gostaria de começar agora.

Entro na sala para esperar o início da aula de literatura e me sento ao lado da parede para poder me “camuflar” e passar despercebida pelos alunos, mas como eu sou uma pessoa cujo os desejos quase nunca são atendidos, a pessoa na qual eu pensei e falei sobre o dia todo sentou ao meu lado e começou a conversar comigo.

— Bom dia Layla, como está? - Disse Nate ao sentar do meu lado, e logo depois abriu um sorriso que, com certeza, poderia ser considerado um dos mais bonitos que já vi. Espera um pouco, eu falei mesmo isso?!

— Bom dia Nataniel, estou muito bem e o senhor? - Respondi, sendo o mais cordial que consegui.

— Layla, eu te disse ontem que pode me chamar de Nate, não tem problema também me tratar com uma formalidade menor.

— Tudo bem, é que eu estou tão acostumada a tratar todos assim que às vezes eu falo dessa maneira sem pensar. - Isso não saiu direito. - Eh… Já chamei meu próprio pai de general uma vez, ele não gostou muito, disse que estava tão longe com meus pensamentos que nem percebi que ele havia me chamado. - Tento consertar dando um sorriso no final.

— Tudo bem, mas por favor, me chame como eu te pedi, não gosto muito de formalidades. - OK, nenhum garoto nessa escola gosta de não ser tratado com formalidade, eles tem essa mania idiota de se acharem melhores do que os outros. Não os culpo, afinal, nossa cultura regrediu novamente a esse pensamento machista e …

— Está tudo bem Layla? - Perguntou Nate me fazendo perder a linha de raciocínio.

— Está sim, eu só estava pensando sobre quais escritores vamos trabalhar nesse ano. Estou animada, você não está?

— Claro que sim, literatura sempre foi minha grande amiga em momentos difíceis. - Momentos difíceis? É difícil imaginar que Nate tenha problemas, o pai é médico e a mãe uma designer famosa, a todo momento os dois saem em revistas como sendo o casal modelo de nossa pátria. Mas nunca se pode afirmar algo de alguém sem conhecê-lo de verdade, não é o certo. - Bom, acho melhor nos calarmos, faz uns 5 minutos que o professor chegou e nós ainda estamos conversando. - Nos calamos e começamos a prestar atenção no que o professor falava, o mesmo de sempre, como sempre. Não prestei atenção em basicamente nada do que foi dito pelo professor, somente quando ele disse quais seriam os autores estudados esse ano.

Enquanto me preparo para deixar a sala de aula e ir para o meu dormitório uma coisa um tanto incomum aconteceu, a voz da diretora estava saindo pelos alto-falantes presentes na sala.

— Atenção todos os alunos, venho aqui para lhes pedir que hoje, após o horário da janta, dirijam-se ao salão de apresentações para um comunicado especial que será do interesse de todos. Obrigada. - Comunicado especial? Não posso negar que estou curiosa, em um lugar como esse não é comum termos novidades no início do ano letivo.

Saio como um furacão da sala, tenho certeza que Maddie deve estar maluca criando teorias sobre o que deve ser esse tal “comunicado”, depois de uns dois minutos encontro-a no meio do corredor, quando me vê quase grita, QUASE, não seria bom para a imagem dela aqui se isso acontecesse. Não preciso dizer uma só palavra e Maddie já começa a jogar suas teorias em mim.

— Layla, o que será esse tal de comunicado? Será um concurso de talentos? Uma peça de teatro aberta a público? Um novo código de vestimentas menos rígido? Será que é um novo professor de biologia, poderia né? No lugar daquele babaca do Cristhoffer. - Começa a falar enquanto andamos em direção ao nosso dormitório.

— Maddie, calma, essas coisas são tão fáceis de ocorrer aqui quanto eu odiar jornalismo. Deve ser alguma nova regra que vai beneficiar o topo da pirâmide.

— Amiga, você consegue acabar com o ânimo de qualquer pessoa, credo! - Exclama. - Mas mudando de assunto, e aí, como foi sua aula com o Nataniel? Não, perdoe-me, para você é Nate agora não é? – Pergunta Maddie, rindo de si mesma no final.

— Normal.

— Sim, claro. Acredito em você. - Disse falsamente. - Vamos lá Layla, me diz a verdade. Eu te conheço muito bem pra saber que “normal” não foi.

— Tudo bem. Chata! - Disse e comecei a contar o que havia acontecido na aula de literatura hoje. – E isso é tudo, viu, normal.

— Normal uma ova minha querida, descobrimos que o Nataniel não é um grande imbecil como a maioria dos garotos nesse lugar.

— Sim, ele não é imbecil como a maioria, agora que já sabe de tudo podemos parar de falar sobre isso por favor?! Obrigada. - Maddie simplesmente assentiu com a cabeça.

Logo chegamos ao dormitório, e assim que entrei disse a Maddie que tomaria um banho, preciso descansar, o primeiro dia de aula é sempre muito cansativo, sinto como se o peso de todos os elefantes do mundo estivessem sobre minhas costas. Mas sei que esse dia ainda está longe de acabar.

…….*…….

Após o jantar, Maddie e eu nos dirigimos para o salão de apresentações junto à Alexa, Caterina e Anne, o lugar já estava cheio e as pessoas murmuravam entre si qual seria o grande anúncio que seria dado por nossa excelentíssima diretora. Após alguns minutos, que para mim foram uma eternidade, Susan subiu ao palco, que já estava preparado para recebê-la.

— Boa noite, queridos alunos da New Age School and Instership. Sei que o hoje ainda é só o primeiro dia e também sei que estão cansados das aulas maravilhosas que todos tiveram hoje.- Não pude conter o sorrisinho sarcástico em meu rosto ao ouvir isso, o que me custou um beliscão dado por Maddie.- E também sei que todos aqui devem estar curiosos, afinal, não é nada comum que tenhamos um recado que nos faça reunir no salão logo no primeiro dia.- A virada de olhos foi inevitável, o que me custou outro beliscão; Hartley adora prolongar conversas que poderiam durar somente alguns minutos, credo!- Mas posso dizer que este é um anúncio que faço com uma alegria imensa. Alguns sabem, mas para aqueles que não, a dois anos um de nossos alunos foi levado da nossa escola por delinquentes, eles o mantiveram preso no estado da Califórnia durante todo esse tempo. Mas graças aos esforços incansáveis de nossos policiais e claro de seus pais, ele foi encontrado.- Como assim, levado? Será que são Yudi e Nara? Não pode ser não é, afinal, ela disse que isso ocorreu a dois anos!- Quero que todos vocês recebam com um aplauso bem forte, aquele que depois de muito tempo voltou para nós. Com vocês o Sr. Oliver Malloy!- Enquanto a sala se enchia com o barulho das palmas um garoto de cabelos escuros e olhos azuis entrou pela sala, com uma cara nada feliz e parou ao lado da diretora.