Through Her Eyes escrita por CrisSouza


Capítulo 2
O Último Dia


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amores!!
Não quis deixá-los esperando por muito tempo. Aí está o primeiro capítulo de nossa história.



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Hoje é dia 30 de agosto, meu último dia de férias, antes do meu último ano na escola. A partir do ano que vem eu estarei pronta para trabalhar em empregos que não me agradam nem um pouco.

Meu nome é Layla Martínez, moro no estado do Nebraska, Estados Unidos, tenho 17 anos e sou neta de Darío Martínez, um homem rico que fez fortuna devido a sua ajuda no tratamento de doenças antigas que voltaram e acabaram matando grande parte da população mundial, inclusive minha mãe. Nós estamos no ano de 2076, e, ao contrário do que as pessoas pensavam, o mundo não se tornou um mar de rosas, ao invés disso, pensamentos machistas e antiquados voltaram a dominar o pensamento da maioria da população. É por isso que neste momento estou aqui me estou me lastimando, esses pensamentos estão interferindo em tudo.

Desde que nascemos, nós, mulheres, somos ensinadas a obedecer cegamente aos homens, somos ensinadas que devemos sempre estar bem-arrumadas, temos aula de etiqueta desde os quatro anos e quando começamos a estudar as coisas pioram.

Na escola foi criado uma espécie de pirâmide, onde, no topo estão os americanos ricos, brancos e homens. Os outros, grupo ao qual eu me incluo, estão em posições muito distantes desse “topo inalcançável”, e na base estão as pessoas mais pobres e a população LGBT, ou pelo menos, aqueles que não desistiram de ser quem são de verdade.

Além disso, na escola não somos nós quem decidimos o que queremos fazer, quando entramos no ensino médio uma máquina escolhe as atividades extras que somos OBRIGADOS a fazer, isso baseado no seu porte físico e na sua aparência. Eu sou do clube de teatro.

Os uniformes são piores, bom pelo menos para mim. Todos temos que usar roupas extremamente formais, gravatas, sapatos sociais e o pior, saias. Eu particularmente não gosto, para mim elas não são nem um pouco práticas. Na aula de educação física não podemos fazer outra atividade senão natação, isso porque nossa PROFESSORA é a única que pode ficar por perto nesse momento, os meninos têm outro PROFESSOR.

E, graças a esses pensamentos, eu não posso escolher a profissão que quero para mim, a maioria delas, hoje, são exclusivamente dominadas por homens, tais como médicos, advogados, bombeiros, policiais, engenheiros, entre outras. Meu sonho sempre foi trabalhar com jornalismo, mas infelizmente, além da profissão ser “para homens”, ela foi extremamente reprimida, já não existe liberdade de expressão. Todas as matérias criadas passam primeiro pelas mãos de pessoas do governo responsáveis por calar aqueles que ainda tem uma opinião diferente da atual.

E, apesar de tudo isso, conheço pessoas que pensam que o mundo assim é melhor do que o mundo na época do meu avó. Sim, eu sei que mesmo naquela época as coisas eram difíceis, mas, com certeza, nós possuíamos algo que agora é de extrema importância para mim. LIBERDADE.

Que pasa, mi chiquita?— Esse foi meu avô, ele é de descendência latina, ou seja, eu também tenho sangue latino correndo em minhas veias, mais um motivo para estar num degrau abaixo de muitos naquela pirâmide da qual falei.

— Nada abuelo, só que, me lembrei agora que este é meu último ano na New Age.

— Querida, eu te conheço. Sei muito bem que não é só nisso que está pensando, afinal mal tocou no café. - Nunca consegui mentir para meu avô, desde a morte da minha mãe foi ele quem me criou, afinal meu pai está muito ocupado condenando pessoas que só querem ser elas mesmas para prestar atenção em mim. - Vamos me diga chiquita, sabe que pode contar tudo o que quiser para mim, não sabe?

— Eu sei abuelo. - É melhor eu contar logo, afinal ele nasceu em outros tempos, vai me entender certo? - A verdade é que não entendo o porque de eu não poder escolher a minha faculdade. Não quero fazer moda, não tenho habilidades para isso. O senhor sabe muito bem que eu sempre quis ser jornalista, essa sempre foi a minha vontade, é disso que gosto. - Digo um pouco exaltada.

— Layla, querida, sei que essas profissões não são o que você quer, mas escute, o que podemos fazer? Não sei como a minha geração deixou que as coisas chegassem a esse ponto, mas agora não podemos mais fazer nada. - Não quero acreditar, mas sei que ele tem razão, um golpe no governo e pronto, agora estou presa a esse futuro de pesadelos. Sempre escutei histórias de como as mulheres na época do meu avô lutavam para conseguir seus direitos, mas sejamos sinceros, quem conseguiria lutar quando o governo e as armas dele estão contra você? - Mas tenho certeza de que se sairá muito bem na profissão que escolher querida.

— Obrigado, abuelo. Vou chamar a Maddie para conversar, até mais.

Adiós mi amor.

Levantei-me da mesa e voltei a meu quarto, liguei meu computador e chamei a Maddie. Bom, se tem uma coisa da qual não posso reclamar é da tecnologia, ela evoluiu bastante, hoje ela consegue ajudar a todos. Pessoas que antes não andavam possuem próteses mecânicas que as permitem até mesmo dançar, pelo menos disso posso me alegrar.

— Olá flor do dia, isso são horas? Você ainda está de pijama? Sabe que são dez da manhã não é? - Maddie é meio apressada com as palavras, mas o que posso fazer, ela é a melhor coisa que me aconteceu desde que entrei na New Age, ela é minha melhor amiga. - Você sabe que temos que acordar às dez e temos que fazer os exercícios diários!

— Maddie relaxa, o coronel não está em casa e meu avô é tranquilo, ele só quis me dar um dia mais calmo, afinal, amanhã nós voltamos para o internato.

— Ok, é que os meus pais estão aqui em casa e eu preciso manter as aparências, eles estão tão animados falando sobre a minha faculdade de administração. Não sei o porquê, afinal, o meu irmão que vai herdar a empresa, eu vou ser só uma secretária. - Minha amiga é uma das poucas pessoas que me entende. Os pais dela são empresários e ela vai herdar uma pequena parte da empresa, mas vai trabalhar como secretária. O problema é que ela, tal como eu, não quer isso. Maddie quer fazer medicina para que possa ir à África cuidar das crianças que moram lá, ela sempre teve esse espírito humanitário. - O lado bom é que…

— Não tem lado bom! - A interrompi. - Nós vamos sair da escola para começar a trabalhar em empregos que não queremos e nos quais seremos tratadas piores do que lixo! - Exclamei, um tanto quanto alto, porque algum tempo depois escutei o pai de Maddie bater à porta do quarto dela perguntando se estava tudo bem.

— Está sim papai, fique tranquilo, estou apenas conversando com a Layla. - Ela respondeu. - Amiga é melhor eu ir, daqui a pouco meu irmão entra aqui dentro me chamando pra ajudar a minha mãe com o almoço.

— Tudo bem, até amanhã na escola Maddie.- Eu disse.

— Tchau flor…

Ótimo, agora eu ficarei o dia inteiro sem interagir com qualquer outra pessoa da minha idade, isso que dá não ter outras amigas. Outra coisa horrível que nós, mulheres, passamos hoje em dia. Agora, a coisa mais normal de se ver são mulheres andando única e exclusivamente com outras mulheres, se você é vista andando sozinha com um garoto vira o assunto principal das pessoas que te conhecem, namoros são aceitos, contudo, é aquele belo namoro de “pegar na mão”, “namoro no portão”, “pais no meio do casal” e se o garoto quer sair com sua namorada eles têm que ser acompanhados ou pelo pai ou então pelo irmão mais velho da moça. Eu nunca tive um namorado, coisa que alguns estranham, afinal meninas na minha idade já possuem namorados de longa data, a verdade é que não sei se suportaria que meu pai ficasse a todo momento me vigiando enquanto eu abraço ou beijo meu namorado. Mas acho que isso é pior para ele, muitas pessoas já o perguntaram se eu sou “uma daquelas que não gosta do que deve” e EU sempre tenho que dizer que não estou interessada em ninguém no momento e que estou centrada nos estudos, isso também faz com que eles falem mais, “uma mulher nunca deve saber mais que seu marido”.

Troquei de roupa e saí do meu quarto, fui até a sala e encontrei meu avô fazendo o que sabe fazer de melhor agora que está aposentado, pintando. Ele gosta de pintar paisagens, os quadros dele sempre tem muita cor e muita alegria, de acordo com o mesmo é a forma como ele se lembra da sua vida quando novo. Um dos mais bonitos que eu o vi pintando foi o “Obelisco, Buenos Aires”, ele disse que era um lugar que ele sempre ia quando visitava os avós.

— Olá mi nieta, já conversou com sua amiga? - Ele me cumprimentou quando me viu.

— Sim abuelo, ela foi ajudar a mãe e eu vim fazer o nosso almoço. Sabe se o papai vai voltar a tempo de comer conosco? - perguntei, mas antes mesmo que meu avô pudesse me responder o coronel entrou pela porta, mas não, não pense que ele falou comigo ou algo assim, ele simplesmente passou direto por nós e foi para o quarto dele. Assim é o meu pai, desde a morte da minha mãe ele tem sido bastante frio e distante comigo, se sinto falta dele? A verdade é que não, não se sente falta de alguém que nem sequer se importa com você, além do mais, tenho meu avó, que é quem realmente considero como pai.

Fui até a cozinha e demorei cerca de uma hora e meia para preparar o almoço, o levei para a sala de jantar, quase não usamos esse cômodo, nós só comemos aqui quando o coronel está em casa. Meu avó foi chamá-lo e eu arrumei os pratos na ordem de sempre; na ponta da mesa o prato do meu pai, do seu lado direito o do meu avô e na segunda cadeira a esquerda o meu prato. Sim, na segunda cadeira a esquerda, a cadeira a esquerda era onde minha mãe deveria se sentar. Assim que terminei os dois apareceram, foi um almoço silencioso e eu diria, um pouco constrangedor. Meu pai mal terminou de comer e voltou para o quarto, eu e meu avô ficamos conversando um tempo antes de eu me levantar, coloquei a louça suja na máquina e limpei tudo o que havia sujado. Se tem uma coisa da qual eu não sentiria falta nesse ano são dessas refeições maravilhosas que faço com minha família. New Age School and Instership, estou voltando.

 


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Notas finais do capítulo

Então frôzos, gostaram?
Comentem muito, até o próximo capítulo.



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