Quando Tudo Mudou escrita por Ronaldo Araujo


Capítulo 3
Capítulo 3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/776094/chapter/3

Era domingo, o último das férias de julho. Eu ainda não conseguia acreditar que tia Marta morrera. Não parava de pensar em tal coisa e tentava achar algum motivo para a sua morte, afinal, ela era uma mulher saudável, ou ao menos aparentava ser. Nunca tinha visto a tia Marta se queixando de dor, de alguma doença cardíaca ou algo do tipo. Achava injusto e extremamente estranho ela ter morrido de repente, isso me deixava inquieto.

Enfim, eu devo tentar esquecer isso, pois o fato de eu saber ou não, não irá trazê-la de volta à vida. Talvez me reconfortaria se descobrisse o motivo, ou talvez odiaria saber o porquê, mas seria melhor eu esquecer e pensar no que acontecerá no dia seguinte, pois minhas aulas estão chegando e estou muito ansioso. Sinto falta de ver meus amigos todos os dias, sinto falta daquela rotina maravilhosa de aulas, trabalhos e exercícios. Sinto falta, inclusive, de Allan e Mathew disputando quem tiraria a maior nota, até mesmo de quando me chamavam de nerd, o que é engraçado, pois eles são dois nerdões. Sinto falta dos professores citando a nós três como exemplo a ser seguido, enquanto que nossos colegas ficam zombando e fazendo cara de desaprovação. Mas o fato de saber que as aulas estão voltando é que terei isso tudo de novo em breve.

Mathew ainda não tinha dado notícias, nem sequer mandou mensagem ou qualquer outro sinal de vida. Ele nunca tinha feito isso, o que é estranho. Parecia até que não se importava ou que tinha coisa mais importante para fazer do que estar com seus amigos nerds. Por outro lado, Allan me ligou n vezes, encheu meu telefone de mensagens e já estava em minha casa naquele domingo. Allan parecia bem, mas não tocamos no assunto da morte. Talvez seria melhor tentar “esquecer” para que não o magoasse. Sei que ele estava sendo forte para não me deixar preocupado, mas por dentro ele deveria de estar destruído, destroçado, de coração partido.

Eu tinha certeza de que algo estava acontecendo com nosso amigo e isso me deixava muito nervoso. Eu gostaria muito de saber o que se passava, até que comecei a lembrar daquele sonho horrível que eu tive, mas preferia acreditar que fora apenas um pesadelo e não um aviso. Mas e se tivesse acontecido algo com Mathew? Bom, eu não devia me importar e nem me preocupar, afinal, dizem que notícias ruins chegam rápido, Mathew deve estar bem. Se tivesse acontecido algo sério, com certeza já saberíamos. Mas e se ele estivesse desaparecido? Se o tivessem sequestrado? E se estivesse morto e enterrado em um terreno baldio? Bom, eu deveria tentar esquecer isso, pois estava com Allan e conversávamos sobre nossa primeira aula do mês de agosto e, com certeza, Mathew iria estar conosco.

Falamos sobre Allan vir morar comigo e meus pais, mas ele negou, infelizmente prefere morar sozinho. Disse que talvez se mudaria de cidade no fim do ano e que voltaria a morar com seu pai, o que me deixou triste, pois não queria me afastar dos meus melhores amigos. Mas no final de tudo, eu entendo a sua decisão, só estava querendo demonstrar ser um bom amigo, porém, eu não acharia ruim ter um irmão na mesma casa (risos).

Naquela tarde conversamos muito, Allan parecia estar bem e estava agindo normal. Isso é bm. Minha mãe preparou lasanha para nós e admito que tinha gosto de felicidade. Sei que para você felicidade é apenas uma palavra, um substantivo, algo abstrato, sem tato, sem cheiro e sem gosto, mas se provasse as comidas feitas por minha mãe, com certeza mudaria de opinião. Acho que Allan e eu nunca tínhamos comido tanto em nossas vidas como naquele domingo. Depois de comer [mencionar o que tanto comeram], fomos jogar videogame, como de hábito.

— Cara, as comidas que sua mãe faz são tão boas quanto as suas notas. - Disse Allan enquanto dava uma leve batida em meu ombro.

— Não tão melhor que as suas. - Eu ri.

— Cuidado!!!! Vão te matar!

Click! Click! Click!

— SEU IDIOTA! Te mataram feito uma criança! - Allan sorriu e me deu um soco de leve nas minhas costas.

— Não tive culpa, meu amigo nerd me distraiu. – Respondi enquanto devolvia o soco.
— Você é um idiota. Deixou que te matassem com uma faca. - Allan riu ainda mais.

Senti meu celular vibrando em cima da estante de livros, pensei em ignorar pois o jogo estava emocionante, mas poderia ser Mathew avisando alguma coisa.  Pausei o nosso jogo peguei meu celular. Realmente era uma mensagem de Mathew que dizia que tinha ocorrido um imprevisto e que sentia muito por não estar conosco, pois estava viajando com seus pais e não tinha encontrado sinal algum de rede, mas que no dia seguinte nos encontraríamos na escola. 

Allan também leu a mensagem e ficou estranho de repente. Devolveu-me o celular, desligou a TV, soltou o controle, colocando-o lentamente no chão e ficou olhando para o nada, como se estivesse pensando em algo. Talvez estava pensando em tia Marta, ou em Mathew, mas preferi não perguntar o que se passava com Allan. Acho que se fosse algo sério, ele me diria, afinal, somos melhores amigos. 

— Rick! Eu não sei como vou contar a Mathew que mamãe faleceu. - Disse Allan enquanto se levantava.

— Vai ficar tudo bem, tenho certeza de que ele vai entender. - Disse enquanto me levantava e lhe dava um breve abraço.

— Espero que sim... amanhã lhe direi na saída do colégio. 

— Relaxa. Mathew sempre foi um cara compreensível. Pelo menos sempre o conheci assim. Ele vai entender. – Tentei tranquilizar a situação enquanto seguia Allan saindo do meu quarto.

Fomos para fora de casa e ficamos sentados na calçada, eu acho que estava apenas tentando reconfortar Allan que não parava de pensar nessa situação. Ficamos um bom tempo sentados na calçada, recolhendo pedrinhas e jogando no asfalto enquanto o sr. Patrick nos espionava da porta de sua casa. Depois de algum tempo, Allan se levantou e ficou encarando o chão enquanto mexia o pé direito para um lado e para o outro. Ele fez um gesto sinalizando que iria entrar em minha casa, despediu-se de meus pais, tentou dar tchau para minha irmã, mas foi ignorado como sempre... depois voltou e se despediu de mim com um aperto de mão tímido. Seguiu caminhando sozinho nas ruas desertas daquela cidade com as mãos no bolso. 

Naquele momento eu me lembrei de todas as vezes que tia Marta ia buscá-lo e de todas as ligações que ela fazia quando Allan dormia em minha casa. Eu sabia que aquilo jamais voltaria a acontecer, o que me deixou muito triste. Isso me fez pensar em correr até Allan e pedir para que ele dormisse em minha casa, no entanto, sabendo que ele negaria, eu preferi não fazê-lo. Naquele dia eu me senti feliz e triste ao mesmo tempo. Feliz por ter visto Allan e porque o veria no dia seguinte na escola, mas triste por diversas coisas que aconteciam. Sempre foi assim e sempre será assim. 

Entrei em minha casa e fui direto para a minha órbita, para o meu lugar preferido do meu sistema chamado casa, o meu quarto. Desliguei a TV que ainda permanecia ligada e fui revisar o meu celular. Não havia nenhuma notificação, nenhuma mensagem de Mathew, nenhum sinal. Em seguida, abri a gaveta da minha mesinha e tirei os meus fones de ouvido que estavam super enrolados. Ter de desenrolá-los mais parecia um desafio. Depois de ter feito isto, conectei-os ao meu telefone e me deitei na cama. Estava ouvindo uma música que gosto muito. Chama-se “rain”, da banda Breaking Benjamin. Mergulhei na letra que se repetiu por vários minutos até apagar de vez.


[...]


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Quando Tudo Mudou" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.