Aconteceu enquanto te Odiava escrita por BeaFonseca


Capítulo 4
Capítulo 04 - Uma carona indesejada.




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— (...) ex-namorado? – Felicity não parecia acreditar.

— Isso é embaraçoso. – Kara mordeu os lábios, empática.

— Por favor, não contem a ninguém sobre isso. – Me arrependi amargamente de repente.

         Eu sabia que podia confiar na Kara, mas a Felicity conseguia dar com as línguas nos dentes mesmo sem querer. Era um dom, e eu já deveria saber. O motivo pelo qual contei para elas, era porque foi impossível disfarçar a cara de desespero e inventar uma mentira qualquer sobre isso. Eu nem mesmo conseguia pensar em uma.

— Que seu ex-namorado é o seu chefe? – Falicity repetiu, processando a informação. Revirei os olhos.

— Ele não é meu chefe por muito tempo. Eu logo voltarei para o T.I. – Afirmei, confiante.

— E como espera lidar com ele até lá? – Kara questionou, preocupada.

— Eu vou conversar com ele em particular e pedir para que seja discreto. – Novamente, mostrei uma confiança que eu não tinha.

— Ele não parece ser uma pessoa muito discreta... – Felicity mordeu os lábios, encarando a entrada da cozinha de repente.

         Era possível enxergar Ray abraçando de forma muito calorosa Oliver Queen, que por sua vez, não se sentia nem um pouco confortável com a atitude. Ali estava bem óbvio que eu teria sérios problemas nos próximos três meses ou mais. Quanto tempo mais levaria para alguém descobrir que já fomos um casal em algum momento nessa vida?

         Depois de uma certa calmaria, pude finalmente voltar para a minha sala, mesmo que no processo eu parecesse uma devedora de agiota.

— Srta. Bennet! – Barry surgiu no meu espaço de repente. Sua cara não era das melhores. – Onde esteve?

— E-eu... – Não havia justificativa boa o suficiente para encobrir o fato de que eu havia fugido, literalmente, para a cozinha. – Kara precisou de uma ajuda! – Soltei de repente me lembrando da loira que estava atarefada até o último fio de cabelo. E isso não era mentira.

         Desconfiado, Barry cruzou os braços, pensativo. Em seguida, assentiu, colocando um sínico sorriso no rosto.

— Pensei que estivesse fugindo do seu Ex. – Soltou.

         Senti meus olhos arderem tamanho o esforço que saltavam da órbita. Eu realmente queria desmentir aquela informação, mas eu se quer, conseguia pronunciar um “a”. Fui pega no pulo do gato, e eu não tinha certeza se Barry estava jogando verde para colher maduro, porque ele quase nunca brincava. E se estivesse, certamente agora tinha a certeza, mesmo sem querer.

         Me recompondo, tentei explicar, levando mais tempo do que esperado, e por incrível que pareça, Barry em nenhum momento tentou me impedir de falar. Ele parecia, estranhamente, interessado no assunto. Um pouco debochado, eu diria.

— Eu estava fugindo admito, mas não por medo dele, mas por saber que é uma situação embaraçosa. – Tentei argumentar.

— Ele deixou bem claro o contrário. – Barry completou, ainda me encarando.

— Acho que deu para perceber que ele não bate muito bem da cabeça. – Disparei, percebendo que estava xingando o meu chefe. Barry ainda pareceu inexpressível.

E não estou surpreso por saber que namorou alguém assim.— Barry soltou, mesmo sem querer. Pigarreando quando viu minha expressão de questionamento.

— Enfim... – O moreno disse de repente. – Palmer agora é meu chefe direto, e você ainda é a minha secretária, então espero que consiga lidar com todo esse... embaraço, seja lá o que ache, e não saia desta sala novamente sem informar a mim. – Exigiu. Quis retrucar, mas eu sabia que desta vez eu havia feito algo que não deveria.

— Me desculpe. – Pedi, realmente arrependida. Querendo ou não, a única pessoa de fato que tornou tudo isso um embaraço, havia sido eu.

         Barry parecia surpreso com o meu pedido de desculpa, antes de voltar para a sala.

         Percebendo o quanto eu estava sendo infantil, apenas voltei para a minha mesa, concentrada em amenizar a péssima imagem deixada a alguns minutos atrás. Se eu tinha que trabalhar no mesmo teto que Ray Palmer, eu tinha que, pelo menos, manter o meu nível de profissionalismo intacto. Ray Palmer não vai me desestabilizar. Já baste um Allen para isso.

         Suspirei.

***

         No fim do expediente, fui liberada para largar, e não hesitei em correr o mais rápido que pude até o elevador, dando graças a Deus por não encontrar Ray o resto do dia.

         Quando me dei conta que não tinha vindo de carro hoje, lamentei ter que pegar o elevador novamente até o primeiro andar para sair do estacionamento. No processo, eu realmente me arrependi de ter cometido esse erro quando Ray surgiu saindo do elevador.

— Emma! – Eu não tinha onde me esconder, e nem poderia ignorá-lo.

— O-oi... – Porque justo hoje eu estava com problema de dicção?

— Eu estava muito ansioso para falar com você. – Se aproximou o suficiente para que eu pudesse dar, pelo menos dois passos para trás. Ele tinha pernas largas demais.

— Por fala EM falar... – Lembrei-me que precisava conversar com ele sobre ser mais discreto. – O que deu em você para sair dizendo por aí que sou sua ex-namorada?! – Gritei. Eu não estava sendo discreta também, pelo visto.

— Ah isso. – Ele sorria abertamente, quase como se não fosse problema nenhum. Sínico. – Me perguntaram qual foi o problema e eu só respondi. Sabe que gosto de ser sincero.

— Mas não precisava ser TÃO sincero assim. – Resmunguei. Ele ergueu a sobrancelha.

— Está chateada por eu disse que é minha ex? – Riu. – Se quiser, pode ser minha namorada de novo e o problema ta resolvido.

— O quê?! – Pensei não ter ouvido direito. Ray, definitivamente, não era uma pessoa em seu juízo perfeito.

— Eu estou sendo sincero. Sabe também que não gosto de enrolar. – Gesticulou com as mãos. -  Eu voltei pelo emprego e por você, mas não pensei que teria os dois no mesmo lugar, o que facilita a minha vida em não ter que sair por toda a cidade a sua procura.

— Não acredito que ia fazer isso... – Duvidei.

— Eu não minto. – Confessou, e eu sabia que ele falava de fato a verdade. Era sua característica. – Além disso, eu realmente estou disposto a reconquistar seu coração.

         Ray Palmer estava começando a me assustar, e eu sentia que não teria escapatória.

— Estava indo para casa? Posso te dar uma carona, deixe seu carro aqui e venha comigo. – Insistiu.

— Não precisa! – Tentei parecer chateada com ele, o que não era uma mentira. Eu realmente não sabia como dizer a Ray Palmer que eu não queria ele de volto, mas isso era, de certa forma, uma mentira.

         Na verdade, em outra época, eu, com toda certeza, voltaria com ele sem hesitar, mas depois de tudo o que aconteceu, não acho que seja saudável para mim. Ray Palmer era imprevisível e eu não queria ter meu coração já tão machucado, com novas cicatrizes. Voltar com ele não era uma opção, pelo menos não até eu ter certeza de suas verdadeiras intenções.

— Vamos lá, Emma, não precisa tornar isso difícil. – Encarava-me com expectativa. – É só uma carona, prometo que não passarei disso.

         Por um segundo eu pensei em ceder, mas precisava lembrar de ter mais força de vontade, e como se minhas preces foram ouvidas, a porta do elevador abriu, revelando Barry que parecia curioso com a gente parado bem ali.

— Desculpa, Palmer, o Barry me prometeu uma carona! – Foi a única coisa que pensei para escapar daquela saia justa.

         Os dois homens se encararam como seu eu tivesse revelado o maior segredo do mundo. E sem dar tempo para que Barry negasse, puxei o moreno praticamente o arrastando para bem longe de Ray que nada disse.

         Quando estávamos longe o suficiente, senti que Barry havia puxado o seu braço de volta para si, resmungando coisas inaudíveis.

— O que pensa que está fazendo?! – Se exaltou, impaciente.

Shiuu!— Fiz sinal de silêncio, ao mesmo tempo que ele me encarava debochado.

— Não me envolva nos seus problemas, Bennet. – Ralhou.

— Me desculpa, okay?! – O encarei, irritada. Será possível que Barry Allen não tinha um pingo de empatia?— Eu estava com dificuldade para escapar de Palmer, e você apareceu me dando a oportunidade que precisava. – Apontei para ele - Prometo que não vai se repetir.

— Ótimo! – Disse, nem um pouco interessado no que acabei de falar.

         Eu olhava para os lados, percebendo que Ray ainda estava próximo ao elevador, o que dificultava a minha saída, e eu não estava disposta a subir a rampa do estacionamento, porque desconfiava que chegaria no topo mortinha, pronta para ser enterrada.

Não sabia quanto tempo mais eu teria que esperar, porque ele não parecia disposto a sair dali nem tão cedo.

         Bufei, inconformada.

— O que ainda está fazendo aí? – Barry perguntou, apontando para frente do seu carro, onde eu atrapalhava a sua passagem.

         “Se eu lhe pedisse uma carona até a parada de ônibus, será que ele negaria?”— Pensei.

         Ele não seria tão mal assim, seria?

— Pode me dar uma carona até a parada mais próxima? – Pedi, na maior cara de pau. Barry bufou.

— É claro que não. – Negou, sem nem pensar duas vezes.

— Eu prometo que não vou importunar mais. – Juntei as mãos em uma súplica. – Ray ainda está perto do elevador, e eu não posso ir até lá sabendo que inventei uma mentira. – Suspirei, frustrada.

— E onde está o seu carro? – Questionou o moreno.

— Eu vim de ônibus hoje. – Respondi.

— Então porque veio parar aqui? – Questionou mais uma vez, e senti vontade de bater em Barry Allen.

— Eu peguei o elevador e desci aqui sem querer.... – Bati o pé. – Vai me ajudar ou não? Fica aí fazendo pergunta sem sentido!

— E porque está irritada? É você que está precisando de ajuda! – Disparou ele.

— Você me irrita! – Bufei.

— Então suba a rampa a pé. – Abriu a porta do carro com certa grosseria.

— Quer saber, deixa para lá! – Joguei os braços para o alto. – Eu fico aqui a noite toda se precisar, até arrumar um modo de sair sem ser vista por Palmer, porque caso contrário, ele vai querer me arrastar com ele no carro, sabe-se lá pra onde...— Dramatizei.

E.n.t.r.a.l.o.g.o!— Sibilou, impaciente.

         Não fazia ideia de que fazer drama era um bom método para dobrar Barry Allen. Eu certamente me lembraria disso. E foi com um sorriso vitorioso no rosto, que fiz questão de abrir lentamente a porta e me sentar como uma verdadeira rainha.

         Mal dando tempo para pôr o cinto de segurança, Barry arrancou com o carro numa velocidade absurdamente perigosa, e pensei que, provavelmente, ele estava disposto a me matar por isso.

         “Eu preferia ter subido a bendita rampa a pé!”— Pensei.


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