O sinal para intervalo soou, fazendo com que os alunos se levantassem dos seus lugares aos poucos e se dirigissem para a saída da sala de aula.

Antes que Marinette e seus amigos saíssem, o prédio da escola tremeu e todos voltaram para dentro assustados.

— O que foi isso? – a professora correu para tentar ver alguma coisa pela porta, enquanto Adrien e Marinette trocaram olhares desconfiados.

— Temos que sair daqui. – sussurrou para ele.

— Olhem! – Alya gritou apontando para as janelas do outro lado da sala. Os alunos correram para ver o que era e viram que Climatika estava atacando novamente. – Isso só pode ter sido coisa da Chloé, vi as duas conversando antes da aula. – os olhares se voltaram para a loira, que parecia surpresa com a acusação.

— Eu? Eu apenas disse que o vestido dela não era tão ridículo, depois da Lila ter rido dela por isso! – apontou e todos encararam a italiana.

— Precisamos ir. – Adrien falou baixo e segurou a mão de Marinette. A garota assentiu e os dois saíram discretamente enquanto a turma discutia.

O loiro conduziu a parceira até o banheiro feminino. Assim que adentraram o local, ficaram parados se olhando.

— Isso é...

— Esquisito. – Marinette completou. – Mas não temos tempo pra pensar nisso. Tikki, spots on!

— Como quiser, my lady! Plagg, claws out!

A joaninha tomou a iniciativa e saiu pela janela, sendo seguida pelo gato. Os dois subiram até o topo do prédio da escola, chamando a atenção da vilã akumatizada.

— Impressão minha, ou a temperatura subiu? E não é porque você está aqui. – Chat Noir piscou para a garota ao seu lado, que apenas revirou os olhos.

— Talvez seja o vulcão que a Climatika criou bem no meio da rua. – disse e saltou para o lado, acompanhada do parceiro, depois que a vilã tinha jogado um raio na direção dos heróis. – Mas é só um palpite. – Chat Noir suspirou.

— Seu senso de humor é admirável, Bugaboo!

***

Ladybug entrou pela janela no banheiro feminino da escola e Chat Noir pela janela do banheiro masculino. Ambos desfizeram as transformações e saíram do local depois de alimentar seus kwamis.

Marinette e Adrien trocaram olhares assim que se viram no corredor, pois os banheiros ficavam um do lado do outro. Para os dois, ainda era uma situação muito esquisita, o que deixava tudo pior.

A garota se repreendeu mentalmente por ter se distraído na luta quando Chat Noir tinha sido atingido. Obviamente ela se preocupava com coisas do tipo antes de saber a identidade do parceiro, mas era ainda mais preocupante sabendo que Adrien era seu parceiro.

Normalmente pessoas que vivem em casa por muito tempo, tendem a ser mais “frágeis” ao enfrentar os problemas fora de casa. E Marinette meio que via o loiro dessa forma. Na verdade, ela sabia que ele era incrível em muitos aspectos, no entanto, sempre imaginou ele como alguém que precisasse de proteção.

Não era muito diferente do Adrien pensava dela. Ele via Marinette como uma menina calma e meiga. Foi estranho ver ela acertando um chute bem no meio do rosto de Climatika na luta de hoje. Se preocupava com ela a cada golpe desferido pela vilã. Mas no fundo sabia que sua lady daria conta. Ladybug sempre dava conta.

— Se escondendo no banheiro? Bem a sua cara! – Lila passou por Marinette e deu uma risada, indo na direção de Adrien – Aonde você estava? Fiquei preocupada! – disse a italiana segurando o braço do garoto loiro.

Marinette revirou os olhos e balançou a cabeça em negação, logo depois indo à procura de Aurora, que havia acabado de ser akumatizada pela segunda vez.

Havia um círculo de alunos ao redor dela e Marinette foi passando por eles até chegar no centro.

— Ela precisa de espaço! – disse a azulada, fazendo com que os alunos se afastassem um pouco – Você está bem?

— Estou sim, é só... Esquisito!

— Eu imagino. – Marinette colocou a mão no ombro de Aurora e lançou um sorriso reconfortante. Nunca tinha sido akumatizada, mas imaginava que ter alguém em sua cabeça não fosse uma sensação muito boa. – Seu vestido é incrível, a propósito!

— Obrigada Marinette! – Aurora sorriu e levantou, em seguida, foi na direção da sua sala de aula acompanhada por uma das professoras.

Os alunos que formavam o círculo se dispersaram e seguiram para as salas.

— Achei que estava com a sua admiradora. – Marinette disse quando viu Adrien chegar ao seu lado.

— Por quê? Ciúmes?

— Na verdade, um pouco de pena. Lila não é uma boa pessoa.

— Não se preocupe, sei disso!

— Vamos logo, a aula já vai começar! – a professora segurou o ombro dos dois alunos e os conduziu para a sala de aula antes que pudessem continuar a conversa.

***

Marinette suspirou pesadamente assim que viu que chovia do lado de fora do prédio, decepcionada mentalmente com a sua falta de sorte.

— Justo na hora que eu ia sair! – disse para si mesma.

— E justo do dia do retorno da Climatika. Irônico, não? – Adrien surgiu ao lado dela.

— É. – a garota ficou em silêncio, pois rapidamente lembrou da primeira vez que considerou Adrien como seu amigo, que também poderia ser considerada a vez que se apaixonou por ele. O dia em que chovia na hora da saída, assim como agora, e o garoto havia emprestado seu guarda-chuva para ela, esclarecendo o mal-entendido de ter colado chiclete na sua cadeira e admitindo que só queria fazer amigos. Marinette não pode evitar de dar um sorrisinho ao lembrar da cena.

— Sabe, eu pensei bastante sobre o que você disse mais cedo. – encarou o loiro com atenção – E eu preciso discordar. Hawk Moth está ficando cada vez mais forte e acho que está mais do que na hora da gente se unir.

— Adrien...

— Eu sei o que você vai dizer. – virou de frente pra ela – Sobre as perguntas que vão fazer e as pessoas incomodando. Mas se podemos enfrentar vilões com poderes perigosos, por que não enfrentaríamos isso?

— E-Eu não sei. Isso tudo foi inesperado e é difícil de lidar. Eu não tenho o controle da situação e sinto que não sei o que fazer. – típico de Ladybug, sempre que a joaninha perdia o controle da situação, ficava frustrada e Adrien sabia disso.

— Entendi. Mas podemos ir aos poucos, já que ainda é estranho. Quero dizer, pra mim é. Imagino que seja pra você também. – Marinette assentiu.

— Podemos ir aos poucos. – sorriram um para o outro. Em seguida Adrien balançou o guarda-chuva que estava na sua mão direita.

— Lembra dele?

— Sim, me ajudou muito no caminho longo da escola até a minha casa ali na esquina.

— Sua ironia cortou o meu coração como uma faca! – Adrien colocou a mão sobre o coração, fazendo uma expressão falsa de ofensa.

— Desculpe! – Marinette riu – Me ajudou de verdade.

— Que ótimo, pois estava prestes a desistir de levar você em casa! – o loiro abriu o guarda-chuva e encarou a azulada com um sorriso meigo.

— Não precisa!

— Qual é? Vem! – fez sinal com a cabeça, então Marinette foi para baixo do guarda-chuva e saiu em direção à sua casa ao lado do garoto.

— E o seu motorista? – Adrien fez um sinal para Gorila esperar, então o motorista assentiu e permaneceu parado no volante.

A Marinette de um tempo atrás estaria surtando por estar sendo levada em casa de guarda-chuva por ninguém menos que Adrien. Nesses últimos diálogos que teve com o garoto sem máscara, mas já sabendo da sua identidade, imaginou por um breve momento que nunca falaria como fala com ele se fosse há alguns dias atrás.

— Fico feliz que chegamos em um consenso. Somos uma dupla, sempre precisamos chegar à um. – disse o loiro assim que pararam, esperando o sinal para atravessarem a rua.

— Concordo. E desculpa por ser meio chata com essa situação. É que você sabe que eu priorizo Paris acima de tudo e eu fiquei com medo que as coisas mudassem pra pior. – admitiu, sentindo suas bochechas esquentarem um pouco.

— Sei disso, Bugaboo! Entendo perfeitamente. – Marinette agora sentiu-se corar de vez por ter sido chamada pelo apelido que vivia dizendo para Chat Noir não usar.

Até que era fofo!

O sinal para os pedestres ficou verde, então os dois atravessaram e Adrien levou Marinette até a porta da padaria.

— Obrigada por ter me trazido em casa! – agradeceu olhando para os pés, se sentindo um pouco envergonhada.

— Não há de quê! Se precisar, é só me ligar. – Adrien depositou um beijo um pouco demorado no rosto de Marinette, deu uma piscada para a garota e saiu em direção ao seu carro.

A azulada tratou de entrar logo e assim que fechou a porta colocou a mão sobre a bochecha, onde o loiro havia beijado.

— Que bom que você e o Adrien estão se dando bem! – Tikki surgiu de dentro da bolsa.

— É, ele é uma boa pessoa afinal, não tem sentido ser tão dura. E além do mais, eu continuo apaixonada por ele, só que agora é diferente.

— Diferente como? – a kwami piscou os grandes olhinhos, atenta.

— Acho que seria complicado demais se ficássemos juntos. Somos ótimos parceiros, mas um casal? Não sei se seria uma boa ideia!  

— Você não vai saber se não tentar! – Marinette riu.

— Tem razão, Tikki. Mas por enquanto é melhor assim.

***

— Tikki, me passa mais linha! – a kwami largou o biscoito que comia e foi ajudar Marinette, que estava concentrada confeccionando uma blusa – Obrigada!

— Não há de quê!

— Ai, eu espero que não apareça nenhum akuma hoje! Além de estar chovendo, quero terminar essa blusa logo!

— Você sabe como é o Hawk Moth, é bom não o subestimar! – Tikki alertou.

— É, eu sei. Mas espero que dessa vez ele colabore. – as duas riram e logo o celular de Marinette tocou, indicando que estava recebendo uma ligação. – Pode ver pra mim quem é? – a pequena criatura assentiu e foi até o aparelho.

— É o Adrien.

— O Adrien? Será que aconteceu algo? – Marinette levantou e foi até o celular – Acho que desejei cedo demais que não houvesse nenhum akuma. – lamentou – Alô, o que aconteceu?

— Bom, aconteceu uma vontade de ouvir a sua voz.— o loiro riu e Marinette corou, fazendo Tikki rir também.

— Achei que tinha visto um akuma.

— Até agora não. E espero que a gente não precise sair. Gosto de chuva, mas lutar nela não é muito legal.

— Serei obrigada a concordar com você. – Marinette encarou a chuva pela janela e foi até ela, sentando nas almofadas que tinham em frente ao vidro.

— Então, o que você estava fazendo? Interrompi algo?

— Estava costurando. Nada demais.

— Ah sim! Eu estava de bobeira, meu pai me deu um tempo das obrigações, o que é algo meio estranho vindo dele, mas eu não reclamo.

— Sua rotina costuma ser bem puxada, não é?

— Nem me fale!— o loiro suspirou – Aula de esgrima, chinês, piano, escola. Além das sessões de fotos e a minha vida como super-herói. Mas sobre a escola não posso reclamar, eu adoro ir.

— Em vários momentos eu imaginava como seria a vida do Chat Noir. – admitiu – Pensei que ele fosse um garoto que ia pra escola por obrigação mesmo, o que é totalmente o oposto do seu caso.

— Sério que imaginou isso?— Adrien ficou contente por saber que ela pensava sobre a vida de Chat Noir.

— Aham. Também imaginei que fosse viciado em videogames. Isso eu acertei. – ele riu.

— Já eu, imaginava que a Ladybug fosse bem séria, do tipo que tem poucos amigos por se sentir à vontade com menos pessoas ao seu redor. Mas também imaginava que era gentil, determinada e odiasse injustiças.

— É quase isso.

— Você não é muito séria. Pra falar a verdade é bem engraçada.

— A maioria das vezes que eu falava com você, eu não tinha a intenção de ser engraçada. Apenas ficava nervosa e isso acabava sendo engraçado.

— Por que você ficava nervosa falando comigo? — Marinette suspirou e ficou em silêncio por alguns segundos, pensando no que falaria em seguida. Encarou a chuva pela janela e respondeu:

— Lembra do menino que eu dizia que era apaixonada? Então, era você.