Marinette não sabia de onde tinha tirado a coragem para dizer isso a Adrien, mas sentiu que um peso enorme havia saído das suas costas. Ela ficou esperando pela reação do loiro, mas ele estava em silêncio por quase um minuto.

— Adrien? – chamou preocupada.

— Desculpe, tinha ido abrir a janela.

— Mas está chovendo!

— Eu sei, é que eu não quis gritar dentro de casa. Meu pai me daria uma bronca.

— Gritar? – questionou sem entender o rumo da conversa.

— É. Você tem noção da bomba que jogou em cima de mim agora, né? Como eu não gritaria?— Marinette sentiu suas bochechas esquentarem. Não imaginou uma reação assim dele.

— Bem, eu não pensei que isso fizesse você abrir a janela pra poder gritar. – ouviu a risada do garoto.

— Pensou errado, my lady. Você sabe que eu gosto de você também, por que nós não... Sabe, tentamos algo? – era dessa pergunta que Marinette tinha medo. Como explicaria para Adrien que seria melhor que não tentassem nada, pelo menos por enquanto? A última coisa que queria era ferir seus sentimentos, então precisaria falar com cuidado. – Marinette? — chamou, pois dessa vez ela tinha ficado em um silêncio preocupante.

— Desculpe, eu estava pensando. – e reunindo coragem para falar o que pensava – Eu não acho que seja uma boa ideia. Digo, nós nos apaixonamos por uma parte um do outro. Não seria melhor nos conhecermos por inteiro antes? – era uma verdade, pois a maneira pela qual eles se apaixonaram um pelo outro foi um tanto quanto peculiar. Marinette sabia que Ladybug fazia parte de si, mas não era ela por inteiro. Imaginava que Adrien passava pela mesma coisa.

Na visão da garota, era injusto com Chat Noir, assim como era injusto com Marinette. Por isso as coisas precisavam caminhar devagar.

— Entendi o que você quis dizer. Bom, se você quer assim, assim será. Tudo por você.— Marinette ficou contente em ouvir isso, mas se questionava se Adrien tinha entendido realmente o que ela quis dizer, ou apenas estava fazendo isso porque imaginava que faria com que ficassem juntos num futuro próximo.

Embora ficassem pensando nisso, decidiu não alongar mais a discussão.

— Obrigada por isso. Você é importante pra mim, tanto como Chat Noir, quanto como Adrien.

— Nem preciso dizer que sinto o mesmo. — a garota sorriu com o comentário. – Preciso desligar agora, já está acabando o meu tempo livre.

— Tudo bem.

— Nos vemos à noite para a patrulha? Ou acha melhor a gente suspender os planos por causa da chuva?

— Vamos manter, talvez pare de chover. Caso contrário, deixamos para outro dia. O que acha?

— Acho ótimo! Até mais, Bugaboo!

— Até, gatinho! – Marinette desligou o telefone e encarou o aparelho em suas mãos com um sorriso.

— Pelo visto a sua conversa com o Adrien foi muito boa! – Tikki comentou risonha, fazendo a garota corar.

— Nós só... Resolvemos algumas coisas.

— Fico feliz por isso! – as duas trocaram sorrisos.

— Obrigada Tikki!

***

— Você tem certeza que está bem com isso?

— Estou, Plagg. – Adrien respondeu enquanto procurava seus livros de chinês, logo seu professor estaria aqui para começarem a aula. – Sou apaixonado pela Marinette e se eu ficasse forçando, talvez só afastasse ela. – encarou o kwami, que devorava um camembert – Além do mais, entendi o que ela quis dizer e as coisas são um pouco esquisitas pra mim também, por isso concordei com ela.

— Se você diz. – Plagg deu de ombros. – Agora, por que não diz que está doente e vamos jogar videogame?

— Ficar apertando os botões do controle desesperadamente, não é exatamente jogar videogame. – Adrien riu do kwami, lembrando de todas as vezes que ele fazia isso enquanto jogavam – E tem mais, eu não posso ficar faltando aos meus compromissos. Você sabe como meu pai é, a última coisa que eu quero é irritá-lo.

— Você que sabe. Então vou ficar escondido com o meu amor.

— Deixa eu adivinhar, seu amor é o queijo?

— Exatamente. O que mais seria? – o loiro riu e colocou os livros sobre a sua mesa.

— Você não tem jeito mesmo!

***

— A Rena Rouge com certeza ganharia uma briga contra a Queen Bee!

— Você só está dizendo isso, porque não gosta da Chloé. – Nino provocou a namorada, que cruzou os braços e o encarou com uma expressão zangada.

— Não é verdade!

— Mesmo que fosse, elas são heroínas. Não deveriam brigar. – Marinette lembrou dando risada do assunto discutido com tanta seriedade pelos seus amigos.

— Tem razão. – Adrien concordou – Além do mais, claramente o Chat Noir ganharia das duas. – a azulada encarou o garoto ao seu lado, que possuía a pose convencida do seu alter ego.

— E a Ladybug ganharia dele. – disse com um sorriso, fazendo Adrien rir.

— Vocês estão esquecendo do melhor herói, o Carapace. – Nino comentou – O escudo dele é maneiro!

Adrien e Marinette estavam se divertindo muito com a conversa, pois apenas os dois sabiam as identidades secretas de todos os heróis, e era engraçado ver Alya e Nino falando de si mesmos.

— A Rena Rouge continua sendo minha favorita!

— Achei que sua heroína favorita era a Ladybug. – Marinette provocou, deixando Alya desconsertada.

— C-Claro que é. Mas eu quis dizer dos novos, sabe? Tem diferença.

— Tem? – Nino perguntou.

— É claro que tem! – a morena respondeu rápido e Marinette segurou o riso.

Alya e Nino começaram a discutir novamente por causa do assunto, então Adrien e Marinette aproveitaram para conversar entre si.

— É uma pena que não conseguimos fazer a patrulha ontem! – o loiro lamentou.

— Sim, mas pelo visto estava tudo tranquilo. E por enquanto ainda está.

— O que é bem estranho, mas não vamos reclamar. – eles riram, atraindo a atenção do casal em sua frente.

— Do que estão rindo? – Alya questionou com uma expressão sugestiva.

— De vocês, do que mais seria? – Marinette agradeceu mentalmente por Adrien ter arrumado uma boa desculpa.

— Não sei, pois estamos falando de uma coisa bem séria aqui. – brincou.

— Basicamente, o Carapace é o melhor! – Nino disse, iniciando outra discussão com muito mais risadas entre os amigos.

***

Ladybug corria por cima dos prédios, lançando seu ioiô nas estruturas e impulsionando o seu corpo para saltar e se locomover pelos telhados.

A heroína parou com os joelhos flexionados e olhou para os lados, à procura do seu parceiro, pois tinham combinado de se encontrar no topo de um prédio específico – o que ela estava agora.

— Adivinha quem é? – sentiu seus olhos sendo cobertos e soltou uma risada.

— Poucas pessoas conseguiriam chegar aqui tão rápido. Então eu vou chutar Char Noir, por que se fosse um akumatizado, provavelmente já teria me chutado lá pra baixo. – o garoto riu também.

— Acertou. – tirou as mãos dos olhos da parceira e a virou para si. Em seguida se inclinou e beijou a mão da parceira, que dessa vez não a recolheu – Como vai? Faz tempo que não nos vemos. – ironizou.

— Vou bem e você?

— Melhor agora. – piscou.

— Achei que não faria mais esse tipo de coisa depois das nossas conversas.

— Faz parte de mim, eu nem controlo. – os dois riram. – Viu alguma coisa enquanto vinha pra cá? Porque pra mim, aparentemente estava tudo calmo e sem akumas.

— Também não vi nada. Mas vamos ficar de olho, sabe como Hawk Moth pode nos surpreender.

— Tem razão. Prefere que a gente vá separados ou juntos?

— Não faz tanta diferença. Podemos ir juntos, assim colocamos a conversa em dia, já que como você disse, faz tempo que não nos vimos. – entrou na brincadeira.

— Concordo. – abriu espaço para Ladybug – Damas primeiro!

— Obrigada, gatinho! – a garota passou pelo gato e bateu de leve no sininho que fazia parte do seu traje.

Ladybug lançou seu ioiô no prédio da frente e foi puxada logo depois. Então Chat Noir girou o bastão nas mãos e o esticou, dando impulso para que alcançasse sua parceira.

Durante aquela tarde, os dois heróis impediram três assaltos, uma fuga e ainda ajudaram uma criança que havia se perdido da mãe. Entretanto, nada de akumas.

— Será que Hawk Moth foi tirar férias? – o herói deitou seu corpo para trás e escorou a cabeça sobre os braços. Ele e Ladybug haviam parado para descansar um pouco bem no topo da Torre Eiffel, onde tinham uma boa vista da cidade para ficar de olho.

— Não imagino um vilão como ele tirando férias. Mas quem sabe?

— Talvez ele tenha desistido do lado negro da força.

— Ou talvez ele esteja planejando algo. – Ladybug colocou a mão sobre o queixo, pensativa. – De qualquer maneira o nosso trabalho não acabou enquanto o Miraculous dele e do pavão não estejam à salvo com o Mestre Fu.

— Você acha que depois que a gente recuperar os Miraculous, teremos que devolver os nossos? Digo, não vai ter mais akumas, mas... Eu gosto de ser o Chat Noir e gosto de poder ajudar as pessoas como um herói.

— Eu sinceramente não sei. – admitiu – Mas acredito que o Mestre queira guardar os Miraculous em segurança para evitar que caiam em mãos erradas novamente. Então é bem provável que a gente precise entregar os nossos. – Adrien ergueu o corpo, ficando sentado ao lado de Ladybug como estava antes.

— É uma pena! – o loiro lamentou – Eu sentiria muita falta disso! – olhou para o horizonte, fazendo com que Marinette fizesse o mesmo. A vista de onde os dois estavam, era incrível. No entanto, era impossível que alguém chegasse ali se não tivesse poderes especiais como eles. – Você não sentiria?

— Sentiria sim. Da mesma forma que não me vejo sem a Tikki.

— E eu sem o Plagg. Ele é bem rabugento e vive com fome, mas eu amo ele. – Marinette riu.

— É, amo a Tikki também. – os dois olharam novamente para o horizonte, sentindo a tranquilidade tomar conta dos seus corpos devido à leve brisa misturada com a vista privilegiada da cidade de Paris.

— Você já pensou na sua vida se não fosse a Ladybug?

— Por incrível que pareça, já. Eu imagino que não teria sido grande coisa. A Ladybug me fez uma pessoa melhor, sem contar dos grandes amigos e grandes aventuras que vivi. Como Marinette, não teria feito nem metade.

— Penso a mesma coisa sobre mim. Como Adrien, eu estaria trancado no meu quarto fazendo absolutamente nada. – Marinette colocou a mão sobre o ombro do loiro, atraindo a atenção dele para si.

— Imagino que nós não seríamos tão próximos se não fôssemos a Ladybug e o Chat Noir. Essa é uma das melhores coisas que o Miraculous me trouxe! – lançou um sorriso aconchegante para o parceiro.

Mesmo que tenha dito aquilo para fazer o garoto se sentir melhor, era a mais pura verdade. Se Marinette não fosse a Ladybug, não teria evoluído a sua coragem para falar com Adrien na escola, muito menos lutaria ao lado de Chat Noir quase todos os dias, criando uma conexão incrível com o herói. E bom, Adrien ficaria trancado em sua casa e apenas veria a azulada na escola. Mas já que ela não conseguiria falar quase nada com ele, o loiro não forçaria uma aproximação e talvez não tivessem se tornado amigos.

— Isso é, sem dúvidas, umas das melhores coisas que o Miraculous poderia me trazer! – concordou colocando sua mão sobre a mão da parceira que estava em seu ombro. – Fico muito feliz pelo Mestre Fu ter nos escolhido, não imagino alguém melhor para ser a minha parceira.

— Também não imagino ninguém melhor para ser o Chat Noir.

— Isso é porque não há. – disse convencido, fazendo Ladybug rir e recolher a sua mão.

— E lá se vai o momento fofo!