Phantom Reload escrita por Shoop


Capítulo 4
Lambendo as feridas




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/775816/chapter/4

A primeira coisa que Sam fez quando chegou a escola foi procurar por seus amigos. Era uma habito instintivo, ela não pode evitar. Geralmente ela e Danny se encontravam na frente da escola e esperavam Tucker, que costumava chegar tarde, ela tinha se esquecido disso quando saiu de casa em seu horário habitual.

Os alunos se agrupavam na frente da escola, olhando aquilo parecia que tudo que aconteceu a duas semanas não passava de um pesadelo distante. Ela poderia se esquecer de tudo se seus amigos estivessem aqui. De qualquer jeito, ela tinha que ir para a sala.

Dentro dos corredores as coisas estavam mais agitadas, tinha algumas marcas ainda estavam presente. Sam viu alguns armários destruídos e salas sem portas e ainda tinha ectoplasma sujando a parede. Parece que depois de tanta confusão causada por fantasmas as pessoas passaram a simplesmente a conviver com isso.

Enquanto seguia para seu armário Sam ouvia algumas das conversas de outros alunos. Como era de se esperar eles ainda falavam sobre a invasão de Pariah Dark. Falavam sobre onde se abrigaram, que foram atacados por soldados, que tiveram suas casas invadidas e falavam sobre Danny.

Muitos deles estavam no abrigo escolar, juntamente com alguns repórteres do jornal local, então não demorou muito para que a notícia sobre Danny se tornasse pública. A maioria das fofocas eram pura tolice. Eles falaram sobre como Danny tinha enfrentado o Rei fantasma com a mão nas costas, de que ele secretamente era um agente especial dos Homens de Branco, de que ele era um garoto problemático e obcecado com fantasmas. Algumas garotas até mesmo juravam de pé juntas que já tiveram um caso romântico com ele. Certo, esse último era especialmente irritante.

Ela decidiu apena ignorar e seguir seu caminho.

 Seu armário felizmente ainda estava intacto. Com algumas manchas de ectoplasma mas ainda inteiro. Dessa vez ela teve sorte, quando Cujo apareceu pela primeira vez na escola, seguindo o cheiro de Danny, o antigo armário dela tinha sido totalmente esmagado pelo cão fantasma. O que resultou nela ganhando um armário novo e totalmente longe de Danny e Tuck. Ela só guardou suas coisas e seguia seu caminho quando a uma garota alta se pôs em seu caminho.

Pauline não era o tipo de pessoa em que Sam costumava gastar seu tempo pensando. Ela era uma típica princesinha de escola de ensino médio. Líder de torcida, bonita e que achava que o mundo era seu reino. Bem estereotipada e superficial. Sam gostava de pensar que ela era seu completo oposto. Como Elric e Yyrkoon. Apesar disso não odiava a garota, pelo menos não mais. Ela se lembrava de quando ainda era uma aluna do primeiro ano e detestava Paulina com todo seu ser. Esse sentimento ficou para trás quando ela cresceu. Nos últimos dois anos ela Tucker e Danny estiveram muito ocupados com todo o negócio de caça fantasma para se preocupar com coisas tão triviais como rivalidades adolescentes. Olhando para trás ela podia ver que os três tinham crescido juntos como caçadores e como pessoas.

A garota de rosa jogou os cabelos por cima dos ombros. O gesto por si só já era o suficiente para atrair atenção de toda a população masculina no corredor e o fato de Pauline estar frente a frente com ela era o suficiente para prender atenção deles. Não demorou muito para todos no corredor voltarem suas atenções para elas (O que era ruim considerando que ela fez de tudo para passar despercebida pelos alunos naquele dia). Pela primeira vez na vida Sam torceu para que eles estivessem apenas interessados em uma “briga de gatas”, mas depois de tantos anos convivendo com Danny ela estava sempre esperando a Lei de Murphy agir.

As duas se encararam por alguns segundos. Pauline parecia ter perdido a capacidade de fala, ela tentou abrir a boca para falar algumas vezes mas sem sucesso. A garota gótica pensava que nada de bom sairia da boca dela.

Sam cruzou os braços e suspirou. Desse jeito as duas ficariam ali a manhã toda e o público que a rainha da escola atraia não parecia perder o interesse.

— Fala logo o que você quer. – A voz dela saiu em um tom entediado.

A garota latina pareceu voltar a recuperar a habilidade de falar depois disso.

— Eu acho que é bem obvio o que eu quero de você. – Pauline também cruzou os braços – Eu quero notícias de Danny, é claro. Eu mesmo o visitaria no hospital se eu pudesse, mas os únicos que tem permissão para visita-lo são os familiares. Tsc, eles deveriam se envergonhar de me impedir de ficar perto dele.

É claro que ela sabia disso. Sam tinha sido uma das primeiras que tentaram visita-lo no hospital. Ela e Tucker estavam em um abrigo próximo a lanchonete quando os exército de Pariah Dark começou a se dissolver em poças de ectoplasma. Eles sabiam que Danny provavelmente estava lutando contra o rei dos fantasmas. Mas quando chegaram ao local da luta a única coisa que encontraram foi Frost Bite, surpreendentemente ajudando humanos a limpar a bagunça, juntamente com alguns aliados da Zona fantasma. Eles disseram que os inimigos habituais de Danny tinham fugido para a Zona assim que tiveram a chance e que ele tinha sido levado por humanos ao hospital. Isso foi antes dos Homens de Branco aparecerem e isolarem o local. Quando eles chegaram ao hospital já não conseguiram falar com Danny. Quando Sam ligou a televisão no noticiário a únicas coisas que se falavam eram sobre a invasão e a identidade secreta de Danny.

— Então – Sam tentou não demostrar como o modo que ela falava a irritava – Você acha que eu pareço a Senhora Fenton? – A cara de Paulina era impagável.

— Não banque a engraçadinha. Você e aquele outro perdedor são os únicos amigos de Danny com quem eu posso falar – únicos amigos vivos, Sam pensou – Eu preferia mil vezes falar com o outro perdedor, mas ele não tem aparecido na escola desde a invasão.

É claro que ela tinha notícias de Danny, era o melhor amigo dela afinal, mas depois de tanta atenção indesejada que ele tem recebido ultimamente Sam achava que ele ia gostar de ter um pouco de privacidade. E ela não tinha o mínimo de vontade de sair divulgando o estado de saúde dele por aí, principalmente para Pauline.

— Eu não sei de nada. E mesmo se soubesse não falaria a você, se quer tanto assim saber sobre ele fale com um dos Fenton.

Sam tentou seguir seu caminho para à aula quando alguém a segurou pelo braço impedindo-a de seguir em frente. Ela olhou para Pauline que a olhava com um olhar intimidador.

— Eu ainda não terminei com você.

Para Tucker era bizarro como a escola parecia a mesma de sempre, tudo bem que já tinham se passado vários dias, mas ele achou que depois de tanto caos as coisas demorariam a entrar no eixo. Há apenas duas semanas ele e seus dois melhores amigos estavam lutando contra um exército de fantasmas esqueletos comandados por um monarca ancestral para defender sua cidade que fora abduzida para uma dimensão fantasmagórica paralela, fora dos padrões até para Amity Park. Ele olhou para os alunos que corriam para dentro da escola ou só ficavam lá fora conversando distraidamente, ele tinha subestimado a capacidade dos moradores de sobreviver a esquisitice.

A algumas semanas atrás ele estaria encontrando Sam e Danny e os três seguiriam para dentro conversando. Ele tinha medo de não poder mais viver esses momentos. Hoje ele iria sozinho para dentro, onde Sam provavelmente já estava.

Quando Tucker abriu a porta finalmente encontrou um pouco do caos que ele esperava. Mas não do jeito que ele imaginava, era uma desordem familiar. Do tipo que acontecia quando dois jogadores do time de basquete brigavam ou duas meninas puxavam o cabelo uma da outra (ele preferia esse segundo motivo).

Com exceção de algumas manchas de ectoplasma nas paredes o interior da escola parecia o mesmo. Tucker seguiu junto aos alunos curiosos, não por interesse na briga, ele só queria ir a seu armário e encontrar Sam depois.

Ele não contava que iria encontrar sua amiga no meio de um discussão com Pauline. A rainha da escola parecia bem nervosa, ela e Sam não se davam nada bem e todo mundo sabia disso. Tucker assistiu tudo se perguntando se deveria intervir ou se Sam iria repreende-lo e dizer que era uma mulher independente que sabe resolver seus próprios problemas. Ou algo assim.

Pauline aparentemente estava pressionando Sam em busca de informações sobre Danny, na verdade ele já esperava por algo assim. Phantom tinha uma legião de fangirls pela escola e nenhuma delas era mais louca que Pauline. Ela acreditava que Phantom era apaixonado por ela (O que era verdade a algum tempo atrás) mas isso agora estava no passado. Danny tinha crescido e deixado as paixões de adolescência para trás. Ele ficou observando e pensando mais uma vez se deveria interferir.

— Eu não tenho nada para falar com você – Sam puxou o braço das mãos de Pauline – Se você quer alimentar sua fantasia de namorada de super-herói vá procurar outra pessoa.

Sam continuou andando, os alunos abriam caminho para ela passar. Naquele momento ela pareceu uma pessoa bem madura, evitando brigas desse jeito nem parecia que era uma caçadora de fantasmas. Tucker pensou que as coisas iriam apenas acabar por alí e decidiu seguir sua amiga.

— Você só está com inveja Manson – Pauline praticamente gritou por entre os alunos – todo mundo sabe que Danny tem uma queda por mim. Você sente ciúmes não é mesmo? Ele não gosta de você como você gosta dele. Aposto que ele nem se deu ao trabalho de lhe contar o segredo dele.

Sam parou no meio do corredor de costas para ele mas Tucker não precisava ver o rosto dela para saber que ela não estava nada feliz com os comentários de Pauline. Com o tempo ela passou a simplesmente ignorar ela e os outros populares, com tantos problemas que eles enfrentavam fora da escola se preocupar com um grupo de adolescentes arrogantes parecia besteira. Mas agora a linha que existia entre esses dois mundos não existia mais e Pauline estava lá para tirar proveito disso e não importa o quanto Sam estava disposta a ignora-la até ela tinha seus limites.

Tucker reconheceu aquele olhar quando ela se virou ele já tinha o visto várias vezes. Na prisão na Zona fantasma, lutando contra o fantasma da Merendeira, atirando em Ember...Ela parecia prestes a atingir Pauline no rosto com sua bota. Ele não sabia se poderia impedir mas mesmo assim ele tentaria. Não seria nada agradável se ela fosse suspensa ou expulsa, ainda mais sem Danny por perto. Tucker deu um passo para frente pretendendo impedir que sua amiga amassasse o rosto da menina com uma joelhada.

Surpreendentemente ele não precisou. Sam se virou e seguiu seu caminho com um suspiro.

Levou um momento para processar o ocorrido (ou não ocorrido). Ele ajeitou o óculos no rosto jogou a mochila nas costas e empurrou dois alunos enquanto corria atrás de Sam ignorando os gritos de Pauline.

Danny sempre reclamava de sua rotina. Caçar fantasmas enquanto sustentava uma identidade secreta era estressante e parecia consumir todo o tempo livre dele. Era difícil se concentrar na escola, ele parecia estar sempre apanhando, era alvo de perseguições e no fim do dia sempre era cobrado para se esforçar mais, seja como Phantom ou Fenton. Mas tinha algo que ele odiava mais do que todo esse estresse; O ócio. Alguns podem dizer que ele poderia se distrair com um hobby ou arrumando uma namorada, talvez isso poderia até ter acontecido, mas ficar parado enquanto um fantasma atacava era agonizante para ele. Talvez fosse o sangue Fenton.

E é por isso que ele estava impaciente. Dentro do quarto de hospital uma televisão e algumas revistas eram tudo que ele tinha para passar o tempo (Ver as notícias sobre ele na televisão só servia para aumentar a vontade de sair de lá). Os canais estavam menos divididos pelo menos, a grande maioria o apoiava e reconhecia como salvador da cidade. Mas também tinha aqueles que insistiam em reforçar a ideia de que ele não passa de um delinquente que busca causar confusão. Eles até criaram uma teoria maluca que afirmava que tinha sido ele o causador da invasão.

Enfim, o tedio estava o matando lentamente.

Duas batidas na porta tiraram sua atenção do televisor. Ele disse um entre sem olhar para a porta, ele não precisava ver para saber que era sua irmã. Ela era única até em bater na porta.

— Você não deveria perder seu tempo assistindo essas coisas – Jazz pegou o controle da mão dele e mudou do canal de notícias para um de culinária – Esse povo só fala besteira.

— Nha...Eu já estou acostumado com as besteiras que eles falam, além disso – Danny tomou o controle mudando novamente para o canal de notícias – Aqui é um tédio, Papai e Mamãe simplesmente fingem que nada daquilo aconteceu e você não fala muito sobre o que está acontecendo lá fora.

Jazz suspirou enquanto desarrumava sua mochila. Os pais dela eram sempre foram fora da caixa, ela e Danny cresceram acostumados a isso. Mas o comportamento deles era totalmente infantil. Jazz sabia que esse dia chegaria, ela sempre esteve ao lado de seu irmão insistindo que manter aquele segredo não faria bem a sua família.

— Você precisa descansar, Danny – Jazz ajeitou mexia na mochila – Toma, eu trouxe seu notebook. Para você relaxar um pouco.

— Valeu. Como você convenceu os dois a me deixarem usá-lo? A mãe não parecia querer que eu mexesse nele por um bom tempo.

Danny colocou o computador no colo, adeus televisão, adeus telejornais chatos.

— Sobre isso – A voz de Jazz assumiu um tom mais preocupado – Eu acho que eles estavam mexendo nele.

— Ah, claro...

Os arquivos sobre fantasmas estavam todos lá, divididos em aliados e inimigos, uma mapa da zona fantasma (até onde ele tinha explorado) e alguns registros sobre armas que ele geralmente usa e a motocicleta dele. Provavelmente tudo foi copiado, mas Danny não achava que os pais dele se preocuparam em dividir os fantasmas aliados de inimigos.

— Bem, mudando de assunto, as aulas da escola voltaram e já que você tem previsão de alta para os próximos dias, você não vai perder quase nada. Não é ótimo?

Danny pegou um travesseiro e colocou no rosto abafando um grito. Depois simplesmente olhou para sua irmã mais velha.

— Eu simplesmente esqueci sobre isso – Danny disse com uma expressão de cansaço – É muito tarde para eu mudar de escola?

— Larga de brincadeira Danny – Jazz revirou os olhos – Você não vai fugir de seus problemas simplesmente mudando de escola.

— Enfrentar os meus tipos de problemas em uma escola em que você não conhece ninguém parece bem mais fácil.

— Eu não vejo qual a lógica nisso.

— Eu acho muito mais fácil enfrentar julgamento de um bando de desconhecidos.

— Urgh, ninguém lá vai te julgar, seu paranoico.

— Não, é claro que não. Eles só vão passar de “Hey, olha aquele esquisito magricela” para “Hey, olha aquele delinquente magricela”. Sem contar que quase todos os pais e professores me odeiam. Vai bastar um deslize para que me crucifiquem.

— Você é tão dramático.

— Olha só quem fala. Deve ser de família.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Phantom Reload" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.