Recomeçar escrita por KayallaCullen, Miss Clarke


Capítulo 19
Elliot


Notas iniciais do capítulo

Sejam bem vindos a mais um capitulo de Recomeçar, espero que gostem do capitulo de hoje.
Beijos e até sexta.



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A segunda feira amanheceu chuvosa em Nova York, parecia que minha cidade natal estava espelhando o meu estado de espirito, ainda me sentia um idiota por ter desistindo de contar a Leah o que sentia. Quando liguei para ela no domingo à noite, estava decido a revelar tudo o que sentia, mas no final decide que seria muito melhor se fizesse pessoalmente, só torcia para que não fosse tarde demais.

Depois que levantei e fiz minha higiene pessoal, sai de casa e tomei café na minha cafeteria preferida, em seguida fui até o hospital onde trabalhava antes de ir para Forks.

—Elliot é tão bom vê-lo.- Clark, meu ex-chefe disse assim que abriu a porta da sua sala e me encontrou a sua espera na recepção.

—É bom vê-lo também Clark. - disse o cumprimentando depois que me levantei.

—Vamos para o meu escritório, assim podemos conversar mais à vontade. - ele disse e concordei antes de segui-lo até sua sala. - Aceita alguma coisa, uma agua ou café?

—Não, obrigado. - disse assim que nos sentamos.

—O interior lhe fez bem Elliot, há muito tempo não o vejo desse jeito.

—Que jeito? - questionei confuso e ele sorriu.

—Feliz. Você parece bem mais feliz nos poucos dias que passou em Forks do que nos anos em que viveu aqui. E olha que te conheço de longas datas.

Clark havia sido meu professor na faculdade e depois meu supervisor na residência, se obtive a minha efetivação no hospital no final da minha residência, não foi apenas por esforço próprio, mas também por sua indicação.

—Eu me sinto assim Clark.

—Então, você não pretende voltar mais para Nova York? - ele questionou curioso e respirei fundo.

—Por enquanto não. - disse e sua secretaria entrou e nos cumprimentou antes de entregar uma pasta para Clark.

—Tem certeza que não quer pensar melhor? Afinal, você está sendo reconhecido na sua excelente atuação como chefe do setor médico da emergência. - Clark questionou assim que recebeu de sua secretaria uma pasta com meu dossiê.

—Tenho. Nova York já não é mais meu lar Clark. - disse irredutível e ele suspirou vencido.

—Elliot, você é um médico incrível, se importa de verdade com os pacientes e isso é raro. Será uma perda lastimável para o hospital. Sempre achei que meu pupilo iria me substituir na direção do hospital, mas você precisa fazer o que lhe faz feliz. - Clark disse sincero antes de me entregar o dossiê e indicar onde eu deveria assinar.

Assinei os documentos e lhe entreguei, em seguida ele retirou as suas vias e entregou as minhas.

—Obrigado pela consideração Clark, e por todas as lições incríveis que aprendi com você. Não apenas de como ser médico, mas de como ser uma pessoa melhor e um pai para a minha filha.

—Não precisa agradecer Elliot, o prazer foi meu em te conhecer. Você me fez ter mais amor e compaixão na minha vida profissional. Agora me dê um abraço. - Clark disse visivelmente emocionado assim como eu antes de nos abraçarmos.

—Espero que seja feliz nesse novo lugar. E se não der certo, seu emprego ainda estará aqui.- ele me prometeu assim que nos separamos e agradeci.

—Muito obrigado doutor Mendel. Foi um prazer conhecê-lo.- disse e ele sorriu enquanto me olhava com orgulho.

—O prazer foi meu em conhecê-lo doutor Marshall.- ele disse sorrindo antes de apertarmos nossas mãos e nos despedirmos.

Assim que sai da sala de Clark, fui até os setores do hospital me despedir dos amigos que havia feito durante todos esses anos, que me conheciam desde a época em que eu era apenas um acadêmico de medicina. E fiquei verdadeiramente feliz por ser tão querido por meus colegas de trabalho, após todas as despedidas fui para o estacionamento e antes de entrar no meu carro dei uma última olhando no hospital em que trabalhei por mais de quinze anos e agradeci por tudo que aprendi ali.

Enquanto dirigia e olhava as ruas de Nova York não conseguia mais sentir que aquela cidade era meu lar, e não fiquei assustado com isso, fiquei apenas aliviado. Sempre senti que não conseguia me achar, era como se nunca tive tido um lar na vida. Talvez fosse uma consequência de ser órfão, apesar de ter tido Clara e Ária, sempre senti que não fazia parte de nada, me sentia como um barco à deriva.  Até que encontrei Leah.

Só de olhar em seus olhos já sentia que ela era o meu lar, o qual tanto procurei durante esses trinta e oito anos de vida.

Estacionei o carro na porta do orfanato Solaria antes de descer, e assim que entrei fui reconhecido por todos que ainda trabalhavam naquele local, mesmo depois que sai de lá para ir estudar na faculdade de medicina, nunca perdi o contato com eles. Todas aquelas pessoas eram a única família que havia conhecido.

—Elli, nem acredito que veio nos ver, madre Angélica irá ficar tão alegre. - irmã Benedita disse eufórica enquanto me abraçava apertado.

Sorri enquanto me deliciava com seu tão familiar abraço de urso e seu cheiro de trigo, cenoura e chocolate, aquele cheiro sempre me lembrava a minha infância, porque irmã Benedita vivia fazendo bolo de cenoura com cobertura de chocolate.

Se não fosse por irmã Benedita me ensinar a cozinhar tenho certeza que não teria conseguido sobreviver por tanto tempo.

— Sentimos tanto a sua falta. - ela disse saudosa assim que me soltou e me olhou de cima a baixo. - Você está tão magrinho, tem se alimentado direito?

—Eu tenho irmã Benedita e também estou morrendo de saudades de vocês. - disse sorrindo e ela não pareceu acreditar que eu estava me alimentando direito.

—Acabei de tirar o bolo de cenoura do forno, o seu preferido. - ela disse feliz assim que nos soltamos e suspirei deliciado só se lembrar o gosto do bolo. Um gosto repleto de infância. -Ainda continua sendo o seu favorito?

—Ainda. - disse sorrindo e ela sorriu antes de me levar para dentro.

—Onde está Ária? - ela questionou preocupada por não ver a minha filha ao meu lado.

Trazia Ária aqui desde que era bebê, ela possuía muitas amigas no orfanato, além de todos amarem a minha filha como se fosse neta deles. Minha filha adorava aquele lugar, assim como eu já Clara sempre fazia questão de não voltar para o orfanato, ela queria esquecer o tempo que passou aqui.

—Ela ficou com Cece em Forks. - expliquei e ela me olhou triste.

—Mande minhas condolências a Cece, ela deve estar devastada por perder a mãe. - irmã Benedita disse triste enquanto abria uma porta e passávamos por ela.

—Está, mas vou ficar com ela por um tempo. Sei mais do que ninguém o quanto é dificiel perder alguém que amamos.

—Você é um bom amigo Elli. Quando terminar a sua conversar com madre Angélica dê uma passadinha na cozinha, vou guardar seu pedaço de bolo com bastante calda de chocolate.

—E eu iria perder a chance de provar o seu bolo irmã Benedita. - segredei e sorrimos antes dela me dá um beijo na bochecha e me deixar a sós. Bati na porta do escritório da madre e assim que obtive autorização para entrar eu o fiz.

—Elliot, meu filho querido. - madre Angélica disse emocionada assim que levantou os olhos dos papeis que lia e veio me abraçar apertado.

Madre Angélica era como uma mãe para mim, ela sempre dizia a todos que quando me pegou no colo pela primeira vez sentiu que eu era seu tão desejado filho, que Deus havia enviado. Ela havia entrado no convento após a morte do marido e a perda do seu bebê, o qual nem chegou a ver a luz do dia. Desde aquele dia, ela decidiu dedicar sua vida a Deus, cuidando e dando amor as crianças que haviam sido abandonada por seus pais.

—Deixe-me olhar para você. - ela disse me afastando de si para que pudesse me ver melhor e isso sempre me deixava sem graça. - Está tão magrinho querido, tem se alimentado direito? Por a caso, Cece não está te dando comida?

—É impressão sua madre, e ela irá ficar chateada se souber que a senhora fica dizendo que ela está me negando comida.

Cece conhecia todos do convento, afinal éramos amigos e jamais esconderia essa parte da minha vida.

—Você tem razão. - ela disse e olhou para mim com atenção, como se percebesse que algo havia mudando em mim. - Que tal darmos uma volta pelo jardim, assim você me conta o que tanto te aflige.

Era sempre assim, madre Angélica me conhecia tão bem que só de me ver ela sabia quando eu não estava bem.

—Adoraria, estou precisando muito dos seus concelhos e do seu colo. - pedi e ela sorriu maternal antes de repousar a sua mão no meu braço, saímos da sua sala caminhando em direção ao jardim. Andamos por um tempo até que nos sentamos em um banco que havia perto de pés de amores perfeitos.

—O que tanto te angustia meu filho? - madre Angélica perguntou preocupada e respirei fundo antes de começar a falar.

— A senhora sabe o quanto amei a Clara, e o quanto meu coração se quebrou quando ela morreu. E passei oito anos de luto, sem nunca mais me envolver com alguém. Mas alguma coisa mudou dentro de mim quando cheguei em Forks. - sussurrei angustiado e ela me olhou atentamente antes de segurar a minha mão e apertá-la com carinho. -Eu me apaixonei madre. Me apaixonei sem ao menos perceber, e esse sentimento é forte demais para que continue negando.

—Isso é maravilhoso filho. Ninguém nasceu para ficar sozinho, e você já passou tanto tempo sozinho.

— Eu sei, disso. Mas prometi a Clara que seria fiel a ela até meu último suspiro, madre.

—Essa promessa te faz sentir culpado em amar de novo? Por causa de uma promessa feita em um momento de agonia?

—Sim. - solucei em meio as lagrimas e madre Angélica me abraçou de lado me confortando.

—Meu garotinho, você não tem que se sentir culpado por estar apaixonado, isso aconteceu. Tenho certeza que Clara jamais irá julgá-lo por isso nem ninguém, você foi fiel a memória dela por oito anos e mesmo que se envolva com outra pessoa, continuará sendo fiel a ela quando se lembrar com carinho de todos os momentos que viveram. Você é tão jovem, Elli, tem tanta vida pela frente não pode viver apenas para o trabalho e sua filha, precisa de alguém que cuide de você também. Você não pode só cuidar dos outros. - ela disse maternal ainda acariciando minhas costas.

—Mas me sinto culpado madre em amar de novo. A senhora sabe que meu casamento não ia bem a muito tempo, mas insistia em mantê-lo. E agora, que tenho uma nova chance me sinto culpado por estar aqui a um passo de aproveitá-la e Clara nunca mais terá a mesma chance. - disse entre lagrimas e ela me afastou de leve para que pudesse me olhar nos olhos. - Viver esse amor seria injusto com ela.

—Não seria injusto meu filho. Elliot, quero que olhe nos meus olhos e me diga se irá conseguir viver longe desse novo amor. Quero que seja sincero. - ela pediu e olhei em seus olhos enquanto tentava me imaginar sem Leah e isso me fez arfar de dor.

—Não. - sussurrei e ela sorriu suave antes de enxugar as minhas lagrimas.

—Jamais pense que amar novamente será injusto, viva esse novo amor por você e pela memória dela. Tenho certeza que Clara está feliz por você, por estar tentando recomeçar. E isso não é algo para se envergonhar filho. Todos nós temos direito a uma segunda chance, então não perca a sua. Agarre-a e seja feliz. Me promete que fará isso?

—Sim. - disse enxugando minhas lagrimas e ela sorriu.

—E como é essa moça? - ela questionou curiosa e sorri envergonhado como se fosse um adolescente confessando sua primeira paixão. O que de certa forma era verdade.

—Ela é incrível. - disse e sorri com saudade ao lembrar de Leah. - Inteligente, divertida, companheira, geniosa e absurdamente linda.

—Ela parece ser uma moça adorável. Como ela se chama?

—Leah. Ela se chama Leah. - disse sorrindo apaixonado e a madre sorriu por me ver feliz enquanto me fazia inúmeras perguntas sobre Leah, além de me fazer prometer trazê-la até o orfanato.

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—Gostaria de um buque de rosas, por favor. - disse a vendedora da floricultura assim que entrei em sua loja após correr no meio da chuva fina que caia na cidade.

—Veio visitar alguém? - ela questionou enquanto montava o buque.

—Minha esposa. - disse e ela concordou antes de me entregar o buque e lhe entreguei o dinheiro.

—Ela tem sorte de um rapaz tão lindo e jovem ainda se lembrar dela.- ela disse indicando a minha mão esquerda onde usava minhas alianças. Um costume pouco usual, mas para mim era a forma de confirmar que tudo que vivemos havia sido real.

—É impossivel se esquecer de alguém que marcou a sua vida. – disse suave e ela concordou.

Me despedi da senhora antes de voltar para o meu carro e dirigi para o local onde Clara estava enterrada. Assim que desci, peguei as flores e o guarda-chuva que ficava sempre no meu quarto e comecei a caminhar pela grama até o tumulo da minha esposa.

—Nunca precisei tanto falar com você quanto agora. - sussurrei enquanto colocava o buque em cima do seu tumulo.

—Sei que prometi bem aqui há oito anos atrás que seria fiel a você até o meu último suspiro, mas não vou conseguir mais fazer isso Clara. - sussurrei entre lágrimas enquanto pensava em tudo que estava sentindo agora que estava longe de Forks. - Me desculpe, mas não planejei me apaixonar de novo. Simplesmente aconteceu.

—Quando fiz essa promessa achei que jamais iria amar outra pessoa. Mas Clara...Eu amo a Leah demais e não vou conseguir mais negar meu amor por ela. Espero que você fique feliz por mim. Só agora percebo o quanto fui egoísta em mantê-la ao meu lado quando não a fazia feliz. Por minha causa, por meu egoísmo, você não teve a chance de recomeçar, mas prometo que vou fazer isso por nós dois. - prometi em meio as lágrimas enquanto olhava para o seu nome na lápide. - Obrigado pelos bons momentos. Obrigado por me permitir ser o pai da sua filha, e definitivamente obrigado por mudar a minha vida. Você sempre vai estar comigo não importa quem eu ame.

Respirei fundo algumas vezes e fechei os olhos me permitindo lembrar de cada momento em que passei ao lado de Clara, era como se estivesse vendo o filme da minha vida, o qual me fez sorrir em momentos felizes e chorar em momentos tristes, mas essas lembranças não partiram o meu coração como antes, elas me reconfortaram. Porque consegui viver um amor lindo tão jovem.

—Obrigado pela vida incrível, jamais vou esquecer você. - sussurrei assim que abri meus olhos e fiz algo que jamais pensei que faria algum dia. Retirei as alianças de meu dedo anelar da mão esquerda, as quais estavam juntas há oito anos. E naquele momento entendi que não precisaria de anéis para lembrar ou honrar a memória da minha falecida esposa, Clara sempre seria honrada por mim enquanto vivesse, pois jamais iria esquecer dela. Da mulher que foi o meu primeiro amor.

—Adeus Clara.- sussurrei com a voz rouca de tanto chorar e acariciei sua lapide de leve antes de ir embora.

Afinal, eu precisava voltar para casa.

Precisava voltar para Forks.


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