Janela para o futuro escrita por Ella


Capítulo 4
Capítulo 3 - Amizade


Notas iniciais do capítulo

Espero que vocês gostem!



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Chegamos em uma clareira onde vários alvos de pessoas estão espalhados. Os meninos se encaminham para o centro, e eu vou um pouco atrás, observando os arredores.

         O ar livre me motiva.

         — Sabe, Izumi-chan, você atrasou nosso treino hoje! Normalmente teríamos vindo para cá direto depois do almoço, mas tivemos que te procurar por todo o distrito! — A falsa irritação de Shisui fica clara pela diversão presente em seus olhos

         — Eu já pedi desculpas, Shisui-san. O que mais eu posso fazer para compensá-lo por meu odioso crime? — Falo dramaticamente

         O mais velho sorri.

         — Você pode treinar com a gente!

         Pisco, e deixo um pequeno sorriso abrir nos meus lábios. Boto uma mão no pescoço, um pouco envergonhada. Eu não sabia muito sobre os meninos, mas Itachi era tido como um gênio — sem nem estar na Academia ainda.

         — Eu posso tentar, mas se os rumores sobre Itachi-san são verdadeiros eu não sei se vou conseguir acompanhá-los... e você já deve estar na Academia, não, Shisui-san?

         — Shisui já é genin, Izumi-san. — Quem responde é o mais novo.

         — Sério? — Pergunto surpresa, me virando para o velho — Quantos anos você tem?

         — 10. Faz um ano que me formei

         Um sorriso com falsa arrogância aparece no rosto do menino.

         — Eu provavelmente vou mais atrapalhar do que ajudar se eu me juntar a vocês...

         — Bem, então nós podemos te ensinar, não é, Itachi?

         — Por que não? — O mais novo fala dando ombros de leve — Ensinar também é uma forma de aprender.

         Olho para os dois levemente surpresa, especialmente com o herdeiro. Ele soava como um adulto — não como eu ou as outras crianças do clã que imitavam os adultos, mas como alguém realmente mais experiente.

         O que teria acontecido com ele para deixá-lo assim? Eu não podia deixar de pensar que não era algo natural...

         — Eu ficaria honrada de ser ensinada por vocês, Itachi-san, Shisui-senpai.

         Quando as palavras deixam minha boca eu quase me arrependo. O sorriso arrogante de Shisui cresce ainda mais e ele estufa o peito, parecendo orgulhoso.

         — Vou mostrar para você como eu sou o melhor senpai de todos, Izumi-chan! Você já sabe o Jutsu bola de fogo?

         Pisco e nego com a cabeça. O menino, ainda orgulhoso consigo mesmo, faz os símbolos com a mão e assopra.

         As chamas resultantes são gigantes. Eles as joga para cima afim de evitar um incêndio na floresta, e o calor pode ser sentido por toda a clareira. 

         — Eu estou devidamente impressionada, Shisui-senpai — falo com um leve tom de brincadeira. O jutsu era clássico no clã e era quase um rito de passagem para qualquer ninja. Normalmente era passado de pai para filho, mas considerando minha situação, me senti grata ao genin por me ensinar.

         — Você já conhece os selos, certo? —Assinto para o menino — A ordem é Cobra, Tigre, Boi, Coelho e Tigre. Concentre seu chakra no pulmão e visualize ele se transformando em chamas.

         Sigo as instruções do menino com confiança. Estava no meu sangue, certo? Não passo pelos selos com a mesma rapidez que que ele, mas consigo completar. Concentro o chakra e incho o peito de ar, em seguida espirando com força. Nada acontece, o que causa um surto de risadas em Shisui e uma leve diversão aparecer nos olhos de Itachi.

         — Izumi-san, tente sentir a natureza do chakra. Imagine-o, sinta o calor, as chamas, faça com que ele mude.

         Franzo a sobrancelha, sem conseguir compreender. Transformar a natureza era algo muito abstrato para mim, e só pensar nisso já me causava confusão.

         O mais novo pressiona os lábios e parece pensar.

         — Prenda sua respiração — O obedeço — Faça agora os sinais, sem soltar o ar.

         Sigo o que ele fala, e sinto a falta de ar começar a me afetar. Quando finalmente completo os selos, o menino continua:

         — Agora sinta a queimação da falta de ar e multiplique-a. Sinta ela queimar por todo seu corpo e empurre ela para fora com força.

         Chamas, calor, dor. Sinto meu chakra se concentrando ainda mais nos pulmões, e com toda a força que tenho expiro. Dessa vez, uma pequena chama é liberada. Fico irritada e me viro para os meninos, encontrando Shisui com os Sharingan ativado. Sem me conter me aproximo do mais velho, encarando a vermelhidão. Como uma Uchiha, era esperado que eu já fosse acostumada com o Sharingan, mas minha mãe nunca o despertara e meu pai se recusava a me mostrar.

         Eu esperava que o doujutsu parecesse antinatural, porém ao olhar para o Shisui eu não podia deixar de pensar que era estranhamente belo.

         Shisui era um menino bonito. Com os cabelos negros bagunçados, a pele macia e seus olhos expressivos, que pareciam de um gato, ele já era um perfeito exemplo da genética Uchiha. Mas os olhos vermelhos e profundo, com os tomoe girando preguiçosamente, o deixava com um ar quase misterioso.

         O Sharingan era lindo, parecia perigoso e ao mesmo tempo atrativo. Imagino que isso fosse parte do seu segredo: ao atrair o olhar, facilitava a aplicação de genjutsus.

         Quando noto, percebo que estou próxima do menino. Shisui parece relaxado e estranhamente curioso.

         — Normalmente os Uchihas estão acostumados com eles.

         — Eu nunca tinha visto um de perto. Eles são... lindos — Solto sem poder me conter — Será que isso é proposital? Ele atrai o olhar e ao mesmo tempo intimida.

         — Faria sentido — Quem responde é Itachi que também se aproximara para olhar, levemente curioso — A maioria dos genjutsus são mais eficientes se o doujutsu se conectar com os olhos do alvo, e ao mesmo tempo, é vantajoso para um ninja intimidar um inimigo antes mesmo de engajá-lo

         — Realmente conveniente, hm? — Falo distraidamente. Eu Itachi estávamos praticamente encurralando o mais velho — Deve ser útil também em missões de coletar informações...

         — Vocês podem parar de me encarar? — Diz Shisui com as mãos para o alto e um olhar irritado — Respeitem seu senpai!

         Acabo rindo e me afastando junto com o herdeiro do clã.     

         — Enfim — Continua o genin, se acalmando — com o Sharingan eu consegui ver o que você está errando. Tente...

— ‘ -

         Passamos o resto da tarde treinando. Quando o sol estava prestes a se por, começamos a voltar para o distrito. Olho novamente para o céu, onde rosa, roxo, laranja e amarelo se misturavam. E sinto um cansaço emocional se abater sobre mim.

         Na minha frente, Shisui e Itachi conversam. Não presto atenção no que eles falam, mas os observo. Enquanto eles praticavam taijutsu eu notara o quão próximo eles realmente eram: eles sabiam os movimentos um dos outros, estavam em harmonia quase completa. Me lembro também de Minato e Kushina no restaurante, como sem falar uma palavra eles sabiam o que o outro estava pensando.

         Será que algum dia eu teria um amigo assim? Com quem conseguiria me comunicar apenas com o olhar?

         — Tadaima! — Anunciamos juntos ao chegar em casa.

         — Okaeri! — Diz Mikoto da cozinha — O jantar está pronto. Lavem as mãos e venham para a cozinha, meninos.

         — Hai! — Responde Shisui, praticamente correndo para o banheiro. O sigo calmamente com Itachi e com as mãos lavados nos sentamos para comer. Ao entrar na sala, vejo que Minato e Kushina ainda estão aqui o que me deixa feliz.  Me sento entre Itachi e Shisui e após um coro de agradecimentos começamos a comer.

         — O que vocês fizeram hoje durante a tarde, meninos? — Pergunta a matriarca do clã.

— Treinamos — Responde seu filho.

A Uchiha não parece surpresa com a resposta e Fugaku tem um pequeno sorriso aprovador nos lábios, enquanto Minato e Kushina parecem curiosos.

— Vocês treinaram o que? — Questiona agora o loiro.

— Taijutsu e Ninjutsu, basicamente.

— Izumi-san conseguiu acompanhar você e Shisui, Itachi?

Quando essas palavras deixam a boca de Fugaku me sinto estranhamente desconfortável. O herdeiro do clã, além de ser aclamado como um gênio, tem acesso aos melhores instrutores de todas as artes ninjas, e nosso primo já era um shinobi formado. É claro que eu não conseguira acompanhá-los.

— Não — Responde o filho do homem — Mas Izumi-san tem muita estamina, e não parece ficar muito afetada pela frustração, o que a ajuda a aprender mais rápido.

— Apesar do taijutsu dela ainda não ser muito firme, ela é muito boa em usar o terreno em sua vantagem. Suas reservas de chakra não são muito grandes, mas seu controle é eficiente, não chega a ser perfeito, mas o desperdício é mínimo — Completa Shisui.

Eu me sinto surpresa por alguns segundos e sem conseguir me conter sorrio. Em apenas um dia, eu já tinha noção da personalidade deles e de uma coisa eu tinha certeza: eles não mentiam para agradar os outros. Enquanto Itachi é direto e Shisui um pouco mais delicado, nenhum dos dois mentiam.

Eu não os acompanhara, mas eles viram potencial. E quando dois gênios certificados falam isso para você, é difícil não deixar um pouco de orgulho aflorar.

O primo mais velho, quase que sentindo meus pensamentos, adiciona mais um comentário, dessa vez direcionado a mim:

— Você ainda tem um longo caminho pela frente, Izumi-chan. Mas treinando eu tenho certeza que você se tornará uma excelente Kunoichi, certo, Itachi?

— Hm — responde o outro simplesmente.

Fugaku me olha como se me medisse novamente com os olhos. Kushina oferece um sorriso radiante para os meninos, e Mikoto solta uma leve risada, e eu sinto minhas bochechas ganharem cor. Era impressão minha ou hoje fora um dia de passar vergonha?  Minato, com um sorriso nos lábios, pergunta:

— E vocês se dispõem a treinar com ela, meninos?

Shisui pisca, entretanto quem responde é Itachi:

— Porque não?

Quando essas palavras deixam novamente a boca do mais novo, me recordo de quando as disse mais cedo. Eu não achei que tão cedo após uma perda tão grande eu conseguiria me divertir tanto quanto fizera hoje...

Sem poder me conter, sinto um calor enorme se espelhar pelo meu peito. Quando meus olhos cruzam com os dele, eu vejo uma gentileza ali que não havia percebido antes.

Eu sorrio.

—‘-

Após o jantar, Minato e Kushina deixam o distrito, e após as despedidas e desejos de boa noite, Shisui segue para sua casa. Pouco tempo depois cada um segue para seu quarto e quando me deito, encontro-me sozinha pela primeira vez no dia.

Muita coisa acontecera.

Penso em todas as pessoas que conheci hoje, e não consigo negar: eu me divertira. Eu havia sorrido, treinado, gargalhado. E quando penso em minha mãe (em sangue, em dor, nela sozinha em sua ca-) não posso impedir uma enorme culpa de se alastrar por mim. Deixo as lágrimas escorrerem livremente pelo meu rosto.

O fato de que ela fora embora ainda não parecia real.

Ela morrera por minha culpa, por eu não estar lá, por eu não ter notado, pelo meu egoísmo e um dia após sua morte eu estava me divertindo, fazendo amigos, conhecendo pessoas.

Era minha culpa.

Minha.

Meus olhos queimam e uma dor alucinante me preenche. Sinto minha consciência se esvair por alguns instantes e em seguida me vejo em outro lugar.

Eu sinto meu corpo... maior? Sim, parecia um pouco mais alta. Eu estava do outro lado do distrito Uchiha, perto da floresta. Shisui e Itachi estão do meu lado.

Eu rio de algo e o mais velho se vira para mim. Com um de seus sorrisos brilhantes ele me pergunta:

— Por que você está rindo, Izumi-chan? Você acabou de matar sua mãe. Não tem direito de rir.

Meu riso morre e no lugar de Shisui minha mãe aparece.

— Por que você não me ajudou, Izumi-chan? Se você tivesse falado com alguém, ou até mesmo fingido que se importasse eu não teria sido forçada a fazer isso — Diz a mulher me mostrando s4eus braços.

Não. Eu me importava.

Eu mostrara isso, não mostrara?

Eu precisava de você. Por que você me deixou?

Por minha culpa. Minha grande culpa.

Eu grito e acordo com três rostos em minha frente. Meus olhos queimam e Fugaku me encara sério. Sem hesitar, ele ativa seu Sharingan e quando percebo, estou inconsciente. Dessa vez, nenhum sonho surge.

—‘-

Acordo desorientada. Estou em uma sala branca, sozinha. Pisco algumas vezes e flahses da noite anterior vem a minha mente.

Mikoto-baa e Fugaku-sama se encontram a meu lado.

— Izumi, querida, que bom que acordou. Como está se sentindo?

— Cansada.

— Você esteve um pesadelo e ativou seu Sharingan. Por já ter treinado o dia inteiro seu chakra já estava quase esgotado, então nós te trouxemos para o hospital.

Mexo a cabeça para indicar eu estou entendendo. Minha garganta está seca e me sinto extremamente cansada.

— Izumi-san — Quem fala agora é Fugaku-sama — Você passou um dia inteiro desacordada. Está quase na hora do funeral de sua mãe. Você consegue ir?

Funeral.

Eu tinha o direito de ir vê-la? Após...

Eu tenho que ir.

Era minha mãe.

— Claro, Fugaku-sama.

O homem simplesmente assente e diz:

— Mikoto vai vesti-la e te levar ao local da cerimônia.

O homem se levanta e sai, enquanto sua esposa suspira, parecendo casada. Ela estava ali a quanto tempo? Seria esse cansaço culpa minha?

— Perdoe Fugaku, Izu-chan. Ele... não sabe lidar bem com situações emocionais. Eu lhe trouxe um vestido, espero que caiba. Vamos.

Me levanto e pego o vestido, indo para o banheiro do quarto prova-lo. Ele era completamente preto, mas era elegante.

— Obrigado, Mikoto-baa.

A mais velha sorri para mim.

— Não é nada, querida. Eu... estou aqui para qualquer coisa que precisar. Você se lembra do que eu lhe disse? Nós somos família.

— Hm.

Saímos do quarto do hospital, e Mikoto assina os papéis de minha liberação. Seguimos em direção ao distrito Uchiha, o céu nublado.

Minha mãe não ia querer ser enterrada sob esse céu.

Chegamos no Santuário Naka. Paro na porta por alguns segundos e respirando fundo entro.

Não haviam muitas pessoas: A família de Itachi, que ia em todos as cerimônias de membros do clã por conta de sua posição; Shisui, o que me fez dar um pequeno sorriso; Yuki acompanhada de sua irmã mais velha Kiharu.

Yuki corre para mim assim que entro no templo. Ela me abraça com firmeza e me encosto nela.

— Eu sinto muito, Izu. Muito mesmo.

— Eu sei.

Kiharu-nee a segue de perto, e assim que a pequena se afasta, se põe a me esmagar em seu lugar.

— Nós ficamos sabendo que você estava no hospital agora a pouco. Se soubéssemos antes teríamos ido visitar. O que quer você precise, nós estamos aqui, viu, Izu-chan?

Sorrio contra a garota. Em poucos segundos ela se afasta, e eu consigo voltar a respirar.

Shisui se aproxima e oferece um de seus braços, que eu aceito. A sacerdotisa já está na frente e quando me aproximo todos se ajoelham e repetimos a oração.

Quando me dou conta já é hora de acender o incenso. Acendo-o e me curvo diate do caixão por vários segundos. Finalmente me ergo e com as lágrimas escorrendo me afasto. Todos repetem o cumprimento, alguns murmurando algo, e por fim a sacerdotisa se levanta e coloca um selo sobre o caixão.

— Izumi-san? — Ela me chama com uma voz suave.

Me ergo tremendo.

Eu não conseguiria.

Ao ativar o selo, chamas se ergueriam e fim. Nunca mais a veria. Nunca...

Tento respirar fundo e me acalmar, o que não funciona. Estou prestes a pedir para a sacerdotisa realizar o ritual quando Itachi aparece em minha frete, oferecendo uma mão. Ele me ajuda a levantar e me puxa até o caixão. Lágrimas borra meus olhos, meu corpo treme violentamente e sinto soluços querendo sair. Itachi para e guia minha mão até o selo.

— Izumi-chan. Sua mãe deve estar impaciente para ver seu pai. Você tem que deixá-la ir.

Assinto. Sim.

Ela não iria querer ficar aqui. Ela iria querer ir para o céu.  Mantenho uma mão tremendo sobre o selo e gentilmente Itachi a cobre com as dele. Seus dedos têm calos, provavelmente de treinar com shurikens e kunais, mas suas mãos ainda são supreendentemente macias. Com ele firmando as minhas no lugar respiro fundo e falo:

— Sayonara, Kaa-san. Eu te amo.

Empurro chakra pelos meus dedos para dentro do selo e vagarosamente Itachi puxa minha mão e me arrasta um pouco para trás. Escuto os soluços de Yuki-chan atrás de mim: Ela adorava a minha mãe e provavelmente não estava muito melhor que eu.

Vejo o selo se desdobrado e desenhos semelhantes a cordas se espalhando por todo o caixão. Quando a primeira chame se ergue eu não posso conter o grito e as lágrimas que saem de mim.

Caio de joelhos, tremendo e sinto os braços do menino ao meu lado me segurando. Não consigo ver sua expressão, porém seu chakra tão próximo de mim evidencia seu nervosismo e preocupação. Sinto duas pessoas se aproximando — provavelmente Shisui e Mikoto. Itachi se afasta e sua mãe me pega no colo.

Normalmente eu protestaria contra algo assim — afinal eu não era um bebê — contudo, naquele instante, a única coisa na minha cabeça era minha mãe, meu pai, minha casa. Tudo que eu perdera.

Choro contra o pescoço de Mikoto sem me importar com mais nada. Quando dou por mim, já estamos na casa da Matriarca, sentadas no sofá, e com uma xícara de chá na frente. Em pouco tempo, adormeço ainda em meio as lágrimas.

—‘-

Na semana seguinte eu funeral, não faço muita coisa. Shisui e Itachi me convidam para treinar com eles todos os dias e eu recuso. Yuki veio uma vez com Kiharu, mas eu também não saí para vê-las. Tudo que eu fazia era dormir, beber água, chorar e forçadamente comer ao menos uma vez por dia. Eu mal saía do quarto, meus cabelos compridos já estavam cheios de nós, e mesmo assim nada parecia importante.

Após o primeiro dia, onde eu reagira tão bem, só sinto vontade de chorar. Eu finalmente assimilara que não veria mais minha mãe, que estava morando de favor, e que fora minha culpa.

Eu não queria ver os sorrisos brilhantes de Shisui, os olhos expressivos de Itachi ou sentir os abraços quentinhos de Mikoto. Eu só queria sumir. Me esvair me nada.

Não morrer.

Como eu poderia encarar meu pai se eu morresse assim?

Nesse dia, estou de cama, para variar. A porta é aberta por fora pela primeira vez na semana. Shisui e Itachi adentram o quarto e se aproximam.

— Eu não quero treinar.

— Por que não, Izumi-chan? — Pergunta Shisui  — O que você tem de melhor para fazer? Ficar deitada, deprimida? Você vai desperdiçar todo seu potencial.

Aquilo me irrita profundamente. Nem tudo na vida é se tornar ninja, não que esses meninos pareçam saber disso.

— Que diferença faz para vocês se eu for ou não? Eu não consigo sequer acompanha-los, eu estar lá não vai fazer diferença. Vocês provavelmente vão ganhar tempo. Me deixem em paz.

— Nós não queremos você conosco por que achamos que você vai nos tornar mais fortes ou algo assim. E se eu acreditasse que você estaria melhor nesse quarto, eu te deixaria em paz. Mas você precisa comer, sair de casa, fazer qualquer coisa!

— Se não é para torna-los mais fortes ou algo assim, por que vocês querem que eu vá? Eu sou só... — Começo quase gritando.

— Porque você é nossa amiga — Quem responde é Itachi.

— O quê? — Falo completamente surpresa. Eles me consideravam sua amiga?

Mas eu era fraca. Uma assassina.

Eu matara minha própria mãe.

Por quê?

Shisui sorri, não seu sorriso característico, mas sim um pequeno sorriso, quase triste. Itachi ao seu lado inclina a cabeça, confuso com minha resposta.

— Nós somos amigos, certo? Somos família. Nós nos preocupamos, e sendo sincero, você está dando motivos para isso — Responde o mais novo como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. 

— O que ele disse! — Concorda Shisui, já me puxando pela mão — Agora senhorita Izumi, você vai tomar um banho, botar uma roupa de treino, encher a barriga e se exercitar até cair. E eu não aceito não como resposta, mocinha.

Amigos, hum? Não parecia tão ruim assim.

Suspiro, pego uma roupa no armário e saio do quarto.

— Ei, onde você está indo?

— Tomar banho, certo? — Pergunto inclinando a cabeça.

Os meninos sorriem para mim.

— Certo. Nós vamos te esperar lá embaixo. Aliás, Minato e Kushina estão aqui para te ver. Kushina-san ameaçou de derrubar a porta, mas eu pedi para eles nos deixarem tentar primeiro.

Fico ainda mais surpresa, e sinto uma pequena lágrima escorrer. Eu fora egoísta — preocupara a todos me afogando na culpa e na solidão.

Mas eu não estava sozinha.

Sorrindo, eu entro no banheiro e ligo chuveiro.

—‘-

Extra: Funeral

A sacerdotisa chama Izumi e Itachi espera essa levatar. Passa-se quase um minuto inteiro e a garota ainda está parada, como os olhos encarando o nada. Shisui, ao seu lado, questiona:

— Será que ela está bem?

O mais novo balança a cabeça. Ele podia ver agora as mãos delas tremendo e lágrimas escorrendo pelo rosto dela.

Não gostou daquele olhar.

Em um dia, Itachi já entendia a menina o suficiente para saber que ela era parecida com Shisui: alegra, espontânea. O menino já a admirava por isso: para alguém com tão poucas habilidades sociais quanto Itachi, conseguir fazer amizades tão rapidamente era um talento assustador.

Ver aquela garota quase quebrada, seus olhos mortos, não era algo que ele queria que ocorresse.

A sacerdotisa parecia prestes a ativar ela mesma o selo quando um pânico invadiu o menino: e se Izumi ficasse assim para sempre? Aquela tarde treinando com ela fora divertida. A forma como a mente dela funcionava intrigava-o profundamente.

Ele queria se divertir com ela novamente.

Itachi, então, se levanta e oferece uma das mãos para a garota. Quando ela aceita e se levanta, ele sente um pouco do nó que se formara em seu estômago se desfazer.

A vida havia voltado para seus olhos — e naquele instante, isso era o suficiente.


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Notas finais do capítulo

E então o que estão achando? E a visão do Itachi, gostaram? Por favor comentem!



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