Me sentei e tranquilamente levei uma colher generosa de cereal a meus lábios. Após mastigar o suficiente soltei um sorriso tímido, encostei a minha cabeça e soltei um suspiro satisfeito, peguei outra colher generosa do meu lanche mas antes que ele concluísse seu caminho até meus lindos lábios, o conteúdo foi espalhado por todo o carpete quando Brenda soltou um grito assustado, consequentemente me assustando também. Ela estava secando seus cabelos com uma toalha que com toda certeza não pertencia a esse mundo, um estranho olhar carregado de horror de quem tinha acabado de se assustar tomou seu rosto, estranho, acho que eu conhecia muito bem esse sentimento. Quando ela se acalmou levou uma das mãos a seu coração, mas pareceu desistir da ideia de se certificar se ele estava ali, deixando sua mão cair. Nota mental, fantasmas tinham batimentos cardíacos?

Antes que eu conseguisse perguntar isso para Brenda ela me olhou um tanto estranha e falou:

— O que você está fazendo sentado aí marica?

Eu não queria admitir, mas estava morrendo de medo, eu já estava me acostumando com a Brenda falando dia e noite no meu ouvido. Mas agora outras experiências paranormais? Ah, definitivamente não. Eu já estava duvidando se minha esclarecedora conversa com Lorde Laurentius tinha mesmo acontecido ou estava apenas delirando. Mas já que infelizmente eu teria Brenda em meu pé por um bom tempo aparentemente, respondi sinceramente:

— Eu fiquei com medo de ficar sozinho lá embaixo...

Um momento de silêncio que foi quebrado por Brenda ainda com a toalha sinistra em mãos se sentando ao meu lado.

— E porque exatamente você está com medo?– falou compreensiva.

Isso me surpreendeu, eu não conhecia essa Brenda, nunca tinha visto ela, eu esperava mesmo era piadinhas mas estranhamente gostei de seu tom compreensivo.

— É difícil explicar. Está acontecendo algumas coisas um pouco estranhas... A televisão, o fantasma no colégio– estranhamente eu já estava acostumado com Brenda sendo minha assombração que nem citei o fato estranho da minha vizinha “morta” estar tirando um papo comigo nesse momento – Eu acho que tem alguma coisa estranha comigo e eu estou ficando com medo.

— Isso é normal, a sua vida mudou bastante mesmo, do dia para a noite. Aconteceu o mesmo comigo, eu nem lembro o como tudo isso aconteceu – falou gesticulando com as mãos para si mesma.

— Você por acaso está insinuando que eu estou a beira da morte? – eu tinha entendido o que ela queria dizer mas o seu olhar assustado foi impagável.

Antes que ela encontra-se suas palavras apenas continuei, batendo meu ombro levemente no seu.

— É brincadeira, eu entendi – Falei divertido a tranquilizando – Mas e agora que você falou, você não lembra de nada mesmo?

Ela levantou o rosto um pouco, olhando para cima e comprimindo seu queixo parecendo pensar brevemente.

— Lembro de poucas coisas, as memórias humanas são fortes é como se eu estivesse viva. Talvez eu goste de me apegar a elas mas sobre o que aconteceu no meu... – Ela parou brevemente antes de dizer as palavras como se fossem difíceis de serem ditas em voz alta – Último dia. Eu não lembro de nada muito específico, lembro de acordar de manhã mas não me lembro de nada depois disso.

Que estranho eu me lembro da última vez que vi Brenda com vida. Ela tinha saído com uma mochila vermelha nas costas e tinha prendido o longo cabelo loiro, eu tinha acabado de acordar e lembro de ficar inconformado com esse tipo de pessoa que acorda disposta a fazer exercícios logo de manhã. Mas antes que eu pudesse falar sobre isso escutei passos ágeis sobre a escada, acho que o meu psicopata tinha chegado atrasado para o meu banho, afinal.

Mas me surpreendi quando minha mãe veio em minha direção, ela me olhou de forma estranha mas logo depois pareceu não ligar para o fato de seu filho estar sentando no chão do lado da porta do banheiro, ela conhecia o filho que tinha.

Passei o resto da noite perto dos meus pais, Brenda pareceu não ligar muito, ela escutava a conversa de meus pais como se fosse a coisa mais preciosa do mundo, todo mundo bem no fundo gosta de algo estranho.

Quando a hora de ir dormir foi chegando comecei a me desesperar, mas quando vi Brenda se levantando e indo junto comigo me senti estranhamente mais tranquilo. Era engraçado como outras experiências sobrenaturais que tinham me incomodado mais me fizeram me acostumar com a de Brenda.

Olhei para o meu pijama de tubarões sobre a cama, Brenda estava esperando eu me trocar do lado de fora e eu só conseguia pensar em como se eu quisesse manter minha dignidade teria que arranjar um outro pijama logo.

Quando terminei de vestir a camiseta de flanela estampada me assustei com o dançar de sombras que passou sobre a parede do meu quarto, eu poderia estar ficando paranóico mas jurava ter escutado a risada de uma criança. Com a voz trêmula chamei a Brenda aos sussurros ainda parado no mesmo lugar.

Brenda entrou empurrando a porta como um breve sopro de vento, dei outro pulo quando com um baque surdo a janela atrás de mim se fechou abruptamente, aparentemente o gato da vizinha continuava não gostando de Brenda.

Com um boa noite simpático Brenda se deitou no sofá no canto do meu quarto, acho que tínhamos entrado em acordo daquele ser sua nova cama, andei devagar para desligar o interruptor e no caminho passei pelo sofá de Brenda, ela fez um arrepio dançar por minha coluna quando notei que o seu sono se assemelhava a o sono eterno como de recém falecidos.

Me deitei em minha cama e acompanhando o estranho desenho dos galhos tremulando no teto de meu quarto, respirei uma última vez antes de ser acompanhado para o mundo dos sonhos acompanhado de um fantasma.