High School Darlisa escrita por kicaBh


Capítulo 2
Cap 2 – Sorvete


Notas iniciais do capítulo

sigo escrevendo e escrevendo...



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SABADO – 15 HORAS

Elisabeta saiu correndo de casa.

Primeiro porque estava saindo escondida, segundo porque ela queria logo chegar na sorveteria e voltar pra casa.

Terceiro porque ela estava nervosa, e isso não era algo típico dela. Poucas coisas na vida tiravam a paz e a certeza de Elisabeta Benedito. E não saber o que um jovem rapaz ingles, muito bonito, pensava esperando por ela numa sorveteria simples era uma delas.

Elisa escolheu um vestido bonito, claro com estampas vermelhas, completamente casual. E pela primeira vez lembrou das palavras de Ema sobre seus cabelos, a amiga vivia dizendo para ela valoriza-los mais, usa-los soltos, mas sem o aspecto de desleixo. Então ela prendeu parte dos cabelos. Olhou a si mesma no espelho e gargalhou. Não era nada, apenas um sorvete com um garoto da escola. 2ª feira eles nem se lembrariam disso.

Pensando assim ela desceu e estava na porta quando sua mãe interrogou onde ela ia, reparando bastante e percebendo que nunca tinha visto a filha assim, tão afoita e quase arrumada.

vou apenas a sorveteria do seu Manoel , volto logo.  Elisabeta respondeu e sumiu da vista de Dona Ofelia.

Darcy também estava ansioso. Não queria se vestir completamente formal, já que a garota em questão era uma típica brasileira, sem muita frescura. Sem frescura nenhuma.

Tantas garotas na escola mais “compatíveis” com ele, que o admirariam por nada. E ele ali, se olhando no espelho pensando em impressionar a branquinha com os olhos azuis mais perspicazes que ele já teve o prazer de cruzar. Bermuda branca e uma blusa polo com listas vermelhas e azuis compunham um visual que era informal no mundo dele.

Charlotte entrou no quarto e olhou pra ele : Você está bonito, Darcy !— ela só tinha 7 anos, e se parecia tanto com sua mãe. E tinha se adaptado tão facilmente ao Brasil. Se ele sentia falta da mãe, imagina Charlote que mal se lembrava das feições de Francisca. Foi um duro golpe para eles, e somente agora Darcy conseguia encarar a vida com um certo otimismo novamente.

Dolores tinha dado a ele um caderno de sua mãe, esquecido a anos na escola. E como ela havia se tornado a Lady Williamson, virou uma ex estudante ilustre. Não que sua mãe ligasse para isso, Darcy pensava, ela amou seu pai eternamente, independente do que seu pai possuía. Mesmo porque ela mesma possuía bastante fortuna.

— Se você gostou, então acho que estou mesmo. Ele respondeu , dando um beijo na irmã e saindo pra encontrar o motorista para leva-lo. Essa era uma coisa que ele precisaria resolver, essa exigência do seu pai de que o motorista o levasse e o buscasse onde quer que ele fosse. Seu pai dizia que se preocupava com a violência do país, que eles eram um alvo para ladrões e coisas do tipo. Mas Campinas era uma cidade relativamente pequena, ele poderia muito bem se locomover sem tanta pompa. Além do mais, ele queria testar os limites da cidade. E gostaria de contar com uma guia maravilhosa, que sempre fazia hora o trajeto para a escola de ônibus. E ele ficava fazendo hora só para vê-la descendo do ônibus todos os dias. A pena era que Ernesto vinha sempre a tiracolo, como um guarda costas. Ele só torcia para que ele não tivesse na sorveteria com ela. Nem mesmo Ema ou Ludmila, as amigas inseparáveis da escola.

15h00 em ponto Darcy entrou na sorveteria, Donato o motorista não teve dificuldade de encontrar o lugar, porque era caminho para sua casa. Ele mesmo nunca tinha ido ao lugar mas sabia da fama. Se ele estranhou o que Darcy fazia ali vestido como um capitão de navio, não disse nada. Darcy até tentou dispensar Donato, mas seu pai tinha ordens específicas, era para levar e trazer Darcy onde quer que ele fosse.

O lugar era aprazível, diria seu pai. Um pouco simples demais, ele também completaria, e talvez não ficasse para provar os produtos. Já Darcy achou diferente de tudo que frequentava, e por isso mesmo achou interessante. Ele viu atrás do balcão um senhor com um grande bigode, que o olhava de cima a baixo, mas com feições agradáveis. A sorveteria tinha paredes pintadas de branco, com alguns versos portugueses entre os sabores dos sorvetes e Sundaes. Mesinhas cada uma de uma cor e um boneco gigante de um palhaço com algodão doce na mão completavam a decoração, o que Darcy achava que destoava completamente do ambiente.

Elisabeta chegou quase 1 minuto depois dele. As faces vermelhas de quem estava andando depressa ou correndo. Ele achou que ela estava linda com o vestido estampado e o tênis all star vermelho.

Ele sorriu para ela, mas não a tocou, nem mesmo um beijinho no rosto, um costume tipicamente brasileiro, que as garotas da sua sala insistiam em ter com ele. Elisabeta não parecia fazer parte deste grupo, e el parou esperando que ela explicasse como tudo funcionava ali dentro. Ela sorriu de volta e ambos continuaram sem graça.

Elisabeta achava que ele estava parecendo um esportista, um jogador de tênis talvez. Não era um traje formal, mas era uma roupa de quem tinha muita grana. Navy, como dizia Ema. Era como os ricos se vestiam para velejar. Ele estava lindo, ela não conseguiu achar um defeito. Talvez fosse o tamanho , os olhos, o porte, mas no fundo ela achava que o conjunto todo somado a uma certa timidez e inadequação, e aos modos, tornava tudo muito irresistível. Para não dar vazão ao nervosismo, ela simplesmente brincou :

Você parece um comandante, Darcy. Ela bateu continência, e ele ficou completamente vermelho, mas não perdeu a brincadeira. Porque ela parecia gostar de ter conversas assim, leves.

— Foi pensado para agradá-la. Ele disse com segurança, a seguindo para uma mesinha azul que ela escolheu. Mas confesso que teria insistido mais no vermelho se soubesse de sua escolha. Ela corou e ele achou adorável.

—  Você é inglês mesmo, qual garoto brasileiro falaria assim. Mas não é uma crítica, ao contrário, eu acho muito diferente, um diferente bom. E logo tratou de mudar de assunto. - Eu adoro o sorvete daqui, venho desde criança. O boneco ali da parede foi meu amigo imaginário por muitos anos. Ela contou e Darcy sorriu, pensando que agora o boneco não destoava tanto.

Então a mágica se deu. Eles se serviram com Elisabeta falando dos sabores, do quanto ela gostava de abacaxi com coco, e cobertura muito pouca. Ele aceitou a sugestão dela, e também colocou um sorvete de cupuaçu, algo tipicamente brasileiro. Para cobertura ele não colocou nada de calda, mas umas jujubas coloridas que o lembravam Charlotte, ela provavelmente adoraria este lugar.

Eles tomaram os sorvetes e Darcy adorou tudo, o ambiente informal, Seu Manoel que foi conhecer quem era o amigo da Benedito, cliente vip, as outras famílias e crianças. Enquanto isso tudo acontecia ao redor, ele e Elisabeta conversaram sobre a escola, a vida, do que gostavam. Ele ficou admirado com o quanto ela gostava de ler, e do quanto ela conhecia de literatura mundial e brasileira, dos clássicos aos jovens, passando por ficção cientifica e revista em quadrinhos, Elisabeta devorava tudo. E por isso ela escrevia, era o sonho dela, fazer jornalismo numa faculdade do exterior, inglesa ou francesa ,e então estudar literatura. Por isso a bolsa era importante, e como o tema era a Inglaterra ela estudou bastante sobre o país, decidindo que Cambridge era seu objetivo.

Darcy achou muita coincidência que os dois mirassem a mesma universidade. Ele cada vez mais se decidia cada vez por economia. O curso tinha uma grande grade de administração e serviria para ajudá-lo a gerir os negócios da família. Que ele não conseguiu bem explicar pra Elisabeta o que era. Eles eram investidores, faziam fortuna vendo outras pessoas fazerem fortuna, mas acreditavam mesmo é que ajudavam a desenvolver o mundo. Ele falou um pouco sobre a mãe brasileira, mas muito pouco, e Elisabeta não insistiu, ainda devia ser um assunto difícil para ele. Mas se empolgou quando contou do caderno e que ela foi aluna da Escola Inglesa.

Então você é um nobre. Sobre isso você ainda não me contou. Elisabeta perguntou , de repente, maravilhada por estar ali conversando livremente com um garoto diferente de todos os que ela conhecia. Não desmerecia os garotos de Campinas, os amigos, Ernesto, alguns primos. Mas Darcy era diferente, e ela sentia vontade de saber cada vez mais dele.

Não há muito o que contar. Meu pai é um Conde, quando ele se for e eu herdar nossa propriedade, eu serei o nobre. Tem sido assim a muitas gerações na família Williamson.  Diante do olhar estupefato dela ele continuou. Pemberley é uma grande propriedade, um condado, e pertence ao meu pai. É um lugar belíssimo, no interior da Inglaterra. Relativamente próximo a Cambridge, embora quando se fala em distancias em um país gigante como o Brasil nada faz muito sentido.

Então ele desatou a falar sobre a Inglaterra, as viagens de sua família, de sua mãe brasileira, da falta que ela fazia. Do pai que era um homem sério, e muito mais velho. E cada vez mais distante dele e da irmã. Falou que conhecer o mundo faz você se conhecer melhor, mas que encontrar o próprio lugar é a busca de todo mundo.

— Você tem uma irmã ? não sabia. Elisabeta quase o cortou, contando sobre as suas 4 irmãs. A doçura de Jane, a esperteza de Cecilia, a coragem de Mariana e de Lídia, que era novinha ainda. Mas ela acreditava que Lídia seria bem, digamos,  da pá virada. Foi engraçado explicar para ele a expressão, mas ele associou algo próximo de Ludmila.

E Darcy falou sobre Charlote. Como ela doce, e era praticamente um bebe quando sua mãe se fora, tendo nele, devido a distância do pai, sua maior fonte de afeto. Talvez por isso, Elisabeta pensou, ele parece tão mais velho do que realmente é. E tão mais sério. Darcy que sempre teve tudo do bom e do melhor que a vida pode oferecer passou por muitas perdas pessoais. E isso era bem visível se o olhasse mais de perto. Já ela não, materialmente a vida tinha sido justa com ela. Mas pessoalmente ela só tinha a agradecer a família extremamente amorosa que ela possuía. Embora muitas vezes nos últimos tempos ela tivesse serias discussões com Dona Ofélia.

Não perceberam a passagem do tempo enquanto continuavam conversando, Elisabeta decidindo se poderia ou não ajudá-lo em redação, em troca dele deixa-la ainda mais fluente no inglês. E ele pensando em como convidaria aquela menina imperdível, como diria sua mãe, para sair novamente. Foi então que Elisa ouviu seu nome ser chamado e ao olhar em direção do som percebeu Ema e Ludmila paradas com olhares completamente abobalhados para ela.

Sem saber o que fazer, ou como explicar, Elisabeta simplesmente viu as meninas invadirem a Sorveteria e sentarem na sua mesa, junto com Darcy. Foi Ema quem quebrou o gelo instalado pela falta de jeito dos amigos.

Elisa, passei na sua casa e sua mãe me disse que estava aqui. E que disse que você voltaria logo, mas já tinha mais de 2 horas que você tinha saído. Então viemos te encontrar, eu e Ludmila, porque temos o trabalho de literatura para entregar, temos que fazer nossa peça de teatro como você sugeriu. Ema continuou falando enquanto Elisa pensava no que fazer, Darcy pensava em como se despedir, e Ludmila só pensava em como não havia percebido antes.

Ia muito a sala de Darcy e percebia o quão distante ele ficava das garotas que se atiravam em cima dele, mas achou que ele tinha alguma namoradinha da Inglaterra. Na verdade ele apenas estava de olho na sua amiga. E se ela não se enganasse, Elisabeta também estava de olho nele. Se Ema pelo menos falasse menos e elas pudessem voltar e esperar Elisabeta na casa dela tudo seria mais fácil pra eles, mas a patricinha parecia não enxergar a situação, mesmo se dizendo uma cupido profissional. E pior, daqui a pouco chegaria Ernesto que também seria do grupo delas no trabalho.

Meninas, perdão pelo atraso. Disse Ernesto explodindo pela porta. E Darcy e Elisabeta não poderiam ficar mais sem graça. Ele por achar que se Elisa tivesse interesse no garoto, ele estaria fazendo algo muito pouco ético. E ela por realmente não querer explicar para os amigos o que estava acontecendo ali, se ela mesma ainda não sabia.

Percebendo que estava na hora, Darcy se levantou e dirigiu ao caixa da sorveteria, seguido por Elisabeta, enquanto um Ernesto muito desconfiado observava a cena e as meninas sorriam. Darcy estava tirando o dinheiro para pagar os sorvetes quando Elisabeta pulou na sua frente.

Ei, eu te prometi um sorvete, lembra ? eu pago. Ela falou e já foi logo entregando o dinheiro ao Seu Manoel.

Darcy ainda tentou dissuadi-la sem sucesso. Era parte do cavalheirismo pagar a conta, mas Elisabeta não estava nem aí pra isso. Enquanto os amigos a vigiavam da mesa ele tomou uma coragem que não sabe de onde veio e sussurrou pra ela – eu posso pagar o cinema no próximo sábado  ?  ele achou que ela diria não, mas ela sussurrou de volta – será um prazer.

Então Darcy voltou a mesa, se despediu deles e foi embora com um sorrido no rosto enquanto Elisabeta encarava 3 pares de olhos que exigiam explicação.

Elisabeta não deu uma explicação muito convincente a seus amigos. Eles tinham paquerado ? Ema quis saber. Não. Não paqueraram. Ela tinha certeza. Talvez por não ter dado tempo ou por optarem conversar. Eram amigos então , Ernesto quis saber ? Também não, amigos não eram bem o que eram. Se conheciam da escola, se viam muito pouco, eram quase amigos, ela pensava assim. Iam se ver de novo ? foi a pergunta de Ludmila, que Elisabeta tentou enrolar dizendo que se veriam na 2ª feira, na escola, mas não colou. Então ela falou que talvez fossem ao cinema, mas ela ainda não tinha se decidido. O que era uma tremenda mentira, mas era preciso cortar as expectativas dos amigos, quem sabe assim ela também cortasse as suas.

Assim eles seguiram de volta para a casa de Elisabeta, cada um com suas próprias conclusões.

Mas Elisa só pensava no cinema.

Cinema com um garoto, bom, ela já tinha ido ao cinema com Ernesto, com seus primos, e até com um primo distante de Ema. Mas nunca tinha ido ao cinema com um garoto que ela estava interessada. Ela estava interessada, não havia dúvida alguma. Ela não era uma garota de ter dúvidas, muito menos sobre isso. Talvez fosse a hora, talvez Darcy fosse “o” garoto que ela sempre dizia a si mesma que beijaria.

E ela nunca tinha beijado um garoto antes. E se Darcy tentasse beija-la ? Ele era 2 anos mais velho, possivelmente sabia mais de beijos do que ela.

Cinema com Darcy. Será ? ela pensava no seu quarto a noite, depois que os amigos foram embora. Tentou dormir, deixar o assunto pra lá, e quanto mais perto chegava a 2ª feira, mais ansiosa ela se sentia.

E se Darcy não falasse mais nada? E como ele a trataria na escola ?


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