High School Darlisa escrita por kicaBh


Capítulo 1
Capítulo 1 - Olá


Notas iniciais do capítulo

Descobri que se não postasse logo iria reescrever e nunca sairia do primeiro parágrafo.

Espero que gostem.



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Era o primeiro dia de aula de Elisabeta no novo colégio. Escola Inglesa. Ela estava atrasada, não no relógio, mas ao fato pertencer aquela escola que as crianças frequentavam desde bebês. Ela com seus 15 anos se sentia uma anciã na escola da alta elite de Campinas. Ela parou em frente ao portão fechado, que devia ter uns 2 metros de altura, observando a estrutura. A escola era enorme, ela já havia ido lá em festas juninas com sua amiga. Por um segundo ela pensou se ali era lugar para ela, já que sendo fiel as suas origens, ela preferiu vir de ônibus, ao invés de aceitar a carona da melhor amiga.

Elisabeta tinha conquistado uma bolsa na Escola Inglesa por um conto que ela havia escrito sobre a Inglaterra. Foi um concurso que a escola fez com os alunos da cidade de Campinas, com o intuito de oferecer bolsas e fazer algo como responsabilidade social. Seriam 2 alunos bolsistas no ano de 1990. Elisabeta não era necessariamente uma pessoa pobre, paupérrima, seu pai era um bom contador, conhecido pela habilidade na contabilidade rural por anos. Mas ter 5 filhas eleva custos, então Elisabeta , sendo a mais velha, nunca teve acesso ao melhor colégio da cidade, mas tinha uma boa formação complementar, com curso de inglês, incentivo pela literatura, dança. Mas nada de grandes viagens. Sete pessoas era um custo muito caro para se cruzar o mundo. Mesmo assim ela frequentou a melhor escola de Artes de Campinas por muito tempo, não era apta no piano, e dançava razoavelmente bem, tinha aptidão pelo teatro muito mais pelo texto do que pela representação. Mas a escola era uma exigência de sua mãe, que ainda acreditava que mulheres deveriam ter uma formação clássica para que um bom casamento fosse construído no futuro. E mesmo achando graça, já que Elisabeta gostava muito de andar pela cidade sentindo o vento nos seus cabelos, fazia esse agrado a mãe.

Foi o ballet que deu a Elisabeta sua melhor amizade de infância. Ema Cavalcanti, mesmo que o avo não fosse mais o Barão do Café, tendo perdido o título para Julieta, uma Rainha do Café que chegou em Campinas comparando fazendas e fazendo revoluções, Ema continuava sendo a típica princesa do interior paulista. Estudava na escola Inglesa desde criança, tocava piano brilhantemente, conhecia o mundo, mas não tinha muita aptidão no ballet, o que fez com que ela e Elisabeta se divertissem juntas nas aulas. E dali surgiu uma amizade que as complementava. Elisabeta era arrojada e livre, Ema era chique e comedida. Mas eram companheiras, leais e faziam bem uma a outra.

Foi Ema quem mostrou a Elisabeta o anuncio, dizendo que se a amiga ganhasse o concurso estudariam na mesma escola, na mesma sala. E isso seria o melhor dos mundos. E aqui estava Elisabeta. O 2º contemplado tinha sido Ernesto, amigo de Elisabeta e um certo desafeto de Ema, tamanha implicância de um pelo outro.

Ernesto era filho de um dos empregados de Felisberto no escritório de Contabilidade, e como Elisabeta, era um garoto esperto, inteligente e com grandes ideais para mudar o mundo. Brincavam juntos durante a infância inteira, e durante um tempo Elisabeta pensou que poderia se apaixonar por ele, mas o “click” nunca aconteceu. Ambos estavam um pouco amedrontados por entrar num ambiente que naturalmente não era do deles. Eles eram práticos, divertidos, informais, como bons brasileiros. Ali naquela escola se prezavam bastante os costumes britânicos, a formalidade e a seriedade.

Elisabeta pensou no que encontraria. Tirando o idioma, que ela teria que se familiarizar bastante, já que seu inglês não era tão fluente, nas demais matérias ela se acreditava totalmente capacitada para encarar esse desafio. E teria Ema te ajudando com o todo o resto, não que Elisabeta tivesse qualquer problema com intimidações, não era dada a baixa auto estima. Muitas vezes era ela quem ajudava Ema a se sentir mais bonita ou mais segura.

Sua melhor amiga insistia que sua missão de vida era cuidar do pai e do avô, correspondendo a todos os anseios de ambos. Do alto dos seus 15 anos , Elisabeta achava que Ema era uma louca por direcionar a vida pelo que o pai e o avô ditavam. Ela não, amava seu pai e seus ensinamentos, mas queria guiar sua vida por suas próprias escolhas.

Embora não falasse, Ema nutria uma paixão platônica por Jorge, advogado da família. Paraticamente da idade do seu pai, Jorge era o que ela considerava de homem decidido. Elisabeta o achava muito velho para a amiga, muito sério, mas não criava muito caso. Deixava que a amiga sonhasse com aquele homem tão próximo dela, e ao mesmo tempo tão distante.

Elisabeta nunca tinha se interessado verdadeiramente por garoto nenhum, e beijar alguém era uma fantasia mais romântica do que prática, como via algumas amigas fazerem. A onda era deixar de ser bv, a tal boca virgem, e ela era considerada uma carola não ter ainda dado um primeiro beijo. Ema também estava nessa situação, mas enquanto a princesinha sonhava com o príncipe encantado a salvando num cavalo branco, imagina cenários, situações, Elisabeta apenas ainda não tinha encontrado “o” garoto. Aquele que ela imaginava que nada mais importava, a não ser beija-lo. Fosse qual fosse a ocasião.

Ema ralhava com ela, dizendo que Ernesto tinha uma quedinha inteira por ela, mas Elisabeta ria disso. Ernesto era um amigo de infância, cresceram e brincaram juntos a vida toda. Ernesto não fazia o coração dela palpitar.

Ainda parada em frente ao portão, pensando se Ernesto já tinha chegado, Elisabeta pensou nas irmãs : Jane, Cecilia, Mariana e a pequena Lídia, e tocou a campainha da escola. Suas irmãs estavam orgulhosas, assim como seus pais. Dar certo ali era escrever o nome dos Benedito numa das melhores escolas do mundo. Era ter a preparação ideal para que ela fizesse a faculdade que quisesse, no curso que quisesse. No país que quisesse, e claro, Elisabeta mirava Cambridge na Inglaterra. Na sua idade, era uma grande responsabilidade.

*

Darcy Williamson estava nervoso. A timidez por estar em público ainda o perseguia por onde ia. Seus 17, quase 18 anos, deveriam dar a ele um ar mais de homem. Mas sua altura, somada a falta de jeito, só tornavam as coisas piores.  Ele se sentia desengonçado, embora as pessoas não o vissem desta forma. Talvez a criação inglesa, a formalidade, a postura o ajudassem. E as garotas sabiam que era um Lorde e talvez por isso insistiam e dizer o quanto ele era bonito.

Ele estava chegando para seu 1º dia de aula numa escola nova. Era a Escola Inglesa, seu pai precisou estar no Brasil durante este ano para encerrar de vez os negócios da família no país, já que as ferrovias não vingavam. Mas Darcy acreditava que isso tudo era uma forma dele exterminar a presença de sua finada mãe.

Então o pai trouxe ele e a irmã para este ano no Brasil como uma forma de se aproximar deles. Para Darcy além de rever o país de sua mãe, tirava um pouco do peso para decidir que faculdade faria. Ele pensava em Economia, talvez Engenharia, em Cambridge. Não seria difícil, ele era um garoto inteligente, mas escrever era um problema. Colocar no papel suas ideias, expor-se, mesmo que no papel, era algo complicado para ele. E sua mãe, sendo brasileira, tinha um jeito informal que Darcy amava. A fazia a mais amorosa das criaturas, e contava a ele suas aventuras da escola brasileira. Sua mãe havia estudado na Escola Inglesa. Seria um parazer estar num lugar onde ela esteve.

Estava tão perdido em seus pensamentos quando desceu do carro do motorista particular que o trouxe que quase trombou com a garota parada em frente a escola. Ela tinha cabelos presos num coque informal, usava a camisa branca com o slogan de tom avermelhado da escola e uma calça jeans e tênis, que pareciam já ter tido dias melhores. Ele a achou um bastante informal, será que todas as garotas da escola eram assim ?  Na Inglaterra os uniformes eram sociais, o que ele aprendeu que valorizava as mulheres. Ele mesmo usava uma calça social e a camiseta branca com o slogan da escola.

Com licença , a senhorita também está chegando para as aulas ? Darcy perguntou tirando todo o sotaque do seu melhor português. Depois da perda da mãe a língua ficou quase esquecida, seu pai se recusava a falar,  e a pequena Charlotte tinha que ser lembrada das palavras diariamente.

Sim, sim, estou chegando. É meu 1º dia e estou um pouco confusa em como proceder. Elisabeta respondeu ao estranho que lhe perguntava. Era o garoto mais alto que ela já teve oportunidade de ver tão de perto. E os olhos verdes mais bonitos também. Pena uma cara tão fechada, ela pensou.

Imagino que seja por isso seus trajes. Darcy falou se arrependendo logo em seguida, devido ao olhar que ela lhe lançou. Não era sua intenção diminuí-la, apenas achava que as roupas não estavam condizentes com escola. Eram roupas para se divertir. O Brasil era um país estranho, mas será que tanto assim ?

Elisabeta então realmente reparou nele. A camisa impecavelmente passada, calça e sapatos sociais, um cabelo sem um fio fora do lugar, postura de um nobre britânico. Inclusive a arrogância. Que garoto abusado.

Ferida em seu orgulho ela não se deixou abater, sabia que estes eram os alunos da Escola Inglesa, e ela não faria o tipo deles, nem cederia a suas provocações ou observações sobre o que ela vestida, ou como se portava. Não era uma selvagem, mas ele também não era nenhum membro da realeza britânica. Ela poderia lembra-lo disso.

Perdão pelos trajes, Milorde. Não sabia que sua majestade, a rainha Elisabeth, se preocupava com vestimentas numa escola do interior paulista. Ela respondeu na ponta da língua. – tenho absoluta certeza de que sua alteza tem coisas mais importantes a tratar a mando da Rainha Elisabeth.

Darcy se assustou, achou a garota petulante, orgulhosa, mas engraçada no final das contas. Ela não se intimidou, e os olhos azuis dela o encaravam como um gato preparado para o ataque. E ele percebeu como ela era bonita. E sim, ele era um membro na nobreza. Ele ia responder a ela sobre sua linhagem quando a porta da escola foi aberta e uma senhora com ares de pedagoga os saudou. Era Dolores, Elisabeta se lembrou dela na entrevista. Darcy também, ela o havia chamado de lordezinho de 2 metros.

Elisabeta e Lorde Darcy, que coincidência. Dois dos nossos novos alunos chegando. Sejam bem vindos. A senhora Dolores os chamou, dando toda atenção a Darcy.

Obrigada, Senhora Dolores, mas por favor, apenas Darcy. Ele disse. Meu título não é relevante o suficiente para se lembrado por sua majestade em país tão distante. Darcy disse surpreso consigo mesmo, raramente aceitava provocações, mas esta garota o deixava desconfortável o suficiente para ter que se defender.

Elisabeta ficou olhando para os dois. Então realmente ele da realeza , hein ? Grande. O primeiro dia dela de aula e era obrigada a cruzar um arrogante inglês de nascimento. O que diabos ele fazia aqui ? Deus permita que ele não fosse de sua sala.

Elisa ? Ela ouviu ser chamada por Ema que vinha correndo em sua direção. Um sorriso de orelha a orelha. Enquanto isso Dolores levava Darcy pelo braço, com todo cuidado do mundo. -Que bom que está aqui minha amiga, estudaremos juntas, não é o máximo?  Inclusive aquele Ernesto também, e já chegou. Ema a abraçou.

Ema, quem é esse aí ? Ela apontou para Darcy que era levado como a própria rainha da Inglaterra.

Eu não sei, mas observando melhor agora, oh meu Deus, deve ser o Lorde Willamson. Ele é de uma família de nobres ingleses, a mãe era brasileira mas faleceu a uns anos. O pai dele está no Brasil encerrando alguns negócios e ele veio acompanha-lo. Ema tagarelava sem parar, sobre como a escola tinha se preparado para receber o lorde, pedindo para que todos os alunos fossem simpáticos, que ele era tímido, mas muito bem relacionado. E que este ano ele seria o único aluno inglês, já que Frederick e William Simons havia se formado ano passado. Darcy era considerado um aluno brilhante e a escola esperava que ele tivesse uma ótima estadia.

Ainda falando sobre Lorde Darcy Williamson ela levou a amiga para a sala, para a carteira que ela tinha separado próxima a sua e foi apresentando as meninas que ela mais gostava, deixando de lado aquelas que achava que julgariam Elisabeta.

Elisabeta não decorou nome de ninguém, algumas meninas sorriram simpáticas, outras tiveram o mesmo olhar do tal lorde Darcy, lorde, nada, Darcy. O jeito despojado de Elisabeta era tema de constantes discussões, enquanto Ema parecia saída dos catálogos de moda europeus , Elisabeta era a típica garota brasileira. Jeans, camiseta e tênis. Ema se vestia e era copiada e invejada por todas, menos por Elisabeta, talvez por isso gostassem tanto uma da outra. Elisabeta admirava a proposta de se vestir de Ema, apenas não tinha a mesma disposição.

Ernesto também já estava na sala, sentado próximo a uns garotos, conversando sobre futebol, e Elisabeta desejou neste momento ser um garoto. Eles tinham muito menos receios para se enturmarem. Esporte os unia. Bem, ela pensou, exceto o Lorde Williamson, se ele não encontrasse um outro garoto tão formal quanto ele é possível que nem lhe dirigisse a palavra, ela o que ela pensava dele. E então Elisabeta olhou para Ema falando e falando sobre o colégio e as amigas, até que uma professora entrou na sala e falando um inglês britânico perfeito , se apresentou como Ligia, lecionava gramatica portuguesa. E Elisabeta sentiu o primeiro impacto. Ela olhou para Ernesto e ambos começaram a entender o tamanho da enrascada que se meteram.

Na hora do intervalo da manhã Elisabeta já estava exausta. Todas as aulas eram lecionadas em inglês, e ela tinha que ficar tão concentrada para não perder nenhum detalhe que sua cabeça estava um pouco zonza. Não bastasse Ema continuava falando em seu ouvido sobre como funcionava a cantina , os alimentos, as aulas que teriam após o intervalo, e ainda a tarde, quando a escola priorizava alguns esportes, artes, coisas pelas quais a fizeram vir estudar aqui. Eles tinham um ótimo clube de leitura e escrita, que casava exatamente para o que Elisabeta queria fazer da vida. Escrever. Nisso ela estava interessada.

Elisa, você parece distraída. Está prestando atenção no que te falo ? Briana me disse que o lorde é parente distante dela, ela está se gabando disso. Dizendo que na família Williamson tem uma espécie e tradição de se casar entre primos, e que ela acha que ela pode ser a lady Williamson um dia. E você bem no portão com ele, então, me diga, o que achou ? Ema perguntou mas continuava falando. Que ela não sabia se Ernesto ia se enturmar, embora ele estivesse discutindo futebol com os garotos, combinando partidas.

— Ema, minha cabeça está explodindo. Muita informação para mim hoje, eu tenho que me concentrar nas aulas. Eu vou comer algo e ficar em silencio, por favor. Elisabeta respondeu e foi para fila da cantina. Comprou um suco e um sanduiche de pão integral, olhou em volta e pensou. A escola era grande, funcionava no antigo liceu, era um casarão enorme, um palácio dos tempos do Império, com espaço para tudo. E ela agora só precisava de um pouco de silencio, por isso viu de longe uma arvore e foi até lá e se sentou embaixo, no chão mesmo. No caminho Ernesto perguntou se ela precisava de companhia, mas ela disse que não. Ema continuou conversando com as amigas e ouvindo de Briana informações sobre os desejados garotos do terceiro ano, agora com um lorde entre eles.

A ida de Elisabeta para o lugar silencioso não escapou da vista de Darcy. Ele precisava se desculpar por acusar os trajes dela de inapropriados, até porque ele é quem se sentia deslocado por estar tão formal na escola. Ali todos os alunos podiam usar jeans e ficar a vontade. Algumas garotas de sua sala usavam até saias muito curtas, na sua opinião, embora atraísse completamente o seu olhar.

Vendo que Briana, filha de uma prima distante de sua mãe vir em sua direção ele deu um jeito de sair. Briana em si não era tão má pessoa, mas a mãe era alguém deplorável, que tinha mania de grandeza e nobreza, e trazia para si esse título de lady e condessa onde quer que fosse. Infernizava a vida da filha com regras e num dia qualquer, uma brincadeira feita por seus pais ventilaram  sobre um possível casamento deles. Bastou isso para que “prima” Margareth, nunca mais pensasse diferente. Seu próprio pai já havia dissuadido várias vezes dessa ideia absurda , mas ela insistia dizendo que seria perfeito, que Briana nasceu para ser inglesa.

Fugindo da prima Darcy se viu indo em direção onde Elisabeta relaxava e comia seu lanche.

— Perdão, senhorita. Atrapalho ? ele perguntou olhando para ela com olhos tão abandonados que ela desistiu da má resposta. Ela simplesmente o ignorou. Estava frustrada, na verdade achou que seria mais fácil, mas era muito assunto, muito gente, além de Ema e toda sua expectativa. Mas Darcy não se deu por vencido e continuou falando. - Gostaria de me desculpar. Perdão pelo meu pouco tato. Seus trajes estão completamente dentro da realidade da escola. Ele disse conforme sua boa educação mandava.

Elisabeta olhou para ele novamente, como vontade sincera de manda-lo a merda. Pensava na idiotice de ter aceitado essa bolsa, de ter sido seduzida por esta escola. Estava na cara que nada disso daria certo, imagina, estudar em Inglês. E lá estava ele, Darcy Williamson, um nobre inglês metido a besta, olhando para ela, pedindo desculpas como se os trajes de todos eles fossem inapropriados. Imbecil, isso é o que ele era. Mas ela estava cansada demais para dar uma resposta a altura e simplesmente disse obrigada.

Darcy não se deu por vencido ainda assim. – Senhorita, a senhorita me disse que hoje é seu primeiro dia nesta escola. Eu já passei por isso algumas vezes, porque já me mudei algumas vezes na vida. Sinto por ter tornado seu dia um pouco mais difícil, mas se quer um conselho, em 30 dias estamos totalmente adaptados.

Pare de colocar o “senhorita” antes do meu nome, não nos tratamos assim aqui. Eu me sinto perdida num livro do século XVIII. Ou uma espécie de donzela da idade média. Sou Elisabeta, apenas Elisabeta. Elisabeta respondeu, olhando-o e oferendo a mão numa apresentação simbólica.

Darcy.   Ele aceitou o cumprimento.

Uns 30  dias e essa sensação de não ter feito a coisa certa desaparece , hein ? Darcy, se você tiver razão te pago um sorvete. Elisa sorriu pela primeira vez naquela escola.

Aceito.  Ele sorriu pela primeira vez para alguém que não era Charlotte, desde que chegou ao Brasil.

Ele então tomou uma atitude considerada informal na sua família. Ele se sentou ao lado dela com seu lanche e falou sobre adaptação, que era preciso deixar o tempo seguir. Então o sinal tocou, eles se despediram e cada um voltou para sua classe.

30 DIAS DEPOIS

Elisabeta levantou animadíssima. O tempo passava rápido, e a escola estava mesmo tomando todo o seu tempo.

Na primeira semana de aula seu pai ficou preocupado, Felisberto havia chamado Elisabeta para uma conversa séria. Se ela não se adaptasse ele a voltaria para o antigo colégio e ninguém mais falaria nisso. Mas ela não daria o braço a torcer tão cedo, os sonhos de ganhar um mundo passavam por uma formação excelente, coisa que ela teria, de graça, se não se importasse tanto com as patricinhas daquela escola, que diferentes da sua amiga Ema, não tinham interesse real pelas pessoas, só pelo que elas possuíam. Se ela ignorasse também alguns garotos da sua sala que olhavam seu jeito de vestir muito pior do que o lorde Darcy tinha feito, mas nenhum tinha pedido desculpas.

Mas então mais uma semana passou, e outra, e agora ela tinha algumas amigas, além de Ema. Ludmila era a melhor delas. Tinha vindo de São Paulo para estudar no interior porque seu pai queria domá-la. Era herdeira de uma fábrica de tecidos e queria comandar a fábrica tanto quanto queria curtir a vida, e os rapazes. De todas elas, Ludmila era a amiga mais saidinha, e os desejados garotos do 3º ano a adoravam. Por isso todas as garotas do 1º ano queriam ser como ela. Elisabeta não, Elisabeta queria saber dela o que ela sabia da vida, não dos garotos.

Ema e Ludmila não se davam bem, e por isso Elisabeta tinha que por vezes escolher uma ou outra para conversar na cantina, fazer um trabalho em grupo, ou mesmo passear na cidade nos fins de semana. Ema geralmente gostava também da companhia de Briana, a quem Elisabeta passou a entender que ela, Briana, não era quem realmente desejava ser. Mas era uma filha que a mãe projetava, com o claro intuito de se casar com o primo distante, que estudava na turma dos desejados garotos do 3º ano.

Nestes 30 dias Darcy também se adaptara a escola. Apesar da timidez vinda pelo tamanho que sempre o fazia ser notado, os colegas descobriram a camaradagem por trás daquele inglês formal. Era inteligente, bonito, e as garotas vinham como enxame onde ele aparecia. Sua prima Briana capitaneava as garotas do 1º ano aos passeios na turma do primo. A desculpa era vê-lo, conversar com ele, e então apresentar as amigas aos colegas deles, que ficavam esperando, mesmo considerando as meninas novinhas – como se eles fossem senhores adultos.

Ludmila não servia a esse joguinho, muito pelo contrário, ela adorava jogar conversa fora com Januário, um funcionário do colégio que pintava nas horas vagas e que não via a hora de voltar para São Paulo, viver de arte, expor em Paris. Januário era tão jovem quanto os garotos da escola, mas a vida difícil fazia com que ele trabalhasse ali durante o dia, e estudasse a noite. Ema também não seguia por estes lados, e por isso ficava grudada em Elisabeta e aos poucos aprendia a suportar Ernesto.

Eles nem se estranhavam mais, ele ficou tão popular na escola por seu jeito expansivo que era impossível implicar com ele. As garotas já tinham uma quedinha e achavam o jeito esforçado dele o máximo. Ele dançava bem e já pensavam nele nos bailes.

Elisabeta se destacava nas aulas de literatura e redação. A professora Ligia a estimulava a ler bastante, e com isso sua escrita só melhorava. Até mesmo ouvir as aulas em inglês estava deixando de ser um problema. Ela conseguia conversar com Ema e Ludmila sem perder a atenção na aula.

Ela e Darcy não se falaram muito nestes dias, primeiro porque ele era a “sensação” da escola, todas as garotas queriam ver, saber histórias e ficar perto do nobre inglês. E ela achava isso tudo um pouco ridículo, mas ele parecia gostar, ou ter educação suficiente para não maltratar nenhuma daquelas meninas.

Darcy por outro lado não deixou de observar como ela se adaptou durante estes dias, ele sabia como funcionava uma nova escola, amigos, mas para ela, o pouco que conversaram, foi uma mudança grande. Mais do que isso, olhar para ela virou um passatempo. Ela não era como as outras garotas, que iam na turma dele, curiosas para saber como eram os príncipes ingleses, a vida dele, estas coisas que ele considerava uma tremenda bobeira. Elisabeta era alheia a isso tudo, a ele, e isso o permitia observa-la interagir por aí. Ela agora usava os cabelos soltos ao vento, e nas aulas conjugadas deles na parte da tarde ele a via praticar atletismo enquanto ele tentava jogar futebol com seus amigos. Ele percebia que garota bonita ela era, e que Ernesto tinha um constante interesse nela.

Ernesto era um cara legal, esforçado e Darcy valorizava isso. Para ele as coisas vieram fáceis na vida, era diferente conviver com gente cuja vida era mais apertada. E achava mesmo que ele e Elisabeta tinham muito em comum, mas mesmo assim não conseguia não prestar atenção nela. Que parecia sempre alheia a tudo, inclusive a Ernesto ou aos outros garotos. Ela tinha sempre um livro nas mãos , Ema ou Ludmila a tiracolo, uma auto confiança de quem sempre sabe o que quer e um sorriso que o deixava desconcertado. Tantas garotas nesta escola, algumas realmente muito bonitas, tão nobres quanto ele, e ele ali, contemplando a beleza desligada de Elisabeta Benedito. Ela não ligava para roupas de grife, e os jeans e os tênis, ele agora entendia, deviam ser extremamente confortáveis, o que para ela parecia prioridade. Enquanto as meninas de sua sala e das outras se maquiavam, ajustavam a blusa para moldar os seios, Elisabeta usava aquela blusa branca com um símbolo vermelho como se tivesse sido feita para ela.

Ainda bem que o destino deu uma mãozinha, pois ele estava entregando um livro na biblioteca quando Elisabeta chegou perguntando sobre “vastas emoções e pensamentos imperfeitos”, livro de Rubem Fonseca. O livro que ele estava devolvendo. Coincidência ou não ela sorriu para ele, o fazendo lembrar da brincadeira em estilo de promessa do primeiro dia de aula deles.       -E então, senhorita Elisabeta. Quer dizer, Elisabeta, totalmente adaptada a escola ? Darcy perguntou fazendo gracinha.

Lorde Williamson— ela falou de volta, quase fazendo uma mesura – confesso que o tempo passou eu estou confortável aqui. O que agora me faz lembrar que te devo um sorvete.

Eu adoraria. Ele entregou o livro a bibliotecária, e então ela começou os tramites para empresta-lo a Elisabeta. Assim inclusive posso te falar sobre este romance brasileiro que junta cinema e sonhos, muito bom por sinal. Ele riu da cara feia dela, com medo de que ele contasse algum segredo da história.

Ok, vamos a cantina que eu te pago um tablito. Ela falou prática, enquanto algumas garotas já olhavam para eles interessadas no que eles conversavam.

Em hipótese alguma eu quero um sorvete da cantina, eu sou novo na cidade, exijo uma sorveteria de fora. Darcy não soube o que aconteceu com ele naquele momento. Algumas garotas do colégio o convidavam para sair e ele acabava dando alguma desculpa esfarrapada, mas ali estava ele, querendo tomar um sorvete com Elisabeta Benedito, ele havia descoberto o sobrenome numa conversa com Ernesto, depois das aulas de educação física. E Deus o ajudasse , se ela aceitasse ele não tinha a menor ideia do que conversaria com ela

Elisabeta riu com vontade, porque pelo que Briana e outras meninas da sua sala falavam, aquele era o sonho delas. Algo como os americanos chamavam de encontro. Mas não era isso, ela tinha certeza, Darcy só estava sendo simpático. No entanto... .

No entanto ela ficou imaginando, Darcy pelo que ela sabia, morava numa das mansões mais chiques de Campinas, algo para se perder lá dentro. E ela morava num bairro de classe média simples, já no caminho para as áreas mais pobres da cidade. No entanto...

Havia uma sorveteria maravilhosa que ela e as irmãs gostavam de ir. Era pequena, simples, Ema vivia dizendo que era bastante suja e sem glamour. E Elisabeta achou perfeita mostrar a um nobre inglês um costume tipicamente brasileiro, algo como ir a praia e comparar comida de um ambulante.  -  Tudo bem, eu conheço um lugar ótimo perto da minha casa, Sorveteria Salada, é tipicamente brasileira, apesar do dono ser português, não sei se o senhor vai apreciar, mas eu gosto bastante do sorvete de abacaxi com coco que eles fazem por lá. E tem uns sabores de frutas brasileiras também. Ela falou e ele olhava para ela, fascinado com a espontaneidade e a praticidade que ela resolvia tudo.

Então estamos absolutamente combinados. Eu posso pega-la no sábado as 15 horas. Ele falou o mais seguro que conseguiu, tentando fingir que o coração não estava saindo pela boca com o medo dela dizer não enquanto eram observados.

De jeito nenhum, encontro você lá, é perto da minha e eu gosto muito de andar.. Ela não desistiu, mas o coração também estava palpitando. Que seria isso ? seria a constatação de que o garoto moreno que a olhava era extremamente bonito...?

Ela pegou o livro, e num papelzinho deu o endereço da sorveteria para Darcy.

E nenhum dos dois foi capaz de pensar em outra coisa ao voltar para as aulas.


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Notas finais do capítulo

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