High School Darlisa escrita por kicaBh


Capítulo 11
Cap.11 - DARCY 1991 – 1992




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1991 foi um ano difícil para Darcy. Ele não estava feliz em Cambridge, nem em casa. Elisabeta era uma lembrança constante e ficava difícil levar o dia a dia sem ela com ele, sem os abraços, os carinhos, os beijos e claro, o corpo dela unido ao seu.

Darcy manteve a promessa de não terem nenhum contato, mas num momento de desespero, meses depois, ligou para ela. Foi pior. Ele desligou o telefone e saiu de casa para não chorar no quarto. Ele ainda tentou ligar para ela mais algumas vezes, mas não adiantava. Elisabeta fazia falta fisicamente. Ela estava grudada nele, na pele dele. Era uma tortura estarem tão distantes.

E talvez isso o tenha tornado um homem intratável, que nada agradava, estava sempre com a cara amarrada e de mal humor. Sua família possuía um apartamento nos arredores da universidade de Cambridge e Darcy optou por ficar lá. Nem a Charlote ele estava dando muito assunto, ia a Pemberley como obrigação e sequer percebeu algumas alterações em seu pai. Preferia ficar sozinho sem fazer nada, as vezes corria, ia aos bares, mas voltava para casa para sua solidão.

Darcy ainda tentou um terceiro telefonema, já depois do meio do ano, mas foi Dona Ofélia quem atendeu e conversou com ele. Não foi um descarte, muito pelo contrário, foi a conversa mais amorosa que alguém teve com ele sobre um assunto que doía e ele não sabia como lidar. Ofélia lhe contou sua história com Felisberto, da certeza que ela teve de que ele era o amor da vida dela, e do quanto teve que esperar que o pai dela permitisse o namoro porque ela não tinha nem 15 anos. Foi um momento de paciência e perseverança, onde a vida seguia e a certeza os acompanhava. Ela e o marido se reencontraram no momento certo e o resto Darcy conhecia, 5 filhas e uma família que era tudo para eles. E era o que ela sugeria, que Darcy vivesse e deixasse Elisabeta viver também. Que era para ele seguir a vida e os estudos, porque a vida tinha seus próprios caminhos para unir as pessoas. E não era preciso que eles sofressem agora por uma distância que nenhum dos dois poderia transpor.

Darcy pela primeira vez neste ano teve paz e agradeceu a Dona Ofélia o carinho com ele, seu pai nunca falava com ele sobre Elisabeta ou sobre o Brasil, muito menos sobre as próprias dores. Parecia que ninguém o compreendia até Dona Ofélia jogar um banho de realidade em sua vida, algo que só uma mãe era capaz de fazer. E dali em diante ele tomou a decisão e deixou Elisabeta guardada no seu coração.

Não se transformou da água para o vinho, mas se permitiu frequentar as festas de Cambridge. E descobriu que fazia sucesso entre as mulheres, não pelo seu título, mas ele percebeu que sua altura e seu porte davam as meninas as mais variadas fantasias. E se permitiu viver algumas aventuras com mulheres interessantes, algumas mais velhas que ele, outras nem tanto. Ele só não conseguiu travar um namoro com nenhuma delas. Uma garota até tentou arduamente, era uma menina bonita, da mesma idade dele, morena, bem-nascida, mas faltava aquele frio na barriga, aquela urgência de coração acelerado que Elisabeta fazia ele sentir e que duvidava muito que outra mulher pudesse fazer algo semelhante, ou maior. Nestas horas ele bebia alguma coisa para não se lembrar dela e seguia em frente, muitas vezes bastante bêbado. Ele quase virou um boêmio e não fosse o destino, talvez realmente tivesse se perdido numa vida de prazeres. Uma vida que poderia se tornar vazia e idílica.

Mesmo com alguns excessos ele conseguiu colocar a vida na normalidade prevista, conseguia ser menos intolerante e reaproximar de seu pai e de sua irmã, que precisavam dele.

Foi só então que ele percebeu que seu pai estava se debilitando. Num fim de semana normal em Pemberley ele notou a dificuldade do pai para caminhar e a entendeu a causa da ausência total em Londres para os negócios. Archiebald insistia, desde que eles retornaram a Inglaterra para que Darcy se engajasse nos negócios, frequentasse o escritório, mas o deixava nas mãos dos funcionários, nunca estando lá junto a ele. Darcy sentia raiva disso, pois a cada férias e folga ele era obrigado a trabalhar e aprender sobre investimentos, produtos, commodities, numa maratona que não fosse as festas e bebidas, fariam a vida dele parecer que era de um senhor de 60 anos. No início Darcy achou que tamanha pressão era para fazê-lo esquecer de Elisabeta e quase foi um estagiário relapso na empresa da família, mas assim que entendeu que seu pai não estava dando conta de trabalhar foi a luta. Thompson, gerente em Londres, tentara alertá-lo com pequenas sutilezas, mas Darcy agiu como um menino mimado, cujo pirulito havia sido retirado, e fingiu ouvidos de mercador. Como fora tolo. Agora corria atrás do tempo perdido e buscava aprender e controlar o patrimônio dos Williamsons.

A partir daí o ano de 1991 de Darcy se dividiu entre escola e o escritório da família, aprendendo a trabalhar. E algumas noitadas para esquecer a escola, o escritório, seu pai e, principalmente, Elisabeta.

E ele que queria fugir para passar as férias no Brasil, o máximo que conseguiu foi solicitar que a secretaria enviasse um livro a Elisabeta no final do ano. Persuasão da escritora inglesa mais famosa. E lembrava a história dele, o personagem que nunca esquecia a primeira mulher por quem se apaixonou não importando o sucesso que fazia ou quantas outras mulheres conhecesse. Fez uma dedicatória pequena, não era possível escrever mais sem se entregar completamente. E Elisabeta merecia viver a vida como ela gostava. Eles teriam o tempo deles, ele se dizia enquanto pedia para um Deus que nem tinha certeza se acreditava. 

No início de 1992 Darcy descobriu que não daria mais para evitar ir ao médico com seu pai e, num dia as escondidas, seguiu seu velho. Assim que ele saiu do consultório e entrou no carro do motorista da família Darcy entrou na sala do médico que sempre atendia sua família.

Dr Watson olhou para ele com uma expressão aliviada no rosto. Como se o esperasse. O médico explicou a Darcy que seu pai estava com um coágulo sério no cérebro e que havia alguns anos que eles tentavam controlar com remédios, principalmente porque não era esperado que Francisca adoecesse e partisse. Mas no último ano o coagulo crescera. A solução seria uma cirurgia, grande, que deveria ser feita em Londres. Não havia como prever que efeitos colaterais Archiebald poderia ter, nem prazo de recuperação.

Foi somente então que Darcy compreendeu a pressa do seu pai em encerrar negócios mundo afora, em manter somente França e Inglaterra, de prepara-lo para os negócios. E porque deixara o Brasil por último, ficaram mais tempo porque era mais longe. E também porque seria a última vez que seu pai visitaria o local onde sua mãe nascera.

Darcy se culpou por não perceber, mas o médico disse que seu pai era um homem forte e se escondia atrás de rabugices para enganar a todos. Foi um pedido do próprio Archiebald que seu filho fosse poupado enquanto pudesse e somente agora ele sentia que o filho estava preparado. O médico sugeriu que na próxima consulta Darcy estivesse com ele para decidirem o melhor momento da cirurgia.

Archiebald seria operado assim que as aulas de Darcy se encerrassem, no verão europeu. Em Londres. E a recuperação era uma grande incógnita.

Darcy teve um período de universidade pouco preocupado com notas e mais preocupado em aprender a gerenciar os negócios da família. A ajuda de alguns funcionários de seu pai, somada a sua intuição acabou despertando nele a sensação de que possuía tino para negócios. O curso ajudava bastante, seus professores outro tanto e ele ia equilibrando a vida da forma como conseguia. Durante este tempo foi preciso se afastar até das noitadas e das garotas eventuais que ele saía.

Ele conversou com Charlote sobre o problema do pai e explicou que eles passariam os próximos meses em Londres, que ele precisaria bastante dela e que estaria disponível para ela a hora que fosse preciso. Eles voltaram para a mansão de Londres, fechando o apartamento de Cambridge e Pemberley. E depois de algumas semanas que pareceram dias a cirurgia de seu pai chegou e ele nunca sentiu uma falta tão grande de Elisabeta como naquele momento.

Se lembrou dela acariciando seus cabelos várias vezes enquanto ele contava da vida num banco de praça, no parque. E agora ela deveria estar no Brasil se divertindo, como tinha que ser. A vida dela era diferente da dele, a dele era, mais do que nunca, responsabilidade, obrigações, coisas de família. Mas ele pegou várias vezes no telefone naquele dia, apenas para ouvir a voz dela, contar o que estava passando e no fim dizer que esperava ela no início do próximo ano. Mas não teve coragem de ligar.

A cirurgia foi bem-sucedida, no entanto o coagulo estava maior do que o esperado. Archiebald teria longos tempos de recuperação e no segundo semestre de 1992 Darcy não teve tempo para frequentar a universidade. Ele foi a Cambridge dizer que teria que assistir as aulas em Londres. A direção da escola aceitou que ele fizesse algumas matérias a distância, indo à universidade pelo menos um fim de semana por mês. E algumas matérias seriam vistas em Londres para que ele não perdesse nenhum conteúdo. Darcy aceitou, mas não sabia quanto tempo levaria seu retorno, seu pai ficaria um tempo sem andar, com fisioterapia inclusive para a fala. E devido a idade, não se sabia quanto dos movimentos ele recuperaria.

Darcy cuidava do escritório em Londres, acompanhava as fisioterapias do seu pai e cuidava de Charlote. Por sorte Mercedes veio com eles e o que seria provisório acabou se tornando essencial, a amorosa brasileira era um porto seguro para sua irmãzinha já que ele era o homem da casa no momento. Desde cedo Darcy aprendera que não bastava ter dinheiro, era preciso se cercar de boas pessoas, porque havia coisas para quais não havia pagamento. No fim de semana que ia a Cambridge ia as festas para tomar um porre, as vezes beijar alguma garota fácil e disponível e fingir que vivia outra vida. Mas nada disso evitava a ressaca moral.

Um dia Darcy estava na sala do seu pai, que seria sua, no escritório de Londres e retirava alguns papeis da gaveta quando viu um envelope com o endereço de Cambridge. Darcy estranhou, pensando se tratar de alguma carta de recomendação sua, que não seria mais necessário. Mas quando abriu o envelope viu uma cópia de um documento onde seu pai recomendava Elisabeta Benedito. Darcy tomou um susto, nunca imaginara que seu pai recomendaria sua namorada brasileira. E se sentiu feliz por ver seu pai descrever Elisabeta como alguém brilhante, cuja tenacidade só teria a acrescentar a Cambridge. Ao lado da assinatura de seu pai estava a de Dolores, a educadora da Escola Inglesa. A resposta de Cambridge era que seria um prazer ter entre seus alunos alguém recomendado pelo Conde Williamson desde que ela preenchesse os pré-requisitos dos alunos estrangeiros. O coração de Darcy se encheu de esperança.

Darcy sonhara em passar uns anos estudando e curtindo a Europa ao lado de Elisa, fazendo viagens exóticas, bebendo, fazendo amor com ela, mas se via cada vez condicionado a outra vida. E agora era real que ela poderia estar com ele daqui a uns meses. Como ele conseguiria viver aquela liberdade dela com a vida atual dele?

Sua vida não estava fácil, ele trabalhava em horários alternativos para conseguir assistir as aulas, precisava do seu diploma. Além disso tinha que ver como seu pai estava se saindo e ainda dar suporte emocional e físico a Charlote. Ela estava confusa, com medo do que poderia acontecer ao pai, então Darcy frequentava as festas e reuniões escolares dela. Não houve tempo para si mesmo durante esta época.

Archiebald teve uma baixa de imunidade e pegou uma pneumonia no começo do outono. Alguns meses de internação fizeram Darcy não prestar atenção ao tempo, agradecendo chegar ao final de 1992 com o pai vivo, respirando sem a ajuda de aparelhos, mas tendo de recomeçar as fisioterapias do zero. O Natal, ano novo e comemorações não aconteceriam para eles uma vez que o pai passaria estas datas no hospital.

Ele que pensava retomar Cambridge no início do próximo ano teria que procurar a escola e pedir novamente o mesmo esquema de aulas, esperando que eles entendessem. Ele realmente se esqueceu de conferir se Elisabeta foi aprovada.

No entanto o esforço nos negócios da família teve alguns frutos. Darcy acertou em alguns investimentos e ficou feliz por saber que a empresa de sua família era uma financiadora de caridade, ele tinha muito interesse em igualdade social. E só por isso ele aceitou o convite para o evento de gala daquela noite.

Devido a sua pouca idade não foi divulgado que seu pai estava debilitado, apenas que ele, Darcy, estava iniciando nos negócios e nas representações da empresa. Dava mais credibilidade e sua aparência de mais velho, sua introspecção, não levantava duvidas dele ser um jovem decente, um prodígio e um futuro homem de negócios brilhante. Ele ria destas especulações pois era apenas um jovem fazendo a vida andar, mas entendia a responsabilidade que se apresentava.

No entanto quanto mais ficava no salão mais pensava em ir embora, muita gente desnecessária, muita bebida que ele não podia aproveitar pelo motivo que estava no evento e uma demora infindável para o que realmente interessava – os valores das doações.

Apenas quando um repórter de um jornal brasileiro o abordou ele prestou atenção em algo que não fosse o relógio. Darcy não iria realmente falar com ninguém, mas quando o homem falou que era de São Paulo, nascido em Campinas, muitas lembranças brotaram em sua mente e Darcy Williamson se permitiu, pela primeira vez em muito tempo, deixar as lembranças de Elisabeta inundá-lo.


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Notas finais do capítulo

obrigada por cada acesso !



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