High School Darlisa escrita por kicaBh


Capítulo 10
Cap. 10 - ELISABETA 1991 – 1992


Notas iniciais do capítulo

minha pequena homenagem a Yo Quisiera (que não tem fim, mas merecia, que é uma fic linda).



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Lembrando daquela noite de ano novo Elisabeta ainda via surgir um riso bobo na face. Darcy voltara para a Inglaterra mas havia deixado nela uma sensação indescritível de carinho e amor. Agora ela sabia que o amava. E que teriam algum tempo longe antes de se reencontrarem.  Porque ela ia reencontra-lo e dessa vez não teria nada de amizade colorida. Ela iria namorá-lo. E teriam uma vida em comum.

Ela tentou passar os dias na praia com as meninas sem se sentir triste, até conseguiu, mas ao chegar em casa teve uma crise de choro. Seu pai chegou a ficar preocupado, mas Dona Ofélia disse que era para deixar a filha quieta. O tempo colocaria tudo no lugar.

Elisabeta olhou para o livro que ganhou de Darcy e para o pingente que ela carregava no pescoço. Decidiu focar a aprender francês para tirar o sotaque dele da cabeça e pensar em outra coisa. Ela era uma menina que se gabava de não ter nos garotos o mote central de sua vida. Não se tornaria dessas garotas chorosas por grandes amores.

1991 na escola foi um ano atípico, Elisa ficou apática no começo das aulas, Dolores até se preocupou com o pouco aproveitamento dela e a chamou para uma conversa séria, a lembrando que ela era uma aluna melhor do que estava rendendo. Que mirar uma faculdade no exterior era necessário esforço, que ela, Dolores, acreditava no incrível potencial de escrita e observação pela vida que Elisabeta possuía. Mas exceto pelo francês, Elisabeta tinha pouca disposição para as outras matérias. Ela que sempre adorava geografia porque ouvia de Darcy se ele já conhecia o país agora não tinha interesse. História também. E ela andava usando a leitura como fuga. E aprender francês para ler Germinal, já que o livro era presente de Darcy, era sua única motivação nos dias difíceis.

E então, quase 4 meses depois, Darcy ligou. Um dia como outro qualquer, sem motivo algum, Lídia a gritou dizendo que tinha ligação para ela.

Ouvir a voz dele foi um bálsamo e ela não soube dizer por quanto tempo conversaram. Ele parecia bem, ela também, e nenhum dos dois teve coragem de dizer da falta que sentiam. Apenas desejavam que fossem felizes, que em breve poderiam se encontrar e Darcy até cogitou passar férias no Brasil no final do ano. Ele desligou. E ela chorou a noite toda.

Ele ligou novamente um tempo depois e quando disse tchau foi ainda pior. E então Elisabeta estava decidida a não mais atender os telefonemas dele pois partiam o coração dela. Ela não queria saber como era Cambridge, como era o clima na Inglaterra, estava ficando até com raiva e já considera não ir para lá. Era apenas difícil estar com Darcy do outro lado do oceano. E parecia mais fácil para ele, ela pensava. Então quando ele ligou novamente, no segundo semestre, Dona Ofélia conversou longamente com o inglesinho, percebendo que tanto para ele, quanto para sua filha, os telefonemas faziam mais mal do que bem.

Darcy mandou um cartão de natal e um livro para Elisabeta, Persuasão, da inglesa Jane Austen. Que Elisabeta não teve coragem de abrir e ler a dedicatória. Ela guardou na gaveta, como um bibelô muito sensível que poderia ser quebrado ao menor toque.

Terminado o ano de 1991 na escola Felisberto achava que sua filha estava muito cabisbaixa, ela se recuperou nas notas, saia com os amigos, mas ainda não tinha recuperado a vivacidade. Ela era forte, destemida e não se abatia mais do que o necessário, mas ele achou que sua filha merecia viver, e então deu a ela um presente de natal diferente, o direito de passar o carnaval em Salvador no próximo ano.

Ema não quis ir com ela porque namorando Ernesto e achando ele o homem mais bonito do planeta ela não estaria num lugar cheio de outras garotas para cobiça-lo. O namoro deles ia bem, um pouco de ciúme demais de ambos os lados, mas Elisa achava que eles se mereciam, no melhor sentido da palavra.

Já Ludmila, com a partida de Januário para São Paulo, aceitou de pronto o convite da amiga. Ela ainda tentou procurar Januário na capital, mas não o encontrou, ninguém sabia onde ele estava e ele não se despediu. Ela não invadia a privacidade de Elisabeta sobre Darcy, mas achava que estava na hora da amiga voltar a se divertir, que era o que Darcy deveria estar fazendo na Inglaterra. Ele não seria um monge, então a Bahia seria o momento delas.

*

Foi o melhor carnaval da vida de Elisabeta. Seguir os trios, ver as pessoas, se divertir na multidão e extravasar tudo. O último ano sem Darcy, a escola, o amor que ela sentia e não podia viver no momento. Elisabeta caiu na farra, beijou alguns garotos, dançou e viu Ludmila ensaiar vários namoros de carnaval. Ludmila garantiu que não voltaria virgem da Bahia, mas voltou. Elisabeta aproveitou o momento, tomou um porre de “capeta” um drink tipicamente baiano que melhor era não saber o que continha e fez Ludmila carrega-la de volta para o hotel. Foi a maior ressaca das quarta-feira de cinzas que ela viveria em sua vida.

Talvez isso tenha feito de 1992 foi um ano diferente. Elisabeta voltou a ser a aluna brilhante de sempre, mirando nas universidades internacionais. O francês a deixou curiosa sobre as faculdades de Paris e arredores, desejando também fazer o processo seletivo. Ela conversava muito com Felisberto sobre estudar fora, morar no campus, pagar os próprios estudos, porque sabia que seu pai não teria condições para mantê-la e ainda dar um ensino bom para as irmãs. Jane já estava no segundo grau, logo Cecilia e Mariana também precisariam de boas escolas, pensariam em vestibular. E ainda havia Lídia, mas até lá Elisabeta gostaria de poder estar contribuindo de alguma forma com o estudo das irmãs. Ela pensava que Cecilia seria uma grande policial, já Mariana ela não sabia, talvez uma mecânica, engenheira, algo que incentivasse a criatividade e a adrenalina que a irmã tanto gostava. Jane pensava em artes. E Lídia, bem, ela crescia da pá virada, muito para a frente para sua idade, avoada e completamente ligada em garotos. Essa daria trabalho a seus pais, ela , sendo a mais velha, deveria cuidar de si mesma.

Cambridge era um sonho, ela fazia grandes provas na Escola Inglesa para que se fosse sabatinada não houvesse dúvidas de que ela era uma ótima aluna, desenvolveu um projeto sobre literatura brasileira e jornalismo para a faculdade, que poderia facilmente ser implantado que ela achava que daria um ponto positivo em sua avaliação, além de dar a ela um lugar de estágio no grêmio estudantil. Ela sabia que era bem remunerado e dava o direito ao dormitório da universidade. Melhor mesmo seria se ela tivesse uma carta de recomendação, mas na escola os professores prefeririam dar uma carta aos alunos da alta classe paulista. Recomendar alguém a uma das melhores universidades do mundo não era para ser feito indiscriminadamente.

Ela também fez todos os processos para a Sobornne como outra opção internacional, além dos vestibulares da Usp e Unicamp. Ela se cercou de todas as formas.

E não ouviu falar de Darcy. Ele mandou o presente de natal e não mais deu notícias. Ela ficou um pouco chateada depois que sua mãe contou por alto a conversa que teve com ele, para que eles seguissem em frente. E ver que ele aceitou tão prontamente a ideia a afetava de algum modo, mas ele também deveria estar travando suas próprias batalhas e vivendo sua própria vida.

E ela decidiu fazer o mesmo. Acabou conhecendo um colega de Ludmila, Olegário, era de São Paulo, mais velho, alto, moreno. Mas nem de longe tão bonito quanto Darcy, ou com tantos bons modos, mas era um cara divertido, um tanto quanto malandro e dizia coisas bonitas a ela. Foi a primeira vez, depois dos garotos do carnaval, que ela se permitiu uns encontros mais acalorados. Era interessante já ter estado numa cama com um homem antes, Olegário parecia experiente, mas faltava algo nele, um cheiro, uma forma de beijar, um jeito de estar preso no século passado, formalidade. Ludmila dizia que ela precisava parar de procurar Darcy em Olegário, para ela aproveitar, mas ela não se permitiu ir tão longe. Sua veia destemida gostava de pensar que ela no próximo ano, se tudo corresse bem, estaria do outro lado do oceano, ao lado do homem de sua vida.

Elisabeta declinou do baile de formatura, explicando que já havia estado num baile dois anos atrás e que havia sido um tédio. E para completar a escola repetiria o mesmo tema. Para desgosto de Ema que já pensava em várias produções para ela e até para Ludmila, mas Elisa foi firme em dizer não. Olegário até falou em leva-la, mas não teria a mesma graça. Foi quando ela agradeceu a companhia dele e terminou o que nem haviam começado direito.

O que ela gostaria mesmo era de saber o resultado das avaliações. Os vestibulares brasileiros não a preocupavam e ela sabia que caso ficasse no Brasil iria para São Paulo estudar na Usp. Jornalismo. Era sua primeira opção, procuraria estágio num grande jornal, depois emprego. E com bastante bagagem ela sonharia virar escritora no tempo vago.

Um dia o carteiro deixou duas cartas na casa dos Benedito. Uma da Inglaterra, outra da França.

Ela olhava para os envelopes vendo sua família toda sentada diante dela, além de Ludmila, Ema e Ernesto. Depois de um ano muito proveitoso ela sentiu saudade de Darcy. Antes disso, nesse ano houve um dia, no meio do ano, início das férias, em que ela sentiu uma pontada no coração, um desejo insano de ligar para ele, mas ela varreu essa ideia para debaixo do tapete e seguiu em frente e naquele dia avançou o sinal com Olegário, tentando tirar Darcy da cabeça e do coração, não funcionou. Mas agora em sua casa era diferente, ela queria poder ter Darcy ali segurando sua mão, para que o destino deles fosse selado. E ele não havia nem mandado um cartão de natal este ano. Ele estava sumido.

Ela abriu os envelopes.

Aprovada.

Nas duas universidades. Foi um festejo geral, com Elisabeta no centro de tantos abraços e carinhos que ela não conseguiu pensar nessa noite, nem nas próximas, no que faria. Ela teria até início do próximo ano para decidir. Ela inventou que ia jogar dados e o que saísse seria o destino dela, assim seria mais fácil, mas a verdade é que seu coração estava apertado. Não era típico dela. Medo não fazia parte do seu vocabulário frequente, mas ali, no seu quarto, era medo mesmo que ela sentia. Medo de tomar a decisão errada para sua vida, ou para o seu coração.

*

Em todos os anos de vida, 18 na verdade, Dona Ofélia nunca foi chegada a Elisabeta como era Felisberto. Ela e o pai sempre tiveram afinidade e ela sempre contava para ele todos os seus momentos e temores. Contou a ele sobre sua noite com Darcy, contou a ele sobre a saudade que sentia, contou sobre o que pensava para sua vida, mas por incrível que pareça, sobre as aprovações, onde tantas dúvidas pairavam na cabeça de Elisabeta, sobre qual caminho seguir, foi sua mãe quem foi ao seu encontro.

Elisa pensava se ir para a Inglaterra e encontrar Darcy seria a decisão errada. As vezes ele foi apenas seu primeiro amor de adolescência, não era assim que as coisas funcionavam?  Imagina ela chegar em Cambridge e dar de cara com ele namorando, feliz da vida, curtindo. Seria uma tremenda decepção, por isso a tentação era ir para a França, primeiro porque Ludmila também estudaria lá, milagrosamente aprovada numa boa faculdade francesa. Seu pai entenderia que seria uma fuga, e diria isso a ela, mas talvez fosse a coisa certa a fazer. Em termos de curso, tanto uma quanto outra eram ótimos e ela seria bem-sucedida.

Dona Ofélia esperou o clima de festejos esfriar, Felisberto tentar conversar com Elisa, os amigos ponderarem todas opções e então uma noite de extrema calmaria e foi até o quarto de Elisabeta.

Elisa, já tem alguns dias que eu queria falar com você. Ofélia entrou tão devagar no quarto, era uma conversa que poderia esclarecer algumas coisas para sua filha mais velha, destemida, decidida e um tanto quanto cabeça dura, ela sabia. Eu sei que não sou seu pai para te aconselhar, eu penso diferente de vocês. E acredito que um grande amor tem muita importância para uma mulher, na minha vida é o primordial, você mesma sabe disso. Mas não é só por isso que estou aqui. Eu sei que você está confusa para qual país seguir e como sua mãe meu coração se aperta com qualquer lugar que você escolha não sendo ao meu lado. Mas eu te desejo o melhor e o maior sucesso, espero que saiba. E seu pai e eu estamos com receio que você faça sua escolha baseada apenas na sua razão. Ele acha, e eu também, que você não o esqueceu. Ela não precisou dizer o nome de Darcy, Elisabeta sabia que talvez eles tivessem razão. Qualquer que fosse sua decisão, envolvia Darcy. Ou a vontade de vê-lo e dar um salto no escuro ao tentar viver de novo o que viveram. Ou simplesmente tentar algo diferente e seguir a vida. Ela, naquele momento, não tinha argumentos para decidir nada.

Mãe, você vai chegar em algum lugar com essa conversa ? Ela não queria ser rude, mas sua mãe parecia nervosa, tinha um jornal nas mãos e tremia. E Darcy era um assunto difícil para ela. Nem Ema ou Ludmila ousavam falar dele. Ernesto tentou uma vez e diante do olhar molhado da amiga resolveu que era um assunto para ficar parado.

Sim, sim, eu vou. Eu apenas queria que você lesse algo. Você sabe que ler política no jornal não é coisa minha. Isso é para você e seu pai, que ainda adoram me criticar por ler apenas coluna social, mas dessa vez tem algo que te vai te interessar. Eu fiquei em dúvida sobre te mostrar ou não, mas seu pai disse que você precisa ler isso. Foi publicado a um tempo e nós estávamos esperando sua decisão, mas como ela ainda não veio. Então ela colocou o jornal nas mãos da filha e saiu do quarto. Não tenha vergonha de tomar uma decisão baseada no seu coração, ele sempre é nosso melhor guia.

Elisa viu a mãe sair do seu quarto e não se lembrou quando dona Ofélia respeitou a privacidade de alguém. Mas então ela entendeu porquê.

O pedação de jornal que ela entregou a Elisabeta era uma coluna social como tantas outras. Elisa não sabia exatamente como algo da alta sociedade paulista poderia interessa-la. Havia fotos de um evento em Londres, Elisabeta começou a ler, um destes eventos de caridade de famílias abastadas e nobres. Ela prestou mais atenção.

O repórter falava da cobertura do evento, da importância da caridade para o mundo e que a alta sociedade inglesa estava presente – era um evento mundial, mas sediado no país de Gales. Ele destacava alguns figurões e em seguida algumas fotografias e um pequeno texto em cada uma delas. Elisa não reconheceu ninguém de início, mas ao descer mais os olhos viu que Darcy aparecia numa das fotos. Ele usava um terno que mesmo na fotografia preto e branca era possível perceber o corte impecável, e ele apresentava uma barba que o fazia parecer mais velho do que os 20 anos que ele teria agora. Ela não queria, mas seu coração disparou e as borboletas do seu estomago retornaram após 2 anos. Era apenas uma notinha boba de uma coluna social, mas significou muito para ela.

Darcy Williamson , 20 anos, fez uma grande doação para o evento de hoje, mantendo o viés social da companhia de investimentos familiar. Seu pai continua afastado dos eventos sociais devido a saúde frágil, permitindo que o filho o represente. Avesso a badalações o jovem Darcy é um Williamson que evita se expor, mas sabe-se que é um aluno brilhante em Cambridge , cursando também algumas matérias na Universidade de Londres. É um dos solteiros que todas as inglesas sonham em ter como marido, dono de uma altura considerável, olhos de gato formando uma beleza estonteante e extrema discrição. Filho de mãe brasileira o jovem Darcy estudou o último ano do ensino médio no Brasil, na cidade de nascimento deste repórter, e disse que tem forte vínculo com o país. Ele só aceitou falar conosco porque disse que no Brasil viveu os melhores momentos de sua vida.


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