Luzes da Rebelião escrita por Marcelo


Capítulo 12
Capítulo 12 - De volta à ativa.




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Quando amanheceu, Gus se certificou se as condições de Leo estavam melhores, mas o seu quadro embora estável, não melhorava.

Assim que Cassie se levantou, pediu para ela revezar com ele e assistir o irmão por um tempo. Foi até a cozinha e preparou um chá aromático que exalou pelos corredores da casa. Depois que todos estavam acordados, Gus se recolheu e dormiu por quase dez horas seguidas. Há muito tempo não dormia assim. Seu corpo que antes estava completamente cansado e dolorido, agora estava em plena forma. Encontrou Petro cuidando de Leo e Cassie preparava algo para jantarem. Charles estava no escritório, sentado em sua escrivaninha. Estava concentrado em algo no celular.

—O que está fazendo, papai?

—Apenas verificando minhas aplicações; a tendência é que algumas ações subam em alguns dias.

—Estive pensando em ir até a biblioteca da sede. Lá tem alguns bons livros que gostaria de consultar. Leo ainda precisa de cuidados e talvez possa ajudá-lo.

—Ora, ora, você não precisa ir à sede para isso. Tenho aqui mesmo um tomo Verbena antigo que encontrei em uma das minhas viagens. Talvez queira verificar primeiro, se não encontrar algo que possa ajudar, ai sim, talvez deva ir até a sede.

Charles se levantou da cadeira, foi até a estante e passou o dedo indicador pelas lombadas dos livros buscando o título específico.

Enquanto o pai procurava, Gus pode ver que de fato a biblioteca que pai tinha ali era muito boa mesmo. Dentre os títulos havia alguns cadernos brochura com capas de couro. Estavam numa parte discreta da estante.

—Estes livros são meus. São minhas anotações sobre minhas viagens no tempo. Eu faço o máximo possível para mantê-los a salvo. São uma parte muito importante do meu legado. Bem, aqui está o tomo verbena.

Gus agradeceu ao pai assim que seus dedos tocaram o volume. Era um livro grande e pesado, as páginas amareladas pelo tempo e a capa costurada a mão.

Gus se sentou à escrivaninha e começou a folhear com o maior cuidado o tomo. A textura das páginas davam a ele a noção de quão velho era o livro. Havia muitos rituais descritos ali. Era possível encontrar rituais para reconhecer padrões de vida em diversos aspectos, rituais de cura por imposição das mãos, poções e elixires. A riqueza dos detalhes e de informações contidos naquele velho livro davam a Gus uma nova perspectiva sobre o seu próprio poder.

Cassie terminou o jantar e chamou a todos para a refeição, mas Gus apenas se concentrou em suas leituras. Depois de algumas horas Cassie lhe trouxe um lanche que comeu sem quase sentir o gosto, tamanha era a gana em entender o ritual que havia encontrado. Era um ritual dividido em três partes. Precisariam de alguns ingredientes específicos e raros para a infusão intravenosa e poção e depois uma sessão de encantamentos e invocações.

Caminhou até a sala carregando o livro quase sem tirar os olhos dele.

—Petro, vamos precisar de alguns ingredientes.

—Ingredientes para o que Gus?

—Para um ritual de cura que pretendo usar para ajudar o Leo.

—Ele está melhor, continua estável, tenho certeza que em breve estará melhor.

—Você disse tudo, está estável e isso é muito longe de estar melhor.

—Deixe-me ver esse livro.

—Veja a lista de ingredientes. É insana a quantidade.

—São alguns itens raros estes aqui, mas sei exatamente onde começar a procurá-los. Valkíria!

—Você acha que ela teria estes itens na casa dela?

—Ao menos parte deles sei que tem.

Os dois decidiram procurar Valkíria na manhã seguinte e tinham a esperança de conseguir os ingredientes.

Cassie ficou encarregada de fazer a vigília e Gus foi até a sala médica e providenciou alguns feitos mágicos magnetizadores em Leo, que realmente parecia melhor.

Quando os irmãos saíram pela porta oculta no alto da escada encontraram o carro ainda amassado. Petro em apenas dois toques colocou a lataria de volta no lugar e partiram dali rumo à casa de Valkíria.

No caminho telefonaram para a dama Verbena e marcaram um encontro.

Assim que chegaram ao local foram convidados para entrar e se sentarem e depois dos cumprimentos e atualizações, Valkíria lhes perguntou como poderia ajudar-lhes.

—Precisamos angariar alguns ingredientes para um ritual. Leo está muito doente e não podemos levá-lo ao hospital, disse Petro. É muito arriscado.

—E que ritual seria este, perguntou ela.

—Se chama “Chamas de Cura”. De acordo com o livro, restabelece as condições físicas e psíquicas do doente.

—Eu conheço este ritual, disse Valkíria. Eu mesma já o fiz mais de uma vez. Ela não só restabelece tais condições do doente, mas amplia a sua capacidade mental.

—Você teria os ingredientes, perguntou Gus ansioso.

—Parte deles sim, mas infelizmente não tenho a sementes de prata. São realmente muito raras. Somente em campos etéreos são encontradas.

—E onde ficam estes campos, perguntou Gus já ficando aflito

—No mundo etéreo não é óbvio.

—Você nos permitiria ter acesso ao mundo etéreo pelos seus portões, perguntou Petro.

—É claro que sim.

—Para se chegar às umbra é relativamente fácil, uma vez que se trata mais de um estágio psíquico que nos conecta, mas o etéreo, ah..., o etéreo é um local para o qual vamos de corpo e tudo. Através da umbra rasa, e media, vibramos de tal forma que atravessamos a umbra profunda e alcançamos o etéreo. É lá onde a sensação que temos do tempo desaparece. Lá a perspectiva do tempo não existe. Tudo apenas flui num ritmo inequívoco e harmônico.

A maga Verbena abriu as portas de vidro de sua sala que dava para o bosque umbrático onde os irmãos já haviam estado antes. Assim que ambos colocaram os pés na trilha, o caminho que antes era conhecido se modificou.

A última coisa que ouviram do mundo físico em três dimensões foi a voz de Valkíria dizendo que seguissem seus corações. Que mantivessem o foco e tudo correria bem.

O caminho era longo e sinuoso, as árvores ladeavam-no e suas copas traziam sombra ao caminho, mas conforme avançavam tiveram a impressão que a noite se aproximava.

Não demorou muito para que já não enxergassem quase nada à frente. Petro conjurou um lampião.

—Poderia ter conjurado um farol de milha, ou algo assim.

—Lembre-se que a magia vai de acordo com o paradigma do adepto.

—E seu paradigma é assim, digamos... ancião.

Os dois riram por um instante e nem perceberam que o caminho havia mudado. Num lapso de perda do foco se viram andando em circulos, Gus chegou a comentar que já haviam passado por um certo carvalho há pouco tempo.

—Pararam por um instante e em meio a indecisão ouviram um som agudo vindo do céu.

—O que foi isso?

—Esteja alerta Gus. Eles podem ser perigosos.

—Mas o que são “eles”?

—Espíritos. Ainda não sei sobre suas intenções. Me de um minuto. Estão se aproximando.

A esfera “Espíritos”, de maneira alguma era algo com que Gus tivesse lidado. O que sabia sobre eles era não mais do que qualquer adormecido. Estava aflito.

As criaturas avançaram contra eles em meio a escuridão da noite. Petro, subitamente começou a resmungar algo ininteligível para Gus, eram sons suspirados em meio a escuridão.

Dor, sangue, vingança. Foram as únicas palavras que Gus pode ouvir como sussurros. Em seguida ouviu também lamentos profundos. Um grito alto e agudo quebrou o silêncio fazendo com que Gus se arrepiasse e começou a tremer em seguida.

—Nós não estamos aqui para ficar, este não é nosso destino. Pretendemos ir além. Disse Petro para algo que era completamente invisível para o irmão mais novo.

—Viemos em paz, falou Gus mais para si mesmo do que para alguém ou algo.

Em seguida, Petro começou a entoar baixinho algumas palavras que como mantras fez com que a sensação pesada que os cercava ficasse um pouco mais leve. Gus pela primeira vez, viu os Espíritos que na sua maioria tinham auras escuras. Quando passaram por algo que pareceu um vale, Petro lhe explicou que aqueles espíritos eram guardiões.

—Você fez com que eles nos permitisse passar?

—Não exatamente. Os espíritos são caprichosos e na maioria das vezes procuram nos controlar. Eu os convenci que era necessário passar, deixando clara nossas intenções.

—Vamos, ainda temos muito o que percorrer.

Voltaram a focar em sua missão e juntos avançaram até que sentiram vibrações dissonantes com relação ao mundo que estavam, a cada passo adiante sentiam seus corpos tremerem de dentro para fora. Uma sensação que nunca antes tinham sentido. Olhavam um para o outro enquanto caminhavam e perceberam que seus corpos já não eram tão densos. Suas células, embora não sofressem mutação, se realinhavam por assim dizer. A transição para o etéreo aconteceu com suavidade e apenas perceberam que haviam transposto o limiar, devido ás sensações físicas que apresentavam. Sentiam como se cada parte de si vibrasse a ponto de deixá-los translúcidos.

Apenas aquele que consegue um nível tão forte de quietude mental pode adentrar o etéreo. Somente monges de altos graus de iniciação conseguem tal feito durante suas meditações.

Quando estavam em perfeita harmonia não precisaram encontrar os campos etéreos, mas estes vieram a eles. As flores emitiam luzes dispares e se concentraram nas prateadas. Encontraram-nas diante de si e apenas precisaram estender as mãos para tocá-las.

—Leve apenas as necessárias, ouviu Gus claramente em sua mente. Sim, só assim poderia manter o equilíbrio.

As sementes necessárias para o ritual seguiram flutuando diante de Gus e se depositaram dentro da pedra que Gus trazia em seu peito desde suas últimas lições. É claro que isso não era algo físico, mas mental. Um local seguro para transportar as sementes que em sua essência carregam todo o poder da Vida.

A volta como supunham foi bem mais rápida e em pouco tempo estavam de volta ao bosque que circundava a casa de Valkíria que os esperava com um sorriso no rosto.

—Aqui estão outros ingredientes, disse ela.

Ao verificarem e compararem com a lista, os irmãos notaram que tinham quase tudo. Faltava apenas a “Pedra de fogo”.

Sairam rapidamente da enorme casa onde Gus já havia sido hóspede.

—Mandem minhas lembranças ao Charles.

Assim que voltaram para casa, espalharam os ingredientes para o ritual sobre a mesa do escritório.

—Nos falta apenas um ingrediente. A Pedra de Fogo.

—Eu sei onde podemos encontrar uma. Em nosso antigo apartamento, disse Charles.

—Nós já estivemos lá, Petro pegou algo e guardou no bolso. Por acaso não seria isso?

—Acredito que não Gustavo, disse Charles. Naquela ocasião Petro pegou isso… Abriu a gaveta e retirou dela um artefato.

Este artefato é parte de uma fechadura da qual não tenho a engrenagem que a completa.

—E esta fechadura vai servir em que porta?

—Esta fechadora mágica vai conectar a porta aqui de casa com qualquer local conhecido por aquele que a manipular. Mas infelizmente ainda estou longe de conseguir fazê-la funcionar. A engrenagem é um item raro. -A Pedra de Fogo está guardada no apartamento, no assoalho sob o guarda roupa. Há um compartimento secreto ali onde costumava guardar objetos valiosos ou de poder. Na verdade há quase nada mais ali, mas a pedra sei que a tenho guardada.

Os irmãos não demoraram muito para sair atrás da pedra poderosa e quando chegaram à rua no apartamento tomaram cuidado para não serem localizados. Por sorte o caminho estava livre e entraram no prédio sem problemas. O Zeca os cumprimentou com alegria e efusivamente acompanhou os dois irmãos até o elevador.

As vidraças das janelas do apartamento estavam cobertas pelas pesadas cortinas. Da rua, ninguém podia ver ou imaginar o que ocorria lá dentro. Os irmãos seguiram direto para o local onde o pai disse estar a pedra valiosa, mas o esconderijo estava vazio. Procuraram avidamente por todo o apartamento que até aquele momento havia sido a casa de seu pai, a fim de encontrar o artefato que Charles teimava em dizer que estava ali.

Como eles já haviam estado ali e Petro havia pego o que em tese era uma das partes mágicas da fechadura da qual falta ainda a engrenagem, não restou muito mais a procurar, mas veio à mente de Gus que não conheciam o que estavam procurando e talvez lhe tivesse passado despercebido.

—Como é a pedra, perguntou Gus.

—Estamos procurando uma pedra pequena, acredito que com aproximadamente dois centímetros de diâmetro. Segundo o papai, é uma pedra de cor âmbar.

Continuaram procurando por bastante tempo até que a encontraram. Era bem menor do que supunham, era brilhante e parecia reluzir. Não estava de fato onde o pai disse que estava, mas em uma fresta do piso de madeira no fundo do compartimento sob o guarda roupa. Só naquele momento quando Gus disse em voz alta é que perceberam que o compartimento estava vazio e segundo o pai havia ali outras poucas coisas. Petro decidiu perguntar ao Zeca se alguém havia estado no local. Quando saíram do elevador encontraram o porteiro.

—Zeca, alguém esteve no apartamento?

—Não, eu sou o único que trabalha aqui durante o dia e raramente tenho folgas. Eu saberia se alguém estranho tivesse estado aqui.

Ele subitamente parou por um instante, levantou a cabeça para o alto, um sinal característico de alguém que estava tentando se lembrar de alguma coisa e por fim disse:

—Apenas o Edward esteve aqui procurando por vocês há alguns dias.

—Mas ele subiu no apartamento, perguntou Gus.

—Não que eu tenha visto, mesmo porque você não estava aqui, Gustavo.

Os irmãos sairam dali pensando o que Edward poderia querer ali, mas como era um aliado não se preocuparam tanto.

A pedra foi juntada aos outros ingredientes e artefatos necessários para o ritual. Gus precisaria de umas dez horas ininterruptas de trabalho até que tudo estivesse pronto e se preparou para o que seria uma outra longa noite.

Uma esteira de fibras foi colocada no chão do escritório que lhe serviria de câmara. Leo foi colocado deitado sobre a esteira com o torso nu. Sua respiração era calma e constante, mas seu corpo não respondia como deveria. Antes de iniciar o ritual, Gus dispôs os ingredientes de modo a facilitar o seu emprego.

Começou a recitar e entoar o cântico conforme as palavras escritas do livro e depois e alguns momentos Gus soube que estava no caminho certo, pois seu peito começou e aquecer no local exato onde havia a pedra invisível encrustrada. Com a pequena faca fez um corte leve e preciso no antebraço do irmão para colher uma amostra de seu sangue que foi aparado em uma cuia. Incensos, ervas e rezas foram proferidas.

Sete velas foram acesas, uma a uma em torno do doente.

Com o sangue coletado Gus fez desenhos idênticos àqueles descritos no livro no peito do irmão, Os três riscos representando o caminho da vida, a cruz representando as lutas e sacrifícios. Desenhou também o olho sobre a fronte do irmão, representando a sabedoria e discernimento e a mente em si. O ritual avançava, noite adentro.

O momento crítico se aproximava e Gus, envolvido e concentrado no seu trabalho, percebeu claramente que alguns espíritos antigos estavam presentes. A fumaça dos incensos engolfava o doente e espiralava para o alto.

—Que todos os seres sejam felizes; que todos os seres sejam ditosos; que todos os seres estejam na mais perfeita paz, recitou Gus inúmeras vezes. O som vibrante e ritualístico ecoava pela casa toda, transformando-a num santuário.

E como dizia nas instruções do ritual, Gus soprou Vida sobre o irmão adormecido.

Um único sopro, longo e mágiko. Em seguida as sete velas que iluminavam o ambiente se apagaram de uma só vez. Gus permaneceu sentado ao lado do irmão no mais profundo silêncio. Sua mente estava em alfa e assim permaneceu até que a alvorada chegou e quando tocou no irmão este abriu os olhos.

Depois que Gus se certificou com Leo seu estado e este lhe ter dito que estava se sentindo muito bem. Verificou o ferimento. Ao longo do tempo havia melhorado muito, mas agora estava completamente curado a ponto de na pele haver apenas uma pequena cicatriz em semi-circulo. Fez com que Leo se deitasse na cama da pequena sala médica e o submeteu ao escâner. Tudo parecia perfeito e assim ficou satisfeito. Seja bem vindo de volta irmão.

Leo olhou para Gus com certa curiosidade.

— Não se preocupe, eu já sei de tudo.

Leo, com aquele seu olhar soturno peculiar, olhou o irmãozinho e agradeceu pela ajuda.

—Está com fome, perguntou-lhe Gus.

—Se estou.

—Vamos, vou preparar algo para o café da manhã. Você precisa se alimentar.

Gus ainda teve um certo cuidado com Leo e esteve ao seu lado enquanto andava, caso precisasse de ajuda. Leo se sentou à mesa enquanto Gus, mais uma vez foi à cozinha preparar algo para o desjejum. A seguir, o pai se levantou e os encontrou à mesa. Petro e Cassie se juntaram a eles em seguida.

—Parece que você está muito bem, Leo. E parece que você fez um ótimo trabalho Gus. Seus poderes crescem exponencialmente.

Tomaram o café em família como nunca antes. O pai ladeado pelos seus quatro filhos estava satisfeito. Sentia que tudo estava nos eixos. Depois do café, sugeriu a Petro, Gus e Cassie que voltasse à sede para saber como tudo estava e se certificarem com o diretor se já haviam encontrado o informante traidor.

Leo colocou sua mão sobre a do pai e sem mais demora anunciou:

—Edward é o traidor!

 


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