Silêncio e Escuridão escrita por Karina A de Souza


Capítulo 1
Olá Escuridão, minha velha amiga


Notas iniciais do capítulo

Olá.
Quem acompanha meus contos deve perceber que eu gosto de escrever sobre começos e recomeços. Esse é o caso desse conto aqui.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/774698/chapter/1

Era estranho ter apenas o silêncio como companhia. Era estranho não ter aquele som constante e familiar ecoando pela sua mente. Estranho e talvez um pouco assustador. Não havia mais nada lá além dos seus próprios pensamentos, e mesmo assim, era como se o silêncio reinasse.

Perdido sem o som, ele vagou e vagou, procurando por algo que não sabia o que era. Passou por lugares e mais lugares. Apenas ele e o silêncio.

Viu sóis, luas, estrelas e planetas, sem ver de verdade, como se não estivessem lá.

Parou e ouviu cada som, nenhum era como o seu antigo som. Tudo soava apenas como... O silêncio.

Não era como se ele quisesse o som de volta. Os tambores haviam o atormentado por muito tempo. Mas ficar só e com o silêncio era uma sensação estranha, uma novidade que ele não sabia como lidar. E havia mais lá agora. Sem os tambores, ele podia ouvir e sentir o que não queria. Não havia mais aquele som que era capaz de silenciar todos os outros. Seu fiel e irritante companheiro havia ido embora.

Ele estava sozinho com seu silêncio.

Até que ela o encontrou.

Sua TARDIS aterrissou, como se por conta própria, num lugar desconhecido. O Mestre saiu, olhando em volta sem focar em realmente nada. Havia uma estranha e velha construção alguns metros dele, parcialmente coberta por uma densa vegetação, e havia árvores por todos os lados.

—Por que é que você me trouxe aqui?-Perguntou para a nave, irritado. -Não há nada aqui!

—Sempre há algo em algum lugar. -Disse uma voz feminina, fazendo-o virar, pego de surpresa.

Havia uma garota se aproximando. Tinha a pele quase tão branca quanto seu vestido. A roupa estava bem limpa e impecável, diferente de seus pés descalços. Faixas brancas cobriam parte de seus braços e as palmas de suas mãos, deixando livres apenas os dedos. Os cabelos eram negros, cortados na altura dos ombros e um pouco bagunçados. Nada nela parecia extraordinário. Ela era comum. Comum... Mas com algo difícil de identificar.

—E o que é que há nesse lugar?-Ele perguntou. A garota continuou se aproximando até parar na frente dele.

—Muitas coisas. Procura algo em específico além de algo que possa ouvir?

—O que disse?

—É estranho, não é, o silêncio? Eu achava isso do escuro até me acostumar com ele.

—Quem é você?

—Isso importa? Eles me chamavam de Escuridão. Ninguém me chama de nada há muito tempo.

—Como você sabe sobre...

—Você e seu silêncio? Muito tempo atrás eu via demais. Via o futuro. Por um mísero momento achei que isso seria minha ruína... E calei meu dom. Passei a viver no escuro. -Ergueu a cabeça, o Mestre não precisou de muito para ver que a garota era cega. -Assim, eu jamais veria você. Mas elas me mostraram.

—Elas?

—Senhoras do Tempo esquecidas. São quase como sussurros. Elas queriam que eu visse você. Não pode viver só com silêncio. E eu não posso viver só com minha escuridão. -Fez uma pausa. -Você tem medo.

—Eu não tenho medo de você.

—Não de mim. Do silêncio. Ele trouxe coisas que você antes podia ignorar. Como seus sentimentos. A falta dos tambores causaram mais mudanças do que poderia imaginar.

—Você não sabe nada sobre isso. -Agarrou o braço dela. -Você não me conhece.

—Não conheço, Koschei?-Ele a soltou. -Ah, você prefere Mestre. Tudo bem.

—Como me achou?

—Nós achamos um ao outro. Eu tenho estado aqui há muito tempo... Como se já o esperasse.

O Mestre olhou em volta. Na parede da construção ali perto, podia ler “Sanatório Cold Stone”. Havia algumas pichações também, coisas ilegíveis, além de “Bad Wolf” em letras grandes

—Você... Mora aqui?-Encarou a garota de novo.

—É o único lugar que me resta agora. E eu estava aqui antes dessa ruína ser uma ruína.

—Foi internada nesse lugar?

—Eles me achavam uma aberração. Visões... Conhecimento demais... Dois corações...

—Você é...

—Uma Senhora do Tempo... Há muito não ouço sobre Gallifrey ou nosso povo. Não lembro o que houve. Talvez tenha sido banida... Ou apenas esquecida. Me lembro de ter uma família aqui... Foram eles que me colocaram nesse lugar.

A conversa parou. Só se podia ouvir o som do vento, e caso se esforçasse um pouco, de água corrente num rio ali perto.

—O que é que você quer?-O Mestre perguntou, por fim.

—Eu já não sei mais. Costumava querer muitas coisas. Todas elas se perderam.

—Boa sorte com isso, então. -Começou a ir para sua TARDIS, então parou, olhando para a garota quando ela voltou a falar.

—Você consegue?

—Consigo o que?

—Viver só com seu silêncio?-Ele ergueu uma sobrancelha.

—E você consegue viver só com sua escuridão?

—Depende do que cada um chama de viver. -Ele cruzou os braços.

—O que elas te disseram pra fazer, as Senhoras do Tempo? Disseram pra vir comigo? É isso?

—Elas disseram que o seu silêncio e a minha escuridão se tornariam um só, e não nos sufocariam tanto. E que... Que juntos encontraríamos o que procuramos e o que não procuramos.

—E o que estamos procurando?-Ela sorriu.

—Eu não sei.

—Como alguém procura por algo sem saber o que é?

—Não era exatamente o que você estava fazendo?-Ele suspirou.

—Tudo bem, Escuridão, você pode vir comigo.

—Obrigada. -Começou a andar na direção da nave.

—A gente devia arrumar um nome pra você. -A ajudou a entrar na TARDIS, segurando sua mão.

—Que tal... Doutora?

—Como é?-A encarou. Ela não podia ser... Não, não, não era possível...

—É brincadeira.

Continuou a encarando, desconfiado, então parou. Ele sempre sabia quando encontrava o Doutor. Escuridão era apenas uma garota esquisita com uma história esquisita. Mas já que ele tinha a aceitado, em breve ela seria um mistério solucionado.

Fechou as portas da nave e caminhou até o console com Escuridão ao seu lado. Talvez as coisas que ela tinha dito faziam algum sentido. Enquanto procurava por algo que não sabia o que era... Encontrou uma possível companheira que não era seu silêncio


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

É isso. É curto, nada grandioso, mas ideias precisam ser postas no papel.
Há mais três contos para serem postados, e não tem ligação com essa história.
Até a próxima, galera.

Hello darkness my old friend...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Silêncio e Escuridão" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.