O Enigma do Outro Mundo - Parte 2 escrita por L E Silva Dias


Capítulo 2
Capítulo 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/774588/chapter/2

Após quatro horas e meia de viagem, MacReady deixou o avião carregando apenas uma mochila. Conteve sua ansiedade por um cigarro enquanto avaliava as lojas que o aeroporto internacional de Seattle-Tacoma oferecia. No final do corredor, avistou uma cruz vermelha indicando a presença de uma farmácia. Sem perder tempo, acelerou o passo na direção do seu objetivo.

Atravessou a porta da HealthPoint SeaTac indo direto para o balcão.

— Olá, eu quero um daqueles testes para diabetes - disse apontando para a prateleira.

— Pois não. O senhor tem algum histórico familiar? - a balconista perguntou cumprindo o protocolo.

— Sim, o meu pai era diabético  - ele mentiu para se livrar do inquérito.

— São onze dólares.

Guardou o teste em sua mochila e voltou para o corredor de lojas. O cheiro de café que vinha da Diva Espresso fez com que seus pulmões gritassem por tabaco.

Ao passar pela Dufry Duty Free ele notou as latas do produto para limpeza de carros utilizados nos caminhões gigantes em Alberta. Lembrou imediatamente das brincadeiras que Tyson fazia com aquele spray para aquecer o ambiente.

Calculou quantas latas cabiam na sua mochila. Apanhou todas que estavam disponíveis e correu para o balcão para efetuar o pagamento.

— Eu também preciso de um acendedor de fogão - ele disse apontando para o mostruário atrás do balconista.

Ao sair do aeroporto pode finalmente atender o seu desejo por um cigarro. Deu o primeiro trago como se sua vida dependesse daquelas substâncias.  Acenou para um táxi que atravessava a rua com o vidro aberto, apesar do frio. Assim que ele sentou no banco de trás, o motorista disse, através do espelho retrovisor:

— Bom dia. O senhor pode apagar o seu cigarro?

Deu um último trago antes de arremessar o cigarro pela janela. Indicou o endereço da Syntronic Medical Research. Aquele era um autêntico tiro no escuro. De alguma maneira incompreensível, ele acreditava que Childs estava associado à empresa.

Uma jovem loira abraçada com o marido e dois filhos estampava um outdoor da Syntronic Medical Research, assim que eles deixaram o aeroporto. O slogan dizia:

— A sua saúde é a nossa preocupação.

O táxi atravessou a cidade praticamente em linha reta. Ele desceu na Westlake Avenue North, próximo ao número cento e trinta e dois. Imediatamente entrou numa loja de venda de kebabs. Conferiu o horário no relógio do homem sentado no balcão: oito e quarenta e cinco. Escolheu uma das mesas redondas com altos bancos estofados e pediu um café. De onde ele estava era possível vigiar a entrada do estacionamento da Syntronic Medical Research.

Após quinze minutos vigiando a entrada de carros da Syntronic, MacReady notou que a mulher do caixa, usando um típico véu muçulmano cobrindo a cabeça, prestava atenção no seu interesse pelo estacionamento. Antes que ele pudesse pensar a respeito do que fazer, viu um honda branco entrar no estacionamento: era Childs.

Levantou apressado, ainda sob o olhar da mulher do caixa. Abriu o zíper de sua mochila e apanhou uma lata de spray, o acendedor de fogão e o teste de diabetes. Assim que Childs fechou a porta do carro, ele falou:

— Será que ainda temos surpresas um para o outro Childs?

Um arrepio percorreu a espinha de Childs. Reconheceu imediatamente aquela voz. Virou-se para olhar confirmando o óbvio.

— MacReady? Com que diabos...

— Você sabe o que fazer Childs! - ele disse arremessando o teste de diabetes. Ligou o acendedor de fogão e apontou o spray na direção dele.

Leu o rótulo do teste e entendeu rapidamente qual era a intenção. Sabia que MacReady não era um homem de blefar. Abriu a caixa e apontou o recipiente na direção do antigo colega. Furou o dedo indicador da mão direita na agulha, mostrando claramente o sangue que ainda escorria.

— Agora coloque ali no chão - MacReady ordenou.

Lentamente ele aproximou a chama do acendedor de fogão, mantendo parte da sua atenção em Childs. O calor fez com que o recipiente derretesse em poucos segundos. Nenhum sinal de movimento surgiu dali.

— Eu disse que não precisava se preocupar…

Antes que ele pudesse terminar a frase, MacReady deu-lhe um soco no rosto, derrubando-o no chão. O segurança do estacionamento surgiu correndo para ver o que estava acontecendo. Childs fez um sinal com a mão indicando que não havia problema.

— Dezoito meses se passaram Childs! Um ano e meio! Durante este tempo todo não teve um dia em que deixei de lembrar do inferno pelo qual passamos. Até que ontem eu vejo na TV que você está trabalhando para a Syntronic - ele disse antes de estender a mão para ajudar o amigo.

— Você estava em coma! Com o passar do tempo cheguei a acreditar que você tinha morrido! Afinal de contas, por onde você andou este tempo todo Mac?

— Eu estive ocupado nas areias betuminosas de Alberta. E quanto a você Childs? Como explica o seu novo emprego? - ele disse apontando para o crachá com o logotipo da Syntronic.

Ele olhou ao redor antes de dizer:

— Venha comigo. Eu vou te contar tudo - ele disse abrindo a porta do carro.

Após atravessarem cinco quarteirões, Childs parou o carro em frente à um parque onde várias crianças brincavam. Antes de começar a falar ele tirou um curativo do porta-luvas para colocar no dedo.

— Após o nosso inusitado resgate, eu permaneci internado durante dois dias, no mesmo hospital em que você ficou. Quando recuperei a consciência, havia uma equipe do governo no meu quarto para me interrogar. Lembro-me de notar credenciais da CIA e da NSA. Eles queriam respostas para a destruição da nossa base e para a morte de grande parte da equipe. Eu contei tudo o que eu sabia a respeito da coisa que nós havíamos encontrado, inclusive sobre a base norueguesa. Eles insistiam que não haviam evidências sobre o que eu estava dizendo. Acabaram por me dar o diagnóstico de estresse pós-traumático devido ao longo período de isolamento.

— Eles também me interrogaram - MacReady acrescentou - Foi a mesma porcaria. Pareciam não estar interessados no que havia acontecido por lá. Recebi o mesmo diagnóstico.

— Eu acabei por entender que eles procuravam por uma justificativa para as seguradoras, mas fiquei pensando se não estavam escondendo algo. Após vinte dias aguardando a evolução do seu estado, acabei por me conformar que não havia mais nada a fazer. Ninguém acreditaria na nossa história. Foi quando recebi um telefonema de uma pessoa da Syntronic. Ela me disse que estavam a procura de uma pessoa com a minha experiência. Julguei que eles deveriam ter tido acesso ao meu currículo por conta do resgate. Eu estava mesmo procurando por trabalho e aceitei o convite. Para a minha surpresa, a entrevista foi conduzida por Phillipe Simon, diretor da Syntronic. Ele e mais três cientistas me aguardavam numa sala de reuniões do prédio onde você me encontrou no estacionamento.

Childs parou por um instante, como se ponderasse as suas próximas palavras.

— Eles queriam saber tudo a respeito do que havia ocorrido na nossa base. Diferente dos engravatados do governo, eles estavam interessados nas informações a respeito da Coisa. Ficaram nitidamente entusiasmados quando mencionei a espaçonave que os noruegueses encontraram.

— Você está me dizendo que entregou todas as informações a respeito daquela coisa para uma empresa privada? - MacReady questionou - Onde você estava com a cabeça Childs?

Como se procurasse por coragem para falar a verdade, ele dirigiu o olhar para o chão antes de prosseguir.

— Eles me ofereceram trabalho. Disseram que me queriam por perto por conta da minha experiência. Me ofereceram muito dinheiro. Eu não fui capaz de recusar. Aceitei um cargo de supervisor de vigilância por um salário dez vezes superior do que eu ganhava na base.

MacReady entendia os motivos de Child. Ele também sentia que a sua alma havia sido vendida na exploração de petróleo no Canadá. Colocou o julgamento de lado antes de continuar a ouvi-lo.

— A verdade é que, depois de um tempo,  eles não me perguntaram mais nada a respeito. Se eles apanharam aquela Coisa no pólo sul, eu nunca cheguei a saber.

MacReady olhou para as crianças no parque. Um menino corria usando uma capa vermelha enquanto que duas meninas brincavam com balões verdes e amarelos.

— Você viu as projeções de infecção que Blair criou no computador. Viu como ele perdeu a sanidade por causa daquela informação. Ele preferiu matar a todos na estação de pesquisa ao invés de deixar aquilo se espalhar. Nós precisamos descobrir se a Syntronic está escondendo alguma informação, antes que seja tarde demais.

Childs esfregou o rosto com as mãos demonstrando desespero.

— Desde que aceitei o trabalho, não teve um dia sequer em que eu não me questionei se eles sabiam algo a respeito - ele disse num tom nervoso  - Pelo tempo que passou eu acredito que eles não tenham nada. Caso contrário o pior já teria acontecido.

MacReady lançou um olhar sério para Childs antes de continuar a falar.

— Você viu como aquilo funciona Childs! Ela imita os organismos absorvidos. Se alguém foi contaminado você nunca saberá. Nem a própria pessoa é capaz de dizer. Nós precisamos descobrir o que a Syntronic sabe a respeito.

Nitidamente nervoso, Childs perguntou, temendo pela resposta:

— Qual é a sua sugestão Mac? Entramos no prédio com lança-chamas destruindo tudo o que vemos pela frente?

MacReady passou a mão na própria barba antes de responder:

— Ainda não. Precisamos ter certeza antes.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Enigma do Outro Mundo - Parte 2" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.