O Enigma do Outro Mundo - Parte 2 escrita por L E Silva Dias


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Autor: L. E. Silva Dias
Argumento: Alex Magnum & L. E. Silva Dias
Colaboração: Daniel Dias
Agradecimentos: Dice'n'Roll Coffee Tales



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/774588/chapter/1

Após servir o seu prato, ele cruzou o salão do refeitório carregando a bandeja na direção de um lugar solitário atrás de uma pilastra, esperando não ser notado pelos colegas. Depois de doze horas de trabalho contínuo, restava pouca energia para conversas tolas na hora do almoço.

— Ei Mac! - Tyson gritou da mesa - Venha sentar aqui - disse indicando a cadeira vaga entre doze pessoas.

Ele parou por instante para avaliar o que restava de sua paciência. De onde ele estava era possível ver as grandes torres no meio da neve lançando fumaça para o céu. Reuniu suas últimas forças e mudou seu rumo na direção da mesa dos colegas.

— Maldição!  - Tyson disse assim que MacReady ocupou o lugar vago.

— Pague sem reclamar Tyson! - disse Chris estendendo a mão.

— Apostei cinco dólares que você não sentaria conosco.

— Da próxima vez combinamos e assim dividimos o lucro - MacReady afirmou antes de dar a primeira garfada.

— Veja! Nós estamos no noticiário - Chris apontou para a televisão do refeitório.

— Impacto dos baixos preços do petróleo nos grandes bancos canadenses - dizia o título da reportagem.

— Nós? - MacReady perguntou.

— Claro! Não se engane. O nosso trabalho aqui é o maior responsável pela baixa dos preços do petróleo. Somos uma parte muito importante da engrenagem. Você não concorda Mac? - perguntou num tom sarcástico.

Ele limpou a boca com o guardanapo antes de responder.

— Depende. Se para você, ser uma parte importante de uma engrenagem significa trabalhar nas areias betuminosas canadenses em busca de petróleo, nas piores condições de temperatura que a região de Alberta oferece, enquanto ao mesmo tempo devastamos o meio ambiente… Só pode se tratar da engrenagem de uma máquina de destruição do dia do juízo final.

— Eu amo este cara! - Chris falou após soltar uma gargalhada.

— Não seja tão amargo Mac. Você sabe que o dinheiro compensa - Tyson acrescentou.

— É verdade. O dinheiro compensa - ele concordou antes de tomar um gole do copo de leite.

— Além disso, este local deve parecer com o paraíso, comparado com a estação de pesquisa onde você trabalhou no pólo sul, certo?

Pausou o movimento dos talheres como se estivesse enfeitiçado. Olhou direto nos olhos de Tyson antes de dizer:

— Qualquer outro lugar no mundo é o paraíso comparado com o que eu e a minha equipe enfrentamos por lá.

— Imagino que a pior coisa deve ter sido enfrentar o isolamento.

Por uma fração de segundo, as imagens da Coisa invadiram a mente de MacReady. Os horrores que eles enfrentaram há um ano e meio ainda ocupavam um lugar de honra entre as suas memórias.

— Sim. A pior coisa foi o isolamento - ele afirmou antes de dar outra garfada.

Após o almoço o grupo se dispersou. Em seu quarto, MacReady se mantinha entretido com um jogo de xadrez eletrònico de bolso enquanto desfrutava de um copo de uísque J&B. Aquilo era um velho hábito justificado pelas baixas temperaturas, mas na verdade deixava sua mente ocupada, mantendo seus pensamentos longe de Laura.

— Rei para a Torre. Vamos ver se você não vai ficar louca agora.

Em menos de dois segundos surgiu a jogada do aplicativo:

— Torre para Cavalo. Xeque-mate! - disse o jogo com uma voz feminina.

— Sacana trapaceira! - mergulhou o jogo no copo de uísque.

— Se preparando para os seus dois dias de folga? - Tyson disse após aparecer subitamente na porta do quarto.

— Sim. Dois dias em Fort McMurray são suficientes para recuperar minhas forças.

— Até parece! Pelo que fazemos aqui merecíamos uma semana no Caribe! Todo mês!

— Apresente sua ideia na próxima reunião dos recursos humanos - ele disse apanhando a pesada mochila.

— Ainda tentando a sorte no xadrez? - Tyson disse retirando o jogo do copo de uísque.

— Sim. Por isso comprei uma caixa com cinco destes jogos - ele disse antes de sair do quarto.

Em seu carro, a caminho de Fort McMurray, MacReady não teve como fugir dos pensamentos sobre Laura. Seis meses já haviam passado. Mas pareciam seis anos. Além do tempo, a distância física contribuía para piorar o cenário. Como ela pode insistir para que ele morasse em Los Angeles? Depois de sua recuperação, tudo pareceu mais difícil. Voltar para a vida normal, perto da civilização soava como uma tortura. Tudo desabou quando surgiu a oportunidade de trabalhar no Canadá.

Parou diante do sinal vermelho do semáforo.

Luz vermelha.

As luzes de emergência do helicóptero surgiram no céu anunciando o resgate. Ele e Childs permaneciam sentados semi-conscientes, entre os escombros da estação de pesquisa. Ironicamente o fogo proveniente das explosões evitou que eles morressem congelados. Eles conheciam os países que mantinham bases permanentes no pólo sul, mas nunca poderiam imaginar que uma empresa privada tivesse negócios por ali. A lembrança mais forte daquele dia era do logotipo da empresa Syntronic Medical Research.

Os detalhes daquele período continuavam fragmentados em sua mente. Os dois meses em coma fizeram com que ele perdesse o contato com Childs. Somente os comentários de sua filha foram capazes de tranquilizá-lo a respeito. Segundo ela, durante vinte dias, ele visitou diariamente o hospital onde MacReady estava internado para saber da evolução de sua condição. Depois deste período, ele desapareceu. Dezoito meses haviam se passado sem que ele soubesse do paradeiro dele.

Saiu de seu transe com o som da buzina do carro de trás.

— Ei cara! Você parou para dormir? Eu não tenho o dia todo!

Acenou para o motorista pedindo desculpas antes de arrancar com o carro.

Mais tarde, movido pelo hábito, MacReady procurou por refúgio no Baileys Pub. Apesar do movimento de pessoas, ali ele se sentia em paz. Como de costume, ele escolheu a mesa de dois lugares, ao lado da pilastra onde ficava uma das várias TVs do pub. Ele sabia que ninguém notava quem estava sentado debaixo das TVs.

Após pedir um uísque, apanhou sua agenda de telefones e foi direto para folha que estava marcada. Diante do nome de sua filha, ele olhou para o telefone público que ficava no fundo do salão. Se deu conta das inúmeras vezes em que aquela cena se repetiu. Tudo indicava que ele passaria mais uma noite sem telefonar. Quanto mais tempo se passava, maior se tornava a distância entre eles, ele pensou. Nem este pensamento foi capaz de criar a coragem necessária para vencer a repetição.

A garçonete apareceu para servir o J&B dando um fim ao seu impasse. Ele guardou a agenda antes de dar o primeiro gole no uísque. Deu uma olhada ao redor do pub como se aquele ambiente fosse capaz de fazê-lo esquecer da ligação para Laura. Foi quando notou o logotipo da Syntronic Medical Research na tela da TV no fundo do salão. Olhou para cima para acompanhar o que a reportagem dizia.

— Phillipe Simon, diretor da Syntronic Medical Research, prestou uma importante declaração hoje pela manhã em Seattle, no salão de conferências da sede da empresa - disse a repórter.

— É com enorme satisfação que venho anunciar que estamos dando os últimos passos para colocar à disposição do público um novo tipo de vacina contra a gripe. A FDA vem acompanhando todo o processo e uma campanha de vacinação em massa deve ocorrer a partir do ano que vem. Seth Garrett, nosso cientista responsável pelo projeto dará as explicações técnicas…

Conforme a câmera percorria o salão de conferências, MacReady notou a presença de um rosto conhecido na platéia: era Childs.

— Ei garota! Você pode tirar desta porcaria? Daqui a pouco começa a transmissão do jogo do Red Sox - disse um homem que estava sentado no balcão para a garçonete.

Antes que ela pudesse pegar o controle remoto MacReady reagiu:

— Não mexa nisso! - ele gritou provocando uma lacuna de silêncio no pub.

Sua mente se perdeu em diversas associações. O que Childs estava fazendo na conferência da Syntronic? Justo a empresa responsável pelo resgate no pólo sul. MacReady podia sentir em suas entranhas que havia alguma coisa errada ali.

Deixou algum dinheiro sobre a mesa e partiu. A sua folga iria se estender muito além dos dois dias.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Enigma do Outro Mundo - Parte 2" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.