Ao som das ondas se chocando na zona de arrebentação, conheci Hope.

Hope era azul.

Ela emanava serenidade quase devaneadora e uma aura que harmonizava com o litoral, tranquilizava-me nos momentos mais desesperados devido à sua imagem destoante do ambiente traiçoeiro e corriqueiro, e se deixava levar pela brisa marítima ao cantar em tom barítono.

Ao passo de sua tranquilidade arrebatadora, era palpável a consternação de suas cantigas ao relatar sobre seu passado oblíquo e distante. Querendo decifrá-la em uma análise absoluta, Hope aparentou não se importar com a monotonia de sua rotina.

Nos dias em que partilhei com a jovem meus desejos mais obscuros, conheci-a por completo ao imergir em suas águas álgidas que me cortaram como punhais lambidos em prata candente. Assim como o vislumbre de um mar invariável, sob a sua superfície, seus demônios a atacavam sem escrúpulo, afogando-a na turbulência de suas ondas. Ao contrário do que eu esperava, Hope não queria ser salva e preferia manter sua serenidade em suas aparências mais encantadoras.