Adão e Eva, na guerra dos iguanas. Parte II escrita por Paloma Her


Capítulo 13
Oitava dimensão (continuação)


Notas iniciais do capítulo

E foi ali que a dor lhes corroeu o peito.
Os dinossauros, que outrora povoavam a mata selvagem, estavam agonizando de fome e de sede, fazia muitos anos, pois as grandes patas dos bichos carnívoros haviam desgastado o habitat natural. Os carniceiros com seu apetite voraz extinguiram espécies inteiras, e em seguida, mataram-se uns aos outros até definharem. A terra secou, os rios minguaram e eles começaram a morrer de fraqueza generalizada. Migrações se deslocaram em direção dos polos, em busca de água, clima mais ameno, e alguns haviam sobrevivido em algumas regiões intermediárias, entre as savanas e as neves eternas. No resto do planeta, só havia uma coisa, cemitérios sem fim. Ossadas secando embaixo do Sol, como testemunho cruel do fim de uma espécie.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/774475/chapter/13

Assim que Madalena avistou o planeta seguinte, correram a olhar pelas janelas, pois ele foi ficando gigante em pouco tempo. Desta vez Madalena deu uma volta rasa, para ver os mares, continentes, mato fechado, desertos, e novamente as torres de extração de petróleo estavam cravadas, aos centos. Adão chamou a todos olhar através das vidraças.

Como não se enxergava ninguém, em lugar nenhum, Eva desintegrou a mata rasteira numa curva elíptica. Três mil lagartos estavam olhando-os fixamente com dardos pingando de venenos e lanças ameaçadoras, prontos para o bote. Ela desintegrou-lhes as armas, e mais nada, pois eles trajavam a moda NUA.

 Adão e 20 médicas desceram a examinar um povo em pé, que apenas respirava. Todos hipnotizados como múmias. Um exército de homens feiíssimos, metade lagartos, metade gente, assinalavam que eram os donos desse mundo. Homens que haviam sofrido ataques de iguanas durante anos, e haviam aprendido a se defender.  Foi-lhes estudado o interior com vidro vermelho e descobriram que possuíam um coração forte, um estômago grande, um cérebro cheio de ideias brilhantes, e somente a aparência era assustadora. Pele azulada, algumas machas verdes, cheia de escamas. Os machos eram mais verdes, com algumas manchas vermelhas no ventre, e um membro sexual avantajado. Seus olhos eram pequenos, nariz grande com fossas redondas como um crocodilo, boca gigante, rabo curtíssimo.  Eram bem nutridos, mas traiçoeiros. O mato estava cheio de arapucas para invasores. E em cada uma delas existia a morte. Cobras venenosas matavam as vítimas que caía nelas. E muitos iguanas haviam perdido a vida nessas arapucas, nos dias de exploração naquele mundo.

Depois sobrevoaram por sobre as torres de extração de petróleo, para Eva desmanchar tudo. As tampas de metalponita fizeram-nas levitar, deixando-as cair por sobre os buracos pretos.

Adão deu por encerrada a visita a esse planeta, assim que os médicos terminaram os exames, as fotos, e os filmes desses lagartos hipnotizados. Ele os tirou da hipnose, fechou as portas, e ficaram a vê-los em desvendada em busca de novas armas para atacá-los. Em pouco tempo lanças subiam em direção à nave junto com gritos e berros mais parecidos a gritos de leão do que de seres humanos. Nossa! Mundo horrível. Com certeza, sofreram muito quando os iguanas chegaram com suas armas mortais a roubar-lhes o petróleo.

A seguir, Madalena e Ênio examinaram a rota no mapa astral e ela deu um giro no espaço em direção ao próximo planeta, bem pertinho dali, numa viagem curtíssima, que marcava pontos verdes.  Tudo assinalava que só encontrariam animais e muito mato.

Mas, quando Madalena fez um voo rasante para ver a paisagem desse novo mundo, só encontrou seca e morte.

E foi ali que a dor lhes corroeu o peito.

Os dinossauros, que outrora povoavam a mata selvagem, estavam agonizando de fome e de sede, fazia muitos anos, pois as grandes patas dos bichos carnívoros haviam desgastado o habitat natural. Os carniceiros com seu apetite voraz extinguiram espécies inteiras, e em seguida, mataram-se uns aos outros até definharem. A terra secou, os rios minguaram e eles começaram a morrer de fraqueza generalizada. Migrações se deslocaram em direção dos polos, em busca de água, clima mais ameno, e alguns haviam sobrevivido em algumas regiões intermediárias, entre as savanas e as neves eternas. No resto do planeta, só havia uma coisa, cemitérios sem fim. Ossadas secando embaixo do Sol, como testemunho cruel do fim de uma espécie.

Novamente vestiram a roupa antitérmica e desceram.

Eva e Adão percorreram as secas savanas em busca dos antigos mananciais, e dos rios, agora soterrados. Adão colocava o ouvido no chão, para escutar o barulho de águas. Depois, Eva abria uma fenda, até chegar às áreas líquidas.  Rios fininhos borbulhavam, e começavam a correr pela terra árida, para a formação de lagos.

Outros membros da tripulação deslocaram nuvens dos Polos Sul e Norte, para provocar chuvas por cima das savanas secas, enquanto os engenheiros trabalharam arduamente para fabricar 100 usinas para puxar o sal das águas dos mares e fazer correr rios terra adentro. Mas o calor era tanto que o vapor tomava conta, e a terra apenas ficava úmida. Tudo assinalava que a temperatura média nesse mundo estava aumentando, chegaria a mais de 100° e só as formigas e baratas sobreviveriam. Calor que eles não sentiam graças à proteção do uniforme. Mas, que evaporava as águas rapidamente.

Antes de se dar por derrotado, Adão reuniu a todos dentro da nave e falou:

 - Os dinossauros vão morrer mais cedo ou mais tarde. Este é o fim deles. Alguém tem uma ideia?

Uma cientista deu um relatório:

— Existem 5 áreas recuperáveis. Poderíamos fazer surgir cinco oásis em meio da seca, pois há reservatórios de água embaixo da terra. Além disso, há a possibilidade de construir um canal desde o mar até esses lugares. Em seguida, poderíamos salvar as espécies herbívoras. Além disso, os ratos se multiplicariam, os coelhos também, e os répteis teriam comida para continuar a sobrevivência. Encontramos 300 espécies menores que conseguem viver no calor, a maioria não tem mais de 10 centímetros. Deixaríamos uma cadeia alimentar natural entre todos, e quem sabe, um dia, este mundo elimina a seca por si só.

Ênio falou:

— E se enviamos os robôs onde existe gelo eterno? Puxaríamos esse frio polar para o centro do planeta aos poucos.  Levantaríamos os blocos de gelo, e os lançamos entre os bichos sobreviventes. Os refrescaria. Seria um trabalho de anos pela frente. Mas, uma dúzia de robôs ficaria aqui nisso. Trabalhariam até os 200 anos, pois é o máximo que aguentariam sem a nossa supervisão e auxílio.

Mas, Eva achava que ela poderia fazer melhor! Tinha capacidade mental para levitar todo o Polo Sul de uma vez só. Só necessitava saber se isso era possível.

Os cientistas riram em coro. Nossa! Jamais fora realizado. Fizeram cálculos matemáticos, e se chegou à conclusão de que se podiam remover as montanhas de gelo que flutuavam no mar. Nada mais.  E a super-mulher entrou em ação.

Numa nave minúscula, Madalena parou sobre o Polo Sul, por sobre um mar branco com montanhas intermináveis de neve e de gelo na frente. Eva dilatou as pupilas, e soltou tudo até onde sua visão alcançava. Em seguida, Adão ajudou-a a levitar essas montanhas enquanto Madalena guiava devagar. Eram quilômetros de gelo voando no ar com destino às savanas secas. Quando Eva deixou a carga branca no chão com suavidade, o gelo evaporou esfriando o ar, deixando o chão úmido. Beleza!

Viajaram até o Polo Norte, repetindo tudo novamente inúmeras vezes, até os cientistas mandarem parar. Outros tripulantes abriram buracos para captar as águas subterrâneas e formar vertentes, e mais outros engenheiros fabricaram as usinas que puxavam água do mar. A seguir pararam, pois, os cientistas não sabiam se haviam equilibrado o clima desse planeta, ou ocasionado um desequilíbrio geral.

Assim que começou a chover, a alegria foi de todos. A mãe natureza estava os acompanhando na luta contra o calor, e a umidade nas savanas começava a tomar conta. Estava na hora de pensar em lançar as sementes de capim selvagem.

E os robôs desta vez entraram em ação. Espalharam sementes de capoeirão sem descanso, entremeados de sementes de plantas que cresceriam na água. Quando o capim estava com um metro de altura, foi a vez das sementes de arbustos, de pequeno porte. E continuaram a repetir tudo mais uma vez, em 8 lugares diferentes do planeta.

Os cientistas, por sua vez, desciam para a terra a colocar vitaminas, plantar árvores de raízes que desciam no chão em forma vertical e que sugariam água das profundezas. E depois regressavam, cansados, analisavam resultados, escreviam relatórios, e entregavam para Ênio.

E desta vez um dossiê foi se aglomerando assustadoramente. Adão ria, guardava tudo e completava o raciocínio alegando que as cobras não iam resistir à tentação de vir conhecer dinossauros, e que o futuro desse planeta estava garantido. As cobras fariam outras tentativas, com aparelhagem sofisticada, e os dinossauros continuariam sua vida num planeta que com passar do tempo ficaria verde.

E um otimismo tomou conta de todos, e planos mirabolantes brotaram do dia para noite. Fizeram caminhadas sobre a neve, construíram casas de gelo, e se trancaram nelas para vivenciar o dia mais longo desse mundo com o Sol da meia-noite. Desta vez, os homens acendiam um fogo interno, dormiam nus entre roupas quentes, olhando através de uma janela a luz eterna desse Sol. Também ficavam fascinados com a aurora boreal, de cores surreais, numa paisagem que os fascinava. E fazer amor durante meses, era algo que todos adoravam fazer. Não morriam de amor porque os robôs os alimentavam como sempre fizeram. Uma sacola com o café fumegante estava na porta dessas casas de gelo, matematicamente, em tempos regulares.

Quando esse longo verá ficou para trás, e o Polo Norte ficou preto como breu, eles examinaram as savanas, onde as grandes árvores desse novo éden começavam a florir. Já havia frutas, maçãs, jabuticabas e muitos legumes.  Em todo lugar, o capim se espalhava aos poucos, cobrindo a terra de um verde incipiente, para uma volta à vida longa a feliz.

Realizaram então, a remoção definitiva dos dinossauros que deambulavam pela terra em corpos esqueléticos. Resgataram todas as espécies herbívoras que encontraram. Levitavam-nas com luz branca, e deixavam-nas cair em meio de lugares onde as águas dos lagos e dos rios faziam o milagre de fazer o verde ficar a cada dia mais alto.

Aos dinossauros carnívoros deixaram-nos isolados, numa ilha grande, levitando-os um a um, através do raio branco. Eles se devorariam uns aos outros, até o fim. Muito longe dos herbívoros, que ficaram donos absolutos de um novo paraíso em meio da Oitava dimensão.

Adão e sua tripulação sentiam o orgulho do dever cumprido. Ele mesmo escreveu uma última carta para as cobras, de punho e letra, falando que dali em diante esse paraíso estava os esperando. O único espaço maldito era a ilha dos carniceiros. Um lugar que deveriam ignorar. E enviou a cápsula com filmes, fotos, folhas escritas com a análise do solo, e uma lista interminável do que era necessário trazer nas futuras viagens. Os cientistas falavam para Adão: - Escreve ali que enviem estagiários, estudantes de engenharia, de geologia, veterinários, os rapazes vão adorar continuar nosso trabalho... E essa cápsula saiu como uma bala através da imensidão.

Depois partiram com um ar de tristeza.

Sobrevoaram esse planeta pela última vez, e entraram no espaço, cada vez mais escuro, com poucas estrelas. Afinal, estavam a caminho das noites eternas.

 Juntaram-se nas cozinhas a festejar, brindar, pois esse turismo estava fantástico. Só havia um problema, os engenheiros haviam gastado todo o material de metalponita, os veterinários haviam deixado em terra todos os répteis dessa nave, os robôs gastaram 80% das sementes, mas a comida ainda dava. A horta produzia os frutos, os robôs preparavam as farinhas, e medicamentos os havia sobrando. Podiam continuar a existência.

Ênio perguntou do próximo destino. Adão não viu nenhum mundo amarelo ou verde pela frente, só planeta muito pré-histórico, com meia dúzia de amebas iniciando a vida. Estavam saindo do Universo conhecido e entrando na escuridão sem fim. Em pouco tempo, só haveria tormentas, poeira espacial, e mais nada. Adão então pediu para Madalena girar e fazer uma curva, dando uma volta, e viajando em redor do Universo. Ênio achou a ideia bárbara. Mais cedo ou mais tarde, encontrariam um mundo, seja lá onde fosse.

Finalmente, um dia, Ênio descobriu a Constelação do Hipopótamo e deu um grito telepático para Adão: - Adão, achei um Mundo de punição!

Adão perguntou perplexo: - Mas o que é isso, cara?

— Um planeta morrendo. Agonizando. Sem reversão desta vez... Mil vezes pior do que o planeta dos dinossauros. Lá não há como fazer milagres de mudanças, cara, pois seria um trabalho inútil. Tempo perdido. Mas, queres ir lá?

— Mas têm homens?

— Têm... E eles estão agonizando... Em lugar de dinossauros condenados lá teve ter centenas de homens morrendo de fome, pestes, e não seria estranho que o ar esteja cheio de venenos.

Adão perguntou com telepatia para a tripulação o que fazer. E como todos concordaram em visitá-los, pois havia um ar de otimismo nessa nave, Madalena deu um giro, e viajou direto para o lugar, aonde só os anjos vão, mas na sua forma espiritual.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Depois partiram com um ar de tristeza.
Sobrevoaram esse planeta pela última vez, e entraram no espaço, cada vez mais escuro, com poucas estrelas. Afinal, estavam a caminho das noites eternas.
Juntaram-se nas cozinhas a festejar, brindar, pois esse turismo estava fantástico. Só havia um problema, os engenheiros haviam gastado todo o material de metalponita, os veterinários haviam deixado em terra todos os répteis dessa nave, os robôs gastaram 80% das sementes, mas a comida ainda dava. A horta produzia os frutos, os robôs preparavam as farinhas, e medicamentos os havia sobrando. Podiam continuar a existência.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Adão e Eva, na guerra dos iguanas. Parte II" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.