A Breaking Song escrita por Mr Mandias


Capítulo 4
Capítulo 4 - O Ancião e o Seu Legado


Notas iniciais do capítulo

Update: Essa história está em processo de atualização, os capítulos serão todos revistos e os erros e incoerências mais graves corrigidos e, principalmente, a escrita suavizada; dito isso, esse capitulo já passou pela revisão.



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Harry chegou a pensar que, com a volta de Neville e as distrações que com ele vinham, seus dias assumiriam um ritmo mais banal e o tormento das noites insones chegaria, enfim, a um fim.

Contudo, e em que pese seus desejos por normalidade, ali estava ele, horas após o toque de recolher, lendo um livro obscuro nas entranhas escuras da sessão restrita, os corredores mais estreitos e austeros da biblioteca de Hogwarts.

Os fatos eram inegáveis, após algumas poucas e espaçadas noites em frente ao espelho, aquele encontrado em uma sala quase vazia nos corredores de Hogwarts, encarando as duas versões opostas de si mesmo, Harry não pode mais ignorar seu impulsos.

É claro, mesmo a mais torpe das resoluções apresentava o seu justo desafio.

Isto é, mesmo nas prateleiras mais profundas e empoeiradas da sessão restrita não havia muitos livros práticos sobre as nobres artes. De acesso mais simples, apenas alguns poucos tomos com maldições questionáveis e feitiços, um tom ou dois, mais escuros.

Harry ainda não havia se aprofundado em nada tão grave ao ponto de ser censurado pelo ministério, mas eram magias que ficavam na fronteira, algumas delas no lado de lá da fronteira.

Um passo em falso e ele estaria se aventurando por águas que não entendia completamente e não tinha certeza se queria entender.

Exceto que isso era uma mentira. Ele sabia bem sobre o fato de ser um indivíduo de curiosidade ímpar, isso implicava na admissão de que ele leria, com poucas ressalvas, quase qualquer coisa que fosse colocada frente aos seus olhos ávidos.

 A maior prova disto foi ele ter lido todos os tomos mais acessíveis em poucas noites. Dizia a si mesmo, em uma pífia tentativa de acalmar suas muitas preocupações, que era apenas uma maneira de controlar seus impulsos crescentes; prometia, uma e outra vez em meio a páginas e mais páginas de magia sórdida, não usar nenhum daqueles feitiços cruéis.

Nunca.

Fiel a sua rotina auto imposta, alguns minutos após a meia-noite, Harry dirigiu-se à sala onde sabia, empiricamente, que encontraria a razão atual de seu tormento.

Se tratava quase que de um prazer compassivo.

Os passos dele o levavam de forma praticamente automática, noite após noite e hora após hora, a encarar aquele espelho misterioso.

Seus olhos, brilhantes como joias, ora ou outra mudando entre as duas versões de si mesmo, tão parecidas e ao mesmo tempo tão diferentes entre si.

Inegavelmente, a imagem agressivamente contrastante lhe trazia um fascínio mórbido.

Harry não tinha nenhum escrúpulo em se livrar de sua capa ao chegar próximo do espelho, a experiência havia comprovado, amplamente, que aquela sala silenciosa e escondida entre corredores raramente usados, preservava, em noites como aquela, um vazio acolhedor.

Naquela noite, no entanto, ele foi surpreendido, antes mesmo de por seus olhos curiosos em cima da imagem anárquica que havia o atraído até ali.

“Então, outra vez aqui, Harry?”

A voz familiar o surpreendeu e o deixou congelado em seus passos.

Sentado em uma das mesas junto à parede estava ninguém menos que Alvo Dumbledore. Aparentemente, o garoto passou direto pela figura envolta em sombras, deixando de perceber a presença que agora se fazia óbvia, tão desesperado estava para chegar ao espelho, que nem reparou.

“Eu… Eu não o notei, senhor.”

Disse Harry com incerteza.

Estava envergonhado, sem saber, ao certo, o motivo para isso.

É claro, ele não deveria estar fora do dormitório em um horário tão avançado da noite; mas, por outro lado, ele não era o primeiro, e nem seria o último, dos adolescente guiados por instintos de aventura, que se perdeu na exploração do castelo milenar.

“Compreensível, até mesmo o mais firme e atento dos homens se distrairia frente a tal maravilha.”

Disse Dumbledore apontando para o espelho.

Harry, por sua vez, sentiu um breve alívio ao ver que ele sorria. No entanto, por alguma razão, no fundo de sua mente persistia o desconforto por ser pego em uma posição tão precário.

“Então.” Continuou Dumbledore, levantando da cadeira para ficar ao lado do menino. “Você, como centenas de outros ao longo dos séculos, descobriu os prazeres do Espelho de Ojesed.”

Harry limitou-se a assentir, sem entender ao certos aos nuances da situação em que se encontrava.

“Suponho que a essa altura já tenha percebido o que ele faz.” Questionou o diretor voltando a olhar para o espelho adornado.

Harry, esfregando as palmas de suas mãos suadas, encarou o mesmo objeto  por um momento antes de responder.

“Eu não estava certo sobre isso no início.” Começou o jovem pensativo. “Mas algo me ocorreu alguns dias atrás.”

Havia realização em sua voz, por ter descoberto, ele tinha quase certeza, a utilidade do dito espelho. Mas, por outro lado, também havia melancolia.

Dumbledore, desatento ou indiferente aos sentimentos do mais jovem, voltou a assumir o rumo da conversa estranha.

“O homem mais feliz do mundo poderia usar o Espelho de Ojesed como um espelho normal, ou seja, ele olharia e se veria exatamente como é.”

Disse o velho distraidamente olhando para o espelho perdido em pensamentos..

“Os desejos mais profundos de nosso coração.”

Completou o garoto em voz baixa. Uma constatação que lhe custou alguns dias; mesmo que parecesse óbvia, após lhe ocorrer.

Ambos permaneceram em silêncio por alguns momentos contemplando o objeto em sua frente e perdidos em suas próprias divagações.

“O que você vê, Harry?”

Questionou Dumbledore com curiosidade cuidadosa, após alguns momentos de silêncio confortável.

O menino ainda tinha dúvidas sobre o significado daquilo que via, e não tinha certeza se estava confortável em dividir uma informação tão intima.

Mesmo assim, viu-se obrigado, por gratidão ou obrigação, a oferecer uma resposta honesta.

“Uma contradição, professor.” Suspirou antes de continuar, perante a fragilidade de sua explicação. “Eu vejo a minha própria figura em dois momentos muito diferentes e opostos.”

Dumbledore parecia mais velho do que nunca depois daquela afirmação despretensiosa.

“Nós somos mais parecidos do que eu pensava, meu caro menino.”

Constatou o professor em tom de voz levemente mais grave que o habitual.

“Sugiro que volte para cama, Harry.” Orientou o velho depois de alguns momentos em silêncio. “Você não vai encontrar esse espelho nesse lugar amanhã, e nem nos dias que seguirão.”

Ele não se surpreendeu com a afirmação.

Uma breve olhada no espelho confirmou, mais uma vez, o que havia visto desde aquele primeiro dia em que deparou-se com o espelho.

Pouco mais havia a ser visto ali.

Assim, despediu-se de seu diretor, com a certeza, no entanto, de que aquele último relance atormentaria seus sonhos e pensamentos conscientes por muito tempo.

***

Sua conversa com Dumbledore convenceu Harry a não voltar a procurar pelo Espelho de Ojesed.

Desta forma e com o fim abrupto de suas excursões noturnas, a capa de invisibilidade permaneceu guardada no fundo do seu baú pelas muitas noites que se seguirão.

Harry, em alguns momentos, se pegava querendo poder esquecer, de uma só vez, o que havia visto no espelho com a mesma facilidade com que escondia sua capa no fundo da mala, coberta por objetos variados de utilidade duvidosa.

Mas não havia uma forma prática de esquecer. A visão, como ele desconfiava que iria, continuou a lhe incomodar durante os dias, na mesma medida que tirava seu sono nas noites.

Sonhava repetidamente, quando conseguia adormecer, com sua persona vista no espelho, aquela com posse da magia das trevas, assassinando seus amigos com seu, agora muito maior, repertório de feitiços questionáveis, enquanto ria sadicamente.

Concluiu, por essas e outras, que Dumbledore estava certo, o espelho tinha o poder de afetá-lo e, com toda certeza, afetou; assim como afetou muitos outros antes dele.

Seus pensamentos foram interrompidos pela chegada oportuna de Neville.

Como Harry havia previsto, o garoto voltou para Hogwarts com uma varinha nova; bem como algumas cicatrizes.

Harry não sabia nada sobre as marcas de arranhões nos braços de seu amigo, tampouco sobre os poucos calos que começavam a surgir em suas mãos; contudo, ele apostaria, com qualquer um que estivesse disposto a perder alguns muitos galeões, que tais marcas eram frutos de uma nova vassoura.

“Ei, Harry!” Cumprimentou o garoto ao vê-lo. “Como vão os treinos de quadribol?”

A pergunta mal chegou a surpreende-lo enquanto se jogava em uma poltrona confortável perto de onde seu amigo estava sentado.

“Vão bem, eu suponho.” Disse o garoto em tom um pouco dolorido. “Wood parece um pouco mais psicopata à cada dia, mas não é nada que eu não possa lidar, eu espero.”

 Respondeu Harry, enquanto procurava em sua mochila seu mais novo livro.

O pequeno tomo de aparência distintamente antiga tinha sido um presente de Sarah e ele havia o guardado com carinho até agora.

Apesar da vontade, não tinha tido oportunidade de lê-lo, até então, com todo o tempo gasto pesquisando maldições e olhando para o espelho.

Neville, por sua vez, pareceu curioso sobre sua escolha de leitura.

“Alquimia, Harry? Achei que havia deixado isso pra lá.”

Questionou o garoto com curiosidade.

Harry havia resmungado incessantemente, algumas semanas antes do natal, que os poucos livros sobre alquimia na biblioteca pareciam estar sempre posse de algum estudante dos anos mais avançados.

“Deixei pra lá por que não havia muito sobre isso na biblioteca, suspeito que Granger ficou de alguma forma sabendo sobre meu interesse e retirou todo o livro referente ao assunto que ela pode encontrar.”

“Você é paranoico.” Zombou, Neville. “Algum dos estudantes do sétimo ano deve ter um projeto sobre isso, ou algo assim.”

 “Cruzei com Granger pelo corredor e ela pareceu fazer questão de mostrar que estava carregando uma cópia igualzinha a essa que estou lendo, isso foi há uns dois dias.”

Revelou o jovem de olhos verdes em um resmungo.

Neville limitou-se a rir.

“Olhe só isso.”

Chamou atenção Harry, apontando para uma passagem do livro que citava Nicholas Flamel e a pedra filosofal.

“Deve ser legal poder transformar coisas em ouro.” Ponderou ele, suavizando um tom de voz crítico. “Mas, seiscentos anos? Não sei se eu saberia o que fazer com tanto tempo.”

A zombaria de Harry não pareceu impressionar Neville; que, tampouco, demonstrava concordar com ele.

“Suponho que pode ter suas vantagens, ouro e tempo infinito tem algum apelo.”

Inevitavelmente, o humor ranzinza de Harry insistiu em levar sua cabeça para lugares estranhos.

“Ouro e tempo ilimitado?” O jovem riu maliciosamente. “Estou falando com um futuro Lorde das Trevas? Um exemplo de ambição e má intenção?”

O humor negro de Harry pareceu atingir Neville, que riu de forma contida.

“Mas sério...” Voltou a falar o jovem de cabelos negros, interrompendo as risadas. “Imagine o que alguém assim faria se colocasse as mãos em uma coisa dessas?”

Neville estremeceu, antes de responder de forma sombria.

“Nem quero pensar.”

***

Mais uma semana havia passado e Harry, outra vez, jazia atirado na poltrona em frente à mesa de Dumbledore.

“Você precisa de um minuto, Harry?”

Perguntou o homem velho de forma suave ao garoto que respirava com sofreguidão a sua frente.

“Sim, por favor!”

 Respondeu o mais jovem após algumas respirações profundas.

Em que pese o cansaço óbvio explicito na linguagem corporal de seu estudante, Dumbledore parecia pensar que aquele era um bom momento para questiona-lo sobre inclinações acadêmicas.

“Eu não pude deixar de ouvir, de alguns retratos particularmente falantes, sobre seu mais recente interesse de leitura, Harry.”

Por um momento o menino preocupou-se que o diretor sabia de seus estudos secretos na sessão restrita. Porém, seu medo foi descartado no segundo seguinte.

“Alquimia.” Esclareceu o homem, tirando o garoto de seus preocupações. “Não é um rumo ruim para seguir, se quer saber. Muito obscuro e esquecido, mas bastante poderoso e, inegavelmente, útil.” Parou por um momento para medir, atentamente, o jovem à sua frente. “Pode ser muito perigoso sem a instrução adequada também.”

A sentença foi completada com um olhar afiado e, em razão disto, para evitar problemas futuros, Harry achou melhor descartar qualquer preocupação de uma vez.

“Pra falar a verdade, senhor, minha agenda está um pouco cheia no momento, prefiro pensar nisso após controlar essa coisa.”

Os dois sabiam muito bem a que coisa Harry se referia.

O diretor assentiu, contente, por ora, com a resposta do jovem.

“Entendo.” Assegurou o homem. “Mas, ainda assim, eu posso compreender sua curiosidade.”

Dumbledore falava de uma forma muito única.

Harry costumava perceber isso nos momentos como aquele, quando o assunto das lições se desviava para coisas menos sérias, mais banais. Mesmo, ou principalmente, nesses momentos de leveza, o homem elaborava suas frases com calma, fazendo pausas nos lugares certo, deliberadamente exalando experiência.

“Eu mesmo gastei alguns anos da minha vida estudando o assunto. Meu velho amigo, Nicholas, foi gentil em me auxiliar.” Comentou com desprendimento. “Mas a verdade é que eu nunca tive a mão necessária para ser um verdadeiro alquimista.” O homem sorriu com alguma nostalgia. “Uma pena, realmente. Sempre imaginei que o ar misterioso de um mestre em transmutação me cairia muito bem.”

Surpreendia Harry que um homem que, em alguns momentos, podia ser tão mortalmente sério, possuísse tanta facilidade com gracejos e leveza.

Indiferente à análise que havia acabado de fazer, Harry riu brevemente, mas se concentrou, principalmente, na sensação de incomodo que o curto conto tinha lhe causado, como se estivesse deixando algo escapar.

Por outro lado, tudo poderia ser um simples efeito colateral do cansaço e dos exercícios de oclumência aos quais vinha se submetendo diariamente.

Não demorou muito para Dumbledore perceber que Harry não se recuperaria o suficiente para mais uma sessão de ataques mentais naquela noite. Sendo assim, antes que percebesse, o garoto estava à caminho de seu quarto.

A sensação de que estava esquecendo algo importante, no entanto, não o abandonou pelo restante daquela noite.

***

Harry teve certeza, por alguns instantes, que foi preso a um dejavú quando sentiu o peso mudar em sua poltrona.

“Sarah.” Resmungou o menino com irritação fingida. “Acho que você tem adquirido alguns hábitos muito ruins.”

“Eu não sei do que você está falando, jovenzinho.”

Brincou a garota mais velha com um tom de voz seco e sorriso malicioso.

 “Há outras poltronas nesta sala.” Insistiu o mais jovem. “Você sabe...”

A loira apenas riu despreocupadamente.

“É claro que há!” Concordou ela após deliciar-se com a irritação fingida do mais jovem. “Mas então eu perderia a chance de ver seu rostinho fofo ficando vermelho.”

A provocação da loira veio acompanhada de um implacável ataque direcionado as bochechas desprotegidas de Harry. O assédio brincalhão, no entanto, parou quando ela percebeu o livro que lia.

Sarah sorriu.

“Você realmente está lendo isso!”

“É claro.” Respondeu ele impaciente e levemente envergonhado. “Eu falei que me interessava no assunto.”

“E então? Qual é a coisa mais interessante que você encontrou aí dentro?”

Questionou ela apontando para o livro.

“Eu não tenho certeza.” Disse o mais jovem levantando a sobrancelha em tom condescendente. “Como a ideia de golens gigantes cuspidores de fogo soa para você?”

Completou com um sorriso zombeteiro e sobrancelha levantada.

“Você está ficando um pouco atrevido, garotinho!”

Harry, no entanto não havia terminado.

“É claro que você estaria mais interessada na pedra filosofal.” Disse ele com uma voz complacente. “Talvez você consiga invadir a casa de Nicholas Flamel e furtá-la.”

Sarah riu e uniu-se a brincadeira.

“Eu acredito que há um insulto cuidadosamente escondido em sua frase, jovenzinho.” Zombou ela com voz severa. “Além do mais, nunca se sabe, pode haver uma dessas coisas escondida pelos corredores de Hogwarts” Deu de ombros. “Ouvi boatos que os gêmeos Weasley encontraram um mapa encantado por aí, certamente uma pedra filosofal seria a próxima melhor coisa na minha lista.”

“Tenho certeza que sim.” Brincou o garoto. “A próxima melhor coisa...”

Sarah levantou-se e Harry, subitamente, desejou que ela voltasse para o assento.

“Eu preciso ir agora, Harry, prometi para um garoto da Corvinal que o ajudaria com uma coisa.”

O rosto de Harry fechou-se e a garota, vendo sua reação de descontentamento, depositou um leve beijo em seu rosto.

“Anime-se Harry, tenho certeza que você vai encontrar sua pedra filosofal.”

Falou ela já se afastando enquanto acenava e caminhava em direção à saída.

O garoto limitou-se a revirar os olhos diante da excentricidade de sua amiga mais velha e voltar ao seu livro.

Ele não estava certo sobre o lugar que Sarah ocupava em sua vida; e tinha ainda mais dúvidas sobre o lugar que ele ocupava na vida dela. Mas, no fim do dia, aquilo pouco importava.

De qualquer maneira, ele era muito novo pra pensar nesse tipo de coisa e mesmo que não fosse, ela continuava sendo consideravelmente mais velha que ele.

Restava a ele se conformar com os fatos e convencer, a si mesmo, que o descontentamento que ele sentia quando ela, seguidamente, deixava sua companhia para ajudar, quem quer que fosse com o que quer que fosse, não era ciúmes ou algo do tipo.

De onde esse pensamento havia vindo? Nem mesmo ele sabia a resposta.

***

Mais alguns dias se passaram, como todos os dias tendem a passar.

Seja isso uma benção ou uma maldição.

Harry, após acabar de ler o livro que Sarah o havia presenteado, voltou a sua rotina normal de leitura.

É bem verdade que ele ainda podia sentir alguns arrepios quando se aproximava da sessão restrita, mas esforçou-se em manter distância.

Alguns dias atrás, a presença recorrente de Hagrid na biblioteca havia preocupado Neville, que tornou sua missão pessoal descobrir o que o meio gigante estava fazendo no seu tempo livre.

Mesmo sabendo sobre os planos de seu amigo, Harry não deixou de se surpreender quando, no começo de maio, Neville o informou que Hagrid estava escondendo um dragão recém-nascido em sua cabana.

Em uma posição de destaque em sua lista de coisas estúpidas para se fazer, estava criar um dragão em uma cabana de madeira convenientemente localizada em uma escola cheia de crianças indefesas.

A semana seguinte tornou-se uma batalha de vontades.

Enquanto Harry e Neville lutavam para mostrar a Hagrid o absurdo da situação, este se contentava em mimar seu novo filho enquanto dispensava as preocupações dos dois garotos como bobagens sem sentido.

 A pior parte em toda a situação surreal é que o maldito dragão crescia de forma alarmante.

O homem enorme demorou muito para reconhecer, uma semana inteira na verdade. Mas o ritmo acelerado de crescimento, alguns muitos moveis queimados e uma sutil ameaça de Harry finalmente o convenceram de que era prudente aceitar a ajuda dos garotos para se livrar da criatura.

Tal confusão levou Neville e Harry, junto com os gêmeos Weasley, a sua situação atual.

Carregar um caixote pesado pelos corredores de Hogwarts parecia bem melhor antes.

“Vamos, Harry, os amigos de Charlie já estão esperando.”

Falou Fred, ou talvez George, enquanto dava uma breve olhada em um pedaço de pergaminho suspeito.

Tinha vindo de Neville a brilhante ideia de pedir ajuda aos gêmeos quando Hagrid concordou em mandar Norberto embora.

Harry ainda não tinha certeza de que dever um favor para aquela dupla valia o risco, mas não teve opção. Nem ele nem Neville conheciam qualquer domador de dragões.

Com muito sacrifício, o quarteto chegou ao topo da torre de astronomia. Como Fred, ou talvez George, havia dito, os novos proprietários de um dragão ilegal, e provavelmente mortal dentro de algumas semanas, já estavam esperando.

Era um grupo animado, não demoraram a prender o pequeno dragão ao que suspeitosamente parecia com um carrinho de Bebê desproporcional. Tão logo a conversa começou, ela acabou e os quatro domadores tinham ido embora.

“Bom...”

Disse Fred.

“Isso foi…”

Continuou George.

“Chocante!”

Completaram os dois juntos.

***

No dia seguinte, Harry e Neville sentiram a inevitável obrigação de irem até a cabana de Hagrid, que se encontrava em uma situação lamentável desde a partida de Norberto.

“Anime-se, Hagrid.” Consolou Neville. “Tenho certeza que você vai poder visitá-lo assim que ele se adaptar.”

Harry não sabia muito bem como lidar com a situação, mas as tentativas de Neville, por mais pobres que fossem, pareciam surtir algum efeito.

Neville seguiu consolando Hagrid, que se acalmava lentamente, enquanto Harry folhava distraidamente um álbum de fotografias que havia encontrado em uma prateleira.

“Você sabe o que eles disseram?” Perguntou Neville ao homem enorme que secava os olhos com um pedaço manchado de flanela. “Que Norberto é, na verdade, uma fêmea.”

A tentativa fraca de encontrar graça na situação teve pouco efeito sobre Hagrid. Serviu, entretanto, para desviar a atenção de Harry da conversa. Na verdade, o jovem de olhos verdes parou de prestar por completo quando escutou os dois amigos cogitando mudar o nome do dragão para Norberta.

Seus olhos distraídos correram pelas fotografias com curiosidade, até que uma delas, finalmente, chamou a sua atenção.

“Ei, Hagrid.” Interrompeu Harry. “Quem é esse homem ao lado de Dumbledore.”

A pergunta veio acompanhada de um dedo apontando para uma foto específica. Na imagem, se encontrava o diretor Dumbledore sorrindo ao lado de um homem alto. Este último tinha cabelos pretos, com uma sugestão de fios brancos surgindo; era possuidor de um porte altivo e olhos caramelo brilhantes, parecia estar no auge de seus quarenta anos e era, por alguma razão, familiar para Harry.

Hagrid fungou e olhou curioso antes de responder.

“Este é Nicholas Flamel.” Revelou o homem, temporariamente distraído de sua dor. “Ele visitou a escola durante as férias no ano passado, parecia ter alguns assuntos a tratar com o diretor.”

As engrenagens começaram rodar na mente de Harry e o quebra-cabeça à sua frente finalmente começou a fazer algum sentido.

Hagrid, alheio a isso, continuou.

“Um homem um pouco estranho, eu diria, com uma língua afiada. Provavelmente uma boa pessoa, no entanto. Dumbledore gosta dele.”

Concluiu com simplicidade.

“Certo. Obrigado Hagrid! Seu dragão vai ficar bem!” Falou Harry levantando da mesa, em sua cabeça as peças se juntavam pouco a pouco, seu estômago embrulhou com as implicações de sua descoberta. “Vamos Neville, já é tarde.”

Disse Harry saindo pela porta sem cerimônias.

O garoto andou rapidamente em direção a Hogwarts com um Neville confuso em seu encalço.

“O que foi isso Harry?”

Finalmente questionou, o menino mais confuso, ao chegarem no castelo.

“Como eu sou idiota! Praguejou Harry irritado. “Como eu pude não ver isso antes?”

Neville voltou a questioná-lo.

“Ver o que? Do que você está falando?”

O garoto de cabelos verdes parou de repente e puxou seu amigo pela manga até uma sala vazia.

“Escute com atenção, Neville.”

Exigiu Harry antes de continuar.

“Nicholas Flamel, amigo íntimo de Dumbledore e proprietário da pedra filosofal, esteve em Hogwarts antes do ano letivo começar.” Disse ele seriamente para seu amigo ainda confuso. “Pense, Neville! O roubo no começo do ano!”

Neville pareceu, naquele momento, finalmente começar a compreender a linha de raciocínio de seu amigo.

“Sarah fez uma piada sobre a possibilidade de encontrar uma pedra filosofal pelos corredores de Hogwarts.” Lembrou o jovem de cabelos negros desviando o olhar, com o rosto um pouco verde. “Nós dois rimos na hora, mas não tem tanta graça agora.”

A feição de Neville passou de surpresa para terror, ao lembrar-se de outro trecho de conversa que tinha pegado dias atrás.

“Na detenção que tive com Snape semana passada.” Comentou ele. “Eu o ouvi discutindo com Quirrell sobre alguma coisa que estava em risco de ser roubada. Achei que ele falava sobre algo em seu depósito, mas agora...”

As palavras de seu amigo tocaram mais um alarme na cabeça de Harry.

“Você, por acaso, lembra o que Hagrid disse quando perguntamos como ele conseguiu o ovo?”

Questionou de forma astuta, o garoto transtornado.

Ele sabia muito bem que Neville lembrava.

Um uma noite qualquer, Hagrid, um pouco bêbado de empolgação, deixou escapar algo sobre um viajante buscando informações sobre uma criatura que, coincidentemente, o enorme homem possuía e chamava carinhosamente de fofo.

“Você acha que aquele cão é o fofo?”

Perguntou Neville incrédulo e preocupado.

O silêncio reinou por alguns segundos antes de Harry, que não sentiu necessidade de responder o questionamento anterior, expor os fatos.

“A pedra filosofal está em Hogwarts!” Havia certeza em seu tom de voz. “E alguém pretende roubá-la.”

As palavras eram de finalidade.

Não havia nada mais a ser dito ou feito.


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