Amor, em primeira pessoa escrita por Anaruaa


Capítulo 11
Retorno




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gora que Isabel tinha se mudado para longe, o contato entre nós foi diminuindo gradativamente. Ela demorou a me escrever depois que chegou a sua nova cidade. Eu mandei algumas mensagens pedindo notícias, perguntando como ela estava se sentindo, mas ela não respondeu a todas. Às que ela respondeu, foi de forma curta, monossilábica até. Cansado de esperar, eu liguei para ela, mas ela não me atendeu. Tentei me acalmar dizendo a mim mesmo que ela estava ocupada no trabalho. Naquela noite ela me escreveu pela primeira vez em muitos dias.

Olá Carlos.

Me desculpe se só te escrevo agora, estou tentando me adaptar a minha nova realidade.

Estou bem sim. Apesar de ter chegado aqui há poucos dias, estou muito satisfeita pela minha escolha, aqui é tudo o que eu esperava mesmo.

Apesar disso, é muito difícil ter você tão longe de mim, e isto é algo a que tenho que me acostumar. Por isso te peço que compreenda, mas eu preciso de um tempo.

Mesmo tão distantes, ainda me sinto muito próxima de você. Eu choro todas as noites, com saudades de casa. Você ainda é meu lar, e eu preciso deixá-lo para me sentir em casa aqui. Por isso não vou te escrever, por enquanto e te peço que faça o mesmo e só me escreva ou me ligue em caso de urgência.

Faça isso por mim, por favor.

Beijos, ainda cheios de paixão, para você, meu amor.

Eu compreendi e resolvi, com muita dificuldade, acatar o pedido de Isabel.

Fiquei muitos meses sem notícias de isabel. Mesmo ela me pedindo para não escrever, era muito difícil obedecer. De vez em quando eu mandava alguma mensagem, dizendo que estava com saudades ou pedindo notícias. Ela respondia, mas sem muitos detalhes. Eu nunca mais disse que a amava, nem ela a mim.

No começo foi difícil, mas eu acabei me acostumando e parei de escrever de vez em menos de 3 meses.

Isabel veio à cidade pela primeira vez, oito meses depois de ter partido. Era feriado e ela veio por que o pai estava doente. Eu fui buscá-la no aeroporto.

Mesmo com todo o distanciamento entre nós nos últimos meses, foi impossível não nos emocionarmos ao nos vermos outra vez. Ela largou as bolsas no chão e me deu um abraço apertado, choroso, disse que estava com saudades. Nós nos beijamos como se nunca tivéssemos nos separado.

No caminho até a sua casa, ela me contou o quanto estava feliz com o trabalho e como o lugar onde vivia agora era paradisíaco. Ela estava muito feliz e eu me senti feliz também, e satisfeito por não ter tirado essa experiência dela. Nós combinamos de jantarmos juntos naquela noite, e eu esperava que pudéssemos matar outras saudades também. Eu estava excitado só de pensar nisso. E eu a conhecia bem o suficiente para saber que ela também estava.

Fui para casa extremamente feliz naquele dia. Eu não esperava que meu reencontro com a Isa fosse tão bom. Mesmo ela evitando falar comigo, estando longe, nada tinha mudado entre nós. Eu estava ansioso pelo nosso encontro mais tarde.

Comecei a me prepara uma hora antes da nossa hora marcada. Desta vez eu não cozinharia para ela, mas a levaria ao meu restaurante favorito. Eu queria apresentá-la a meu novo mundo, onde as melhores coisas poderiam ser compradas. Tomei um longo banho de ducha, fiz a barba, penteei os cabelos e vesti-me com uma calça jeans escura, blusa azul e terno preto por cima. Calcei os sapatos e me olhei no espelho, eu estava bonito.

Eu já ia pegar a chave do carro para sair quando meu telefone tocou. Era Isabel, com a voz pesada do outro lado.

—Oi Carlos. Me desculpa, mas eu não vou poder jantar com você hoje. Meu pai— ela fez uma pequena pausa— meu pai não está bem. Eu não sabia… ninguém me falou que o estado dele…  — Ela parou um pouco e fungo — Eu preciso ficar com ele. Você entende?

—Claro amor, eu entendo. Fica com seu pai, a gente sai em outra oportunidade.

—Obrigada por entender Carlos. Você ainda é meu amor, viu?

Meu coração bateu acelerado. Fechei os olhos e as lágrimas de emoção desceram silenciosas pelo meu rosto.

—E você sempre será o meu.

Decepcionado, tirei a roupa e fui dormir.

Nós acabamos não nos encontrando até o dia de ela ir embora, quando eu a levei no aeroporto. Nós saímos um pouco mais cedo e fomos tomar um café. Ela estava triste e abatida, pois o estado de seu pai era muito delicado.

—Ninguém me disse que era câncer, eu teria vindo antes. Eu nunca o tinha visto assim, tão fraco e vulnerável. Não sei o que fazer. Eu sinto que devia ficar com ele!

—Não fica assim Isa, seu pai sabe que você o ama mas não pode ficar, ele entende. Eu vou ligar para os seus pais e me colocar à disposição para o que eles precisarem, ok? Vou ficar aqui no seu lugar, para você trabalhar tranquila.

—Obrigada Carlos, você é um bom amigo.

Isabel voltou depois de alguns meses. Ela tirou férias e veio ficar com o pai. Ela já estava na cidade há alguns dias quando me ligou. Ela foi até meu apartamento e sua aparência me chocou.

Isabel tinha os olhos inchados, de quem chorou muito, olheiras ao redor dos olhos e aparência cansada.

—Meu pai está morrendo. Desde que eu cheguei eu estou com ele no hospital. Ele não respondeu a quimioterapia e os médicos disseram que não há mais nada a se fazer. Estão esperando meu pai morrer Carlos! Disseram que vão mandar ele pra casa, pra ficar mais confortável perto da família. Eu estou arrasada!

E ela estava mesmo. Era difícil vê-la daquele jeito, sem sorrir, chorando. Tudo o que eu queria era confortá-la, cuidar dela e acalmá-la. Mas eu nunca tinha passado pelo que ela estava passando e não sabia o que dizer. Eu sentia toda a sua tristeza e meus olhos se encheram de lágrimas.

Eu sentei ao seu lado e a abracei. Ela deitou a cabeça no meu peito e começou a chorar, enquanto eu acariciava seus cabelos e sussurrava palavras doces e reconfortantes, até ela se acalmar.

—Você já comeu Isa?

—Não estou com fome.

—Hum, há quanto tempo você não come?

—Não sei. Acho que almocei no hospital, não tenho certeza.

—Então eu vou pedir comida pra gente. O que você prefere.

—Peça o que você quiser, eu realmente não quero comer nada.

Eu pedi a pizza favorita dela, e depois de muita insistência minha, ela acabou comendo.

O telefone dela tocou. Era sua mãe. Ela atendeu apreensiva:

—Aconteceu alguma coisa? — Eu estou na casa do Carlos, daqui a pouco eu vou pra casa então. — Eu comi, estou comendo. — Não mãe, eu vou terminar aqui e já vou.— Tá bom.

Ela me passou o telefone:

—Minha mãe quer falar com você.

— Alô? Oi dona Carmem, como vai?

—Oi querido, estou bem. Faça uma coisa por mim, sim?

—Claro, o que a senhora precisar.

—Bom. Meu marido vai pra casa hoje, uma enfermeira vai acompanhá-lo. Minha filha esta cansada, não saiu do hospital desde que chegou e não dorme há 3 noites. Cuida dela pra mim? Fique com ela em sua casa e veja se consegue fazê-la dormir um pouco.

—Tá bom dona Carmem, farei isso, não se preocupe.

—O que minha mãe te disse?

—Ela me pediu para cuidar de você. Disse que está tudo bem em casa, seu pai está com a enfermeira, então ela quer que você fique aqui comigo.

—Eu nem trouxe nada pra cá. Eu vou pra casa ver como está meu pai.

Eu a abracei com cuidado, acariciando seus cabelos, pois sabia que isso a relaxava.

—Você não quer desobedecer sua mãe quer? Fique aqui comigo, só essa noite. Amanhã cedo eu te levo pra casa. — Eu a soltei e a segurei pela mão, puxando-a para o quarto. — Vem, o que você acha de um banho de banheira?

Eu a deixei no banheiro da suíte, despindo-se e fui buscar uma roupa pra ela. Eu ainda guardava algumas lingeries que ela tinha deixado na minha casa, torcendo pra que ela não achasse estranho. Separei uma camiseta minha e peguei uma toalha para ela. Quando entrei no banheiro, ela estava na banheira, com a cabeça tombada para o lado, muito séria e pensativa. Ela me olhou e sorriu um pouco.

—Eu queria que você entrasse aqui comigo.

Eu sorri e obedeci imediatamente, tirando toda a roupa e entrei na banheira, sentei-me atrás dela e a abracei, sustentando seu corpo sobre o meu. Ela suspirou e eu senti seu corpo relaxar em meus braços. Era bom tê-la assim, depois de tanto tempo. Era bom saber que ela ainda se sentia bem comigo e podia relaxar. Eu beijei a lateral de sua testa, a linha dos olhos e sua bochecha. Ela se afastou um pouco e virou-se para mim, me olhou nos olhos e então beijou a minha boca. Nós ficamos ali, juntos, nos beijando carinhosamente por algum tempo. Eu queria que ela se sentisse segura, protegida.

Quando ela afastou os lábios dos meus e sorriu para mim, eu me senti plenamente satisfeito. Nós saímos da banheira e fomos juntos tomar uma ducha, ficamos abraçados nos beijando. Por mais que eu quisesse me conter, meu corpo respondeu ao corpo dela. Ela não se importou.

Nós fizemos amor ali mesmo, em pé no banheiro. Eu a tocava com cuidado, com carinho, devagar, e ficava satisfeito ao perceber através de seus gemidos suaves, que estava bom pra ela. Quando ela alcançou o clímax, seu corpo relaxou, como antigamente e ela sorriu satisfeita, depois bocejou sonolenta. Eu ri satisfeito e comecei a esfregar o sabonete na pele dela.

Quando ela deitou-se na cama, eu a abracei, deitando-me de conchinha com ela. Ela dormiu enquanto eu acariciava seu pescoço.

Na manhã seguinte, conforme combinado, eu a deixei em casa, sem saber que aquela seria a última vez que seríamos um do outro daquela forma pura e verdadeira.


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