Takeo ainda tinha mais uma aula para aquela tarde, mas viu quando Mikaru encontrou com seu namorado na entrada e passou direto por ele, ignorando o cumprimento. Caminhou na mesma direção, decidido a contar o que havia acontecido. Conhecia Hayato bem e sabia o quanto era curioso. Seria melhor explicar a situação antes que ele colocasse o casal de amigos em uma situação delicada.

— Mikaru parecia desanimado. Aconteceu alguma coisa? – Bingo!, pensou Takeo ao ouvir a primeira pergunta, sorrindo divertido. Desde que aqueles dois começaram a se entender melhor, Hayato passou a notar pequenos detalhes que diziam muito a respeito do humor de Mikaru.

Takeo puxou-o pela mão até a sala da gerência, onde teriam um pouco de privacidade para conversar a respeito do problema.

— Katsuya terminou oficialmente com ele. – contou assim que a porta foi fechada, recebendo um olhar incrédulo de volta. Não achava que aquilo era uma grande surpresa, mas Hayato se apegou demais ao outro rapaz e por muitas vezes tomava suas dores. Takeo, por sua vez, já havia brigado com o namorado vezes o suficiente para saber que se o sentimento fosse verdadeiro, teriam outra chance.

— Terminou? Mas eles pareciam estar se entendendo tão bem! – Hayato levou os dedos aos lábios, beliscando nervosamente. Na semana passada Katsuya comentou que os dois saíram para um passeio e que havia pedido em namoro novamente. Mikaru negou, assim como negou das outras vezes, mas sempre aceitava os convites para sair. Aquilo era estranho…

— Acho que eles ainda precisam de tempo ou Katsuya realmente se cansou de correr atrás.

— Mas as investidas não eram em vão! Mikaru não estaria saindo com ele se não quisesse nada, não é?

— Não mesmo. Ele não ia se forçar. E pelo jeito que comentou a pouco, está abalado. Eu sugeri que ele saísse pra conhecer gente nova e ele me olhou como se eu tivesse dito um absurdo!

— Mas você disse, Takeo…

Hayato sabia que não podia impor suas vontades, mas achava que os amigos formavam um bom casal, tinham suas diferenças, mas que por muitas vezes se completavam. O que seria dos jantares a quatro e as festinhas que organizavam? Não conseguia imaginar isso apenas com três deles. Conversaria com o rapaz na primeira oportunidade que tivesse e, se Mikaru aparecesse por ali, falaria com ele também.

* * *

Hayato teve que esperar quase uma semana até ter uma chance de conversar com um dos envolvidos. Katsuya não atendia suas ligações e sempre se desculpava por mensagem em horário tardio, explicando que o novo trabalho estava tomando muito do seu tempo pois ele se oferecia para fazer hora extra a fim de retomar a faculdade o quanto antes. Mikaru só aparecia na cafeteria quando precisava resolver algum problema ou assinar documentos e como tudo estava tranquilo e em ordem por aqueles dias, ele só apareceu para a visita semanal de rotina no início do fim de semana.

Mikaru organizava alguns papéis sobre a mesa quando Izumi chegou, encarando-o em expectativa.

— Você não anda vindo muito aqui… aconteceu alguma coisa? – Hayato se aproximou mais, observando em que ele trabalhava, mas atento a qualquer brecha para iniciar a conversa que queria ter.

— Não, só o trabalho de sempre e por aqui está calmo. Você aprendeu a lidar com a maioria das coisas que precisa resolver.

— Hm… verdade. Mas pode aparecer pra provar um doce novo e tomar um café.

— Fica fora de rota, então evito vir sem um bom motivo.

— Visitar os amigos é um bom motivo! – Hayato abriu um sorriso inocente, imaginando que receberia uma resposta ácida de volta, mas Mikaru apenas resmungou contrariado.

— Eu posso ver o Shiro em outros lugares melhores.

— Que falta de consideração… depois de tanto tempo e ainda não me considera um amigo?

— Devia ficar feliz por ser um conhecido.

— E como está o Katsu? Imagino que ele anda trabalhando bastante, quase não conversamos esses dias. Estão passeando muito?

Mikaru parou de mexer nos papéis, respirando fundo de olhos fechados, como se pedisse por um pouco de calma. Ele já esperava por algo assim.

— Sabia que estava forçando sua simpatia. E ainda quer ser considerado um amigo… Tenho certeza que ele e o Shiro te contaram o que aconteceu. Não tenho nada a acrescentar.

— Vocês terminaram mesmo?

— Ele terminou comigo, mas como o Shiro disse, nós não tínhamos realmente voltado, então ele só seguiu com a vida dele e estou seguindo com a minha.

— Você não foi atrás dele pra tentar voltar? Ver o que aconteceu pra ele decidir isso sozinho e quando estavam indo tão bem?

— Do que adiantaria? Não posso obrigá-lo a ficar comigo. Talvez essa outra pessoa seja melhor, dê mais valor e demonstre mais, como ele merece.

— Outra pessoa? Espera… como assim? Takeo não me disse nada a respeito de outra pessoa!

— Ah… acho que esqueci de contar pra ele. – Mikaru se apoiou contra o encosto da cadeira, sem a menor vontade de continuar aquele assunto – Em todo caso, ele já está com outra pessoa, então, mesmo que eu quisesse, não faria sentido ir atrás.

A primeira reação de Hayato, após o momento de incredulidade, foi procurar um meio de confirmar a veracidade daquela informação. Katsuya estaria mesmo namorando e alguém melhor que Mikaru?

Levando em conta que ele foi demitido logo depois da briga que levou ao término do namoro, além de ter sido expulso de casa durante esse período, era possível que, na visão de Katsuya, qualquer um fosse melhor. Mikaru mereceu o fora, ainda assim… era difícil acreditar. Além do mais, Katsuya sempre repetia que Mikaru era bom pra ele, atencioso e compreensivo, mesmo que pecasse no quesito carinhoso. Alguma coisa a mais devia ter acontecido pra ele mudar de ideia.

— Eu vou falar com ele!

— Pra que? Confirmar o quanto eu fui ruim e depois chamar essa pessoa para tomar um chá e conhecer melhor? – Mikaru pareceu afundar mais ao notar o olhar decidido de Izumi. Aquilo não ia terminar bem – Só me poupe dos detalhes, ok? Não quero saber com quem ele está.

— Não seja pessimista! Esse outro cara deve ter algum defeito também. E imagino que está fingindo ser o que não é, pra fazer o Katsu cair de amores do dia pra noite.

— E quem disse que foi do dia pra noite? Eles podem ter se aproximado há mais tempo e só agora ele decidiu contar. – Mikaru suspirou pesado, afastando os documentos para um lado quando se levantou – Pode levar isso para o contador depois? Eu não ando com a cabeça muito boa…

— Ok… – se Hayato estava chocado com a notícia do término, ficou mais ainda ao ouvir Mikaru dizendo que ia deixar serviço de lado. Ele realmente não estava bem.

* * *

Takeo chegou da cafeteria há pouco mais de meia hora e se preparava para tomar banho quando bateram à porta do apartamento. Sabia que era algum conhecido com passagem liberada na recepção, caso contrário o porteiro teria ligado pedindo autorização para subir. Não estava esperando ninguém, então a visita seria para o namorado… ou seu irmão.

Não que desgostasse do irmão, mas preferia não manter um contato tão frequente com a família e, na maioria das vezes que Yuu aparecia, era pra trazer algum recado dos pais.

Abriu a porta já pensando em uma desculpa para dispensá-lo o quanto antes, mas seus pensamentos se transformaram em um sorriso de canto ao ver quem o visitava.

— Katsuya… quanto tempo!