Outro alguém escrita por Aislyn


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Katsuya engoliu em seco ao ver quem o recepcionou à porta, desviando o olhar para o corredor de saída antes de voltar a encarar o guitarrista, abrindo um sorriso envergonhado. Ele sabia que havia uma chance de encontrá-lo ali, mas sempre tinha esperanças de ser recebido por Hayato. Sabia também que era errado desejar encontrar o vocalista sozinho para terem mais liberdade para conversar, estava exigindo demais.

 

— Izumi-san está?

 

— Entra. – Shiroyama acenou para dentro do apartamento, abrindo mais a porta para dar-lhe passagem, mas aquele sorrisinho de canto incomodava Katsuya. Por um breve instante ele pensou em recusar o convite e pedir apenas para chamar o vocalista até a porta, mas seria abusar muito da boa vontade.

 

Katsuya seguiu-o até a sala, sentando no sofá à sua frente, não para encará-lo diretamente, mas por ser o local mais distante. Não gostava de admitir em voz alta e sabia que podia ser apenas coisa de sua cabeça, mas algo em Takeo o incomodava.

 

— Ahm… e Izumi-san? – remexeu-se no assento, notando o silêncio que vinha do interior da casa.

 

— Ele não está. Aproveitou a folga pra visitar a tia e o primo.

 

— Você podia ter me avisado na porta… – resmungou amuado, dando-se por vencido e tentando relaxar. Shiroyama o fez entrar por alguma razão, mesmo que não quisesse descobrir qual era.

 

— Veio para conversar a respeito do Mikaru, não é? – Takeo perguntou sem rodeios, recebendo um aceno afirmativo – Quer me contar o que houve?

 

— Não acho que você vá me ajudar… eu sei que não me aprova com ele.

 

— Na verdade, não me intrometo muito nisso, a não ser que ele me peça ajuda. Mikaru é livre pra se envolver com quem quiser. O que não gosto é ver você aprontando, depois de todos os elogios que ele te dispensou, sempre ressaltando o quanto você era uma boa pessoa.

 

— Acho que não sei o que estou fazendo da vida… eu tentei fazer tudo certo, mas ele não quis voltar. Aí fiquei em dúvida se ele ainda queria alguma coisa comigo ou se estava tentando apenas por pena.

 

— Aí você decidiu desistir de tudo e procurar um namorado novo? Ótimo jeito de resolver os problemas.

 

— Eu não desisti… – Katsuya começou incerto, mas foi interrompido.

 

— Hayato conversou com Mikaru e chegou nessa informação. Ou é mentira?

 

— Eu…

 

— É mentira ou não, Katsuya?

 

— Não falei que estava namorando. – respondeu num fio de voz, constrangido com a forma que era encarado. Ele sabia que Shiroyama ia pender para o lado de Mikaru, independente de quem estivesse certo. Por isso preferia conversar com Hayato.

 

— Então o quê? Ele sonhou que você foi lá no escritório pra terminar? Foi coisa da cabeça dele?

 

— Eu disse que conheci uma pessoa… não que estava namorando. Comecei num trabalho novo e é normal que apareçam pessoas novas…

 

— Distorceu a história a seu favor. – aquilo não era uma pergunta. Takeo ligou as informações que tinha e chegou à conclusão certa. Um sorriso de canto não tardou em surgir nos lábios bem desenhados – Queria deixá-lo com ciúme.

 

— Queria que ele me pedisse outra chance, que perguntasse se tinha algum motivo, pra gente então conversar e chegar num acordo de tentar de novo, ver se ele ainda tinha interesse, se gostava de mim… mas ele foi tão imparcial, como se não importasse!

 

— Queria que Mikaru corresse atrás de você?! Garoto, quanto tempo namoraram? O mínimo que eu esperava era que conhecesse pelo menos isso a respeito dele, pra saber que nunca aconteceria. Só de estarem juntos já é uma prova do que ele sente.

 

— Pra você pode ser suficiente, mas eu queria ouvir! Não dá pra adivinhar o que ele está pensando. Ele não demonstra, não dá sinais. Nada! Como posso ter certeza que não mudou o que sente?

 

— Mas vocês não estavam se conhecendo melhor, passeando, essas coisas? – Takeo suspirou fundo, segurando a vontade de brigar com o rapaz. Como Katsuya podia ser tão imaturo? Claro que ele mesmo errava e já fez coisas que magoaram o namorado, além de sair muito magoado em várias das brigas, mas ele procurava Hayato para tentar acertar depois e evitava a todo custo inventar mentiras. Para chatear o vocalista já bastava suas brincadeiras – Vou fazer café.

 

Shiroyama levantou-se do sofá, caminhando para a cozinha e sendo acompanhado pelo olhar do rapaz. Katsuya achou que tinha razão em querer falar com Hayato. Às vezes o vocalista tinha mais tato para aquele tipo de assunto. Takeo era muito… direto.

 

— Não precisa se incomodar. Eu vou voltar pra casa. – Katsuya parou no batente da porta, observando enquanto o outro se movia pelo cômodo.

 

— Pega o bolo que está na geladeira? – Takeo depositou duas canecas na mesa, mostrando que havia ignorado o comentário do rapaz sobre sair – O que vai fazer agora? Procurar ele e desmentir? Sabe que Mikaru vai ficar chateado e as chances de perder a confiança dele são grandes. Ah, isso se você realmente ainda quiser alguma coisa.

 

— O que sugere?

 

— Nesses casos, tudo é válido, exceto continuar com a mentira. Você pode se sacrificar como oferenda em troca de perdão!

 

— Eu estou falando sério… – choramingou enfim fazendo o que foi pedido. Takeo não parecia querer deixá-lo sair ainda.

 

— Também estou. – completou com uma risada sacana – Ok, vamos analisar as opções. Você pode confessar a mentira e deixar ele chateado, mas também aliviado, o que talvez resulte em não desistir de você. Pode contar pro Hayato e pedir pra ele contar com jeitinho, mas isso com certeza vai deixá-lo mal, por preferir se abrir com meu namorado ao invés de falar direto com ele. Você pode confessar através de uma carta, junto com uma declaração de amor, seria bem romântico!

 

— Ah… não. Acho que Mikaru não gosta dessas coisas de declarações. – Katsuya suspirou frustrado, se sentando numa das cadeiras ao ver o guitarrista terminar de preparar a bebida.

 

— Mas você gosta? Tem vontade de fazer? Não precisa ser sempre do jeito dele. – Takeo se aproximou com a garrafa, servindo para os dois e sentando à frente do rapaz.

 

— Eu sei, mas como ele já está chateado comigo, não quero piorar a situação.

 

— Bom, você pode desistir dele, nunca contar nada e realmente ir atrás de outra pessoa.

 

— Você já pensou em desistir do seu namoro depois de alguma briga? – Katsuya devolveu a pergunta, incrédulo pela sugestão do guitarrista.

 

— Claro que sim! E não só por conta das brigas, mas no começo, quando Hayato me rejeitou, eu realmente pensei em deixar de lado. Nem eu sou tão idiota de ficar correndo atrás se achar que não tem futuro ou que estou pressionando demais. Mas aí ele me deu uma chance e estamos aí, fazendo dar certo.

 

— Vocês dois sempre fazem parecer que foi tão fácil… – Katsuya pegou a caneca com ambas as mãos, suspirando antes de provar um gole. Takeo nunca havia servido nada pra ele.

 

Não era tão desconfortável ficar em sua presença…

 

— Tenho certeza que Hayato já comentou que não foi. Última sugestão: você me deixa falar com ele.

 

— Com o Mikaru?

 

— Não, com o Papai Noel. – revirou os olhos, divertido. Com quem mais poderia ser? – Vamos lá, não me encare assim! Cadê meu voto de confiança?

 

— Não é muito fácil confiar em você, Takeo-san…

 

— Ok, vamos ver por outro lado. Confia no Mikaru, certo?

 

— Certo.

 

— E confia que eu quero o melhor pra ele, certo?

 

— Mas se pra você o melhor é ele terminar comigo…

 

— Então eu não preciso fazer nada, porque você já terminou com ele.

 

— Hm… verdade.

 

— Eu posso fazer Mikaru te procurar. Mas quando isso acontecer, quero sua palavra que vai contar toda a verdade pra ele, vai se desculpar e vai fazer tudo o que estiver ao seu alcance pra acertar com esse namoro. Combinado?

 

— Hmm… Foi a melhor opção que me apareceu até hoje… Combinado!

 

— Sabe, ele sente falta de como você era antes…

 

— Como assim? – Katsuya encarou-o sem entender a quando ele se referia.

 

— No início do namoro. Você era mais inseguro, mais… inocente, mas também tentava mais, de várias formas, procurava por ele sem saber se um dia seria correspondido. Não estou dizendo que deve ser ignorante sobre relacionamentos e agir cegamente com tudo, mas ele gostava do seu jeito gentil de sempre procurar algo bom nele. Claro que Mikaru está longe de ser uma alma caridosa, eu finjo que não vejo muito do que ele apronta, mas quem de nós não erra?

 

— Você… parece gostar muito dele. – precisava tirar só mais aquela dúvida antes de ir embora.

 

— Sim, eu gosto. – Takeo sorriu de canto, aproveitando a oportunidade para provocar. Katsuya podia ter tentado passar ciúmes em Mikaru, mas o tiro ia sair pela culatra.

 

— Com essa minha situação… e se acontecesse o mesmo com você e Izumi-san, você voltaria com ele?

 

O garoto era tão previsível que era difícil resistir. Se dissesse a coisa errada, podia deixar até Hayato ressabiado e chateado com ele, mas como estavam só os dois ali, não tinha problema atiçar um pouquinho. Quem sabe isso não fazia Katsuya dar mais valor? Deixá-lo com medo de perder quem gostava… Mas não ia fazer isso.

 

— Não, não voltaria. – confessou após um longo instante de silêncio, rindo ao receber um olhar incrédulo – O Mikaru que eu namorei e que eu gostava na adolescência não é o mesmo cara que conheço hoje. Eu não sou o mesmo que ele conheceu.

 

Katsuya não acreditou muito na afirmação em um primeiro instante, mas quando voltou pra casa e analisou tudo com calma, percebeu que era verdade. Mikaru sempre comentava a respeito de um ‘Shiro’ brincalhão, divertido e sem responsabilidades, alguém livre, mas não foi essa pessoa que o recebeu mais cedo. Takeo brincou, é claro, se divertiu bastante às suas custas, mas também foi um bom ouvinte e lhe deu conselhos, além de oferecer ajuda. Sempre teve uma imagem distorcida do guitarrista e já se perguntou diversas vezes como ele e Izumi se entendiam, mas só depois de passar um tempo a sós com ele foi que notou que o outro homem não era essa criança crescida que fazia parecer. Ele era observador e nem de longe o livro aberto que fingia ser.

 

Agora, só precisava confiar e esperar que Mikaru o procurasse…


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