Me ensina a amar escrita por Saaimee


Capítulo 5
Capítulo 4. Seu sorriso é mais bonito quando não é notado.


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas voltei :D e seguimos com a saga do Sr. Teimosia e Mr. Perfeito.
Boa leitura!



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— Eu não posso fazer isso.

— Eh? Por que?

Era a terceira vez que Goushi suspirava pesadamente durante aquela conversa. Ele não podia culpar o mais novo por não entender suas circunstâncias, mas também não conseguia evitar a frustração que tomava conta dele toda vez que pensava sobre o assunto.

Desde o incidente no parque o moreno não sabia como entrar em acordo com seus sentimentos. Era capaz de disfarçar sua confusão com gritos como sempre fez, mas entrava em pânico toda vez que seu olhar encontrava o de Kento por muito tempo.

A conversa na gruta foi dolorosa, mas não apagava o sentimento duvidoso sobre aquelas palavras. Ele sabia que só entenderia o que estava acontecendo quando perguntasse diretamente o que o outro queria, só assim acalmaria seu coração, entretanto ter que ouvir a resposta depois de passar semanas imaginando coisas e criando suas próprias verdades soava assustador.

Tinha medo de imaginar o que o parceiro pensava depois daquele dia. Não queria sentir novamente a água fria caindo em seu corpo quando Kento contasse que aquelas palavras não tiveram significado nenhum, ele só não entendia o porquê tinha se apegando tanto a isso.

Nesse momento todas as lembranças passavam rápidas por sua mente como um filme caseiro cansativo enquanto fitava o rosto confuso de Yuuta. O que ele iria responder? Não podia simplesmente dizer que ia desistir de um trabalho só porque não queria ficar sozinho com Kento de novo. Resolveu então desviar das acusações.

— Porque tem que ser eu? – Cruzando os braços questionou mostrando uma expressão chateada como se tivesse perdido a última chance de ganhar o item importante no gatcha. — Você podia ir.

— Eu iria! Mas chamaram vocês. – Ainda confuso com a relutância do rapaz, Yuuta respondeu fazendo beicinho de quem tinha sido deixado de fora da brincadeira. — E não são só vocês. Massu e Tomo-kun vão estar lá também.

— É...

— E é só um dia. Vocês vão se divertir.

— Divertir... – Suspirou novamente abaixando a cabeça conforme refletia sobre a cena no parque.

A voz lentamente desapareceu no ar enquanto seu rosto se tornava mais calmo e seu olhar tristonho. Era normal Goushi ser muito calado, mas nunca aceitava uma situação facilmente assim quando estava sendo contra.

Por minutos o mais novo observou sua cabeça cair para o lado e suas mãos se apertarem ao redor de seu corpo como se estivesse carregando um segredo que o deixava triste.

— Gouchin... – a voz do rapaz não estava animada como antes, mas parecia curiosa o suficiente a fazer o moreno levantar o rosto para ouvi-lo. — Não me diga que ainda está pensando naquilo.

A pergunta que mais parecia uma acusação em uma sala de interrogatório fez o coração do menor parar por segundos enquanto seu rosto tentava encontrar uma expressão que não denunciasse o pânico tomando conta de sua mente. Entretanto seus olhos já estavam quase arregalados encarando os semicerrados do outro e nesse momento o calor começava a subir por seu pescoço tentando colorir suas bochechas em vermelho.

— Pensando no que? – Foi empurrando as palavras que conseguiu falar pelos seus lábios nervosos tentando sorrir em disfarce.

— Ah... Eu nem lembrava mais. – Estava óbvio que o moreno não tinha conseguido enganar a perspicácia de Yuuta e apesar de ainda teimar em desvios ele se sentiu infantil por ouvir o tom cansado daquela voz. — Desse jeito parece até que você gosta dele.

A sugestão o fez escancarar a boca com os olhos ainda mais arregalados e o rosto completo pelo rubor descarado. Ele queria gritar e mandar o jovem sumir de perto dele, mas sua garganta seca pela surpresa não o deixou fazer nada além de alguns sons desajeitados.

Yuuta viu a reação e não conteve o riso, ele não negava que adorava ver o menor constrangido.

— Se vocês dois ficarem assim tão próximos eu vou ficar com ciúmes. – Comentou fazendo uma expressão tristonha que só aumentou ainda mais a vergonha do rapaz.

— Cala boca! – Finalmente conseguiu berrar ouvindo as gargalhadas ainda mais altas no fundo.

— Yaa, Gouchin tá apaixonado! – Continuou provocando enquanto corria pela sala atiçando o moreno a persegui-lo aos berros com o coração disparado.

— Que barulheira é essa?

A voz preguiçosa os interrompeu fazendo Yuuta parar no meio do caminho sem dar tempo ou espaço para Goushi se recompor e, no impulso da corrida, trombar nele levando os dois a caírem no tapete da sala em frente a Kento.

— KenKen, bom dia!

Kento não disse nada e menos ainda quis saber o que motivou tanta agitação quando nem o sol tinha coragem de se mostrar, apenas assistiu os resmungos e os gritos contínuos enquanto tentavam ficar em pé.

Depois de afastar a poeira das roupas pretas e rosnar uma última vez para Yuuta, Goushi se recompôs. Estava balançando a cabeça sem acreditar no que tinha feito quando se virou vendo o olhar sarcástico do maior o julgando. Sabia exatamente o que ele estava pensando.

— Ah, KenKen, já está pronto?

— Claro. Enquanto vocês brincam, eu estou trabalhando. – Convencido como sempre explicou ouvindo Goushi bufar alto como esperado.

— Ah, mas o Gouchin também estava se preparando.

— Yuuta! – Todo o incomodo que o maior causou se foi sendo trocado pelo grito em pânico que tentava evitar que o menor falasse mais trazendo somente risos travesso em resposta. Ele não queria agir assim, mas não podia fazer nada quando seu corpo era mais honesto do que suas palavras. Balançando a cabeça suspirou desviando de Aizome enquanto seguia para o corredor. — Vou terminar de arrumar a mochila.

— Não vai esquecer a escova. – Olhando por cima dos ombros o maior avisou já esperando o grito que o responderia.

— Eu sei!

— Inacreditável... Vou ser babá o dia todo.

• • •

Depois de se despedirem de Yuuta os rapazes subiram na van sentando em seus lugares separados de costume indo ao encontro de Tomohisa e Kazuna antes de finalmente seguir para o local de gravação.

O trabalho de hoje era algo que já tinham feito antes: passar o dia em um determinado lugar comentando sobre seus pontos turísticos enquanto se divertiam. A ideia por trás era alcançar o público interessado em passar férias e aumentar a audiência do programa com as fãs desesperadas dos rapazes.

Não era um trabalho ruim, mas sem dúvidas servia melhor para Yuuta com suas reações exageradas, Hikaru que nunca parava quieto ou até Haruhi que curioso levaria o telespectador junto em suas travessuras. Não importava como olhasse, qualquer um encaixava melhor do que Goushi ali. Ele sabia disso, mas por alguma razão preferiram usar sua imagem e por mais que pensasse não conseguia encontrar a resposta do porquê.

Estava incomodado por ter que ficar com Kento, mas agora pensar que os mais jovens fariam um serviço melhor que ele se tornou mais um motivo para ficar inquieto.

O pensamento o fez suspirar se perguntando como o parceiro se sentia sobre a proposta — ele dificilmente recusava serviços, mas adorava reclamar quando estavam sozinhos. Instintivamente seu olhar correu em direção ao banco na fileira ao lado o encontrando fitando a janela.

O céu ainda estava rosado com a luz do sol preguiçoso se levantando. As nuvens claras se misturavam fazendo a janela parecer uma tela gentil onde o tempo passava rapidamente e o rosto calmo do maior descansava observando um futuro embaçado.

Seu azul se destacava do rosado sem se impor, mas mostrando que era tão lindo quanto. Os óculos escuros escondiam o cansaço em seus olhos e os fones nos ouvidos fazia Goushi se perguntar sobre o que ouvia.

O moreno nem tinha notado que seu coração estava agitado assim como no parque, também não notou a persistência em que seus olhos fitavam o rapaz como se quisesse ser visto antes que sumisse como as nuvens. E foi só quando viu a cabeça dele se mover para o lado que notou que a van tinha parado.

A porta foi aberta com gentileza permitindo que a dupla que faltava adentrasse com cumprimentos e sorrisos educados.

Tomo se sentou ao lado de Aizome mostrando o rosto amável que fazia todos se derreterem enquanto Kazuna preferiu se encolher em um acento afastado abraçando a bolsa cansado.

Ainda era cedo para conversarem e ainda mais cedo para presumirem o que aconteceria. Suspirando Goushi se jogou para trás no fundo da van olhando as nuvens moldarem suas formas a cada instante enquanto o céu mudava de cor esperando que seu coração ficasse sereno como aquela manhã até o final do dia.

Os primeiro passos fora da van os levou direto ao encontro de uma pousada. O local aparentava ter dois ou três andares todo feito em madeira com janelas largas decoradas por cortinas finas e uma extensão de grama rasa tomando todos os arredores da morada.

O ar fresco daquela manhã se misturava com o cheiro do verde úmido pelo orvalho causando uma sensação fria que parecia limpar seus corpos de todo o barulho da cidade. Não era ruim se sentir assim, na verdade toda a natureza incomum atraía a curiosidade os fazendo se questionar quanto tempo cada um aguentaria ali.

— O lugar é bem maior do que eu pensei. – Ao lado dos quatro a jovem de cabelos castanhos se aproximou passando por entre as pessoas apressadas que tiravam equipamentos dos porta-malas em velocidade. — Dá pra uma família inteira passar as férias aqui. Incrível...

— Tsubasa, bom dia. – Com o sorriso que somente alguém da realeza poderia mostrar a essa hora do dia, Tomohisa a cumprimentou fazendo notar que essa era a primeira vez que se encontravam naquele dia. Envergonha os cumprimentou vendo os rostos cansados a fitar.

— Já sabe qual o cronograma? – Sem querer fazer rodeios, Kazuna foi direto ao assunto observando a papelada que a jovem segurava nos braços. Ela rapidamente se colocou a folear os arquivos enquanto respondia a questão.

Dias atrás os quatro tinham recebido os arquivos que explicavam sobre o trabalho que fariam hoje, entretanto ainda não tinham certeza de seus papeis por ali. A jovem aproveitou esse pouco tempo que tinham para contar sobre o início da gravação dentro da casa seguindo para os arredores para aproveitar tudo o que o ambiente oferecia e por fim fechando a noite com um jantar amigável entre eles.

— Estejam preparados para todo tipo de atividade.

— Certo.

— O dia vai ser longo rapazes. – Completou com um sorriso encorajador como sempre fazia os animando um pouco mais.

— Mas sabe, Tsubasa, estou feliz que conseguiu esse serviço para nós. – Ao lado da jovem Kento explicou se aproximando enquanto falava com a voz ainda rouca de sono. — Agora eu tenho mais um local para te trazer em um encontro.

Ouvir suas palavras carregadas de doçura a fez se agarrar aos papeis nervosamente sentindo o rosto queimar conseguindo somente balbuciar expressões repetitivas. Ela nem podia ver seus olhos atrás das lentes escuras, mas conseguia sentir seu olhar intenso tentando ver além de seu rosto.

— É bom saber que o Kento já está acordado. – Tentando diminuir a tensão e afastar o rapaz de cima da garota Kazuna comentou sem jeito enquanto Tomohisa sorria.

Ouvir o comentário o fez se virar ajeitando a franja mostrando seu sorriso charmoso de sempre. Para ele, falar esse tipo de coisa era tão comum quanto dizer “bom dia” e apesar de ser automático sempre soava natural deixando quem quer que ouvisse encurralada por sentimentos agitados.

Goushi os assistiu conversando ainda encostado na porta da van. Não estava com ânimo para conversas, mas também não conseguia evitar a vontade de gritar com o maior o fazendo parar com aquele show desnecessário. Ele sabia o quanto o parceiro exalava confiança em tudo o que fazia, mas era irritante o ver correr para toda garota que encontrava.

O moreno não entendia qual era a graça nisso. Queria se exibir mostrando o quanto era bonito ou realmente estava interessado em ficar com alguém? Para ele aquilo não passava de perda de tempo e só fazia o rapaz parecer desesperado por atenção.

— O que foi Goushi? – Em meio a reclamações internas ele ouviu a voz de Aizome o chamando e só então notou a expressão fechada que fazia para eles como se estivesse com raiva.

— Nada. – Sem conseguir afastar a amargura do rosto, desviou o olhar suspirando. — Eu só quero entrar logo e colocar essas coisas em algum lugar.

— Claro. – Notando o tempo que estavam gastando ali Tsubasa interferiu chamando os olhares. — Podem ir na frente. Logo o diretor vai falar com vocês.

— Valeu. – Arrumando a mochila no ombro Goushi seguiu na frente sendo seguido por Kazuna e Tomohisa enquanto Kento, ainda ao lado da jovem, o observou intrigado.

 

Depois de passarem mais de 10 minutos se apresentando a equipe, recebendo instruções e se arrumando, os quatro puderam finalmente iniciar o trabalho e assim como Tsubasa explicou a primeira tarefa foi gravar um vídeo falando sobre o local.

Divididos em duplas, Goushi e Kazuna ficaram encarregados do primeiro andar mostrando a praticidade da cozinha e os cômodos simples onde os visitantes podiam passar tardes descansando confortavelmente ou criando jogos para a distração. Tomo e Kento, no mesmo instante, ficaram com o segundo andar onde o aconchego dos quartos se unia a decorações rusticas trazendo conforto e calor para quem queria fugir da agitação da cidade.

Aproveitaram cada momento para usar todas as técnicas que podiam em frente a câmera. Fosse exibir seu conhecimento e experiência sobre o local, apontar obviedades, fazer comentários divertidos ou se mostrar para os telespectadores encantados com seus rostos.

Cada um tinha sua própria habilidade que, apesar de não encaixar com a do parceiro, fazia o contraste ideal para se tornar agradável a quem os via. E, diferentemente do que Goushi esperava, a primeira gravação ocorreu perfeitamente.

O rapaz pensava sobre isso logo depois de terminarem a última tomada quando receberam alguns minutos de pausa antes de seguir para a próxima atividade. Ainda estava tenso com toda a situação ao seu redor, mas agora conseguia respirar mais tranquilamente sabendo que não encontrou nenhum problema de início.

Estava encostado na parede da varanda com alguns documentos em mãos assistindo as pessoas que passavam de um lado a outro com cabos sem notar toda a vida que os cercava naquele momento. Ele mesmo não tinha notado até agora. Era irônico como estavam gravando algo sobre a natureza quando não estava prestando atenção nisso.

Seus olhos viam o rio calmo em frente a pousada quando escutou a porta ao seu lado se abrir. Sem se mover ele percebeu no canto de sua visão o corpo esguio de Kento se aproximar e automaticamente abaixou os olhos fingindo estar ocupado com aqueles papéis sem importância.

Não havia motivos para ficar nervoso, afinal Kento não estava ali por ele e talvez tivesse encontrado esse lugar para descansar da mesma forma que Goushi, entretanto era difícil dizer isso para seu coração inseguro que logo que notou a aproximação do corpo encostando ao seu lado começou a saltar em seu peito. O moreno nem tinha coragem de piscar dificultando até mesmo sua tentativa de ler o documento.

Em meio ao agito em seu corpo ele se questionou o porquê estava assim. Kento não tinha dito nada e até parecia não notar que ele estava ali então qual era o problema dessa vez? Estava com medo de que ele questionasse algo sobre seu comportamento no outro dia ou talvez ainda quisesse falar sobre aquela noite que não sumia de sua mente? Não, definitivamente não queria falar sobre isso de novo.

Devia perguntar o que ele queria ali? Mas e se ao fazer isso soasse tão estranho que faria o maior desconfiar de algo? Ele não sabia o que fazer e com certeza não tinha notado seu pé batendo contra a madeira nervosamente ou o cuidado que tomava para sua respiração instável não ser ouvida.

Estava a ponto de gritar com o maior só para calar as vozes em sua cabeça quando o ouviu suspirar longamente antes de finalmente se afastar dali.

Assim como chegou se foi em direção ao pilar de madeira à frente encostando o ombro. Goushi curiosamente levantou o olhar vendo suas costas sem conseguir entender o que o rapaz estava pensando.

— É um bom lugar aqui, não acha? – Antes do moreno poder se questionar mais alguma coisa, Kento perguntou sem se destacar do som dos pássaros ao redor.

Levou alguns segundos para ele se desprender de suas inseguranças e entender a questão.

— Pra um encontro? – Falou rápido ainda desnorteado.

— Heh, também. – Foi só depois de ouvir a risada curta do maior que percebeu como aquilo soava errado. Ele não queria ter mencionado isso e não era como se a situação com Tsubasa tivesse mexido com seus sentimentos, entretanto Goushi também não tinha noção de que era mais honesto quando não estava atento. Teve sorte de Kento estar de costas e não ver seu rosto pegar fogo. — Mas eu digo para passar um tempo. Aqui é distante de tudo e... Não sei, esse lugar parece gostar da solidão.

— Não é nada parecido com você. – Tomando um suspiro rápido, afastou o nervosismo do corpo tentando prestar atenção no comentário estranhas. Apesar da voz dele parecer emburrada suas palavras mostravam uma preocupação incomum que fez Kento se virar para olha-lo.

O rosto do menor ainda tinha as bochechas pouco avermelhada as quais Kento não deu muita atenção enquanto seu olhar confuso o atraiu fazendo um sorriso curto surgir. Goushi não entendeu o porquê daquela atitude, mas, dessa vez, não fugiu de seus olhos.

— Você acha?

— Eu não sou cego. – Respondeu coçando a nuca ainda intrigado pela conversa. — Você, sozinho aqui? Parece até piada... Quanto tempo ia aguentar ficar sem atenção?

Apesar da pergunta soar como uma crítica a suas atitudes ele não conseguiu evitar o sorriso largo ao ver o olhar convencido e braços cruzados do menor que o desafiavam a responder.

— Não sabia que você prestava tanta atenção em mim, Goushi. – O comentário despreocupado fez o rosto do menor queimar e, assim como naquela manhã, sua mente ficar muda sem saber o que responder além de um alto “cala boca” que Kento ignorou. — Mas... eu não falei sobre ficar aqui sozinho. – A explicação fez a expressão raivosa do moreno diminuir assistindo o olhar calmo encarar o grupo trabalhando no gramado. Por instantes ele sentiu a solidão daquela pousada no olhar azul dele e se questionou se falava da Tsubasa ou alguma outra garota quando o viu se virar novamente para ele. — E de alguma forma aqui é mais parecido com você.

— Sem chance...

— É sério. Eu não consigo te imaginar pescando ou vivendo da natureza – comentou rindo o fazendo fechar a expressão novamente —, mas com certeza te vejo sentado em algum banco por aqui com o violão no colo compondo outra música.

Kento não estava errado. Goushi não viveria em um lugar assim por muito tempo, mas quando parava para pensar naquele silêncio e na distância de todos ele podia se encontrar. Não estava errado sobre ele e isso fez seu coração se agitar contente.

— Mas é claro que você não passaria mais de uma semana aqui sem aqueles seus hambúrgueres calóricos. – Finalizou mostrando um olhar enjoado só de lembrar dos fast-foods que o menor frequentava.

— Ah, nesse caso pra você seria fácil. – Aproveitando a situação continuou, agora com um sorriso de canto, pronto para provoca-lo. — Tem muito mato por aqui.

— Ai... – Era tão esperado que ele dissesse isso que nem impressionou Kento conseguindo apenas o fazer revirar os olhos com a bobagem. — Criança.

Jogando a cabeça para trás ele se virou olhando para o nada tentando ignorar o rosto glorioso de Goushi.

Ao fundo podiam ouvir vozes gritando e pássaros cantando enquanto o perfil perfeito de Aizome brilhava na paisagem. Naquele momento ele parecia solitário e seus suspiros lentos pesavam toneladas saindo do corpo. Goushi conseguia ver isso porque se sentia assim às vezes.

A cena o fez pensar em como Kento tinha nascido para viver na cidade brilhando em telões e capas de revista. Aquele lugar nunca combinaria com ele, mas, agora, vendo seu olhar perdido ele se perguntou se estava enganado esse tempo todo.

Próximo a varando ouviram o diretor os chamar avisando o sobre o final da pausa os fazendo se mover sem rumo.

— Vamos. – Kento comentou se virando para a porta deixando o outro confuso.

— Pra onde?

— Não te falaram? Nos dois vamos gravar na floresta agora.

A resposta veio seguida de um sorriso comum que não acompanhava o olhar sério, entretanto foram as palavras que acertaram Goushi com um golpe gélido no estomago fazendo sua única reação ser um apertão amassando os documentos.

• • •

A entrada da pequena floresta era bem próxima da morada por isso não levou nem cinco minutos para chegarem. Estavam prontos com suas roupas leves que mostravam seus braços e pernas para aguentar o calor do dia enquanto aguardavam os últimos câmeras se acertarem com o diretor.

Era estranho ficar parado ali em silêncio quando tinham falado tanto poucos minutos atrás. E isso ficava claro em Goushi que não parava de se balançar como se estivesse inquieto para acabar logo com isso. Estava nervoso com a situação e não era só sobre estar com Kento quando havia uma equipe toda junto a eles, mas era o fato de entrar naquele lugar escuro que o incomodava.

Sua visão mudava de um lugar para outro sem parar até que encontrou o rosto do maior. Ele fitava em linha reta algo que fazia aquele sorriso comum ficar congelado em sua face. Não era comum o ver sorrindo tanto quando não havia câmeras ou garotas por perto.

Aquela curva em seu rosto não era a mesma de quando falou com Tsubasa ou quando estavam conversando sobre o local e mesmo que Goushi não entendesse as semelhanças ele sabia que algo estava errado agora.

Seus olhos seguiram os dele em busca da resposta, mas a única coisa que encontrou foi Tomohisa e Kazuna na beira do rio fazendo a gravação de outra atividade.

— Tomohisa, você precisa soltar mais a linha. – De trás o loiro explicava em um tom autoritário incomum enquanto o outro parecia se divertir com a situação.

— Desse jeito?

— Isso. Quando o peixe estiver mais calmo você começa a puxar.

Era claro que Kazuna estava concentrado encarando furiosamente os caminhos que o peixe trilhava como um gato prestes a pegar sua presa. A ideia era só passar um tempo mostrando a diversão que poderiam encontrar em uma atividade simples, mas ao invés disso o jovem fez parecer como um trabalho doloroso que exigia perfeição.

— Agora!

No meio do silêncio ele gritou dando mais uma ordem que Tomo seguiu rapidamente puxando a vara com toda a força que tinha. O peixe era forte e certamente não era pequeno, mas com o tempo certo eles foram capazes de fazê-lo nadar em suas direções.

Tomohisa puxava a linha com seu corpo todo sendo obrigado a dar um passo para trás e foi nesse momento que o descuido com uma pedra molhada o fez perder o equilíbrio dando espaço para o peixe retomar a força e arrebentar a linha fazendo o maior cair para trás levando Kazuna com ele.

— Tomohi-

— Isso foi tão divertido!

Tomo estava bem a sua frente sentado no chão de pedras tão molhado quanto ele e, só isso, seria o suficiente para tira-lo do sério, porém não pode manter a frustração no rosto por muito tempo quando a voz irritada do loiro foi interrompida pela risada honesta do outro. E apesar de não ter gostado de perder o peixe ele ainda sorriu disfarçadamente o olhando de trás.

— É uma coisa rara ver esses dois trabalhando juntos. – Tomando a atenção de Goushi de volta, Kento comentou rapidamente.

O moreno tinha até se esquecido do que estava fazendo quando o ouviu falar e instantaneamente assentiu sem mudar a expressão calma. Logo se virou por curiosidade para ver o maior quando encontrou o rosto dele distorcido como se estivesse passando mal.

— Oi... Aizome?

— Sim?

— O que foi?

O olhar preocupado de Goushi o fez notar a expressão que estava fazendo e sem mais forças para fingir derrubou os ombros aliviando toda a tensão de seu corpo.

— Ah, eu não consigo. Eu não quero entrar aí com esse monte de inseto gritando. – A declaração soava como se ele fosse chorar a qualquer momento, mas o motivo era tão bobo que só fez Goushi cerrar os olhos se lembrando do pavor que tinha. — Eu não quis seguir com a pesca por causa da água, mas... Ah, eu não sei o que é pior!

— Ah, para de fazer escândalo.

— Não é escândalo! – Gritou em defesa antes de abraçar o próprio corpo tremulo já imaginando as inúmeras espécies que viviam ali. — Se um bicho grudar em mim... – O pensamento o fez se chacoalhar inteiro sentindo cada parte do seu corpo se arrepiar com a ideia.

— Você vai fazer o serviço do mesmo jeito!

Era em momentos como esse que Goushi não conseguia acreditar que esse era o ídolo que tantas garotas amavam e fariam de tudo para ter por perto. O Kento Aizome das fotos é uma mentira, pensou balançando a cabeça segurando a vontade de chama-lo de criança.

Assim que o diretor chegou o rapaz mudou sua atitude por completo mostrando seu sorriso comum para o homem como se nada daquilo estivesse o enlouquecendo. Goushi assistiu a mudança de atitude e ao invés de ficar irritado foi surpreendido por uma ideia cruzando sua mente.

Na hora em que estavam na varando o maior já sabia que passariam por essa atividade, tinha dito isso a ele quando saíram de lá, e aquele sorriso comum só apareceu depois que o diretor os chamou.

Por um pequeno instante a possibilidade de que Kento tivesse ido atrás dele para conversar porque estava nervoso passou por sua mente o fazendo ficar parado encarando todos seguirem em frente.

— Você... – sua voz quase não saiu, mas ainda assim fez o maior olhar para ele em dúvida se tinha ouvido algo.

E se fosse realmente isso? Significava que Kento precisava de sua ajuda? Não podia acreditar no que estava pensando e com um aceno rápido tentou impedir que continuasse alimento besteiras.

— Não, nada...

Não havia mais o que fazer a não ser seguir com o plano. A proposta da atividade era mostrar a área natural e comentar sobre algumas curiosidades que ambos tinham decorado antes de entrar ali. Entretanto era difícil relaxar e parecer natural quando ambos ficavam olhando para todos os cantos amedrontados.

A ideia que Goushi tinha daquele local era muito pior do que a realidade, mas não o impediu de ficar imaginando milhares de coisas. Já os pesadelos de Kento eram completamente reais e estavam grudados em cada tronco que passavam fazendo o maior engolir rispidamente o grito e continuar em frente.

Apesar das dificuldades estavam conseguindo manter as aparências e ouvir poucas reclamações do diretor. Acreditavam que só precisavam aguentar mais um pouco quando o homem os pediu para seguir em frente pela área mais escura enquanto os câmeras os seguiam.

Isso não estava no script que leram e menos ainda em seus planos, porém precisaram fazer como era dito imaginando que talvez o homem quisesse fazer algum improviso no meio do caminho. Foi por causa dessa suposição que ambos ficaram calados se preocupando com o que deveriam fazer para surpreender o telespectador e não prestaram atenção para onde iam.

Goushi estava caminhando na frente perdido em pensamentos quando sentiu algo agarrar firmemente seu pulso. Sua primeira e única reação foi parar de andar prendendo a respiração enquanto seu coração tentava voltar a bater.

Não havia som de passos ao redor e menos ainda de respirações, porém os dedos em sua pele eram muito reais. Não teve tempo para se perguntar se tinha se perdido e nem conseguiu abrir os lábios para gritar pelos câmeras, a única coisa que fez foi olhar em direção reta vendo as árvores fecharem seu caminho do mesmo jeito que seu medo embaçava sua mente.

— Goushi...

A voz o chamou em um sussurro trêmulo o fazendo abrir os lábios com os dentes se mordendo e soltar um grito mudo ainda sem ter coragem de se virar.

— Goushi!

A voz chamou novamente, mas dessa vez conseguiu decifrar de quem se virando lentamente para encontrar Kento próximo a ele olhando para os lados com olhos aterrorizados.

— O que-

— Tem algo aqui... – a afirmação fez o menor sentir o frio dominar seu corpo mais uma vez como se sua alma tivesse acabado de se soltar em direção ao além.

— O que? – Perguntou com medo de ouvir a resposta.

— Não sei... – respondeu antes de se virar para olhar os olhos do rapaz. — Eu sinto os olhos deles em mim.

O comentário o fez soltar um grito por entre os dentes enchendo sua imaginação de ideias. E se eles tivesse ultrapassado uma área proibida? E se esse lugar fosse amaldiçoado? Ele não queria se entregar a essas ideias sem sentido, mas já não conseguia controlar a tremedeira em seus ossos.

— Cadê os câmeras?! – Kento perguntou notando estarem sozinhos ali.

Suas gargantas secas não conseguiam nem engolir a saliva quando olharam ao redor e viram somente árvores. As mãos frias de Kento ainda seguravam o pulso do menor assim como o corpo de Goushi parecia estar muito mais próximo do outro agora.

Eles não conseguiam notar o que estavam fazendo e a única coisa em suas mentes era o pânico e o desejo de fugir gritando dali até acharem uma saída, porém como iam andar se já nem sabiam de onde tinham vindo. Acabaram, sem muita discussão, decidindo seguir em frente buscando áreas onde a iluminação do sol fosse mais forte.

No meio do caminho Kento sentiu algo bater em suas costas e automaticamente se virou encontrando nada atrás dele. Desconfiado encarou o nada por segundos antes de se virar e ver Goushi passos a sua frente. Assustado pela possibilidade de se perder ele correu até o menor e quando chegou perto esticou o braço para tocar em suas costas, mas parou assim que viu o enorme besouro pousar próximo de seu cotovelo.

Seu grito alto acompanhou o balanço desesperado do braço que assustou o outro que sem saber o que acontecia gritou junto.

— O que foi!?

— Tem inseto aqui!

Goushi ainda sentia o coração desesperado quando ouviu aquilo. Ele quis gritar com ele por o assustar, mas se interrompeu quando viu algo se mover como dedos no pescoço do maior.

— Ai-Ai-Aizome... O que que é isso?

Seus olhos estavam arregalados como se visse uma assombração fazendo o outro urgentemente colocar a mão sobre o local sentindo no mesmo instante uma textura molhada e pegajosa dominar seus dedos. Um único toque foi o suficiente para fazê-lo petrificar antes de conseguir tirar o inseto jogando para longe aos gritos assustando Goushi novamente.

• • •

— Aqui, bebam isso.

— Obrigado, Tsubasa.

— Obrigado.

Com todas as gravações da tarde finalizadas, os cinco estavam sentados no sofá da sala de estar tomando um tempo para respirar depois de toda a confusão.

Kento e Goushi ainda pareciam abalados por todas as surpresas que ocorrem na floresta soltando suspiros a todo momento sem acreditar no que fizeram e ainda envergonhados por terem sido encontrados aos berros naquele lugar.

— Eu lamento que isso tenha acontecido. – A jovem se desculpou apertando as mãos ao sentir-se culpada pelo estado dos dois. — O diretor queria pregar uma peça com vocês, mas não era para tudo isso ter acontecido.

A ideia da filmagem era mais ou menos o que Goushi esperava: um improviso e um susto. O diretor tinha decidido que aproveitaria o cenário meio escuro para deixá-los sozinhos por um instante e depois assusta-los com fantasias baratas de fantasmas que alguém da produção vestiria, entretanto eles acabaram andando tanto que se afastaram da área e se assustaram à toa onde as câmeras nem puderam gravar as reações.

— Mas que bom que estão bem. – Tomo comentou sorrindo os vendo o encarar cansados como se dissessem que não tinha nada de bom naquilo. — Kazu e eu conseguimos vários peixes para assar no jantar.

— He... Uma boa noticia finalmente. – Tentando afastar a carranca que não combinava com seu rosto, Kento falou tomando outro gole da água. — Você realmente conseguiu, Tomo.

— Sim! Mas a maioria foi o Kazu quem pegou.

— Não foi nada demais. – Com o sorriso tímido de sempre respondeu se lembrando do todas as vezes que Tomo deixou algum peixe escapar.

— Certo. – Se levantando calmamente o maior atraiu os olhares jogando a franja para o lado. — Não vejo a hora de provar.

Goushi o assistiu caminhar lentamente em direção a sala ao lado se lembrando que os dois ainda tinham que se arrumar para a última gravação antes de poder relaxar de uma vez.

— Aizome. – Se levantando atrás chamou seriamente o fazendo olhar. — Tem um bicho nas suas costas.

— Que?! Onde?! Tira! – A reação exagerada foi automática como se ainda não tivesse saído da cena anterior, entretanto isso só fez Goushi rir abafado mostrando para o maior que ele tinha sido feito de bobo. — Criança!

— É pelo susto que você me deu! – Retrucou ao ouvir ele estalar a língua irritado.

— Bom, eu espero que nenhum espirito irritado com seus gritos venha te pegar a noite!

— Cala boca!

Os dois saíram da sala do mesmo jeito que chegaram fazendo barulhos e discutindo enquanto os demais assistiam em silêncio.

— Eles se dão bem... – Tomo comentou sorrindo antes de se virar para Kazu que, sentado perfeitamente na poltrona, parecia cansado. No mesmo instante seu sorriso ficou maior ao lembrar que também tinha passado o dia com ele sem discutir muito.

— O que foi? – Desconfiado o loiro perguntou fazendo o maior balançar a cabeça sem responder.

 

Foi depois de horas ouvindo Kazuna avisar Tomo sobre o óleo nas frigideiras — que foram cortados da gravação —, Goushi rindo de Kento por não conseguir cortar o peixe sem fazer estrago e alguns comentários extravagantes sobre cozinha que eles finalmente puderam jantar. E foi um jantar simples em mesas e bancos de madeira ao ar livre acolhidos pela noite fresca onde o último take foi tomado marcando o final da gravação e os liberando para tomar o merecido descanso.

Já era tarde quando toda a equipe começou a guardar os equipamentos e os quatro — depois de agradecerem pela ajuda — puderam se juntar sentados ao lado de uma fogueira baixa e respirar o ar puro da pousada pela primeira vez.

— Rapazes, – Tsubasa se aproximou apressada guardando algumas pastas em sua bolsa — quando terminarem podem usar os quartos da pousada.

— Ok.

— E você?

— Eu tenho que voltar para a cidade agora. – Fechando a bolsa se virou para fita-los com um sorriso cansado vendo os rostos preocupados a encarando. — Se eu esperar até amanhã não vou ter tempo para chegar no escritório. Mas, não se preocupem, amanhã cedo as vans viram buscar vocês então não durmam muito tarde.

— Sim. Boa viajem.

— Tome cuidado, Tsubasa.

— E obrigado por hoje.

Contente por ter sido capaz de ajudar os garotos a realizar mais uma tarefa ela se afastou despedindo-se uma última vez antes de correr para sua van. Eles, por outro lado, continuaram a assistir até finalmente desaparecer de suas vistas pensando praticamente as mesmas coisas.

— Tsubasa-san trabalha tanto. – Virando-se para a fogueira novamente Kazuna comentou sem mostrar o sorriso habitual. — E mesmo assim está sempre sorrindo.

— Ela não é qualquer pessoa. – Kento explicou se espreguiçando.

— É nossa A&R. – Adentrando a curta conversa Tomohisa adicionou suspirando como se estivesse contente por ter a jovem por perto. — É nosso exemplo também. E se ela se esforça assim então significa que devemos ser ainda mais fortes.

Não havia como negar aquelas palavras, mas, por alguma razão, aquilo não animou ninguém apenas os fez assentir como se o caminho a frente fosse ainda mais longo do que esperavam. Ele notou o silêncio e instintivamente olhou para cima vendo o céu iluminado por estrelas cintilantes.

Sua reação automática foi sorrir comentando sobre sua beleza fazendo os outros erguerem os olhos para a direção. Era uma noite digna de acampamento que Goushi não conseguiu disfarçar o encanto ao ver.

— Querem fazer um pedido? – A pergunta foi inesperada confundindo os rapazes. — Quando você pede algo para uma estrela, o universo inteiro escuta e se esse for um pedido de coração elas vão brilhar mostrando o caminho que deve seguir.

Era estranho como algo tão infantil soava bonito quando ele falava. Tomo tinha esse tipo de habilidade ao atrair quem quer que o visse, ele era como as estrelas e por isso essa inocência combinava com ele.

— Querem pedir para ser como a Tsubasa? – Perguntou olhando para Kento e depois se virou para Kazuna que rapidamente desviou o olhar. — Qualquer coisa.

— Desculpa, Tomo, mas não gosto de deixar meus sonhos dependendo dos outros.

Kento falou com o mesmo sorriso de sempre sem ter a intenção de magoar o parceiro. Goushi, que estava ao lado do líder, observou a conversa em silêncio. Sabia que Aizome não estava errado em dizer aquilo, mas havia uma esperança, um tipo de desejo em acreditar naquela bobagem que o fez se virar para o céu e fechar os olhos suplicando algo em silêncio.

Kento ainda estava sorrindo quando notou o que o moreno fazia. Ele não quis provoca-lo e menos ainda sentiu pena da atitude. Naquele momento só quis saber o que confidenciou tão desesperadamente com as estrelas e se essa simplicidade funcionaria.

Mais tarde quando resolveram que já tinham ficado fora o suficiente, eles entraram na pousada decidindo dividir os quartos em duplas e para evitar reclamações resolveram tirar “pedra, papel ou tesoura”. No final, Kento e Goushi ficaram no quarto do fundo enquanto Tomohisa e Kazuna ficaram com o da frente.

O moreno já tinha ajeitado os lençóis e estava agora na cama ouvindo música em seus fones quando Aizome abriu a porta de volta do banho passando por ele em direção a outra cama no canto.

Seus olhos tímidos o seguiram por baixo vendo as costas do maior cobertas pela regata branca se alongarem enquanto secava o cabelo sentado no colchão. Kento devia estar resmungando alguma coisa, mas ele não conseguia ouvir. Seu coração estava inquieto com o cômodo, mas ele também não conseguia ouvir. A música era alta em seus ouvidos, mas isso também não conseguia ouvir. Apenas escutava as vozes silenciosas em sua mente gritando perguntas e respostas como as estáticas na TV.

Kento se virou bruscamente trazendo o som de volta de uma vez só assustando o moreno que só teve tempo de virar o rosto escondendo o rubor nas bochechas.

— Goushi, abaixa um pouco o volume ou vai ficar surdo. – Falou alto sem mostrar irritação e logo ouviu o chiado diminuir sem receber qualquer resposta. Kento o olhou por um tempo se perguntando se estava concentrado pensando em algo ou só cansado e balançando a cabeça se virou pegando um livro.

Não havia nada fora do comum ali e talvez fosse por isso que nenhum dos dois se importou com o silêncio que dominava o quarto. Estavam cansados, satisfeitos e sem qualquer motivo para brigar, esse seria o momento perfeito para passarem juntos, entretanto era exatamente essa harmonia que deixava Goushi inquieto.

Ninguém ia os atrapalhar agora então tudo poderia ser dito e era isso que estava preso na garganta do menor o sufocando: tudo.

Essa era a chance que queria para contar o que aconteceu naquela noite, para perguntar se era verdade e poder, de uma vez, entender o que estava acontecendo com ele. Era a hora de terminar a conversa que covardemente ignorou na gruta, porém as palavras não saiam.

Havia algo de errado com ele. Sabia que só poderia tirar esse peso das costas quando ouvisse Kento dizendo que nada daquilo significava algo, mas pensar nisso o fazia ficar sem ar. E se aquilo fosse só um efeito do álcool? E se não fosse?

Soltando o ar com força se levantou bruscamente saindo do quarto e fechando a porta atrás de si. No corredor ele se encostou arrancando os fones do ouvido enquanto sentia seu estomago doer.

Por que estava com medo de ouvir que era um engano? Pensou sentindo o coração bater fortemente contra o peito e foi só nesse momento que percebeu que apesar de sempre questionar a verdade por trás daquele “eu gosto de você”, ele nunca se perguntou como se sentia em relação ao maior.

Atordoado pela avalanche que estava si causando o rapaz se empurrou para frente tentando fugir dali.

Com passos lentos e quase sem som seguiu o rumo pelo corredor da casa vazia ouvindo o vento que cantava pelos cômodos sentindo o cheiro da madeira o cercar. Cuidadosamente desceu as escadas até finalmente encontrar a porta por onde saiu em busca do banco na varanda. E logo que puxou a maçaneta viu Kazuna sentado ali com um cobertor fino ao redor do corpo como se estivesse acostumado a fazer isso.

— Ah... Eu não sabia que estava aqui. – Sem jeito Goushi comentou pensando em voltar para trás quando viu o loiro balançar a cabeça negativamente.

— Tudo bem, não está atrapalhando.

Tímido o moreno assentiu tomando alguns minutos para si antes de poder seguir e se sentar com o rapaz. Seus olhos automaticamente procuraram pelas estrelas brilhantes da noite como se buscasse pelo caminho que Tomo havia mencionado antes. Um longo suspiro escapou enchendo seu peito com o ar fresco e afastando o calor incomodo de seu corpo.

Os dois não tinham intimidade o suficiente para começar a conversar e sabiam que se estavam ali era porque algo não estava certo. E apesar do silêncio dominar eles não se sentiram mal, na verdade encontraram conforto.

— Você... – entretanto a inquietação do moreno não o deixou ficar muito mais tempo com as perguntas para si e sem jeito chamou sem olhar para ele — sabe como é gostar de alguém?

A questão foi inesperada fazendo Kazuna se assustar de início. Aquilo não era algo que perguntariam para ele sendo o jovem calado e distante como era. Porém o rosto abatido do parceiro não parecia estar fazendo piadas, por isso ele se calou por instantes pensando na pergunta com seriedade.

— Eu não tenho certeza. – Suspirou frustrado consigo mesmo por não poder ajudar. — Você devia perguntar ao Aizome, ele com certeza tem muito mais experiência do que eu.

— Ah... – Assentiu quase sem ânimo pensando no tamanho do problema de uma noite estava se tornando.

Não tinha o que fazer e Kazuna não estava errado. Mas como ele podia fazer isso sem parecer bobo?

O tempo parecia estar esfriando mais e já sem ter esperanças o moreno resolveu levantar dando um aceno para o outro como sinal de despedida.

— Você. – A voz dele soou alta e se não fosse por seu olhar tristonho Goushi teria imaginado que estava desesperado. — Você acreditou no que o Tomohisa disse? Sobre as estrelas.

— Não, acho isso besteira. – Respondeu sério o suficiente para fazer o rapaz assentir envergonhado. — Mas... Às vezes é melhor acreditar nisso do que não ter nada pra acreditar.

Sem querer falar qualquer outra coisa Kazuna o fitou surpreso o vendo passar pela porta uma última vez.

 

Com cuidado Goushi voltou para o quarto encontrando a luz apagada e Kento dormindo virado para seu lado.

Ele calmamente se sentou na cama colocando o celular e os fones na cômoda antes de soltar o suspiro. Foi besteira se preocupar com aquelas coisas pela manhã, afinal Kento realmente não se importava e ele também não deveria, mas pensar isso agora estava o fazendo morder os lábios se segurando para não gritar pelo nome dele em pânico.

Havia tantas coisas acontecendo em sua cabeça que fazia seu corpo todo vibrar. Ter que lidar com espíritos na floresta definitivamente não era tão assustador do que sentir tudo isso de uma vez.

Sem opção se deitou escondendo o rosto atrás dos braços enquanto sentia o coração enlouquecer em seu peito.

 

• • •

As vans chegaram cedo como Tsubasa havia avisado e logo todos estavam dando adeus para a pousada carregando lembranças em suas bagagens.

Goushi já estava sentado no fundo com os fones nos ouvidos e os olhos inchados por não ter conseguido dormir à noite toda quando Kento entrou se sentando ao seu lado. Ele nem teve forças para empurra-lo dali e menos ainda ânimo para responder suas perguntas sobre qual musica ouvia. Apenas aceitou a companhia querendo chegar rápido em casa.

Logo a van partiu e Goushi, desesperado por sua cama, se entregou ao doce sono. Kento estava vendo as notificações no celular quando percebeu isso ao sentir algo pesar em seu ombro.

Seus olhos despreocupados se viraram acreditando que o rapaz queria mostrar algo quando se surpreendeu com a cabeça apoiada ali e o rosto pacifico que nunca via próximo ao seu o fazendo sorrir.

Nos assentos ao lado Tomohisa assistiu a cena e com cuidado se ajeitou no banco deitando sua cabeça no ombro do loiro da mesma forma.

Kazuna, diferentemente de Kento, olhou sério na direção vendo o rosto sorridente do rapaz. Sem entender ele continuou encarando fazendo o máximo de esforço para manter seu tom calmo.

— O que está fazendo?

— Descansando.

— Pode fazer isso sem tocar em mim.

— Mas eu gosto assim.

— Tomohisa!

A volta demorou muito menos do que a ida e logo os dois podiam entrar em casa sentindo-se livres de toda aquelas posturas e formalidades. Eles até estranharam não ouvir os gritos de Yuuta os esperando, mas logo lembraram das tarefas que tinha pela manhã os fazendo notar que ouviram os mesmo gritos a tarde toda se ficassem ali.

Kento estava colocando a bolsa na cozinha quando ouviu o outro trancar a porta e caminhar calmamente pelo corredor se perguntando se eles tinham algum serviço naquele dia.

— Oi...

A voz de Goushi ainda estava sonolenta, mas de alguma forma parecia interessada em dizer algo. Aizome olhou por cima do ombro o vendo parado com a mochila em um dos ombros e o rosto fitando o chão antes de se virar de vez para encara-lo.

O menor ainda ficou naquela posição por alguns segundos deixando ainda mais claro que o que estava prestes a dizer não seria algo normal.

— Você... – Engoliu em seco sentindo o som pesado entupir seus ouvidos e a vontade de desistir o segurar pelo braço. Seu rosto se levantou vendo o olhar interessado do maior e a única coisa que conseguiu fazer foi jogar as palavras nervosamente sobre ele. — Você gosta de alguém?


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Notas finais do capítulo

Esse mês foi complicado, mas não foi capaz de me impedir de fazer um esforço extra e dar um jeito de postar :D e, olha, compensei o atraso com o tamanho do capítulo, certo? Então estamos bem, né :)
Me digam, gostaram?
Caramba, quando comecei a trabalhar no rascunho dessa parte não pensei que fosse fazer tantas coisas acontecerem de um só vez. Entretanto, gostei muito de tudo isso e, na verdade, queria ter feito ainda mais.
Tivemos muito mais AiKane conversando e passando um tempo juntos em paz e menos gritos desesperados de Goushi dessa vez ^^ Pude mostrar a relação fora das dúvidas e o porquê do início dessa trama ter acontecido.
Hm, fiquei pensando enquanto revisava que falta algo e talvez seja porque gostaria de fazer mais cenas de romance acontecerem, entretanto não posso forçar isso quando o Kento é o Kento.
Sabemos que adora reclamar das atitudes do Goushi, rir dele e às vezes provocar reações exageradas, mas ele é do tipo que mantém distancia então, por essa razão, optei por deixar claro o sentimento dele em atitudes pequenas (como na varanda quando se aproximou em silêncio) e o quanto o Goushi não entende isso. Mas, né, veremos até quando ficará assim :DD
Outra coisa que também acho que está faltando na trama é comédia, mas, novamente, isso é algo que tenho que segurar pelos personagens.
Sim, eles tem momentos engraçados, mas estamos lidando com Goushi, o teimoso, lento e que não gosta de mostrar sentimentos e Kento, o distante, medroso e que não leva sentimentos à sério.
Kento acha que é muito adulto, mas não passa de uma criança triste enquanto Goushi é uma criança chata. Por isso o Yuuta ou o Tomo estão sempre presente nos capítulos :D
De qualquer forma, estou sempre tentando encontrar meus erros e melhorar o que posso então fiquem a vontade para comentar.
Obrigada por ler e DAQUI DUAS SEMANAS TEM UMA SURPRESA AQUI! ;)

Ah, só mais um detalhezinho, fiquei aqui me perguntando por que o Kazu e o Tomo subiram na van juntos? Eles moram perto? Ou dormiram na mesma casa? Hm... Não encontrei uma resposta então deixo isso pra vocês :D



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