Me ensina a amar escrita por Saaimee


Capítulo 4
Capítulo 3. Presos na montanha russa.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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A batida dos passos acompanhavam o ritmo da música nos alto falantes criando novos sons quando, às vezes, se ouvia o som mais agudo dos pés deslizando pelo piso em velocidade.

Os sete rapazes estavam concentrados no ensaio vendo no espelho seus corpos esguios se moverem em sincronia procurando o encaixe perfeito do grupo. Eles nem se importavam com o suor descendo por seus rostos ou pelas roupas desajeitadas que caiam dos ombros agitados.

Ora velozes, ora suaves seus pés iam de um lado a outro preenchendo todo o espaço da sala. Seguiam para trás em trios e giravam para frente em duplas. Cruzavam os caminhos, se tocavam e até balbuciavam a música, tudo sem tirar os olhos do espelho. Cada passo contavam um tempo e transmitia um sentimento que somente eles eram capazes de fazer.

A manhã toda tinha sido sobre aprender novos movimentos e repassar a coreografia de sua nova música. Apesar de ser cansativo no início agora já estavam pegando o jeito e nem sentiam mais o sono insistente de antes. Entretanto, claro que mesmo depois de ouvir a música pela quinta vez eles ainda cometiam erros como se ainda estivessem sonolentos.

O corpo se moveu firme para frente e girou em busca da saída para o próximo passo quando foi bloqueado pelo corpo maior que apareceu em seu caminho.

— Gou-

— Aizome! – Gritou mais alto assim que viu o rapaz dando pequenos passos para trás.

Não era a primeira vez que se atrapalhavam naquele ensaio e por isso a reação dos demais não mostrou surpresa. Apenas pararam de se mover lentamente os observando enquanto aproveitavam para retomar um pouco o folego.

As sobrancelhas de Goushi estavam tão baixas que escureciam seus olhos raivosos e seus dentes cerrados pareciam prontos para ataca-lo. Kento, entretanto, o ignorava como se aquilo não significasse nada arrumando sua franja e afastando o suor do rosto.

Esse era mais um motivo para o moreno se enfurecer: a atitude desleixada.

— Dá pra parar de entrar no meu caminho?

— Eu? – Ao ouvir os rosnados Aizome riu sem mostrar o sorriso fitando o reflexo do menor ao lado. Sabia que era normal vê-lo zangado toda vez que alguém o atrapalhava, ainda mais depois de cometerem tantos deslizes. Porém isso não era motivo para fazer um escândalo desses. — As últimas três vezes que isso aconteceu, a culpa foi sua.

— O que?! Você não está levando isso a sério e agora vai jogar nas minhas-

— Kaneshiro-san... – A voz suave de Yuduki cessou seus gritos o fazendo se virar na direção. Sua reação automática seria gritar alguma expressão ainda mais incomodada, mas engoliu as palavras ao ver os rostos preocupados dos gêmeos.

— Você adiantou os passos... – Haruhi continuou, com receio de piorar as coisas.

— Que...

Seus olhos há pouco enraivecidos fitavam incrédulos os dois sem conseguir acreditar na acusação. Ele queria questiona-los, porém quando viu o restante dos membros calados percebeu que talvez não estivessem só querendo defender o mais velho.

Sem perceber abaixou a cabeça encarando os próprios pés tentando recapitular os minutos anteriores quando estava ao lado de Yuuta acompanhando seus movimentos e no minuto seguinte, perdido em pensamentos, se virou para o lado errado.

Goushi podia negar o que os outros diziam, mas não podia ir contra a verdade que suas memórias o fazia ver. Era claro que ele estava errado e por isso não teve coragem de levantar o rosto quando percebeu que tinha causado todo esse alvoroço para nada.

Seus olhos se desviaram para o espelho como se tentasse esconder seu embaraço das pessoas ao seu redor. Teimoso como era, se recusava a admitir o engano e mais ainda se recusava a pedir desculpas ao maior. Foi mordendo os dentes de raiva que viu o reflexo de Aizome o encarando por cima quase sorrindo.

A vontade que tinha era de gritar com ele, mas a culpa só o permitiu cerrar os punhos e se virar saindo dali em direção aos fundos da sala com o rosto avermelhado tanto de raiva quanto de vergonha.

— Gouchin, você tá bem?

— Tô! – Gritou sem olhar para trás como se desse um aviso a todos para não chegar perto.

Os demais assistiram em silêncio se perguntando se deveria ser a quarta vez que isso acontecia. Na primeira os dois tinham errado a coreografia, na segunda foi Goushi que até pediu desculpas. Na terceira e na quarta também foi Goushi, mas Kento resolveu aceitar seus gritos e tomar a culpa para evitar discussões.

Estava tudo bem quando chegaram naquela sala bem cedo de manhã, porém o clima foi se tornando mais tenso conforme passavam o tempo juntos. Ninguém estava discutindo ou dificultando as coisas para ninguém, entretanto os dois continuavam se estranhando sempre que se cruzavam. Os garotos da Killer King chegaram a perceber a mudança, mas não sabiam o que fazer para ajudar.

— Acho melhor tirarmos uma pausa. – Akane sugeriu vendo Goushi se sentar ao lado da caixa de bebidas bufando. — Pode ser?

Os outros nem questionaram, concordando aliviados por poderem tomar um tempo a mais para descansar e, quem sabe, acalmar os ânimos. Já que não tinham parado a manhã toda e talvez isso estivesse ocasionando o estresse entre os dois.

Goushi os viu se sentarem no chão fazendo comentários exaustos e reclamando da fome. Ele sabia que estava errado e nenhum deles tinha nada a ver com seus transtornos para estarem passando por isso. A razão gritava em sua mente o pedindo para se desculpar, porém não conseguia. Ele não podia pedir que os outros o perdoassem quando ele mesmo não conseguia fazer isso.

Estava se torturando por suas atitudes mesmo sabendo que aquilo não era algo grave. Afinal, todos ali já tinham passado por situações assim, mas não estava certo.

O motivo que o fez errar todas as vezes não foi falta de atenção ou descuido, foi, na verdade, a tentativa forçada de acreditar que precisava se concentrar nas danças, na música ou em qualquer coisa para esquecer como estava se sentindo que acabou errando tudo.

Estava se culpando por suas bobagens quando ouviu Kento pedindo a Yuuta para colocar sua música para tocar. Aquilo foi o suficiente para fazer sua mente se calar e sua atenção se voltar para o centro da sala.

O som da batida era conhecido, o moreno tinha o ouvido inúmeras vezes antes e mesmo sem olhar sabia os movimentos que o mais velho estava fazendo.

Quando foi anunciado sua primeira performance ao vivo, Kento ensaiava quase todos os dias junto deles e até sozinho. Às vezes cantando pela casa e às vezes repetindo os movimentos no quarto. Ele se mostrava estar tão apaixonado por seu trabalho que acabou fazendo Goushi passar mais tempo ao seu lado.

Já fazia tempo desde que aconteceu, mas a lembrança fez o rapaz, por alguma razão, sorrir e sem notar virou a cabeça em direção ao espelho procurando por ele. Seus olhos se colaram ao reflexo assistindo os pés caminharem com graciosidade como um felino desfilando pelos muros, viu suas mãos se moverem no ar fazendo os dedos dançarem tocando instrumentos místicos e observou suas pernas firmes darem suporte ao corpo mexendo sua cintura lentamente quase o hipnotizando.

Kento exalava sensualidade, Goushi nunca negou, mas os lábios secos e o olhar encantado que assistiam aquela performance era algo que não notava acontecer.

Não havia nada em sua mente naquele momento, somente a imagem do mais velho e sua voz o convidando para segui-lo pela noite.

Seus olhos ainda acompanharam o reflexo espremendo a garrafa em sua mão quando o refrão chegou ao fim e a voz no fundo dizendo “you & me” se encerrou com uma piscadela em direção ao moreno. Seu coração parou por um segundo e sua única reação foi desviar tentando disfarçar o calor absurdo que automaticamente dominou seu rosto.

Kento sempre estava ciente de seus arredores, não importava o quanto os olhares disfarçassem. E dessa vez, Goushi nem disfarçou.

Sua mão apertou ainda mais a garrafa fazendo barulho enquanto se amaldiçoava por dentro. Não era para isso estar acontecendo. Já tinha tomado sua decisão naquela noite então por que continuava tremendo com essas besteiras?

O ensaio foi retomado alguns minutos depois e com ele novas discussões e erros. Todos estavam acostumados com as diferenças entre os dois, mas hoje chegava a ser incomum.

— Posso perguntar uma coisa? – Depois de terminarem os passos e decidirem finalizar o ensaio, os 7 estavam sentados no chão descansando quase prontos para ir embora quando Akane falou em direção a Thrive. — Vocês estão trabalhando muito?

Não houve resposta imediata, apenas olhares confusos. A pergunta os fez buscar na memória seus cronogramas da semana percebendo que não havia nada fora do comum e logo em seguida as dúvidas que motivaram a pergunta os interessou.

— Por que? – Pensando que o menor talvez quisesse propor algo, Goushi questionou.

— Ah, é que-

— Estão brigando mais que o normal. – Sem qualquer cuidado com as palavras Miroku, estoico como sempre, interrompeu o líder.

— Tono!

— Mas é verdade. – Respondeu ao grito envergonhado de Akane com a mesma expressão antes de se voltar para os dois como se quisesse uma explicação.

Goushi odiava preocupar os mais jovens. Foi esse o motivo que o levou a tomar sua decisão, mas mesmo assim acabou fazendo tudo errado e agora não sabia como responder essas questões. Ele não podia dizer que a culpa era de Kento, de novo, e menos ainda iria assumir que estava sendo infantil.

— Não precisa se preocupar. – Notando o silêncio se prolongando Aizome se manifestou sem dar importância as questões. — Goushi deve ter dormido pouco e por isso está desse jeito.

— Cala boca.

— Vocês deveriam relaxar. – Mesmo que as provocações não tivessem nenhum tom bruto, Yuduki entrou na conversa tentando encontrar soluções.

— Esse final de semana estamos de folga, não é? – O ruivo retomou aproveitando a deixa do parceiro mostrando a animação em sua voz. — Fiquei sabendo que a gravação que tínhamos foi cancelada, mas a Tsubasa reagendou para quarta.

— Então foi isso. – Assentindo para si mesmo Kento falou como se algo fizesse sentido.

— Era esse final de semana?! – Perdido como sempre Yuuta questionou gritando fazendo o mais velho revirar os olhos inconformado.

— Podiam aproveitar para descansar. – Se balançando para frente e para trás no chão Haruhi sugeriu sorridente. — Mas não vão ficar em casa o dia todo!

— Eu gosto de ficar em casa. – O irmão falou com um olhar pacifico como se já estivesse se sentindo deitado na cama embaixo dos cobertores.

— Se for para ficar com o Yuduki, eu também gosto. – O loiro disse sorrindo próximo a ele. — Mas se o dia estiver bom, é melhor aproveitar fora também.

— Hm, verdade.

— Ah, tem um parque de diversão que inaugurou aqui perto. – Novamente retomando suas falas Akane se ajoelhou chamando a atenção dos três. — A gente tava pensando em ir, né?

— Sim! E vai ser mais divertido se todos forem.

— Eu quero! Eu quero! – Sem perguntar data ou qualquer informação útil Yuuta começou a se balançar com o braço levantado como uma criança animada.

— Querem ir sábado?

— Sim!

— Oi! Não saiam tomando decisões sozinhos! – Goushi gritou chamando a atenção dos cinco que nem se deram ao trabalho de dar ouvidos o fazendo estalar a língua.

— Não acho interessante sair com um bando de homens, – Kento começou a falar desleixado ao lado do moreno vendo os outros animados — mas vai valer a pena pelas garotas lá. – O sorriso que mostrou ao concluir a frase fez Goushi cerrar os olhos como se somente a presença do rapaz fosse o suficiente para tira-lo do sério o fazendo esquecer de todos os sentimentos perturbados que teve de lidar dois dias atrás.

Suspirando desviou o olhar já sabendo que não poderia ir contra todos eles de uma vez, ainda mais com Haruhi e Yuduki querendo ir.

— Ah... Como vou relaxar desse jeito.

• • •

Quando sábado chegou e viram a animação de Yuuta andando de um lado a outro na casa, eles estavam cientes de que a última coisa que fariam seria descansar.

Dos três, o mais novo era o mais empolgado para querer encontrar com o quarteto enquanto Kento, embora não tenha sido contra, preferia ter feito outros planos para seu dia com os contatos no telefone. Já Goushi estava relutante até minutos antes de sair, entretanto a ideia de ficar em casa lidando com dúvidas que nem queria pensar o fez se arrumar bem rápido e acompanhar os demais sem muitas reclamações.

A chegada ao parque só aumentou ainda mais os ânimos enquanto faziam o mapa dos locais que queriam passar e novas sugestões não paravam de brotar em meio a conversas aleatórias. A entrada no local foi acompanhada desse sentimento que antecipava os próximos minutos junto de muita gritaria prometendo um dia caloroso.

No início a maior dificuldade que tiveram foi tentar controlar Yuuta e Haruhi que estavam três vezes mais inquietos que o normal. Era como tentar segurar a coleira de filhotes que saiam pela primeira vez de casa.

Depois, cedendo aos pedidos incessantes, o grupo resolveu fazer um plano decidindo por onde passariam primeiro. Começaram pela montanha-russa onde Goushi não estava inclinado a ir, mas por causa dos empurrões dos mais novos acabou se sentando no banco da frente junto a Kento fazendo os gritos ecoarem pelo parque a cada decida. Enquanto a maioria dos berros eram de diversão os de Goushi e Kento eram de terror, um por medo da velocidade para baixo e o outro pelo estado que sua franja estaria no final do passeio.

Em seguida, depois de recuperarem as forças do moreno, foram fazer uma trilha de barco onde Aizome se recusou a participar e Goushi se divertiu jogando água nos outros.

Ainda giraram em xícaras onde Yuduki passou mal, arrastaram Kento de longe das meninas pelos braços e comeram tanto quanto compraram lembrancinhas. Conseguiram fazer daquele dia um sucesso mesmo com algumas desavenças.

Estavam parados em frente a uma das muitas barracas de acessórios quando Yuuta começou a falar sobre uma casa mal assombrada trazendo empolgação a Haruhi. Os dois falavam como se estivessem assustados com o que poderia acontecer ao mesmo tempo que gritavam animados desejando ir.

Goushi estava ao lado fingindo não ouvir a conversa enquanto seu coração batia timidamente com medo de que qualquer movimento seu poderia colocá-lo em ponto de risco na visão dos dois.

— Isso parece muito assustador, Haru. – Ao lado do loiro Yuduki comentou com uma expressão tristonha de quem não queria participar.

— Ah, mas vai ser divertido! E se você ficar com medo eu seguro sua mão.

— Parem de forçar ele. – Mesmo com receio do que essas palavras poderiam causar, Goushi se manifestou na tentativa de impedi-los. — Vocês vão fazer ele se sentir mal.

— Não está falando isso porque você vai se sentir mal, Gouchin?

— Ha?!?!?!

— Eu seguro sua mão.

— Não seja idiota! – Com as bochechas avermelhadas gritou enfurecido fazendo o mais novo gargalhar.

— Eh, o que é aquilo?

Interrompendo a conversa Haru apontou para um local distante fazendo o moreno se virar rapidamente sem nem saber o que procurava. A conversa o deixou agitado fazendo parecer que algum espírito estava andando por perto o enchendo de terror.

Apesar de forçar os olhos ele não conseguiu encontrar nada além de pessoas andando de um lado a outro. Confuso, porém mais calmo suspirou se voltando para eles.

— Não tô vendo nada. O que você-

Sua pergunta foi interrompida por um grito alto assim que se virou encontrando Yuuta vestindo uma das máscaras de monstros colocadas no display da barraca. A brincadeira fez os outros rirem enquanto Goushi só conseguia gritar mandando parar com as bobagens.

Kento estava ao lado deles o tempo todo e pôde ver de perto a diferença entre esse passeio e a vez que saiu com Tomohisa. Eles eram tão infantis que o fazia parecer um adulto chato, mas, mesmo assim, estava contente de poder vê-los sorrindo.

— Ah, lembrei! – Ainda rindo Haruhi se virou para o irmão interrompendo a bagunça. — Tem uma loja que vende chaveiros que combinam.

— Eh... Onde fica? – Interessado Yuduki questionou vendo o loiro apontar na direção atrás deles quase automaticamente.

— Ah, eu também quero. – Guardando a máscara de volta na prateleira Yuuta falou empolgado. — Vou comprar um pro Gouchin e pro KenKen também.

— Oi-

— Vem comigo. – Ignorando a voz séria do moreno os três seguiram para o local apontado ansiosos como crianças.

— Yuuta!

— Não vai comprar nada esquisito!

Sem dar resposta ele olhou para trás mostrando seu sorriso travesso fazendo os dois estalarem a língua sabendo que não poderiam fazer nada além de esperar o pior.

— Akane. – Próximo a eles esse tempo todo Miroku timidamente chamou o nome do ruivo o fazendo olhar e só agora se lembrar que tinha algo que os dois tinham planejado ver antes de ir embora.

— Ah, verdade... Goushi, Kento-

— Podem ir. – Sem que ele precisasse explicar o que tinha em mente Kento interrompeu deixando claro que sabia do que se tratava. — Eu vou ficar por aqui.

— Ah, eu também. – De braços cruzados Goushi acrescentou sem tirar os olhos do caminho por onde os três tinham seguido. Ele não iria admitir, mas preferia esperar ali e ter certeza de eles voltariam sem correr o risco de perde-los. — Vou tentar descansar.

— Ah... – o menor sabia que não precisava se preocupar em contar tudo para os dois e assentindo sem insistir em convida-los ele seguiu ao lado do maior. — A gente não demora!

Kento os assistiu se afastarem dali conversando amigavelmente percebendo o contentamento nos olhos de Miroku o fazendo rir por dentro. Seus olhos automaticamente se viraram na direção de Goushi vendo o rosto sério e o corpo inquieto encarar a loja no fundo. O menor era teimoso e infantil até quando estava preocupado com os outros.

Seus olhos se desviaram por um momento vendo as pessoas caminhando enquanto arrumava a franja por cima do óculos escuro. Aquele era um local barulhento por natureza, mas agora, sem os outros, parecia silencioso demais para ele. Pensou em chamar pelo rapaz ao lado quando sentiu algo cair em seu braço.

Automaticamente olhou na direção vendo uma gota de água. Em seguida sentiu mais uma e mais outra. Seus olhos assustados se ergueram para o céu esperando estar imaginando coisas quando viu nuvens escuras cobrindo suas cabeças e antes que pudessem alertar Goushi uma rajada forte começou a cair sobre eles.

Em pânico se agitou no mesmo lugar enquanto olhava de um lado para o outro procurando por abrigo quando ouviu a voz do moreno o chamando distante dali fazendo suas pernas se moverem.

Correram no meio da forte e inesperada chuva passando por outras pessoas tão preocupadas quanto eles. E logo chegaram no que parecia ser uma pequena gruta afastada do centro do parque.

Ali era só um ponto para tirar foto e não um gruta de verdade. Estava fechada com uma faixa no momento avisando ser horário de almoço e por isso puderam se esconder ali sem encontrar qualquer aglomeração.

Foi só depois que entraram no abrigo que puderam perceber que em pouco minutos correndo conseguiram ficar encharcados ouvindo no fundo as fortes pancadas do lado de fora afastar as pessoas dali.

— A gente vai perder o Yuuta...

— Minha franja... – choramingando começou a falar vendo as gotas escorrer pelo cabelo ignorando o comentário do outro deixando o óculos em um canto. — Está destruída!

Ao ouvir a reclamação o moreno só conseguiu suspirar revirando os olhos. Era tão irritante como ele conseguia se preocupar com coisas triviais até em um momento assim.

Sem paciência Goushi se afastou dele indo em direção a um dos acentos em forma de pedra tirando o boné e deixando seu corpo cansado relaxar enquanto ouvia o choro desnecessário atrás.

Olhando as gotas formarem finas linhas na entrada da gruta ele estalou a língua alto o suficiente para fazer Kento se calar. O menor sabia que mostrar que não se importava iria deixa-lo irritado e por isso fez mesmo assim.

— Dá pra você arrumar isso em casa, mas o que vai fazer se ficar resfriado? – Questionou sem olhar para trás ou conseguir ouvir uma resposta. — Só vai dar trabalho pra Tsubasa. – Diminuiu o tom como se não quisesse que sua preocupação fosse percebida soltando um suspiro antes de se apoiar nos joelhos e olhar para trás enfurecido. — E tem o Yuuta!

Kento não conseguia evitar de se preocupar com a aparência, mas sabia que o parceiro não estava errado. Suspirou tentando afastar as gotas em seus braços enquanto seguia para se sentar ao lado dele.

Estavam cansados assistindo a chuva cantar uma melodia solitária onde não havia ninguém para apreciar. Seus olhos viam as gotas junto ao vento tomar o lugar das risadas e as pequenas enxurradas ocuparem o espaço onde até minutos atrás centenas de pessoas andavam. Em minutos o brilho e cor tinha se derretido deixando somente o cinzento que havia por baixo deles.

Ambos respiravam o ar gélido ainda sentindo seus corpos quentes pela corrida, ambos ouviam seus próprios corações gritar na tentativa de calar suas mentes dessincronizadas.

— Você. – Goushi começou, mas logo que ouviu sua voz soar tão tristonha parou. Sentiu o olhar do rapaz fitar seu rosto e sabia que não tinha como voltar. Não queria voltar, mas também não sabia como seguir em frente. Suspirou relaxando o peito deixando a coragem o dominar mais que o medo. — Você não lembra o que aconteceu?

— Sobre?

— Aquela noite.

— Ah... – De novo esse assunto, pensou enquanto voltava seus olhos azuis para a chuva. A pergunta o fez se lembrar que naquele dia teve medo de questiona-los e saber que falou demais, mas acabou deixando de lado depois de alguns dias. Acreditou que se não mencionasse nada isso os faria não pensar no assunto. Entretanto, agora, ouvindo o tom sério do menor ele não conseguiu evitar o frio em seu estômago o alertando dos receios. — Lembro de estarmos assistindo TV e... só isso. – Respondeu no tom mais comum que usava quando não estava prestando atenção em algo, porém assim que viu o rapaz assentir quase dolorosamente enquanto derrubava os ombros, ficou confuso.

Se naquela noite Kento tivesse relevado algo sobre seu passado conturbado essa não era a reação que receberia. Transtornado apertou as mãos tentando pensar no que levaria a esse comportamento.

O silêncio se prolongou o forçando a se virar novamente para o moreno e sem mais perder tempo se aproximar engolindo rispidamente o medo antes de falar.

— O que aconteceu? – Goushi não respondeu imediatamente, ao invés disso ficou encarando a chuva diminuir como se tomasse um tempo para descobrir a resposta.

Com calma virou sem olhar no rosto do maior antes de finalmente abrir os lábios.

— Se fosse algo importante você ia lembrar.

Estava errado. Ao ouvir sua voz calma Kento soube que não era aquilo que queria dizer, na verdade, soava mais como um bloqueio para que a conversa acabasse ali. Por instantes as gotas do lado de fora foram as únicas que falavam enquanto o maior repetia para si mesmo que Goushi não perguntaria isso se não fosse nada de importante.

— Pode ser... – Mesmo desconfiado preferiu concordar do que perguntar de novo e forçar uma avalanche.

Não era para ser assim. Goushi tinha decidido que não pensaria mais nisso, que não se importava, que não precisava daqueles sentimentos, mas agora por alguma razão doeu se ouvir, doeu ouvir ele concordando e doeu ainda mais saber que estava pensando em tudo isso sozinho.

Kento sabia que tinha sido covarde, mas mesmo assim não gostou do silêncio que veio a seguir da conversa. Seu rosto se virou em sua direção buscando pelos olhos vermelhos que nunca mentiam quando viu o alto de suas bochechas avermelhadas.

— Goushi... seu rosto...

O moreno se virou sem pensar intrigado pelas palavras e só então quando seus olhos se encontraram vendo o reflexo um do outro que perceberam o quão próximos estavam.

O mundo se calou ao mesmo tempo que a surpresa lentamente dominou sua mente. Seu coração parecia ter dificuldade para bater fazendo o som do baixo em seus ouvidos enquanto sua respiração estava presa o alertando que ia se afogar.

— Goushi. – A voz chamou novamente, mas foi o toque suave dos longos dedos finos em seu rosto que o despertou do encanto gélido com o fogo.

Sua única reação foi se empurrar para trás buscando ar ainda mais vermelho do que antes.

— O que... – Kento se assustou pelo exagero sem entender o motivo. — Você acabou de falar sobre resfriado. Me deixa ver se você está quente.

— Eu tô bem!

— Goushi.

— Sai! Eu não quero que você fique me tocando!

O silêncio caiu sobre eles como um raio se destacando na chuva. Kento finalmente notou o que estava fazendo e quase por instinto se afastou desviando o olhar.

As palavras foram claras. Sem notar sua mão apertou o braço sentindo o coração arder. O maior sabia que aquele gritou talvez não tivesse a intenção de empurra-lo como algo anormal, mas ainda assim não conseguiu evitar o sentimento de recusa. Seus olhos seguiram para fora vendo o céu vagamente clarear.

— A chuva vai passar logo. – Mudou o assunto da mesmo forma que fazia sempre que estava fugindo de algo ignorando o rapaz ao lado. — A gente só tem que esperar.

Goushi não queria gritar com ele e menos ainda dizer aquilo, mas esse foi o único jeito que encontrou em meio a tensão de evitar que seu coração batesse ainda mais forte e evitar o sentimento desconhecido que se apoderava de sua mente.

Cerrando os punhos ele se virou para frente acompanhando o olhar de Kento pelo parque solitário. As gotas continuavam a cair assim como seus corações continuavam a gritar as vozes distintas e desesperadas que suas bocas se recusavam a deixar sair.

Sem notar seus braços se apertaram ao seu redor como se quisessem afastar o frio que dominava seu estômago e fazia se coração tremer. Logo o sol fraco iria voltar a surgir e ele se perguntava se dessa vez poderiam se afastar fingindo que nada disso tinha acontecido como sempre faziam.


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Notas finais do capítulo

Depois de tanto lenga lenga agora é seguir direto para o casal *3*
Eu tô tendo várias dificuldades com esses dois e aaaaa a gente só tá no terceiro cap. mds! Ainda tenho muito o que sofrer lol. E é exatamente por isso que vou perguntar: o que acharam? Eu me diverti bem mais nesse capítulo do que no anterior :D e sei que o próximo vou me divertir ainda mais, haha. Mas também quero saber de quem tá lendo como a fic está andando. É interessante poder ver a visão além da minha ^^
Mas, é, espero que tenham gostado e até o próximo capítulo!



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