Os Treze Guardiões escrita por Miss Lidenbrock


Capítulo 16
O que se tranca


Notas iniciais do capítulo

Se segurem, porque esse capítulo vai ser tenso...



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A partir de agora, a história divide-se em três partes.

Vou começar pela que conheço melhor: A minha, sem dúvida.

Eu, Ricardo, Eric e Samir nos embrenhávamos cada vez mais pela mata, e eu não podia estar me sentido mais desconfortável. Samir andava do meu lado, à frente dos outros, como se pra me proteger.

— Obrigada por vir – sussurrei pra ele, mesmo suspeitando que os outros dois podiam escutar – Sei que preferia ter ido com a Gisele.

Ele apenas sorriu, balançando a cabeça.

— Você é uma das minhas melhores amigas; eu não podia te deixar na mão. – falou – Apesar de que ainda to completamente perdido nessa história. Você gostava do Ricardo, e agora parece que odeia, e ainda tem o Eric, que é seu...?

Balancei a cabeça. A verdade é que nem eu mesma sabia o que pensar. Meus sentimentos em relação ao Ricardo estavam confusos, a Eric, mais ainda. Tampouco eu estava com vontade de ficar pensando nisso, queria me concentrar em achar o contra feitiço e finalizar de uma vez por todas tudo o que esse bagunça havia começado.

Por sorte, Samir percebeu meu desconforto e não persistiu no assunto.

— Cara – Eric falou, depois de alguns segundos em silêncio – Vocês não estão achando essa mata meio vazia?

Comecei a prestar atenção. Realmente, não havíamos cruzado com nenhum animal desde que entramos no bosque, e eu não captava o menor ruído, nem mesmo o piar dos passarinhos.

— Acho que os animais tem medo de nós – falei, pensando na reação de Nora ao se aproximar de mim.

— De nós, ou de alguma outra coisa na floresta – falou Eric sombriamente – Temos que ficar atentos.

Senti um arrepio. Eu não sentia a menor vontade de me deparar com nenhuma outra daquelas criaturas sinistras. O tigre dentro de mim, por outro lado, rosnou animado com a expectativa de uma batalha.

— Talvez alguns de nós devêssemos ir na frente – sugeriu Ricardo – Ver se está tudo limpo, enquanto os outros esperam aqui.

— Pra quê? – Eric perguntou, de maneira hostil – Pra você ficar sozinho com a Lorena?

Ricardo piscou os olhos, parecendo surpreso e ofendido.

— O quê? – arquejou – Mas eu nem disse quem tem que ir e quem tem que ficar...

— E nem vai – Eric rosnou – Porque você não é o líder. E todos nós aqui sabemos o que você quer.

— Não tem nada a ver com a Lorena! – Ricardo protestou, e, após olhar rapidamente pra mim, corrigiu: - Não que eu não ligue pra você, é só que...

— Ei! – protestei, erguendo a voz pela primeira vez – Estou cheia de vocês falando de mim como se eu não estivesse aqui. Se o Ricardo quer falar comigo, ótimo. Eric e Samir, vão ver se está tudo bem lá na frente, nós não vamos demorar.

Mais uma vez agindo como líder, uma voz na minha cabeça me repreendeu. Assim, vai acabar se tornando uma.

Eric olhou pra mim, parecendo surpreso e traído. Por alguma razão, senti uma pontada de dor ao olhar em seus olhos escuros.

— Lorena, você tem certeza... – Samir começou.

— Tenho – falei, embora na verdade não tivesse certeza de nada – Tá tudo bem. Podem ir.

Samir deu de ombros e começou a se afastar. Eric ainda olhou uma última vez pra mim, parecendo que ia falar alguma coisa, mas desistiu, seguindo-o.

Eu, então, sentindo um misto de confusão e raiva, me voltei pra Ricardo.

— E então? – cruzei os braços – Estamos só os dois aqui. A não ser que as árvores tenham algum interesse na nossa conversa; não acho que mais alguém vá ouvir o que você tem a dizer.

Ricardo corou, e eu me preocupei que talvez tenha sido dura demais. Mas então ele inspirou fundo e voltou os olhos cor de caramelo pra mim, e meu coração deu uma vacilada, como costumava fazer antes de ontem a noite.

— Lorena... – ele começou – O que você viu ontem a noite... Não foi... Digo, não era eu.

Ergui as sobrancelhas, incrédula.

— Ah, não? – ironizei – Não sabia que você tinha um irmão gêmeo. Ou um clone.

— Não foi o que eu quis dizer – apressou-se ele – Olha, não sei o que me deu pra ficar com a Pâmela. Eu tava bêbado, e eu nem sou de beber, mas ela ficava colocando cada vez mais bebida no meu copo e... Eu comecei a me sentir estranho e... Bem... Aconteceu.

Aquela desculpa me pareceu tão furada que meu coração murchou. Eu nunca havia me decepcionado tanto com alguém.

— O ponto é – ele continuou – Eu gosto de você, Lorena. Eu nunca faria nada pra te machucar, não de propósito. E eu sinto muito. Por favor, você me perdoa?

A expressão de súplica dele era tão triste que eu amoleci um pouco. Suspirei.

— Eu perdôo você – falei – Mas não acho que a gente possa continuar como era antes, Ricardo. Se você prefere meninas como a Pâmela, então nós nunca íamos dar certo. Não sei se você percebeu, mas eu sou muito diferente dela.

Ricardo arregalou os olhos. Agora, ele parecia em pânico.

— Você não está entendendo – disse – Eu...

— Hã... Gente? – Samir surgiu por entre as árvores, de repente – Tem uma coisa aqui que vocês vão querer ver.

Sem voltar a olhar pro Ricardo, eu o segui, cortando caminho por uma trilha entremeada.

— É aqui – ele falou, após alguns metros.

Mas ele não precisava ter dito nada. Eric estava parado a beira do que parecia uma clareira, com um abismo logo a frente.

A clareira estava completamente morta. E quando digo morta, quero dizer literalmente. A grama estava negra. As árvores desfolhadas, e carcaças de animais jaziam em toda a parte.

Olhei para meus amigos, todos com a mesma expressão perplexa.

— O que aconteceu aqui?

*                                                   *                                            *

Vamos deixar minha história de lado por enquanto. Voltaremos a ela depois.

Enquanto isso, o grupo de Renata também não estava dando muita sorte. Além de não terem achado nenhuma pista do contra-feitiço, tinham a certeza de estarem completamente perdidos.

— Acho que a gente virou bem ali... – murmurou Renata, apontando para uma formação rochosa que parecia perigosamente com o rosto da professora Kátia. – Ou foi bem ali...?

— Pra uma raposa, seu senso de direção é péssimo – resmungou Daniel.

— Cala a boca! – retrucou Renata – Deve ser por ali. Vamos.

— Você que manda, minha rainha – Paulo disse, com os braços atrás da cabeça, parecendo totalmente despreocupado.

Bernardo, por sua vez, não tirava os olhos de Sofia, que estava cada vez mais pálida.

— Ei, tudo bem? – murmurou ele, colocando a mão no ombro da garota. – Você parece preocupada. Não fique assim, nós vamos achar o caminho de volta.

Sofia balançou a cabeça, a respiração trêmula.

— Não é isso – falou – Tem alguma coisa errada neste bosque. Alguma coisa... Doente.

Antes que Bernardo pudesse falar alguma coisa, porém, seus sentidos aguçados lhe fizeram parar. Alguma coisa estava se aproximando em frente a eles. Uma coisa grande. E tinha um cheiro terrível, pungente.

Um cheiro doente.

Os outros também pareciam ter percebido, pois haviam interrompido sua caminhada e estavam muito silenciosos.

— Todo mundo parado – sussurrou Renata, os olhos desfocados – Não façam movimentos bruscos.

Mas antes que qualquer um deles pudesse se mover, as árvores à sua frente explodirem. Delas irrompeu uma criatura horrenda, pior que todas as figuras de pesadelos de qualquer um deles.

Tinha o corpo imenso e troncudo, cobertos de pelos sujos e acidentados. No lugar onde deveria estar o rosto – ao menos, parecia um rosto – havia um único olho vermelho e coagulado, como se houvesse sido furado diversas vezes. No meio do tronco, havia um rasgo repulsivo – lembrava uma boca.

Todos reconheceram a figura.

— Caralho – Paulo sussurrou – Mapinguari.

— Um mapinguari de Chernobyl – murmurou Daniel.

— Todo mundo, transformem-se, agora! – berrou Renata.

O mapinguari urrou de fúria, e avançou em direção a eles, tentando guiar-se com seu olho cego. Em um átimo, uma raposa, um coiote e um chacal correram de encontro a ele.

O monstro agiu como se eles fossem meros mosquitos irritantes. Com um olhar de desprezo, afastou todos eles com um tapa. Renata, em sua forma de raposa, lutava para se levantar, sem conseguir enxergar os outros no calor da batalha.

Sofia foi a única que conseguiu causar algum dano. Em sua forma de coruja, bicou o olho do monstro, que berrou de dor e fúria.

Então, ouviu-se outro urro. Um urso pardo enorme estava correndo a toda em direção ao mapinguari. Bernardo havia sido o último a se transformar.

O monstro parecia finalmente ter achado um rival digno. Os dois travaram uma batalha de gigantes, cada qual ferindo os outros com suas garras.

Os outros não sabiam o que fazer pra ajudar. Renata desejava poder se comunicar com os outros.

Eu tenho um plano, pensou, se ao menos os outros pudessem me ouvir...

Diga, minha rainha, a voz de Paulo surgiu repentinamente em sua cabeça.

O quê?! Ela pensou surpresa Você pode me ouvir?

Parece que sim! Incrível, não é??

Demais! Renata agora estava animada. Santiago não tinha falado dessa parte!

Alô! A voz mental de Daniel surgiu de repente. Você disse que tinha um plano, lembra?

Ah, sim! Sofia, você está na escuta?

Alto e claro! Sofia pensou, sobrevoando acima deles.

Ótimo. Porque eu vou precisar que você fure o olho do bicho mais uma vez. Paulo e eu vamos pelos flancos. Daniel, você vai por trás. Vamos distrair o monstro o suficiente para que o Bernardo tenha tempo o suficiente para acertar o coração!

Por que eu que tenho que acertar o cu do bicho?! Daniel protestou.

Hum, gente... A voz de Bernardo apareceu – Será que vocês podem andar logo?

Não discuta, Daniel. Vamos! Comandou Renata.

Juntos, eles atacaram de uma vez. Renata e Paulo agarram os braços do monstro com os dentes, impedindo-o de atacar Bernardo. Sofia furou-lhe o olho, incapacitando-o.

Mas, justamente quando o plano parecia estar funcionando, algo deu errado. Quando Daniel atacou as costas do Mapinguari, o rasgo em sua barriga subitamente rumou para as costas, abrindo-se, revelando uma fileira de dentes afiados. Daniel, pego de surpresa, mal teve tempo de ver os dentes cravando-se em seu flanco.

Daniel! Paulo uivou, desesperado, sentindo a dor do irmão.

Enfurecido com o ferimento do amigo, Bernardo teve o impulso necessário para cravar as garras no peito do monstro.

Todos então observaram enquanto o mapinguari se debatia, desesperado, urrando de dor. Seu corpo pareceu se desfazer, derretendo e se desmanchando em um líquido negro, semelhante a piche, até desaparecer de uma vez.

Magia negra, constatou Renata, sombria.

Paulo já havia se destransformado, assim como o irmão, que jazia inconsciente no chão. Paulo se curvou, desesperado, botando as mãos no ferimento de Daniel.

Estava feio. Muito sangue havia sido perdido; e marcas negras apareciam onde os dentes do monstro haviam perfurado. Daniel tremia e gemia, e sua pele ardia de febre.

Os outros já haviam voltado ao normal, se aglomeravam em volta do amigo ferido. Paulo olhou para Renata, desesperado, como se buscando uma resposta, e ela sentiu seu coração partir.

Então, ela endireitou os ombros, determinada.

— Temos que voltar para a casa do Santiago – falou – Ele conhece magia negra; vai saber como reverter isso. Sofia – ela voltou-se para a menina – Você vai ter que voar. Vai ter que nos guiar para fora do bosque.

Sofia assentiu, a expressão assustada, mas decidida.

— E se aparecer outros daquela coisa? – Bernardo perguntou, temeroso.

— Então vamos lutar – Renata afirmou – Não vamos deixar ninguém nos impedir de salvar o Daniel.

Paulo se curvou para perto do irmão, acariciando seu ombro.

— Fica tranqüilo, mano – murmurou – O Santiago vai saber o que fazer. Eu sei que vai.

Mas ele não tinha tanta certeza assim.

      *                                        *                              *

Vamos pular para a terceira parte da história.

Enquanto eu e os meninos encontrávamos a parte morta da floresta e Renata e seu grupo enfrentavam o mapinguari, Gisele, Pâmela e Eduardo andavam tranquilamente pela parte leste do bosque.

Bem, nem tão tranquilamente assim.

— Isso é ridículo – bufava Eduardo a cada passo – Uma total perda de tempo. Eu nem faço parte de nada disso. Não consegui me transformar em nenhum animal porque não posso. Eu nem cheguei tão perto da pedra assim. Eu não...

— Ah, pelo amor de Deus, cala a boca — Pâmela se impacientou – Quer saber de uma coisa? Santiago tinha razão.

Eduardo ergueu as sobrancelhas, confuso. Até Gisele parou de se concentrar no caminho a sua frente pra prestar atenção.

— Do que você está falando? – Eduardo perguntou. Era raro Pâmela afirmar que qualquer um tinha razão, quanto mais Santiago.

— Quando ele disse que você não consegue se transformar porque está bloqueado – disse ela – Eu vi como você ficou chateado com o que o Daniel falou. Você não consegue se transformar porque não consegue sair do armário. Grande coisa, então você é gay. E daí?

Eduardo abriu a boca, mas nada saiu. Parecia perplexo. Seu roxo passou do vermelho ao púrpura, pra então ficar roxo de raiva e vergonha.

Então ele explodiu.

— Você... Você não sabe nada sobre mim! – bradou – Quem é você pra falar alguma coisa? Sabe o que as pessoas dizem de você? Que é uma puta arrogante que só finge que é popular, mas não tem nenhum amigo de verdade. Você é patética, sabia?

Foi a vez de Pâmela se calar. Por um instante aterrador, Gisele pensou que ela fosse avançar em Eduardo.

Em vez disso, ela saiu correndo, se embrenhando na mata para longe deles.

Gisele voltou-se para o garoto, com raiva.

— Muito bem, Eduardo – resmungou.

Eduardo pareceu estar caindo em si, piscando os olhos em confusão e constrangimento.

— Eu... Eu não quis... – gaguejou – Ela falou aquelas merdas todas e eu só...

— Tudo bem. Eu entendo – Gisele assegurou. – Mas não podemos nos perder uns dos outros. Você fica aqui e não sai daqui. Eu vou procurar a Pâmela e trazê-la de volta.

Eduardo apenas assentiu, e Gisele voltou-se em silêncio para o caminho em que Pâmela seguira.

Desde que se transformara, Gisele vinha aprimorando seus sentidos extras, de modo que seguir cheiros estava ficando muito fácil pra ela. Agora, ela seguia o cheiro de Pâmela: Perfumes caros e hidratante pra cabelo. E, por baixo disso, um cheiro mais natural, mais suave: o cheiro dela, de verdade.

O rastro seguiu por alguns metros até parar em uma parte particularmente escura da floresta. Mesmo a visão aguçada de Gisele não conseguia enxergar tão bem ali. Ela se desviou de inúmeros cipós que se dependuravam das árvores altas, sentindo um certo nervosismo se avolumar em seu peito.

— Pâmela? – chamou, hesitante – Está aí?

Um rosnado ressoou em resposta. Gisele virou-se na direção dele, e, por um instante, não viu nada, até que avistou – um par ameaçador e amarelado de olhos.

— Pâmela? – sussurrou.

Foi preciso um pouco mais de esforço para enxergar o corpo que acompanhava os olhos: o focinho contraído num rosnado, as orelhas achatadas, as garras...

Uma pantera negra.

— Ah, droga – murmurou Gisele.

A pantera saltou de cima da arvore, avançando direto para Gisele, cuja mente começou a trabalhar rapidamente. Ela lembrava de quando Lorena a ajudara a se destransformar, agora era sua vez.

— Pâmela – ela começou, incerta – Sou eu. Gisele.

Recebeu mais um rosnado em resposta. Engoliu em seco; ela e Pâmela não eram nem um pouco ligadas, o que dificultava a tarefa de Gisele.

— Ouça, eu sei que está chateada – disse – Mas o que o Eduardo falou não foi por mal.

A pantera rodeava Gisele devagar, como se decidindo qual o melhor ângulo para dar o bote.

— Aquilo sobre você não ter amigos – continuou, sentindo gotas de suor se aglutinarem em sua nuca – Não é verdade. Você pode ter amigos. Eu posso ser sua amiga. Se você deixar.

O animal então parou. Ainda observava Gisele com os olhos desconfiados, mas ao menos não parecia mais tão disposto a atacar.

— Eu sei que horrível quando nos julgam sem conhecer – sussurrou Gisele, se aproximando devagar – Mas prometo que, se você deixar, posso tentar conhecer você melhor.

Ela levantou a mão devagar. A pantera parecer se assustar, mas, aos poucos, deixou que Gisele pousasse a mão em sua cabeça.

— Por favor – murmurou – Volte, Pâmela.

E então a transformação que ela já se acostumara a ver aconteceu. A figura da pantera tremulou, lentamente exibindo a menina de cabelos escuros no lugar.

Gisele se ajoelhou para enxergá-la melhor, reparando que ela cobria o rosto com as mãos.

— Ei – murmurou – Você está bem?

Lentamente, Pâmela afastou as mãos do rosto e olhou para ela. Gisele percebeu com surpresa que a outra estava com lágrimas nos olhos.

Nunca imaginara ver Pâmela chorando. Não imaginava que ela fosse capaz de chorar.

— As coisas que você falou... – Pâmela murmurou, a voz embargada – Foram sinceras?

— Claro que sim – Gisele falou, e quando o disse, percebeu que era verdade.

Pâmela também pareceu notar a sinceridade em sua voz, pois acabou relaxando.

— Porque ser legal comigo? – ela perguntou – Pensei que você me odiasse.

Eu também, pensou Gisele.

— Não te odeio – falou – Só odeio o jeito como você trata a minha amiga. O que você tanto tem contra a Lorena? Ela nunca te fez nada... – aquela pergunta queimava sua curiosidade. Sempre quisera saber aquilo.

Então, para a sua surpresa, o rosto de Pâmela enrubesceu, e ela mirou os olhos no chão.

— Não odeio ela – falou, baixinho.

Gisele ficou confusa por um instante.

E então, percebeu.

— Ah, meu deus – exclamou – Você gosta dela!

Os olhos de Pâmela encararam os dela, de repente duros e ameaçadores de novo.

— Se você um dia contar isso pra alguém, eu juro... – ela não completou a ameaça. Sua voz tropeçou de insegurança.

— As coisas que você falou pro Eduardo... – percebeu Gisele – Serviam pra você mesma, não era?

Pâmela não respondeu, apenas voltou a olhar pro chão.

— Porque não segue seus próprios conselhos? – perguntou – E daí se você é diferente?

Pâmela apenas balançou a cabeça com força.

— Você não entende – sussurrou ela – Os meus pais... Eles nunca entenderiam.

— Eu sei como é ter problemas com os pais – afirmou Gisele – Os meus sempre dizem: “Gisele, você precisa ser a número um. Precisa vencer. Tudo abaixo do primeiro lugar é sem valor”. Então, acredite, eu sei um pouco sobre pressão e expectativas.

Pâmela ergueu o olhar. Havia neles um brilho diferente, que Gisele não soube interpretar.

— Eu falei sério quando disse que podíamos ser amigas – continuou Gisele – Se você deixar, é claro.

Por um instante, Pâmela apenas a encarou em silêncio.

E então, exibiu o que Gisele nunca esperara ver naquele rosto: Um sorriso sincero.

Por alguns instantes, as duas compartilharam aquele momento, uma olhando nos olhos da outra com aberta confiança.

Então, um uivo horrível cortou o ar.

Sem saber dizer como, Gisele soube imediatamente quem era: Paulo.

Olhou para Pâmela, que espelhava a expressão horrorizada em seu rosto.

— Eles estão em perigo – disse ela, e Gisele concordou.

— Precisamos achar o Eduardo e buscar ajuda – falou – Temos que voltar pra casa do Santiago, rápido.

As duas puseram-se a correr para o mesmo lugar onde estiveram, onde Eduardo as esperava com a expressão alarmada.

— Vocês ouviram... – ele começou.

— Ouvimos. Vamos – disse ela – Precisamos achar o Santiago, depressa.

Eles correram em direção a barragem. Gisele só esperava que não fosse tarde demais.

Porque ela tinha um pressentimento horrível crescendo no peito.


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Notas finais do capítulo

Neide, como você pode ver, tinha mesmo uma pantera negra... Só não era o Eric! Mas vamos descobrir que animal ele é em breve!



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