Os Treze Guardiões escrita por Miss Lidenbrock


Capítulo 17
As garras da floresta


Notas iniciais do capítulo

Voltando ao ponto de vista da Lorena. Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/773792/chapter/17

Ok, ok. Imagino que vocês tenham muitas perguntas, mas este é o tipo de história que deve ser contada na ordem certa, ou assim me disseram – eu ainda estou me recuperando de tudo isto.

Vamos voltar para quando eu e meu grupo encontramos a terra morta.

— Que diabo – exclamou Ricardo, colocando uma folha enegrecida entre os dedos. Ela se esmigalhou em segundos – É como se tudo aqui houvesse sido... Envenenado.

— Será? – perguntou Samir. Ele claramente parecia amedrontado – Que tipo de veneno faz isso?

Eu abri a boca, prestes a dizer alguma coisa – não sei bem o quê – quando uma voz nova e arrepiante me fez gelar.

O nosso veneno faz.

Todos congelamos no lugar por um segundo. Olhei para os lados, tentando descobrir a origem da voz, mas não havia ninguém.

Eric cerrou os dentes, numa expressão que lembrava um rosnado.

— Quem está aí? – bradou – Apareça!

Oh, nós vamos aparecer, Eric Montez, a voz fez um som baixo sibilado. Parecia rir. Afinal, temos que dá-los as boas vindas à nossa floresta.

Observei Eric empalidecer um pouco ao ouvir que a coisa sabia seu nome. Olhei para os outros. Ricardo estava com as mãos levantadas, as unhas transformadas em garras – Como ele fez isso? – e Samir, apesar de estar com as pernas tremendo, parecia pronto para voar a qualquer segundo.

Então, sem aviso, as árvores que nos rodeavam começaram a estalar – e se abrir, como ovos que chocavam. Dentro de seu interior não havia simplesmente madeira ou seiva, mas sim um conjunto horrendo de entranhas, como o interior de um útero, mas de maneira errada, repulsiva.

— Ah – exclamei – Que nojo.

Lentamente, das entranhas das árvores, criaturas foram surgindo.

Eu mal sabia descrevê-las. Eram humanóides, sem dúvida, mas o tipo de ser que surgiria do cruzamento de um ser humano e uma árvore de filme de terror. Suas peles eram metade carne, metade madeira, e delas saíam folhas enegrecidas e galhos retorcidos. Eles andavam de maneira dura, como zumbis. Poderiam parecer cômicos, mas seus olhos eram vermelhos e cruéis, e suas bocas, repletas de presas famintas.

— Puta merda – murmurou Samir ao meu lado – Fudeu, fudeu, fudeu.

Mais sibilos se fizeram ouvir. As criaturas pareciam se deliciar do medo deles.

Nos acha nojentos, Lorena Manhãs? Falaram. Eu não sabia dizer de qual deles vinha a voz, ou se vinha de todos. Nós achamos o mesmo de vocês. Criaturas vis, repugnantes, vocês guardiões. Sempre se metendo onde não são chamados. Mas não mais. O santuário será nosso!

O santuário? De repente, lembrei do que Santiago havia dito há muito tempo, sobre um santuário mágico que se encontrava escondido por encantos no meio do bosque. Mas nenhum de nós sabia onde era, então eu não fazia ideia do que aquelas criaturas queriam conosco.

Uma delas, como se tivesse lido meus pensamentos, olhou diretamente pra mim. Eu não tinha como saber com certeza, mas a criatura me parecia feminina. Tinha uma pedra bruta no lugar de um dos olhos e era coxa, de modo que andava sempre mancando.

Vocês são a maior ameaça entre nós e o caos, sussurrou ela, O lorde das sombras irá nos recompensar quando os eliminarmos.

— Chega – falou Ricardo, de repente – Acabou a brincadeira. Gente, vamos pegar esses idiotas.

Engoli em seco. Algo em meus instintos dizia que aquelas coisas não eram nada como os sugadores de vida que havíamos enfrentado antes. Senti que eram muito mais perigosos, e mais difíceis de matar.

Olhei para palma das minhas mãos, e me concentrei nelas. Senti o calor subindo pelos meus dedos, e de repente minhas unhas saltaram , transformando-se em garras. Legal, pensei, antes de rugir em desafio e partir pra cima da aberração mais próxima.

O contato das minhas unhas com a pele da criatura foi terrível. O som da raspagem da madeira feriu meus ouvidos; mas a pior parte foi atingir o lugar onde havia carne, ver o sangue. Me lembrou que aquelas coisas ainda eram parte humanas, afinal.

É o melhor que podem fazer? Sibilaram as criaturas, avançando pra cima de nós.

No calor da luta, vi Ricardo, já quase completamente transformado, pular em cima de dois dos monstros. Samir voava ao redor deles, usando suas garras de ave de rapina pra ferir seus rostos e ombros. Eu não conseguia ver Eric em lugar nenhum.

Desferi um chute na criatura que avançava pra cima de mim. Ela se moveu apenas alguns centímetros, parecendo rir do meu esforço.

O que há, Lorena? Ela me dizia. Com medo de se transformar?

A verdade é que eu estava com medo, sim. Com medo da minha própria força, com medo de perder o controle. Sentia o meu lado selvagem lutando para sair, pra destruir, pra proteger meus amigos.

— Eu não preciso me transformar pra acabar com você – foi o que falei, no entanto.

Um dos galhos na cabeça da coisa pareceu se alongar e se retorcer, indo em direção ao meu pescoço. Eu desferi um golpe em seu rosto antes que chegasse perto demais.

Eu e a criatura parecemos performar uma espécie de dança, desferindo golpes a torto e a direito.

O que eu não percebi, porém, é que chegávamos cada vez mais perto do penhasco.

 Sem prestar atenção, acabei tropeçando em uma pedra, de modo que a criatura ficou bem em cima de mim, sibilando uma risada sinistra.

Ela estendeu a mão em garras pra mim, mas eu a contive, usando toda a minha força para afastar o corpo daquele monstro de cima de mim.

— Quem são vocês? – gritei, por cima do vento e dos sons da batalha – O que querem de nós?

A criatura pareceu dar um grotesco sorriso. Seus dentes afiados estavam cobertos de sangue.

Já fomos como vocês, um dia, garotinha, disse ela. Protetores da floresta e da natureza. Agora, enxergamos a verdade. A natureza não precisa de proteção, precisa de violência. Somos as garras da floresta, os filhos da destruição.

E, enquanto eu me distraía contendo sua mão, passou o galho em volta do meu pescoço.

— Não – ofeguei, sentindo minha respiração falhar. Olhei por cima do ombro da coisa. Ricardo e Samir estavam cercados pelas criaturas; Samir não conseguia mais voar, sua asa parecia quebrada.

Então escutei uma voz familiar.

— Lorena! – gritou. Com dificuldade, olhei na direção do som. Eric. Ele corria na minha direção, a expressão desesperada, a boca coberta de sangue – eu não sabia se dele ou se de algum monstro.

Por um instante, a cara da criatura pareceu enraivecida. Mas então o sorriso retornou aos seus lábios.

Então, o jovem herói retornou para o salvamento, riu ela. Vamos ver como se sairá.

A raiva queimou fundo por trás dos meus olhos.

— Não preciso ser salva – grunhi, e, reunindo toda a minha força, rompi o galho que me prendia e empurrei a criatura pra longe de mim.

O monstro pareceu enfurecido com a minha atitude. Seus olhos vermelhos incandescentes brilhavam de raiva.

Não mesmo? Sibilou ela. Vamos ver então se consegue se salvar da própria natureza.

E cravou as unhas na terra.

Eu mal tive tempo de ver o que estava acontecendo. Só vi o solo a minha volta rachar, lembrando tarde demais que estava à beira do penhasco.

— LORENA! – gritou Eric, correndo mais rápido – Não!

O chão cedeu.

   *                                *                             *

Cair é mais pacífico do que eu imaginava.

Enquanto caía, não senti medo. Talvez um frio na barriga, mas estava tão entorpecida que mal o senti. Os rostos da minha mãe e de minha irmã surgiram na minha mente. Mãe, Giulia, sinto muito.

Fechei os olhos, me preparando pra queda.

Então a voz de Eric – eu não sabia se era real ou não – Invadiu minha cabeça.

Lorena! , berrava ela. Não se atreva a desistir!

Abri os olhos novamente, dessa vez arregalando-os. O vento voltou a soprar em meus ouvidos, e eu me dei conta do que estava fazendo. O que eu estava pensando?!

Com muito esforço, olhei pra baixo. Eu estava prestes a cair no rio.

Tigres, pensei. Tigres sabem nadar.

E gatos sempre caem de pé.

Era uma ideia louca, mas não custava tentar.

Deixei o calor da transformação tomar conta de mim. Então, de repente, não estava mais caindo a deriva, e sim sobre quatro patas, pronta pra aterrissar.

Então veio o impacto.

Eu havia lido uma vez que cair na água a uma longa distância doía tanto quanto cair no asfalto. Não estava errado. Mesmo em meu corpo forte de tigre, a dor que subiu pelas minhas pernas e meus flancos era quase insuportável.

A correnteza estava forte. Usei o que restava das minhas forças para lutar contra ela e nadar até a margem.

Assim que consegui, me destransformei. Eu mal conseguia respirar, meu corpo inteiro doía, e eu sentia minha consciência escapando de mim.

Não sei quanto tempo fiquei assim, até ouvir passos vindo até mim.

Olhei pra cima, pontos negros toldando minha visão. Mas ainda consegui identificar a forma de um animal acinzentado acima de mim, um animal grande, canino.

Um lobo.

— Eric? – sussurrei, com o que restava das minhas forças.

E então tudo escureceu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Só um aviso: Amanhã irei viajar, então não sei que horas vou poder postar o capítulo. Mas prometo que vou postar! Abraços.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Treze Guardiões" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.