Os Treze Guardiões escrita por Miss Lidenbrock


Capítulo 15
A divisão


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo vai pro Carlos Junior, que finalmente conseguiu alcançar o ponto atual da história! Muito feliz com a sua companhia!



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— Vamos lá, Eduardo, você consegue – Santiago incentivou provavelmente pela décima vez aquele dia – Se concentre na sua respiração. Se conecte com seu eu interior e vai conseguir.

A esse ponto, Eduardo, Pâmela e Leo eram os únicos que ainda não haviam se transformado. Estávamos todos reunidos na casa de Santiago naquela manhã de domingo em busca de fazê-los atingir a transformação – exceto Leo, que ainda estava em casa, supostamente com gripe.

E havia Eric, claro. Ele garantia que já havia se transformado, mas se recusava a dizer no quê ou como se transformara. Eu mal conseguia olhar pra ele depois da noite anterior. Não sabia o que aquela conversa e a dança haviam significado, e sinceramente, estava com medo de descobrir.

— Eu não consigo – teimou Eduardo, cruzando os braços e balançando a cabeça – Não dá. Não vou me transformar em animal nenhum.

Santiago recostou-se na poltrona, a mão pressionada no queixo, parecendo ponderar.

— Há um bloqueio forte dentro de você – ele concluiu – É preciso que você se liberte para atingir a transformação. Eu sei que não está ansioso para isso, mas é preciso se apressar, pois os inimigos estão se aproximando...

— Danem-se os inimigos – Eduardo resmungou, afundando pesadamente no sofá – Eu sou só um cara normal. Seu eu não me transformar, ninguém vai me atacar.

Santiago apenas suspirou, a expressão mais complacente do mundo. Eu não sabia como ele conseguia reunir tanta paciência. Ser babá de treze adolescentes com poderes mágicos não devia ser fácil.

Eu, particularmente, não estava conseguindo me concentrar no treinamento. Além da ressaca da noite anterior, eu não estava sabendo lidar com a presença de Pâmela e Ricardo na sala – Ricardo especialmente, que não parava de tentar capturar meu olhar, enquanto eu fazia força pra ignorá-lo.

— Muito bem – Santiago disse por fim, desviando a atenção de Eduardo – E você, Pâmela? Gostaria de tentar?

Pâmela franziu o nariz, deixando sua expressão ainda mais nojenta. Ela ainda continha vestígios de maquiagem da noite anterior.

— Eu? Deus o livre – falou – Se o mané ali não vai tentar, não sou eu que vou.

— Ei! – protestou Eduardo.

Renata, do meu lado, expirou pesadamente.

— Não vejo a hora de nos livrarmos dela – falou – Queria que ela parasse de andar com a gente e voltasse pros amiguinhos enjoados.

— Que amiguinhos? – Samir ergueu as sobrancelhas, ao lado de Renata. – Você já viu ela andando com alguém na escola?

Franzi a testa. Realmente, pensando bem, eu nunca tinha visto a Pâmela andando com ninguém. Mas, pra ser sincera, eu nunca havia prestado muita atenção nela mesmo.

— Se quisermos nos livrar dela, temos que achar logo as páginas do contra feitiço – falei, antes de levantar a voz: - Professor?

Santiago, que parecia distraído lendo parte de sua pesquisa, levantou os olhos:

— Sim, Lorena?

— Eu gostaria de iniciar uma nova busca pelo contra feitiço.

Isso atraiu a atenção de todos na sala, especialmente de Bernardo, sentado num canto com Sofia. Eric também foi outro a me encarar, e senti meu rosto esquentar contra minha vontade. Encarei firmemente o professor, ignorando os olhares.

— Eu gostaria de iniciar uma nova busca pelas páginas do contra-feitiço – afirmei.

Santiago pôs a mão sob o queixo, pensativo. Todos os outros olhavam diretamente pra mim.

— Bem, se quiser ir, não vou impedi-la, Lorena – disse ele – Mas vocês não tiveram sucesso da última vez. O que seria diferente agora?

Olhei em volta da sala, para meus amigos, esperançosa.

— Se todos nós formos dessa vez – disse – E nos dividirmos, talvez tenhamos mais chance de encontrar os pergaminhos. Treze cabeças pensam melhor que uma, certo?

Eu podia ver que algumas pessoas estavam hesitantes. Nem todos querem achar o contra-feitiço, percebi.

— Bem, eu topo – falou Gisele, e eu lancei um olhar agradecido a ela.

— Eu também – apressou-se Bernardo. Eu sabia que ele seria um dos primeiros a concordar.

— Eu vou – pronunciou-se Ricardo, olhando diretamente pra mim. Evitei o olhar dele a todo custo.

— Ótimo – Eric falou, encarando Ricardo – Eu vou também.

Aos poucos, os outros foram concordando, até mesmo quem eu não esperava, como os gêmeos, que pareciam estar se divertindo muito com a história toda. Supus que eles não podiam suportar se manter longe de uma aventura.

Por fim, todos olharam pra Eduardo, o único que não se pronunciara.

Ele suspirou.

— Que seja, eu vou – disse – Qualquer coisa pra acabar com essa palhaçada.

Foi a vez de Santiago suspirar. Pude ver pelo seu rosto que ele estava levemente decepcionado.

— Muito bem – falou – Agora, escutem: Eu conheço o horário dos guardas. Há um horário específico em que a barragem fica sem supervisão, enquanto os guardas saem para seu horário de almoço e seus substitutos ainda não chegaram. Dura apenas cerca de vinte minutos, então todos vocês terão de ser rápidos e discretos.

— Discretos é nosso nome do meio – exclamou Paulo, sendo animadamente apoiado pelo irmão – Vamos lá, time! Vamos arrasar com aquela barragem!

Eu inspirei fundo, pensando se aquilo teria sido mesmo uma boa ideia.

*                                         *                                *

— Não acredito que ninguém pensou nisso – reclamou Eduardo, assim que chegamos ao limite da barragem – Como vamos entrar?

Olhei pra cima. A barragem era firmemente trancada por dentro. E era impossível pular, pois além do muro ser alto demais, cercas elétricas ameaçadoras mantinham qualquer invasor bem longe.

Suspirei. Isso era um problema que Santiago não havia previsto.

— Ei, gente, calma – Samir se adiantou, pra minha surpresa – Esqueceram do que podemos fazer agora?

E, num átimo, o corpo de Samir girou, e um belo falcão levantou vôo no lugar. Nós observamos enquanto ele sobrevoava a barragem e desaparecia lá atrás.

Minutos depois, ouvimos o barulho da porta sendo destrancada.

— Tcharam! – Samir exclamou, fazendo uma reverência.

— Cara – Ricardo se adiantou, dando tapinhas no ombro de Samir. – Mandou bem.

— Que sorte a nossa ter uma galinha no grupo – comentou Daniel.

— Falcão! – protestou Samir – Qual é!

— Ok, beleza, o Samir mandou muito bem e tal – falou Renata – Mas acho melhor entramos logo antes que os guardas voltem.

E assim, em fileira, adentramos no bosque, tentando fazer o menor barulho possível.

Olhei em volta, para aquela imensidão de árvores e vegetação. Inspirei fundo, e senti o ar puro invadir meus pulmões. Alguma coisa ali parecia me chamar. Como se ali fosse meu lugar.

Percebi que os outros sentiam o mesmo. Todos pareciam extasiados com o ambiente, olhando em volta como se estivessem no paraíso.

Percebi que precisava tomar a frente. Eu não me sentia à vontade em uma posição de liderança, mas a ideia de procurar as páginas havia sido minha, afinal.

— Certo então, gente – comecei – Vamos nos dividir em três grupos. Alguns vem comigo, outros com a Gisele, outros com a Renata. Certo?

— Ei, quem disse que você é quem decide? – reclamou Pâmela, com sua voz anasalada. – E por que as suas amiguinhas têm que liderar os grupos?

Porque eu quis, senti vontade de responder. Em vez disso, respirei fundo e procurei manter a calma:

— Eu e Gisele temos mais experiência na transformação – falei – Podemos nos transformar ao menor sinal de perigo. E a Renata é a mais esperta de nós, pode se virar na floresta com facilidade.

Pâmela não parecia muito convencida, mas Ricardo deu de ombros e se adiantou:

— Por mim, tá ótimo – disse – Eu vou com a Lorena – falou, ao mesmo tempo em que Eric dizia a mesma coisa.

Os dois se encararam, carrancudos, e eu senti meu estômago revirar.

Samir pareceu sentir pena de mim, pois se ofereceu pra ir junto. Eu respirei fundo, um pouco aliviada.

— Eu vou com a Renata – falou Paulo, dando uma piscadela pra garota, que respondeu com uma careta.

— Eu vou com o meu irmão – Daniel deu de ombros.

— Também vou com ela – falou Sofia.

Bernardo deu um passo a frente, colocando a mão no ombro de Sofia.

— Então eu vou junto – disse.

Sofia sorriu, tímida, me fazendo sorrir também. Os dois formavam um casal improvável, mas bonito.

— Bem – Gisele suspirou, olhando para Pâmela e Eduardo – Parece que somos nós três.

Pâmela revirou os olhos, parecendo tudo, menos satisfeita.

— Ótimo – resmungou.

— Aê, Eduardo, vai com duas gatas – brincou Daniel – Pena que você não gosta...

O rosto de Eduardo ficou extremamente roxo, como se ele estivesse sufocando.

— O que você disse, babaca?! – grunhiu.

— Ei, calma, cara – Daniel se afastou um passo, parecendo assustado – Eu não disse por mal. Eu só...

— Só o quê, seu...

— Ei! – gritei, fazendo os dois congelarem no lugar. – Não é hora pra briga! Temos que nos unir e trabalhar juntos se quisermos achar essas páginas.

Pra minha surpresa, todos concordaram, expressões determinadas em seus rostos.

Talvez eu fosse a líder, afinal.

Eu só não sabia se gostaria disso. Ainda mais por que, por mais que eu não soubesse na hora, aquela busca estava fadada a ser um desastre.


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Notas finais do capítulo

E agora? O que vocês acham que vai acontecer?



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