Os Treze Guardiões escrita por Miss Lidenbrock


Capítulo 14
Luzes e Som - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Eis a parte II! Aproveitem!



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Eu estava voando.

Depois do terceiro drink, as coisas começaram a girar um pouco. Mas, depois do sexto, eu já não tinha a noção de certo e errado – nem mesmo de baixo e cima.

Eu não sabia como tinha chegado aqui – em cima de uma cadeira, carregada por dois barmans e um garoto desconhecido – com um monte de gente em volta de mim, berrando, pulando e desafinando ao som da música.

Com certa dificuldade – o mundo ainda estava girando – eu fiquei de pé na cadeira e comecei a dançar, o que fez o pessoal em volta gritar ainda mais alto. Eu nunca fora muito de dançar em público, mas essa noite eu me sentia livre.

Uma energia estranha percorria minhas veias. Meu corpo estava quente e parecia coberto de faíscas que tremeluziam por todo o lado. Era quase como se eu estivesse prestes a...

— Lorena! – a voz estridente de Gisele me tirou do foco. Olhei pra baixo, e me deparei com ela e Renata me olhando com um misto de raiva e preocupação. – Desce já daí!

— Porque eu deveria? – berrei de volta, tentando me fazer ouvir acima da música.

Renata não deu resposta, apenas me puxou pra fora da cadeira, fazendo um coro de “aaaah” se espalhar pela multidão.

— O que foi? – perguntei, tonta, para as minhas amigas – Eu só tava me divertindo. Não é pra eu me divertir? – perguntei sinceramente confusa.

— É, mas você tá passando dos limites. Olha isso – ela apontou o celular pra mim, com a câmera frontal ligada.

Tomei um susto. Ao olhar minha imagem, vi que meus olhos estavam muito verdes, as pupilas em fendas. Os olhos de tigre.

— Ops – murmurei.

— Você corre o risco de se transformar no meio dessa gente toda! – Gisele sibilou – A sorte é que tá escuro e metade desse povo está bêbado, então acho que ninguém reparou nos seus olhos.

Sacudi a cabeça, tentando clarear a mente.

— Vem com a gente – Gisele pediu gentilmente, pegando meu braço – A gente te leva pra sentar e...

— Não! – falei repentinamente, soltando meu braço de maneira brusca. – Não preciso de vocês. Não preciso de ninguém!

E dito isso, saí correndo pela pista, sem olhar pra trás.

Mas a muvuca era tanta, e tinha tanta gente me parando e gritando “dança pra mim, Lorena!” que eu comecei a ficar confusa. A tonteira piorou, e quando vi, estava ajoelhada no chão, o salão inteiro girando ao meu redor.

Sem conseguir me controlar, comecei a chorar. Tudo isso por causa de um garoto. Um garoto idiota que não estava nem aí pra mim. Que queria a Pâmela o tempo todo.

De repente, senti uma mão pousar em meu ombro. O tigre dentro de mim me disse pra atacar, mas eu estava debilitada demais pra isso.

— Vem – uma voz familiar me disse – Vou te levar pra fora daqui.

A pessoa me ajudou a levantar, e eu nem me dei o trabalho de olhar quem era. Só queria ir pra um lugar mais quieto.

Andamos até um canto do salão, para além de uma porta de vidro. Era uma pequena sacada, milagrosamente vazia e silenciosa.

A pessoa me sentou num pequeno sofá na lateral da sacada, sentando ao meu lado. Finalmente, ergui o olhar pra ver quem era.

Eric.

— Achei que você não tivesse vindo – falei, com a voz engrolada, pra ele.

Um pequeno sorriso decorou seus lábios cheios.

— E perder o seu show lá dentro? – disse. Então, sua expressão ficou séria. Ele retirou algo do bolso e me deu. – Toma. Bebe isso.

Olhei para o frasco que ele botara na minha mão. Um líquido de coloração meio esverdeada boiava ali dentro.

— Eca – franzi o nariz – Que porra é essa?

— Essa porra é milagrosa e vai te curar da bebedeira em um instante. – afirmou ele – Não pergunta muito sobre o que tem aí, só bebe.

Após um segundo de hesitação, prendi o fôlego e bebi tudo em um só gole. Senti um gosto amargo preencher minha garganta – três vezes pior que o álcool.

— Ah, que nojo – gemi.

Eric sorriu diante da minha careta.

— Mas funciona – garantiu.

E funcionava mesmo. Os efeitos da tontura já começavam a passar, e uma incômoda dor de cabeça os estava substituindo.

— Impressionante – murmurei.

Eric recostou a cabeça na parede, inspirando fundo.

— Com um pai alcoólatra, temos que aprender esse tipo de coisa.

Olhei pra ele, sentindo meu coração apertar.

— Eric... – comecei.

— Não, não. Não estamos aqui pra falar de mim. – ele me interrompeu – E sim pra falar de você. O que estava pensando? Fazer esse show todo por causa de um idiota que nem merece você?

Arregalei os olhos. Eric não olhava pra mim. Encarava as mãos como se fossem a coisa mais interessante do mundo.

— Então... Você sabe? – perguntei, hesitante.

— Bom, todo mundo sabe. Você não é muito boa em esconder seus sentimentos – ao ver minha expressão, ele rapidamente acrescentou: - Eu não acho isso uma coisa ruim, sério. Significa que você é verdadeira consigo e com os outros, o que é incrível.

Estava envergonhada demais até para aceitar o elogio. Me encolhi no assento, suspirando.

— É que... É coisa demais, sabe – confessei – Por um lado, eu sou essa menina normal que gosta de um garoto... Por outro, sou um tigre mágico feroz que deveria proteger as pessoas do mal. Uma guardiã. E eu mal sei o que isso significa... – inspirei fundo – E isso me desconcentra toda dos estudos, e eu posso perder a bolsa, e a minha mãe...

Mas antes que eu terminasse, Eric pôs a mão sobre a minha, me tranqüilizando.

— Lembra da parte em que estamos juntos nessa? – falou ele – Eu também estou passando pela mesma loucura que você. E eu to aqui pra ajudar. Prometo. O clube de detetives continua, certo?

Consegui dar um pequeno sorriso.

— Clube supersecreto de espionagem – corrigi.

Ele abriu um sorriso ainda maior.

— Isso.

— É que você parece tão tranqüilo com tudo isso – falei – Nem se transformou ainda! Não está curioso pra saber que animal você é? – brinquei.

Uma expressão sombria cruzou seu rosto.

— Eu já sei – disse – Já me transformei, sim.

Pisquei, surpresa.

— Mas... Como? Quando?

— No dia em que Santiago ensinou como fazer – contou ele – Esperei ficar sozinho em casa e fiz. Não foi tão difícil. – ele deu de ombros, como se não fosse nada demais.

— Uau... Ok. – falei devagar – Então, que bicho você é?

Um sorrisinho de canto curvou sua boca.

— Segredo – disse – Vai ter que descobrir sozinha.

Abri a boca, fingindo estar indignada.

— Espero que seja um babuíno – murmurei, não tão baixo.

Demos risada, e por um instante, ficamos só assim, rindo e nos olhando.

Lá dentro, uma música lenta começou a tocar.

Os olhos de Eric brilharam, e ele se virou pra mim:

— Ei – falou – Tá a fim de dançar em um lugar que não seja em cima de uma cadeira?

Olhei pra ele, espantada.

— Você dança?

— Não. Mas estamos numa festa, não estamos? – ele se levantou, oferecendo a mão pra mim.

— Ah... Não sei se tenho coragem de voltar lá pra dentro – suspirei.

— E quem falou em ir pra dentro? – ele ergueu o braço, sinalizando a sacada. – Eis a nossa pista de dança.

Com isso, eu sorri. Aceitei sua mão – era surpreendentemente quente e macia – e pus a outra em seu ombro, enquanto ele enlaçava minha cintura.

— Só deixe a música te conduzir – sussurrou ele.

Fechei os olhos. Não reconheci a música, mas as palavras tocaram fundo dentro de mim.

I took you out your word

When you said you would steal my heart.
Yeah this might sound absurd,
but would be my thief, take all of me
every part.

— Eric... – comecei, mas ele me silenciou.

— Shhh... – sussurrou – Não pense muito. Só sinta.

Love. Love, love is my crime.
So baby come catch me and let's do the time.

Inspirei fundo. Por um instante, ali, com Eric, eu sentia que era apenas uma garota normal dançando em uma festa de quinze anos. Eu me sentia...Eu.

E foi maravilhoso.

I think we might be outlaws.
I think I might be in love.
Cause I'm all out of reasons
like seasons
Winter, summer, fall
they're all washed up.
If you're still way over there
maybe slide on in by my side
cause I'm just an outlaw
wanted if you want me.
I love you everyday and every night.

Pena que aquele momento não duraria muito, nem a paz daquela noite. Eu não sabia na hora – e nem saberia por algum tempo – mas, naquele momento, Eric e eu estávamos sendo observados.


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Notas finais do capítulo

Pra quem ficou curioso, a música que o Eric e a Lorena dançaram foi "Outlaws" do David Lambert. Quem quiser pode escuta-la pra sentir o que eles dois sentiram! ♥



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