Chocaram as taças, mas logo começaram a falar sobre o menu, as mudanças da cidade e o preço do dólar. Comeram salmão defumado e mariscos acompanhados de vinho branco. 

— Você dança? - Perguntou Thiago.

A música era agitada, e como ela podia dançar sem ter o mínimo contato corpo a corpo, se deixou levar seguindo o ritmo. O que ele não podia imaginar é que a música poderia dar um toque sedutor àquilo, não imaginava também que sua companheira dançando o faria lembrar de algumas cenas dos sonhos que teve noites anteriores. 

— Foi ótimo, Thiago! 

Disse Mar quando o último acorde da música soou. Ele simplesmente assentiu com a cabeça e seguiu em direção à mesa. Os medalhões de lombo com verduras estavam no ponto certo, e o vinho que o acompanhava apenas dava um sabor melhor à comida. 

— Podemos dançar novamente? - Sugeriu Thiago quando uma valsa começou a ser tocada. 

Normalmente Mar evitava as danças que usavam contato físico, mas como havia bebido um pouco mais do que o acostumado, e tinha rido até chorar, abriu uma exceção e passou pelas mesas sorrindo relaxadamente. 

Geralmente não tinha um tamanho bom o suficiente para uma dança como esta, mas como hoje estava usando saltos, seu queixo chegava aos ombros de Thiago. Ele estava com a cabeça inclinada, a ponto de roçar seus lábios na bochecha de Mar. A apertou mais com seu corpo, mesmo notando certa resistência vindo da parte de sua acompanhante. 

De repente parecia que seus sonhos haviam se mesclado com a realidade. A mulher que sonhava estava ali em sua frente, e ele podia a tocar de verdade. 

Entretanto, Mar pareceu ficar sóbria ao perceber que tinha uma mistura de sensações que lhe resultavam conflitivas. Ele cheirava muito bem, tinha uma fragrância cítrica por cima de sua pele inconfundivelmente masculina. Ela estava rodeada por seus braços e se sentia segura e salva de tudo que poderia lhe apresentar perigo, mas ao mesmo tempo sentia que lhe faltava ar. 

Geralmente costumava se manter longe de homens porque sentia certa claustrofobia ao chegar perto deles, talvez como consequência de seu relacionamento com Ricardo.

A mão que se encontrava descansando em sua cintura foi abaixando até o fim de suas costas, puxando-a mais para perto. Mar podia sentir o endurecimento involuntário do corpo de Thiago, sinal de que ele a desejava. Sentiu pânico. Adotou uma postura rígida e levantou a cabeça para olhá-lo.

— Thiago, eu não...

Bedoya se arrependeu ao ter demonstrado seu desejo, então pousou seus dedos nos lábios da mulher à sua frente para tranquilizá-la. 

— Não consegui deixar isso escondido, não é? Me desculpa. Te desejo... Não posso negar. Mas estamos em um lugar público, então você está à salvo. 

Ela se afastou, fazendo com que ele notasse que sua expressão se encheu de medo. 

Mar deu meia volta e se apressou em chegar até a mesa, se sentou e focou no cardápio para escolher uma sobremesa. Thiago se sentou em sua frente. 

— Vamos, Mar. Estamos no século vinte e um e não acho que eu seja o primeiro homem com quem você tem um encontro. Finja como se fosse apenas mais um jantar normal, pode ser? 

— Está bem, farei como se fosse isso. Não sei se quero sobremesa, talvez eu tome apenas um café. 

Thiago tomou um gole de vinho de sua taça. 

— Ou seja que vamos fazer de conta que nada aconteceu? - Questionou ele furioso pela atitude dela, que parecia mais a de uma adolescente do que de uma melhora tão segura de si, que era como ele a via - Que eu não estava disposto a fazer sexo com você? - O cardápio foi jogado das mãos de Mar para a mesa ao ouvir as palavras do homem que estava em sua frente e o olhou como se não o conhecesse -O que foi? O que aconteceu? - Insistiu ele. 

Ela bebeu de seu vinho para logo lhe lançar um olhar arrogante. 

— Você está casado, Thiago? Ou comprometido? Ou mora com alguém? 

— Não, não, e não. E você? 

— Este vinho tem um sabor excelente, não acha? - Disse ela distraidamente. 

Thiago se aproximou um pouco mais. 

— Por que você perguntou sobre meu estado civil?

 – Simplesmente estava curiosa sobre isso.

— Por que não me diz a verdade? Você é uma mentirosa!

— Minha mãe costumava me trancar no closet caso eu lhe mentisse. De todas as formas, mesmo que você saiba o motivo de minha pergunta, prefiro falar de outra coisa... Talvez sobre horoscopo e plantas, quem sabe até coma a sobremesa. Amo torta de limão.

Thiago imaginou uma pequena garota de cabelo longo e castanho trancada em um closet escuro, mas logo decidiu apagar essa imagem de sua mente. 

 – Me diga o motivo. Tem algo a ver comigo diretamente? 

— Claro que sim, com certeza. 

— Quando você chegou parecia cansada, mas não acho que seria oportuno dizer isso. Agora eu te pergunto... O que aconteceu, Mar? 

— Não tenho motivos para te falar sobre isso, e não vou fazê-lo. 

— O restaurante não fecha até meia noite, e são apenas nove e meia. Posso esperar. Inclusive, posso até pedir outra garrafa de vinho, já que você gostou tanto desta - Sorriu sedutoramente - Seria engraçado eu ter que te levar em meus braços de volta para a sua casa. 

Ela sabia que ele faria isso, que a convenceria. E se guardava o segredo, não conseguiria nada. Mas também, quem sabe? Poderia até dizer que sim! 

— Okay então. Você que quis! - Disse resignada. 

Continua...