— Não está entusiasmado? 

Sim, pensou ele. Super entusiasmado e animado, mas não da forma que você pensa, senhorita Rinaldi.

— Sim! Claro que estou... É que como eu sou mais velho, consigo disfarçar mais.

— Bom... Também não é pra exagerar! Você tem só 31 anos!

— Deveria usar luvas. - Disse ele, distraído, olhando para as mãos da mulher à sua frente.

— Sempre esqueço de usar. Se você visse minhas mãos no verão, perceberia que seria a última a ser escolhida para uma revista de modas. Todos os anos compro um par de luvas para jardinagem, e todos os anos as perco no primeiro dia que coloco elas. - Fez uma careta, mas ainda estava animada - Alguns chamam de regresso, mas eu amo fazer castelos de areia e de terra... A caminhonete, os cartões da empresa, os desenhos no computador, são todos para usar alguma desculpa que faça com que eu suje minhas mãos de terra. 

— Não deixavam você fazer castelos de areia quando pequena? 

— Meus pais eram muito estritos. A regra era vestidos de princesa e mãos limpas. 

—  Seus olhos são cor de caramelo, uma combinação linda de marrom e preto... Brilhante! - Disse Thiago, mudando novamente o assunto, como quem tivesse acabado de descobrir algo extremamente importante. 

— Bom... A verdade é que até hoje ninguém me comparou com caramelo, doce e pegajoso. Não consegue pensar em nada melhor? - Zombou Mar - Sabe de uma coisa? Você tem o cabelo com cor de terra fértil. 

— A cor de uma matéria vegetal podre? Obrigada! 

— E seus olhos são como um mineral, verdes com um marrom muito lindo. 

Thiago gostou do jogo.

— Folhas de faia no outono. É disso que seu cabelo me faz lembrar. - Sua voz se tornou mais profunda - Meu padrasto costumava plantar peônias rosas, exatamente da cor das suas bochechas nesse  momento. 

Foi aí que perceberam que estavam com as mãos entrelaçadas, e Mar retirou as suas. 

— É melhor a gente já ir. Vai chegar tarde. 

— Se todos os assuntos legais forem resolvidos antes que eu volte para Bueinos Aires, gostaria de te convidar para jantar. Para comemorar. - Disse ele, surpreso consigo mesmo, mas já era tarde demais para voltar atrás.

— Eu acho que essa é uma boa ideia. 

— Bom... Vou te ligar. - Olhou para o relógio que estava em seu pulso - Consegue me levar ao escritório novamente em sete minutos? 

Falaram de coisas sem importância durante todo o caminho. Mar não voltou a se aproximar dele, mas antes que ele descesse do carro, sorriu docemente e disse: 

—Obrigada, Thiago. Muito obrigada!

— De nada - espondeu com um sorriso, e logo depois fechou a porta da caminhonete.

Tinham demorado dez minutos até chegar ao escritório. Ele ficou na calçada, olhando como ela se afastava dentro daquele carro. Agora mais que nunca achava que tinha que separar os negócios de sua vida privada. 

Entretanto, pensava também que tinha que fazer tudo que fosse possível para resolver as questões legais, já que o que mais queria no mundo era jantar com Mariana Rinaldi, e as consequências eram a última coisa que importava naquele momento.

Uma semana depois, às sete e meia da noite, Thiago estava no melhor restaurante da cidade. Mar não quis que ele passasse para buscá-la, então decidiu por encontrar com ele no local marcado.

Thiago vestia seu terno cinza mais caro e uma gravata nova de seda. Tinha se penteado e lustrado os sapatos de tal forma que o fazia sentir orgulho de si mesmo.

Durante a semana, tinha conversado com Mar diversas vezes sobre os detalhes da proposta, mas não tinha a encontrado no clube, e nem ela tinha ido à sua oficina. Entretanto, isso não foi impedimento para fazer com que ele se lembrasse dela, e pensasse nela quase sem parar, tornando-a protagonista de seus sonhos.

Ele queria levá-la para a cama. Disso não haviam dúvidas. Talvez esta noite perguntaria se ela tinha algum tipo de relação, para dar início ao que planejava. 

Mas o que planejava?

As sete e trinta e dois a porta do restaurante se abriu e Mar entrou por ela, fazendo com que o coração de Thiago começasse a bombear a toda velocidade. Quando já estavam frente a frente ele sorriu. Mar cheirava maravilhosamente bem.  

— Dessa vez você foi pontual.

— Não tinha nenhuma outra amiga em trabalho de parto. - Disse ela tirando seu casaco. 

Por que teria dito semelhante coisa? 

 Simplesmente porque tinha o assunto em mente. O bebê de Estefânia a fazia pensar nisso. Mar tinha passado uma semana de tensão indo e vindo da casa de Tefy, sua melhor amiga, e ao ter o pequeno Mateo em seus braços, sentiu um prazer enorme, mas uma grande pena também. 

Tanto que havia dormido mal as últimas duas noites, um feito que podia dissimular graças à maquiagem, para que os olhos verdes de Thiago não notassem. 

Percebeu então que estava sendo olhada de cima a baixo.

Mar usava uma saia azul justa com uma fenda no canto e uma blusa de seda da cor creme, com decote. Seu cabelo estava brilhante e amarrado. Estava também com uma sombra azul em seus olhos e um batom extremamente vermelho. 

— Você está muito linda- Elogiou Thiago.

O garçom os guiou para uma mesa no canto, debaixo de alguns quadros, onde conversaram sobre as últimas novidades do projeto. 

Thiago levantou para um brinde. 

— Pelos parque e os jardins. Para que floresçam. 

Chocaram as taças, mas logo começaram a falar sobre o menu, as mudanças da cidade e o preço do dólar. Comeram salmão defumado e mariscos acompanhados de vinho branco. 

— Você dança? - Perguntou Thiago.

Continua...