Mãe Solteira escrita por LaviniaCrist, mary788


Capítulo 13
Pai de primeira viagem - III




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Nathalie estava sentada em um café, se deliciando com bolinhos.

Depois de uma longa caminhada, se permitiu relaxar enquanto podia. Já tinha recebido inúmeras ligações do chefe e as ignorou ao ponto de ele desistir; restava esperar pelas ligações de Marinette, provavelmente assustada, desistindo do trabalho e exigindo indenização e talvez a ameaçando processando por algo.

Entretanto, Nathalie começou a receber ligações de um número desconhecido. Ela ignorou nas primeiras chamas e apenas na terceira resolveu atender:

— Sim?

— Bom dia. Aqui é do departamento de segurança do aeroporto Charles de Gaulle. Gostaria de falar com a senhora... — antes de conseguir completar, o desconhecido foi interrompido por uma voz muito familiar:

— Senhorita! Uma senhorita! Respeite a minha assistente eficiente e solteirona! — exigiu Gabriel.

— Se contenha, meu senhor! — o desconhecido mandou — Eu gostaria de falar com a senhorita Sancoeur, por gentileza.

— É a respeito de Gabriel Agreste?

— Exatamente. A senhorita o conhece, correto?

— O suficiente para saber que você tem um problema...

— Com todo o respeito, minha cara... — ele disse antes que fosse acusado por desrespeitar aquela “senhorita” — ... quem tem um problema aqui, dos grandes, é esse estilista maluco.

— Exatamente, e agora ele é um problema seu. Passar bem! — E desligou o celular.

Ignorando as ligações que recebeu em seguida, Nathalie continuou se deliciando com os bolinhos, fingindo que estava em um de seus dias de folga. Queria aproveitar a paz e tranquilidade enquanto ainda podia.

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Marinette estava sendo uma babá exemplar: conseguiu acalmar Adrien e fez Félix pedir desculpar para o “irmão mais novo” - com base em ameaças de ligar para Nathalie e contar tudo, mas conseguiu. Os dois até formaram uma dupla de dança!

Porém, bastou que ela deixasse as “crianças” sob os cuidados de Alya e Nino para ir ao banheiro para que tudo desmoronasse de novo: o Agreste rolava no chão com o Sancoeur, um puxando o cabelo do outro, gritando, socando e até mordendo... Alya segurava o namorado para que ele não se metesse naquela “briga de irmãos”, o que não impedia Nino de torcer para o amigo e falar os golpes que ele deveria usar – todos tirados do videogame.

— CHEGA! — ela berrou, colocando as mãos na cintura e encarando as duas crianças briguentas — O que pensam que estão fazendo!?

— Eu estou brigando com o meu irmão... — Adrien se explicou enquanto tentava recompor o fôlego, estava sendo preso por Félix.

— E eu estou revidando esse idiota que... Ai! — o mais velho tentou se explicar, mas recebeu uma mordida no antebraço antes que conseguisse. Como resposta, ele acertou um soco bem no nariz do modelo. Aproveitou que Adrien estava tão desatento ao golpe quanto ele estava à mordida — Ficou doido!?

— Você que começou! — o Agreste acusou, segurando o nariz e tentando parecer forte, quando já estava com os olhos marejados.

— Isso aí, irmãozinho! Agora acerta um antiaéreo especial! — Nino sugeriu, por mais que o golpe não fizesse nenhuma relação com aquele momento.

— PARADOS OS DOIS! — Marinette mandou, indo até eles — Félix, sai de cima do seu irmão! Adrien...! — Ela encarou aqueles olhos verdes tão bonitos — Ad-drien... — Não tinha coragem de brigar com ele — Se compo-orta! — E virou o rosto, tentando se manter como uma rocha.

— É assim que se fala, amiga! — Alya a apoiou, finalmente largando o namorado.

— Marinette, foi o Félix que começou e você precisa deixar o Adrien revidar aquele soco no nariz!

— Eu não vou deixar nada! — A garota de Maria-chiquinha estava realmente irritada — Eu saio por dois minutos e vocês fazem tudo isso!? Se eu tivesse demorado mais iriam se matar!

— Se eu realmente fosse matar o Adrien, eu precisaria matar as testemunhas e esconder os corpos antes da minha mãe voltar — Félix tentou parecer racional — Não que isso tenha passado pela minha cabeça com bastante frequência hoje. — Ele estava ficando visivelmente irritado — Aceitei ficar perto de vocês só pra levar um empurrão no final desse pirralho mimado! — Acusou, voltando a puxar o cabelo do mais novo.

— Era parte da música! — se justificou, tentando empurrar o irmão com as pernas, pois ainda estava segurando o nariz.

— MANDEI FICAREM PARADOS! — A babá relembrou aos dois que, instantaneamente, ficaram imóveis — Quero cada um sentado em uma das pontas do sofá! — ela mandou praticamente rosnando —  E quero saber exatamente o que aconteceu, ou ligo para a mãe de vocês!

— ... Eu sou testemunha que meu irmãozinho aqui estava de boa e foi esse robô assassino aí quem começou! — Nino ergueu os ombros.

— Vou tentar ser imparcial: acho que foi o Adrien quem começou mesmo tudo isso... — Alya comentou, ajudando o rapaz mais velho a se levantar.

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O guarda do aeroporto encarava Gabriel Agreste, o estilista renomado lançando a tendencia de cabelos roxo, tentando se conter e não cometer um crime - por mais que julgasse aquele ser mesquinho e digno de injustiça.

— Senhor Agreste, pela última vez: sua assistente não quer ajudar você! — disse irritado.

— E pela última vez: Nathalie não tem que querer nada, ela vai me ajudar sim! Você que está fazendo errado! — Gabriel colocou as mãos sobre as mesas — Ela é minha assistente há anos, ela não trabalha com escolhas! Apenas ordens!

— Ninguém trabalha desse jeito! — O guarda repetiu as ações.

— É por causa disso que esse lugar é uma espelunca! Se eu estivesse no comando de tudo...!

— Eu já teria me demitido! — completou — Você é a pessoa mais insuportável que eu tive o desprazer de conhecer, Agreste! Não respeita nada, só sabe reclamar e tudo e dar ordens idiotas!

Gabriel colocou uma das mãos sobre o peito, claramente ofendido com tudo aquilo. Ele estava pronto para gritar e exigir qualquer coisa que fosse, mas preferiu se sentar na cadeira mais uma vez, cruzar os braços e avisar:

— Me recuso a continuar com essa palhaçada, exijo a minha assistente aqui.

— Senhor Agreste, está sendo acusado de uma possível...

— E uma xícara de café BlueMonth!

— ... Senhor Agreste, eu...!

— Rápido! — Bateu o pé.

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— Explicações! Quem começou? — Matinette perguntou andando de um lado ao outro de frente para o sofá. Os dois rapazes acusados estavam sentados, com Alya e Nino no meio deles.

— Ele! — Félix resmungou.

— Era um passo da dança empurrar o Félix e ele fingir cair no chão, eu só fiz isso! — Adrien se explicou.

— Meu tornozelo está dolorido ainda, eu caí de cara no chão!

A Dupain-Cheng encarou o Sancour primeiro: a testa estava avermelhada, além de realmente ter recebido um tópico bem preciso sobre ele não poder esforçar o tornozelo – isso incluía dançar?

Depois, encarou o Agreste: o nariz vermelho, olhos marejados e manchinhas vermelhas começando a aparecer perto da boca. Mesmo assim ele continuava tão perfeito como sempre...

— Só para constar, meu gato está desaparecido e a culpa também é do Adrien.

— Hã? Ah! Er... Alya, explicações reais — pediu a babá, finalmente saindo de seus devaneios.

— Tá... — a morena tentou entender em que ponto a amiga tinha virado uma “general”. De qualquer forma, era melhor não contrariar: — Tem mesmo essa parte no final da música, mas o Adrien empurrou o Félix sem ele estar esperando e daí começou tudo.

— ... Tudo o que?

— Esse protótipo de exterminador do futuro que derrubou o Adrien no chão e foi para cima dele — Nino respondeu pelo amigo — Se eu fosse você, colocava de castigo.

— Eu só me defendi! Ele quem me deu um soco! — Félix virou o rosto.

— Porque você puxou o meu cabelo! — Adrien revidou.

— E foi assim que começou tudo — Alya completou — Os dois ficaram rolando no chão, eu fiquei segurando o Nino e você chegou...

— E no final esse monstro ainda machucou o nariz do meu irmãozinho! — Nino estava realmente inconformado com aquilo — O cara é modelo, como ele vai ser modelo com o nariz assim!?

— ... Meu nariz está tão ruim assim? — Adrien começou a ficar nervoso, mexendo no nariz.

— Deve ter quebrado, eu acho... — o amigo olhou bem — Tá meio tortinho pro lado.

— Meu nariz está torto!? — o Agreste já estava com os olhos cheios de lagrimas só de imaginar o quanto estava encrencado.

— Ele sempre foi torto! — Félix grunhiu — E o meu braço!? E se eu pegar alguma doença, tipo essa sua idiotice!?

E assim começou tudo de novo.

Marinette assistiu os dois garotos começarem a brigar, Nino se meter no meio e Alya tentar tranquilizar todo mundo. Agora ela entendia o motivo de Nathalie ser tão “apática” com tudo, ela simplesmente escolheu não ligar para mais nada ao invés de enlouquecer...

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Gorila já havia substituído a calça rasgada. Continuava sentado no mesmo lugar, com o caderninho em mãos fazendo algumas adições à suas várias e várias teorias:

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Plagg consegue atravessar portas;

Ninguém reconhece Gabriel Agreste de cabelo roxo;

Nathalie aproveitou a distração para ir traficar café?

A máfia causou o congestionamento?

Raptaram Nathalie!?

Raptaram Nathalie para invadir a mansão e raptar o Félix?

Comprar a versão Mecha Fusca – Carros Robôs, 7ª edição;

Depois de raptar o Félix, eles roubarão a mansão e levarão Adrien de refém?

Rapto é a mesma coisa que sequestro?

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Nessa última parte, ele já estava em pânico. Talvez tudo aquilo tivesse sido armado única e exclusivamente para prenderem eles o maior tempo possível longe da assistente, até conseguirem concluir as trocas de mercadoria ou pior: até conseguirem invadir a mansão e sequestrar os garotos, ainda levarem o cofre de brinde!

Com o nervosismo tomando conta, ele pegou o aparelho celular e tentou entrar em contato com a amiga. O único motivo que o impediu de fazer isso antes era o medo de ser atendido por Félix.

— O que foi? — Para a sorte do grandalhão, quem o atendeu foi a própria Rainha do Tráfico, vulgo, Nathalie.

— Er... problemas.

— É claro que você só me ligou porque está com problemas! Se não estivesse metido até o pescoço em um problema, continuaria esquecendo que eu existo, não é!?

— ... Desculpa?

— Desculpas? — Ela estava claramente irritada, mas pareceu piorar ainda mais: — Desculpas!? Eu andei quase três quilómetros de salto alto até conseguir achar um lugar para sentar e tomar um café! Tem ideia de quantas bolhas eu devo ter nos meus pés agora!? O mínimo que eu quero é uma pedicure! E isso não vai sair do meu bolso!

— Nem do meu? — Ele arriscou jogar toda a consequência daquele mau-humor nas costas de Gabriel.

— Claro que não! Eu quero ir em um salão de beleza caríssimo e só sair de lá irreconhecível, trocar de nome e fugir do país com o meu filho! ... Meus filhos! — ela se corrigiu.

— Pode repetir depois de trocar de nome, por gentileza? — O grandalhão perguntou com a melhor das intenções, estava tentando anotar tudo no caderninho. Se ela realmente desaparecesse, teria pistas!

A colega de trabalho encerrou a ligação. Ele julgou que ela só estava irritada demais para falar, ou que estava em uma de suas crises de tosse. Porém, para a surpresa dele, Nathalie praticamente brotou do chão ao lado de onde ele estava sentado e sussurrou da forma mais ameaçadora possível:

— Eu vou fugir do país com os meus filhos, mas antes vou cometer dois assassinatos!

Gorila gritou e pulou da cadeira, só não infartou porque os riscos que andava enfrentando ultimamente o prepararam para aquele momento. Ouvindo toda a gritaria, o guarda que ainda estava na saleta de interrogatório com Gabriel Agreste foi ver o que estava acontecendo. Encontrou o brutamontes escondendo o rosto com a maleta prata suspeita e, próximo a ele, uma mulher visivelmente cansada e irritada.

— Senhorita Sancoeur? — Ele perguntou otimista e, com o aceno positivo que recebeu, comentou: — Primeiramente, a senhorita é uma santa por aturar seu chefe!

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Para a surpresa de Marinette, ignorar os problemas realmente adiantou:

Os “irmãos” saíram aos tapas por mais alguns minutos, isso até se cansarem e aceitarem um momento de trégua. Alya e Nino voltaram ao jogo de dança – antes, foram até a cozinha pegar gelo para o nariz de Adrien e para o tornozelo de Félix.

Os dois loiros, agora, estavam tranquilos e acomodados no sofá. Adrien estava deitado com a cabeça no colo do mais velho e este, sentado com as pernas em cima do sofá, usava o mais novo para apoiar o tornozelo dolorido. Pareciam até mesmo irmãos de verdade: o cabelo bagunçado de Félix o fazia parecer ainda mais com Adrien, como se fosse uma versão mais velha – e mais pálida – dele.

— Então... — A babá se aproximou das “crianças” — ... já estão mais calmos? — Recebendo um aceno afirmativo dos dois, ela continuou: — Que tal vocês brincarem um pouco?

— Porque você e o Adrien não fazem essas dancinhas de casal também enquanto eu julgo todos em silêncio? — Notando o quão vermelha ela ficou com aquilo, Félix continuou: — Vocês dois fazem um casal tão... açucarado.

— A Marinette é só minha amiga, irmãozão... — Adrien respondeu como se fosse impossível a garota apaixonada subir de cargo, até que se lembrou do óbvio: — E nossa babá também! — Sorriu.

O mais velho encarou a cara de bobo do caçula, deu um de seus sorrisos sínicos e ousou cruzar uma linha perigosa. Se o Agreste mais velho estava invadindo o espaço pessoal da sua mãe, ele invadiria o espaço pessoal do Agreste mais novo:

— Mas a Marinette é tão legal... — disse como se não quisesse nada — E ela é tão bonita. Além disso, é a mais racional daqui — Ele encarou a garota que, depois de tantos elogios, conseguiu ficar ainda mais vermelha — Sabe, irmãozinho, meu tornozelo já está melhor... você pode ser o juiz e eu o par da Marinette.

— Não! — Adrien se afastou do irmão, emburrado e um tanto corado.

— Por que não? — Félix ergueu uma das sobrancelhas, adorando a nova tática de irritar Adrien.

— Porque...! — Não havia um motivo bem definido, havia? — Porque... — Félix estava dividindo a mãe, ele poderia dividir a amiga — Porque a Marinette... ela... — Adrien se esforçou até ter um bom motivo — Ela é nossa babá!

Marinette, que criou expectativas altas para a justificativa, mudou de uma vergonha avassaladora para decepção palpável. Pior que ela só Félix: incrédulo sobre a ingenuidade ou burrice do Agreste. Até mesmo o casal parou de dançar para prestar atenção neles, ou melhor, para sentirem pena da amiga.

Calmamente, o mais velho se levantou e se aproximou da garota de Maria-chiquinha. Como se estivesse encenando algum final feliz de conto de fadas, ele se aproximou dela e segurou uma das mãos enquanto levantava o queixo dela com a outra.

— Marinette, aceita dançar comigo?

— Não! — Adrien respondeu por ela, se ajoelhou e segurou a outra mão da garota. Se alguém ali poderia copiar as cenas de mangás shoujo, este alguém era ele. — Mudei de ideia, eu quero dançar. Aceita ser meu par, Marinette?

— Tarde demais, nanico! — o outro rosnou.

Os loiros se entreolharam de uma maneira fria, deram alguns passos enquanto se encaravam. O clima era de um duelo pela honra, como nos filmes de Velho Oeste. Alya, Nino e Marinette apenas os observavam com apreensão – a babá chegava a ter esperanças de novo.

— Sabemos como resolver isso, Adrien.

— Sim, Félix. Vence o último a cair.

— Não serei eu — O Sancoeur sorriu de canto. O Agreste sorriu da mesma maneira e avisou:

— Eu escolho a música!

— Certo. — Alguns milésimos segundos depois, Félix notou aquele desfecho: — Música!? Para que música se vamos nos enfrentar na esgrima?

— Esgrima? Claro que não! Em uma competição de Just Dance!

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— Sinto que não há mais tempo para mim, Nathalie... — Gabriel Agreste, o etilista inigualável, choramingava enquanto tentava arrumar um jeito de caber deitado no banco traseiro do carro — ... Minha vida já está passando diante dos meus olhos... — Por fim, desistiu e ficou sentado mesmo, com Plagg ao lado dele.

Como resposta, a assistente revirou os olhos e começou a procurar por algo na bolsa que levava consigo.

— Minha garganta já está fechando, meus olhos ardem. Sinto até mesmo uma força maligna corroendo as minhas entranhas que, que... — Espirrou — ... Nathalie, meu nariz está entupido! Eu vou morrer asfixiado!

Dessa vez, além de revirar os olhos, a assistente murmurou algo baixo o suficiente para ninguém entender e então disparou a ordem:

— Pare o carro! — Gorila, sem ousar questionar, simplesmente obedeceu — Volto logo... e se não estiverem aqui quando eu voltar, vou ficar ainda mais irritada! — Avisou enquanto saia do carro.

O Agreste ia dizer algo, mas uma crise de espirros o impediu de falar qualquer coisa que fosse. Depois, em busca de mais autopiedade, ele tentou se deitar no banco novamente – o que não deu certo, já que as pernas compridas precisavam ficar dobradas.

Gorila aproveitou a pequena pausa para pegar o caderninho e complementar algumas anotações feitas mais cedo, naquele mesmo dia:

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Verificar se a Máfia Russa implantou agentes biológicos contaminantes com um vírus mortal no ateliê;

Separar Adrien do pai antes que ele fique doente também;

Evitar respirar dentro da mansão;

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Também aproveitou para riscar uma de suas anotações: não precisaria comprar pastilhas para tosse, já que a colega acabou de entrar em uma farmácia e provavelmente as compraria com o próprio dinheiro – o que é ótimo, já que cada centavo economizado é fundamental para a compra de mais carrinhos colecionáveis: um investimento!

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Para a decepção de Marinette, ignorar os problemas duas vezes seguidas não funcionava:

Os dois loiros estavam rolando no chão aos tapas, chutes, mordidas e puxões de cabelo novamente. Dessa vez, nem mesmo Nino tomou partido, estava ocupado dançando com Alya.

A Dupain-Cheng já tinha ficado irritada, já tinha tentado abordagens infantis e agora estava a ponto de chorar. Cada vez que a tentava intervir, os dois só se agrediam ainda mais: Félix por não querer perder a briga e Adrien por não querer dividir a amiga. As consequências daquele enfrentamento seriam jogadas em cima dela: Nathalie iria ficar irritada como uma robô-alienígena destruidora de mundos porque ela não conseguiu cuidar das duas “crianças”.

Para piorar, foi só pensar na Sancoeur que o número dela apareceu no visor do celular. Era uma chamada.

— S-Sim...? — Ela atendeu quase sem voz.

— Marinette, está tudo bem? — Diferente de qualquer expectativa, Nathalie soava apenas preocupada.

— Sim? — Instantaneamente, Merinette foi para o seu habitual estado de otimismo fingido quando conta mentiras: — ... Sim! Sim, claro que está tudo bem! Por que não estaria tudo bem? É claro que está tudo bem, tudo ótimo! Nada de errado por aqui, estão todos bem! Ninguém está brigando!

— ... Incêndio?

— Incêndio?

— Estou perguntando se, por acaso, a mansão foi incendiada na minha ausência. — Ela parecia realmente aflita.

— Não!

— Eles destruíram alguma coisa?

— Não!

— ... Foram até o ateliê?

— Não, não saíram do quarto!

— Brigaram?

A essa altura, os dois rapazes já tinham parado de brigar e prestavam atenção na babá, como se tentassem adivinhar com quem ela estaria falando. Ou melhor: os dois tinham certeza de quem era do outro lado da chamada.

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Gabriel Agreste estava tentando poupar a pouca energia que ainda tinha depois de uma terrível crise de espirros. Preço caríssimo a se pagar por ser alérgico ao objeto de sua adoração mais tenra: felinos.

Céus, como pode um homem sofrer tanto na vida!?

Primeiro descobre que sua assistente eficiente e solteirona arranjou um namorado, consequentemente não sendo mais tão eficiente e nem solteirona;

Depois, descobre ter uma doença incurável e fatal – pois por mais que o Google diga o contrário, qualquer doença de nome complicado e estranho como gastroenterite virótica é potencialmente fatal.

Agora, a beira da iminente partida, ele encontra uma adorável criatura peluda e elegante... apenas para ter uma crise alérgica e morrer de nariz entupido!

A vida realmente é cheia de reviravoltas revoltantes!

Antes que ele começasse a pronunciar suas últimas palavras para o motorista – o tal Chimpanzé ou algo do tipo -, um lampejo de sanidade conspiratória tomou a mente dele: Nathalie tinha um namorado misterioso e demorou horas até ir tirar ele daquela saleta de cadeia. Ele adicionou seu sofrimento das últimas horas em sua lista de martírios e então voltou para sua pequena teoria:

E se, quase com certeza, Nathalie tivesse aproveitado aquele tempo para ficar com o namorado misterioso? E se ela estivesse agora mesmo falando com ele pelo telefone!? Ou pior, se estivesse com ele!? É um completo desconhecido, farmacêuticos são completamente desconhecidos, não tem prova maior que isso!

Uma pena que Gabriel Agreste não estava com as canetas rebuscadas do filho e nem seus papéis especiais, caso contrário teria anotado aquilo. Não iria pedir o caderninho de anotações do motorista. E nem mesmo tinha tempo a perder registrando isso, Gabriel Agreste é um homem de ação!

Ele se ajeitou com Plagg no colo, saiu do carro sem falar absolutamente nada e foi atrás de Nathalie sem nem pensar duas vezes – na verdade, muito mal pensou apenas uma vez. Finalmente descobriria quem estava estragando a eficiência da melhor assistente que já teve na vida!

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Marinette chegava a tremer enquanto segurava o celular perto dos outros e colocava no “viva-voz”. Félix e Adrien compartilhavam do mesmo nervosismo, enquanto o casal apaixonado de amigos apenas tinha curiosidade.

— Explicações! — Nathalie exigiu.

— Mãe, mamãezinha linda que eu amo muito, eu juro que não fiz nada de errado e só machuquei o nariz do Adrien porque ele me mordeu primeiro! — Félix começou com a própria defesa.

— Mamãe, eu comi alguns doces, mas foram só uns pouquinhos e nem está de noite ainda! Eu prometo que não vou comer mais nenhum até o desfile! — Adrien resolveu começar pelos delitos mais leves.

— Dona Mãe do Félix, eu estou de testemunha que foi o seu filho quem começou tudo. O meu amigo aqui nem fez nada, eles só estavam dançando daí... — Nino partiu em defesa do amigo, sendo interrompido por Alya:

— Daí o Adrien não quis perder, empurrou o Félix que caiu de cara no chão e...

— Eu estava no banheiro! — Agora era a vez de Marinette tentar se justificar — Eu não sabia qual botão apertar, acabei demorando e quando voltei eles já estavam...!

— Silêncio! — era quase palpável a irritação dela — Eu fui muito clara: sem esforçar o tornozelo, sem comer doces e sem deixar eles sozinhos! Qual parte disso é tão difícil entender!?

— Desculpa. — Os jovens murmuraram em uníssono.

— Logo eu vou chegar e colocar vocês de castigo pessoalmente!

— Mas mamãe...

— Sem “mas”, Félix! Eu já avisei que vou tomar medidas mais drás...! — Antes que ela pudesse completar a sentença, um certo Agreste a interrompeu:

— EU SABIA!

A ligação foi encerrada.

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Assim que entrou na farmácia, Nathalie ligou para a babá: queria notícias dos seus filhos. Enquanto fazia várias perguntas, deixou uma receita no balcão com um dos farmacêuticos enquanto procurava qualquer coisa para gripe nas prateleiras.

— Incêndio? ... Estou perguntando se, por acaso, a mansão foi incendiada na minha ausência. — Ela estava aflita tanto com a possibilidade real desse acidente acontecer quanto com a escassez de suas amadas balas de gengibre — Eles destruíram alguma coisa? — Ela pegou algumas cartelas de comprimidos para resfriados — Foram até o Ateliê? — Respirou aliviada com a resposta e só então perguntou: — Brigaram? É, estou perguntando se brigaram um com o outro!

Antes que ela pudesse ouvir a resposta, precisou deixar o celular no “mudo” para conseguir ter uma de suas crises de tosse em paz. Que lugar melhor para poder tossir do que em uma farmácia, enquanto espera o remédio de alergia e pega vários para gripe? Ninguém iria perguntar o motivo daquelas tosses ou falar para ela ir ao médico, porque todos pensariam que ela já passou por essa etapa.

Estava livre de julgamentos ali!

Depois de se recompor, ela finalmente voltou a prestar atenção no que a babá desengonçada tentava explicar, até que preferiu ser mais objetiva:

— Coloque no viva-voz, quero falar com eles. — pediu e esperou pacientemente, até que usou de seu melhor tom autoritário: — Explicações! — Levou apenas alguns segundos até que começassem a se entregar. Sempre funcionava. — Silêncio! — ordenou, já sem paciência para descobrir qualquer outro erro cometido por eles — Eu fui muito clara: sem esforçar o tornozelo, sem comer doces e sem deixar eles sozinhos! Qual parte disso é tão difícil entender!?

Enquanto continuava aquela conversa, Nathalie pegou o antialérgico que havia pedido no balcão, o colocou na cestinha junto com as outras drágeas e caminhou em direção ao caixa enquanto continuava com a bronca:

—  Logo eu vou chegar e colocar vocês de castigo pessoalmente! Sem “mas”, Félix! Eu já avisei que vou tomar medidas mais drás...! — Antes que ela pudesse completar a sentença, o motivo de suas noites mal dormidas praticamente brotou do chão ao lado dela, a fazendo derrubar a cestinha com os remédios no chão e quase derrubar o celular também:

— EU SABIA! — Gabriel apontou para ela — Eu sabia que você iria aproveitar para falar com esse seu amante!

— Senhor Agreste!

— Não precisa falar mais nada, Nathalie, eu sei de tudo!

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Apesar das circunstâncias, o ar de duelo do Velho Oeste continuou. Adrien e Félix se encaravam como se a qualquer momento fossem sacar pistolas e atirar um no outro – ou, neste caso, sacar as espadas de esgrima. Marinette observava os dois atônita, enquanto Alya ditava as regras:

— Vai ser uma melhor de três. Duas rodadas vocês dançam juntos e na última um escolhe a música para o outro, vale qualquer uma. Agora tirem par ou ímpar para ver quem escolhe a primeira música.

— Ímpar — Félix murmurou sem tirar o olhar ameaçador do irmão caçula.

— Par! — Adrien rosnou.

— Dó, lá, si e já! — A Césaire completou a frase da brincadeira e observou atentamente os números colocados pelos garotos. Félix colocou um quatro e Adrien um dois, ou seja: — Adrien ganhou, ele decide a música primeiro.

— Mas, mas... — o mais velho tentou murmurar algo racionalmente aceitável para uma revisão daquilo. Por fim, usou a mesma justificativa de sempre: — Deixa pra lá, eu sou azarado mesmo.

— Conta outra, cara! — Nino virou o boné para trás — Meu irmãozinho aqui conseguiria ganhar de você nisso até sem uma mão! Também consegue ganhar qualquer dança até de olhos fechados. Sabe por quê? Porque robôs não sabem dançar!

— Alien! — A namorada fez questão de o corrigir. Depois, comentou: — Naquela música, Limbo, o Félix até que dançou direitinho...

— É claro que eu danço direito! O que vocês esperavam de um...! — Antes que o Sancoeur pudesse terminar sua reclamação, uma música animada começou. Ele encarou a tela da televisão com desgosto e avisou: — Eu proíbo a minha imagem ser vinculada à este vexame.

— Qual foi? Samba de Janeiro é legal! — O Lahiffe apoiou a escolha do melhor amigo, já se posicionando ao lado dele.

— É, parece aquelas músicas do filme Rio! — O Agreste sorria de uma forma no mínimo suspeita. Provavelmente ele já tinha visto aquela coreografia o suficiente para ter decorado.

Vendo que não teria outra escolha, Félix revirou os olhos e se posicionou ao lado do “irmãozinho”. Até mesmo a pose inicial daquela dança era completamente ridícula: Nino era a personagem de vermelho; Adrien a que tinha um biquini de abacaxis e Félix a que usava folhas de palmeira.

— Me deseje sorte, prin... Marinette! — Adrien se corrigiu rapidamente, não o suficiente para que um certo loiro notasse aquele deslize. A garota para quem o pedido foi feito estava ocupada demais fazendo uma coreografia estranha com o celular para desejar qualquer coisa que fosse.

Quando a partida começou, não se podia saber o que era mais cômico: Nino tentando sensualizar na dança para agradar a namorada; Adrien tentando se requebrar e falhando miseravelmente; Félix mantendo a cara emburrada enquanto aproveitava a coreografia para tentar acertar um chute no irmão; Alya quase sem ar de tanto rir dos garotos; ou Marinette, que apesar de parecer inocente naquilo tudo, estava filmando a partida.

Ela só queria ter uma prova de que estava tudo bem com os rapazes. O que não a impediria de rever aquele vídeo de Adrien dançando posteriormente, repetidas e repetidas vezes.

Quando a música terminou, os competidores foram igualmente péssimos na pontuação – salve Nino, que se saiu bem, mas não fazia parte daquele duelo.

— Isso foi humilhação! — Félix rosnou com a cara completamente vermelha.

— Foi divertido! — Adrien ria enquanto recuperava o fôlego — Agora é sua vez de escolher a música. Qualquer uma!

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Gorila tinha ido atrás do Agreste poucos segundos depois de ele sair do carro, foi só o tempo de guardar o caderninho de notas. Já tinha ficado horas preso no aeroporto, agora não queria ficar preso em uma farmácia também – farmácias tem celas de interrogatório?

Assim que chegou na porta, viu alguns atendentes se espremendo no balcão para assistirem de camarote uma aparente briga de marido e mulher:

— Não precisa falar mais nada, Nathalie, eu sei de tudo! — Gabriel virou o rosto como se tivesse sido apunhalado pelas costas — Você e esse tal Félix estão namorando!

— De onde...!?

— Não se faça de desentendida! Eu já suspeitava que você andava metida com alguém, mas não queria aceitar que você pudesse me trair dessa maneira!

Drama.

Um talento inegável.

— Trair você!? — Nathalie parecia tão ofendida quanto ele, com a diferença de que realmente não entendia o que estava acontecendo. — De onde tirou isso!?

— Como vai contar para o nosso filho que você está nos abandonando por causa de um qualquer insignificante!?

— Ah! — Nathalie endireitou a mecha de cabelo e colocou as mãos na cintura — Então agora ele é nosso filho!?

— Sim! E você está traindo-o também!

— Se tem alguém traída nessa história sou eu: vocês me abandonaram no meio de uma avenida!

Até mesmo o segurança que ficava na porta tinha parado para prestar atenção naquele desentendimento. Todos pareciam curiosos para saber o desfecho daquela traição dupla.

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Félix amava música clássica.

Sua preferida era Nocturne, de Chopin. O remetia a lembranças de quando era pequeno e ouvia seu tio tocá-la ao piano enquanto sua mãe lia seu livro preferido até ele pegar no sono: As aventuras de LadyBug e ChatNoir, os heróis de Paris.

Infelizmente, no Just Dance não tinha nem ela e nem nenhuma das músicas que estava tão habituado com as coreografias.

Restava então escolher uma música qualquer, para que assim pudesse ao menos fingir que conhecia algum daqueles vários e vários nomes ingleses de canções que ele simplesmente ignorava a existência.

— Essa aqui.

— Essa? É tão... sei lá, antiga.

— Eu posso escolher qualquer uma e eu escolho essa droga dessa música! — Teimou.

Não foi preciso mais nada. Adrien e ele se posicionaram um ao lado do outro e então a música começou a tocar: Gangnam Style, de Psy.

Dentre os vários arrependimentos que o Sancoeur poderia ter, o principal deles era ter escolhido uma música com passos de dança ainda mais ridículos do que a anterior. Outro era ter ficado com a personagem feminina de uma policial e Adrien com a do cantor – que tinha partes de dança bem menos idiotas.

Céus, como pode um jovem rapaz sofrer tanto vexame na vida!?

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Os funcionários da farmácia e os clientes – que, por sorte, eram poucos – agora murmuravam teorias sobre aquele casal, no mínimo, incomum:

— E eu estou avisando: se continuar se metendo na minha vida particular, Senhor Agreste, eu te processo e me demito! Ainda por cima tomo a guarda do Adrien! — Nathalie o ameaçou.

— ... No seu contrato está especificado que você não pode se casar.

— Também está especificado o meu dia de folga, além de férias remuneradas duas vezes ao ano! — Ela rosnou, pouco antes de ter mais uma de suas crises de tosse.

— Férias remuneradas duas vezes ao ano — O superior repetiu com deboche, mas baixo o suficiente para não irritar a assistente ainda mais. Quando notou que estava sendo observado, tirou o pigarro da garganta e exigiu: — Vamos para casa.

Ela não conseguia falar, mas indicou os remédios caídos pelo chão. Era o suficiente para ele entender o que precisava fazer:

— Você! — Ele encarou o motorista — Junte tudo isso. — Se Gorila tivesse sobrancelhas, uma delas estaria arqueada. Até o momento tinha ficado na porta, fingindo não conhecer os dois. — Anda logo! Não vê que estou com as mãos ocupadas!? — Mostrou o gato à tiracolo.

O guarda-costas, emburrado, foi até os dois. Estava pronto para se abaixar e juntar aquelas cartelas de comprimido e aproveitar para tentar achar seu orgulho jogado no chão também. O quão fundo precisava chegar para largar aquele emprego e voltar para a casa da mãe?

Como se já não bastasse tudo o que sofreu naquele dia, ao se abaixar novamente, a calça rasgou. Um rasgo exatamente no mesmo lugar que a anterior, prova que aquelas calças eram uma porcaria!

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— Não vou continuar com isso. — Félix avisou enquanto se jogava no sofá — Meu tornozelo está doendo quase tanto quanto o meu bom gosto e o meu orgulho!

— Mas irmãozão... — Adrien murmurou desolado. Félix encarava um ponto qualquer enquanto o ignorava — Eu deixo você escolher a música pra mim então, depois eu escolho a sua!

— Não. Não quero. Não tem músicas boas nessa coisa.

— Mas irmãozão...!

— Sem “mas”! E essa cara de gato abandonado não funciona em mim!

— Félix... — Marinette interveio. O tal truque funcionava perfeitamente nela, ao menos se tratando de Adrien — Escolhe uma música pra ele, a Alya pode te ajudar. Ela conhece todas as músicas e...

— Eu também conheço todas as músicas! — Nino se intrometeu.

— Mas eu sou imparcial — A morena riu — Na verdade... eu acho que vou ficar do lado do Félix dessa vez, vou ajudar a escolher uma música bem difícil!

— Nada de ficar do lado desse aí não! — Nino já abraçava a namorada como se realmente pudesse impedir ela de fazer algo — Ele já está querendo roubar a mina do meu irmãozinho, não quero ele tentando roubar você também!

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— É claro que a calça iria rasgar! Isso não é uma slim fit, é um corte reto em poliéster! Que tipo de pessoa não consegue escolher direito as próprias calças!? — Disse o homem vestido de vermelho e branco com cabelos tingidos de roxo.

— Uma garrafa de água também, por favor — a assistente pediu enquanto entregava o dinheiro pelos remédios. Preferiu ignorar a discussão unilateral ao seu lado enquanto pagava pelas compras.

— Nathalie... — Já cansado de discutir com o motorista, que provavelmente não entendia uma palavra do que ele dizia, Gabriel se meteu ao lado da assistente no balcão e encarou as várias embalagens coloridas que estavam no mostruário — Eu quero as de uva.

A Sancoeur respirou fundo, encarou os produtos, encarou o chefe – que já tinha os olhos vermelhos por conta da alergia –, ponderou e respondeu:

— Não.

— Pode comprar as de morango para você.

— Não!

— Não estou pedindo a sua permissão!

— Mas eu estou te proibindo de comprar isso!

— Nathalie, eu tive um dia muito estressante... eu quero balas de uva! Um dia fora da dieta não faz mal!

Ao invés de teimar e tentar colocar um pouco de bom senso na cabeça do chefe, ela simplesmente largou o cartão em cima do balcão e saiu. Iria ter mais uma das suas crises de tosse longe do Agreste, aproveitando para retomar a paz interior – ou parte dela, o suficiente para não matar o estilista estrangulado com a própria gravata.

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Marinette Dupain-Cheng faltava pouco babar enquanto gravava Adrien rebolando ao som de Where Have You Been, versão extrema, de Rihanna. Porém, pouco depois do início da dança, ela recebeu uma mensagem de Nathalie avisando que estavam indo – iria esperar até o final para avisar, prioridades!

Félix tentava não rir do quão desengonçado o “irmãozinho” parecia com todos aqueles abaixa-e-levanta da música, principalmente nas partes em que o mínimo de gingado era necessário, já que Adrien era completamente inflexível.

Ao lado dele, no sofá, estavam Nino e Alya. O rapaz continuava abraçando a namorada como se a qualquer momento ela fosse trocá-lo pelo robô Jr. e fugir com ele para Detroit viver um romance como o de Kara e Luther no jogo de videogame. Já a morena simplesmente aproveitava a companhia do namorado, achando adorável aquele medo idiota dele.

No final da dança, o Agreste já estava zonzo, suado e tentando recompor o fôlego. Mesmo assim se saiu muito bem:

— Três estrelas! — Comemorou.

— Isso aí, irmãozinho! — Nino também comemorou, finalmente largando Alya e indo dar um “aperto de mãos da vitória” em Adrien — Mandou bem!

— E você, Félix? Vai mesmo desistir do jogo? — a aspirante a jornalista encarou o alienígena.

— Eu não desisti, simplesmente não quero mais continuar me humilhando — E virou o rosto depois de responder.

— Okay... — Ela ergueu os ombros, se levantou e comunicou aos outros: — Adrien ganhou a competição de dança! — Foi até a amiga de maria-chiquinha — Ele agora é o par oficial da Marinette — Ergueu o braço da garota, quase a fazendo derrubar o celular.

— Era por isso que eu estava competindo? — Adrien encarou sua babá um pouco desentendido, mas ainda assim sorrindo.

— ... — A garota desfez o sorriso e caiu num posso de desilusão de novo. Abaixou a cabeça e, com muito custo, confirmou: — ... É — Se ela pudesse cavar um buraco no chão e enterrar a cabeça, com certeza faria isso.

— Ah! Me desculpe Marinette! — Notando a grosseria que fez, o Agreste tentou se retratar: — Eu realmente não me lembrava direito, acho que deixei a competitividade falar mais alto, eu sinto muito... não é certo competir por algo assim, é você quem deve escolher seu próprio par.

— Então ela fica sendo minha. — Félix sorriu de canto, tinha se aproximado sem ninguém notar e agora já estava segurando uma das mãos da babá — Você aceita, Marinette?

— E-Eu... Eu...

— Não, ela é o meu par! — Adrien tomou a outra mão dela.

— Você acabou de dizer que ela quem deveria escolher, idiota!

— Mas eu ganhei e ela ia me escolher!

— Não ganhou nada! Até pulando num pé só eu consigo mais pontos que você!

— Não consegue!

— Consigo sim!

— Então a competição continua? — Alya endireitou os óculos, sorria de orelha a orelha. Tinha reunido pequenas pistas, mas queria uma prova concreta antes de adicionar mais uma particularidade à Félix.

— Sim! — O loiro mais alto grunhiu e soltou a babá — Escolhe logo a música antes que eu me arrependa disso.

— Tá legal! — Adrien sorriu como se a pequena discussão não tivesse sido nada. Antes que pudesse sequer pensar em uma música, Nino já tinha o puxado para um canto do quarto e agora parecia mais um treinador orientando um jogador de futebol antes dos últimos cinco minutos.

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Todos já estavam no carro mais uma vez. Nathalie emburrada mexendo no celular, Gorila calado como sempre enquanto dirigia e Gabriel Agreste, o estilista, no banco de trás tentando se retratar:

— Como eu ia saber que não eram balas!? Tem frutas na embalagem! Quem pensaria em algo tão, tão... pecaminoso! Com sabor de frutas!

— Assédio sexual com testemunhas: chega a ser humilhação pública — Nathalie murmurou enquanto fingia ignorar o chefe.

— Por favor Nathalie, eu jamais pensaria em algo assim com você! Você nem é uma mulher para mim, é só a mãe provisória do meu filho e olhe lá!

— ... Acho que isso se enquadra em violência psicológica.

— E deveria continuar sendo só uma assistente, desde que você arrumou esse tal de Félix que não é mais a mesma! Precisa se livrar dele!

— VOU ME LIVRAR DE VOCÊ! — Ela arremessou a garrafa de água no superior — Processar, exigir um mês de SPA como bônus e depois sumir do país com o meu filho!

Nosso. Nosso filho. — Como resposta, ela só grunhiu alguma palavra em outra língua e arremessou a cartela de antialérgicos — Eu não vou tomar isso com essa água mineral qualquer! Eu só bebo a 420 ou qualquer outra que tenha ganho prêmios de design pela garrafa.

Nathalie desafivelou o cinto de segurança.

Gorila pensou em parar o carro, mas seria melhor continuar na pista caso precisasse fugir do país pela fronteira com o corpo de um estilista famoso no porta-malas.

— Nathalie, o que vai fazer!? — Ele observou a assistente que mais parecia um animal feroz se aproximar, saindo do banco da frente e indo para o de trás — Nathalie, está desrespeitando o meu espaço pessoal! — Ela continuou, já estava perigosamente perto dele — Nathalie, afaste as mãos! Sem colocar as mãos! Não! Para!

O motorista aproveitou um sinal vermelho para poder espiar o que estava acontecendo, se arrependendo logo depois: tinha virado uma testemunha ocular do assassinato.

Nathalie parecia uma lutadora de vale tudo usando uma finalização de chave-de-braço no chefe. Ele se debatia e tentava se livrar dela, o que não resolvia em nada, pelo contrário: parecia mais que ele mesmo é quem estava se sufocando.

Vendo que sua presa já estava debilitada, ela pegou a garrafa de água e os comprimidos antialérgicos. Gabriel não teve defesa: ou bebia o líquido de qualidade questionável para seus padrões estéticos ou morria afogado.

O sinal ficou verde novamente.

Gorila agiu como se nada tivesse acontecido.

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Félix analisou a tela do jogo, sua plateia, a tela do jogo novamente e uma cadeira posicionada ao lado dele. Ele apertou as têmporas, suspirou e finalmente perguntou:

— Essa cadeira é para eu não esforçar o tornozelo?

— É! — Adrien e Nino disseram animados, ao mesmo tempo.

— Eu vou dançar sentado em uma cadeira? — Ele os encarou incrédulo.

— Não, não... você vai dançar Rich Girl com a cadeira! — Nino quem respondeu. Era a música mais difícil que conhecia, eram movimentos demais e uma cadeira no meio só atrapalhava tudo.

— Eu vou dançar com uma cadeira de rodinhas? — Félix colocou a mão no queixo, pensativo se aquilo era alguma tentativa de assassinato.

— Não é uma cadeira de rodinhas, irmãozão, é uma cadeira gamer — Adrien o corrigiu.

— Que seja...! — Ressentido com sua morte trágica, Félix tirou os sapatos e se preparou para mais uma humilhação. Antes, claro, aproveitou para irritar Adrien: — Me deseje sorte também, princesa! — Sorriu para ela.

Félix sorriu.

Ele simplesmente sorriu, de boa vontade.

— Perdi minha mina... — Nino choramingou.

— Cala a boca, ele só está tentando se manifestar socialmente como humanos!

— Eu acho que ele sorriu para a Marinette — Adrien tentou parecer feliz por Félix finalmente demonstrar sentimentos, mas na verdade estava se corroendo de ciúmes. Tanto da amiga quanto do irmão.

Dessa vez, apesar de muito vermelha, a garota em questão conseguiu falar algo:

— So-ort-te!

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Céus, como pode um motorista, guarda-costas, escritor conspiracionista e recém mafioso sofrer tanto na vida!?

Como se já não bastasse as calças rasgadas, as horas que passou detido no aeroporto, os olhares que recebeu na farmácia, ter se tornado testemunha ocular de uma tentativa de assassinado por afogamento... agora mais isso:

Plagg, a besta feroz, tinha abandonado o Agreste e ido para o banco da frente. Estava sentado olhando a vista e faltava pouco colocar o cinto de segurança e pedir para levá-lo em algum endereço específico.

Gatos não se comportam assim! Aquilo deveria ser algum tipo de animal treinado pela CIA com escutas para reunir provas contra Nathalie! E contra ele!

Gorila, que não aguentava mais trabalhar sob pressão, chegou ao seu limite quando os dois passageiros do banco de trás, a mafiosa do café e o estilista sem noção começaram respectivamente com suas crises de tosse e espirro. Aquilo já era demais até mesmo para seus adicionais de insalubridade! O que aquele vírus contagioso – que agora tinha certeza da existência – faria com ele? Teria crise de soluços!?

Em uma atitude drástica e ao melhor estilo 007, o grandalhão aproveitou já estar na quadra da mansão Agreste para colocar o carro seguindo o acostamento da rua e diminuiu a velocidade, pois não queria causar acidentes. Depois, diminuiu um pouco mais a velocidade porque já tinha passado da idade de fazer esse tipo de coisa. Por último, diminuiu ainda mais a velocidade - agora a desculpa era estar com os fundilhos rasgados.

Só então, com o carro quase parado, ele abriu a porta e se jogou na calçada - na verdade, ele se ajoelhou e depois se deitou na calçada - e rolou quase que em câmera lenta. Estava fora de forma para fazer esse tipo de idiotice.

Plagg, que assistiu a cena eletrizante de camarote, praticamente repetiu as ações dele: pulou do banco para a calçada, depois caminhou até o grandalhão e pulou nas costas dele. Era um espaço grande, macio... perfeito para o movimento de “amassar pãozinho”!

Aquilo já estava além da gota d’água para que Gorila chutasse o balde:

— EU NÃO AGUENTO MAAAAAAIS! — Ele esperneou, socando o chão como se fosse uma adolescente proibida de ir ao baile de formatura.

— Problema seu! — Nathalie retrucou de péssimo humor. Tinha saído do carro normalmente, abandonando o veículo ainda em movimento – muito pouco movimento – e o chefe para trás — Engole o choro, estacione o carro direito e leve as malas e o imbecil para dentro! Já!

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Passou algum tempo até que tanto a cadeira gamer quanto Félix fossem reconhecidos pelos sensores de movimento do videogame. Quando finalmente aconteceu, a música começou e ele já se arrependia amargamente de onde tinha se metido – e, por mais que estivesse arrependido, não iria desistir e deixar Adrien ganhar!

Falando no Agreste mais jovem, ele sentiu um calafrio na espinha quando pensou ter ouvido os portões da mansão serem abertos. Bastou ir até os monitores e acessar as câmeras para ver que seu temor era real:

— Meus pais chegaram! — gritou em pânico.

— A Nathalie estava voltando e eu esqueci de avisar! — foi a vez de Marinette gritar em pânico.

— E agora!? — Nino se deixou desesperar também.

— Agora é só esconder o Félix e pronto. Não é isso? Hein, gente? — Alya observava os outros três com suas próprias suspeitas se tinham ou não motivo para desespero.

— Na verdade você e o Nino também precisam se esconder, os doces precisam sumir, o videogame e qualquer coisa que possa deixar o meu pai irritado! — Adrien já estava com os olhos marejados pelo nervosismo.

— Tudo bem, tudo bem... — A aspirante a jornalista tentou ser racional, apesar do momento de tensão: — É só ficarmos no banheiro. O Félix deve caber no armário.

— No armário não! — Adrien gritou em pânico — Q-Quer dizer... lá... lá tem coisas de modelo e... e não pode! Lá não!

— Embaixo da cama então?

— Rápido, o robô Agreste e a Alienígena estão entrando! — Nino avisou, já tinha tirado o boné da cabeça e se abraçava a ele temendo pela própria vida.

Alya, calmamente, pegou o namorado pela mão e entrou com ele no banheiro. Era grande o suficiente para todos se esconderem lá, mas era perigoso fazer isso e calhar do Agreste ir olhar o cômodo.

Enquanto isso, Adrien tentou convencer o Sancoeur a se esconder também:

— Não.

— Mas Félix...

— Não vou perder por desistência! — o mais alto rosnou enquanto rebolava apoiado na cadeira — Não estou passando por isso atoa!

— Tá, então fica no meu lugar! — pediu o mais novo enquanto já se afastava.

Ele puxou Marinette pela mão e se enfiou embaixo da cama com ela. Só depois de alguns segundos, quando já tinha se acostumado minimamente em ficar num local apertado, escuro e tão próxima de Adrien que Marinette se lembrou de um ponto importante:

— E-Eu não posso me esconder, eu sou a babá! — Surtou.

Adrien tampou a boca dela e, no mesmo instante, a porta do quarto foi aberta e entraram os “pais” das crianças. Os dois ficaram observando Félix terminar a dança e só então o Agreste manifestou-se:

— É para isso que queria uma cadeira gamer, filho?


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Notas finais do capítulo

Demorei para postar porque fiquei meses sem meu computador, além de perder tudo o que eu tinha nele (duas vezes...). Tudo mesmo, incluindo backups e coisas assim. Nem preciso contar o quanto fiquei desanimada, né? Além disso, muitos problemas pessoais e a falta de tempo em que me encontro atualmente fizeram com que eu demorasse um considerável tempo até retomar a escrita. Mas pretendo postar regularmente agora!

Me acompanhem pelo Instagram (@laviniacrist13) e Facebook (laviniacrist13). Vou avisar lá quando postar! Também estou com alguns projetos mais artísticos. Resolvi que vou entrar de vez no mundo das ilustrações e coisas assim. Não criem expectativa.



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