Mãe Solteira escrita por LaviniaCrist, mary788


Capítulo 12
Pai de primeira viagem - II


Notas iniciais do capítulo

Demorou, mas cá está:



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Em frente ao enorme portão da mansão Agreste, um grupo de jovens se entreolhava com certa apreensão. Nenhum deles queria tocar a campainha.

— Você deveria tocar a campainha logo, Marinette... — Nino comentou.

— Eu? Por que eu!? — Ela já estava completamente vermelha só por pensar que seria babá de Adrien por um dia.

— Porque você vai tomar conta dele hoje!

— E você é o melhor amigo dele!

Vendo que aquela discussão não daria em nada, foi Alya quem tocou a campainha. Diferente das outras vezes em que fez isso, não havia a voz da assistente Sancoeur ou o guarda-costas mal-encarado de Adrien para atender.

— Tem certeza que era aqui? — A morena cruzou os braços.

— Reconheceria aquela voz desanimada em qualquer lugar... — Marinete ergueu os ombros — E ela até me mandou instruções bem precisas do que fazer e avisou várias vezes que precisamos manter discrição sobre o Félix.

— Isso ela não precisava nem avisar, quem seria louco de contrariar a robô líder do movimento das máquinas assassinas? — disso Nino.

— Ei! — Alya deu um leve soco no ombro dele — A Nathalie é uma alienígena de raça superior tentando achar formas de vida para atingir a supremacia interestelar...

— Robô do mal. — Nino devolveu o soco com um empurrão fraco, e assim os dois continuaram com a brincadeira e discussão “robô x alienígena”.

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Gorila estava quase implorando para que alguém chamasse a polícia ou a máfia Russa. Ele, vestido à caráter para fugir do país com os possíveis pacotes de café alucinógeno que o chefe estava levando nas malas, não precisava passar por tal vexame em uma pista tão movimentada como aquela – diga-se de passagem, ainda com leve congestionamento.

Enquanto o grandalhão colocava toda a bagagem do Agreste no acostamento para encontrar o motivo dos miados, um pequeno desastre aconteceu: a calça do uniforme, tecido não muito elástico em corte Slim, resolveu despregar a costura e deixar bem evidente para todos os “expectadores” a samba-canção com estampas de carrinhos.

— Não temos o dia inteiro! — Gabriel grunhiu entrando no carro mais uma vez.

O grandalhão resmungou meia dúzia de palavras feias enquanto continuava o processo de desocupação do veículo da melhor maneira que conseguia, com uma das mãos tentando tampar o rasgo. Sabia que aquele gato maldito só apareceria quando bem entendesse, mas precisava obedecer ao chefe.

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Adrien finalmente abriu a porta de entrada da mansão.

Estava com a chave do portão na mão e iria abri-lo, coisa que não se lembrava de já ter feito antes. Imaginou todas as coisas divertidas que poderia fazer se fugisse de casa sem ninguém para ir procurar por ele – talvez até conseguisse levar o irmão junto, afinal, todos gostam de aventuras!

Porém, bastou que ele olhasse para os “visitantes” para deixar a ideia de lado:

— Cara! — o loiro gritou, correndo o mais rápido que conseguia de encontro ao amigo.

— Cara! — Nino ergueu os braços, esquecendo-se completamente da competição com Alya.

— Caaaaara! — Adrien disse uma vez mais, ansioso ao ponto de se atrapalhar com a fechadura do portão.

— Cara... — Nino segurou nas grades — Irmãozinho!

Ao lado dos dois, Alya não conseguia entender absolutamente nada daquele dialeto de poucas palavras que os dois tinham. Marinette também não entendia, mas estava ocupada demais admirando o rapaz loiro para se dar conta de alguma coisa.

Quando o portão finalmente foi aberto, iniciou-se mais uma parte daquela cultura tão peculiar dos dois: os apertos de mão. Socos, tapinhas, sinais, passos de dança, mais um soco e por fim um abraço apertado enquanto ambos repetiam um último “cara”.

— Já acabaram? — a morena perguntou sem muita paciência — Se continuarem com todo esse drama, não vamos aproveitar quase nada do dia...

— Trouxemos doces, refrigerantes e JustDance! — Nino sorriu, animado.

— Legal! — comemorou o loiro.

— Maravilhoso... — a de maria-chiquinha comentou.

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Gabriel Agreste estava frustrado com o atraso para chegar ao aeroporto.

Só não estava tendo um de seus surtos de mau humor porque quando comprou as passagens foi orientado a chegar algumas horas antes do embarque. Mesmo que faltasse agora apenas quinze minutos para ele chegar no horário que queria, conseguiria pegar o voo.

O que estava o incomodando, na verdade, foi ouvir alguns miados e agora um leve ronronar felino. Conhecia aquele som adorável onde quer que fosse, mas já estava quase aceitando ser uma alucinação causada por sua doença mortal...

Talvez aquele roçar felpudo e morno também fosse uma alucinação, uma doce alucinação. Sendo ou não, não seria ele quem constataria algo assim. Já estava frustrado o suficiente com o atraso:

— Abra a porta e veja o que tem aqui nos meus pés! — ele ordenou ao motorista que, sem muita escolha, obedeceu — O que é? — O Agreste encarou-o. O guarda-costas suspirou e colocou as mãos na cintura, indignado, e finalmente respondeu:

— Er... katze? — resmungou, sem saber se era realmente uma boa ideia o chefe descobrir que ele podia falar.

— “Ca” o que?

— Cat? — dessa vez o grandalhão falou ainda mais entre os dentes.

Sem paciência para aquela brincadeira estupida, Gabriel Agreste finalmente teve coragem de descobrir se era realmente um fruto de sua imaginação enferma ou se era um adorável...

— Gato! — Ele exclamou sorridente. Pagou o animal no colo e começou a falar como se fosse um completo retardado, processo natural que os amantes de felinos costuma sofrer ao se aproximar deles — É um gatinho lindo que deve ter se perdido, não é mesmo? Não é? Quem é o gatinho mais fofinho do mundo?

Plagg, adorando ser paparicado, se espreguiçou no colo e fez questão de parecer a criaturinha mais adorável do mundo. Gorila, por outro lado, bateu a porta do carro. Ele não estava pronto para ver aquela besta assassina com garras sendo dócil e muito menos ver Gabriel Agreste mostrando seu lado humano, precisava de um tempo para lidar com aquilo.

Precisaria de algum tempo até colocar as malas de novo no carro.

Precisaria, aliás, de calças sem rasgos comprometedores.

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O quarto do Agreste mais novo teve os móveis reorganizados para ter mais espaço de frente à TV. Alya esparramava todas as guloseimas que havia levado por cima da mesinha de centro enquanto os rapazes preparavam o videogame. Dos quatro, apenas Marinette não parecia tão animada com tudo:

— Er... A-Adrien — ela o chamou.

— Sim? — o rapaz parou o que estava fazendo e olhou para ela — Ah, desculpe, eu acabei esquecendo que hoje você é a minha babá... — ele coçou a nuca um tanto constrangido — Eu ainda posso jogar vídeo game, né?

— C-Claro! Claro que você pode! Você pode fazer o que quiser... quase tudo! Não pode fazer coisas perigosas como colocar o dedo na tomada, porque você não faria algo assim, né? Mas quem faria algo assim!? — ela deu algumas risadas sem jeito, já nem sabendo ao certo o que iria falar.

— Melhor prevenir: minhas irmãs já causaram um apagão no prédio, acreditam!? — Alya deu algumas risadas, tentando aliviar um pouco o nervosismo da amiga.

— Falando em prevenir, não é melhor ligar para a Lila e ver se ela está bem? Tipo, ela está tomando conta das suas irmãs e do meu irmão ao mesmo tempo... — Nino endireitou o boné.

— Da Manon também, eu não pude ficar com ela hoje para poder vir aqui... — Marinette suspirou, já imaginando que a colega de classe mentirosa iria conquistar mais uma das crianças que tomava conta. Mas logo ela sorriu, se lembrando do motivo de estar lá: Adrien...

— Quatro crianças ao mesmo tempo? — O Agreste pareceu um tanto maravilhado — Eu não consigo nem tomar conta do meu gato sozinho. Se ele tiver ido para a rua, Félix vai ficar mais irritado ainda comigo... — ele fez um beicinho, se lembrando do irmão.

— Falando no Félix, onde ele está? — Marinette finalmente fez a pergunta que queria ter feito desde o começo.

— Trancado no quarto dele — a resposta veio com um pouco de frustração pela falha em tirá-lo de lá — Está triste...

— Mas por quê? — a “babá” perguntou.

— Então vamos chamar ele! — os outros dois amigos falaram ao mesmo tempo, ignorando Marinette.

— Eu já tentei tirar ele do quarto, mas acho melhor obedecer a minha mãe e deixar ele em paz...

Todos ficaram em silêncio por alguns segundos, tentando compreender o que Adrien havia acabado de falar. Coube a Nino se pronunciar pelos outros:

— Irmãozinho, você disse “mãe”?

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As malas já estavam dentro do veículo e tudo estava pronto para que a primeira parte da viagem fosse retomada.

Com desgosto, Gorila já havia entrado no carro, colocado o cinto e começado a dirigir. Por vezes, ele observava o chefe pelo canto do olho: uma versão mais “estilizada” de Don Corleone, acariciando um felino e tramando como dominar o mundo.

O Agreste, por sua vez, continuava seu diálogo em uma língua estranha e infantilizada com o pequeno animal, fazendo várias perguntas como se realmente esperasse uma resposta. “Insanidade por consumo exagerado de café alucinógeno e tragadas em marcador à álcool, talvez”, o motorista pensou sobre aquilo, esperando a hora de chegar ao aeroporto e poder anotar.

Tudo continuou relativamente calmo e tranquilo, isso até chegarem próximos à entrada do bendito aeroporto:

— PARE O CARRO! — Gabriel exigiu, chegando a assustar o pequeno Plagg.

O grandalhão obedeceu na mesma hora, bruscamente, chegando a soltar alguns resmungos. A máfia estava atrás deles? A polícia? Invasão alienígena a vista!?

— NATHALIE! — o Agreste grunhiu.

Gorila suspirou de alivio, apenas para arregalar os olhos uma vez mais e entrar em pânico. Havia largado Nhatalie para trás, muito atrás!

— Faz algo de útil e tenta achar ela no meio das malas! Anda! — beirando o nervosismo com o qual Félix costumava agir quando estava em perigo, Gabriel pegou o celular – derrubando-o algumas vezes no processo – e começou a tentar ligar para a assistente.

O motorista, igualmente nervoso e levando a ordem a sério, começou mais uma vez a tirar a bagagem de dentro do carro. Afinal, havia uma pequenina chance de a colega de trabalho estar dormindo no porta-malas, sã e salva, ou provavelmente soterrada embaixo das tralhas.

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Irritação, tristeza, rancor... Félix estava sentindo tudo isso misturado.

Felizmente a babá havia chego e dado um jeito em Adrien, para que assim ele finalmente pudesse chorar em paz enquanto lia “As aventuras de LadyBug e ChatNoir” novamente. Ou pelo menos tentasse acabar de ler, já que mais uma vez estavam batendo à porta.

— Já mandei me deixar em paz, Adrien! — o loiro rosnou, mas novamente bateram na porta — Usa essa sua cabeça dura pra bater, funciona melhor! — Dessa vez, junto a mais batidas, havia uma risada abafada do lado de fora — Se você bater na porta mais uma vez, eu juro que...! — Novamente bateram na porta. Félix deixou o livro de lado, passou as mãos pelo rosto e abriu a porta pronto para se livrar de Adrien de uma vez por todas — O QUE PENSA QUE ESTÁ... e-est... está... er... minha mãe não deixa eu falar com estranhos! — ele disse a primeira bobagem que pensou sem saber ao certo o que deveria fazer.

— Oi Félix, me chamo Marinette! — a garota deu um de seus melhores sorrisos, se controlando para não dar mais algumas gargalhadas. Mesmo aparentando ser mais velho que ela, o rapaz estava se comportando exatamente igual a uma criança.

— O quarto do Adrien é subindo as escadas, pela direita. Adeus! — o loiro disse rápido, com o rosto vermelho de vergonha, enquanto batia a porta na cara dela.

— Eu já falei com ele, quis falar com você também... — Marinette começou — A senhorita Nathalie quem me pediu para vir tomar conta de vocês dois até ela voltar...

— Minha mãe não vai voltar nem tão cedo — Félix praticamente sussurrou, ela não ouviu do outro lado da porta.

— ....E até lá podemos ficar jogando videogame, comer doces, ver algum filme. Eu faço uma pipoca ótima!

— E eu sou ótimo em ler, e é o que eu vou continuar fazendo se você parar de falar bobagens e me deixar em paz.

— Eu adoraria deixar você em paz, Félix, mas a sua mãe me mandou uma lista bem precisa e um fluxograma do que fazer — a garota começou a se explicar com seu melhor tom de amabilidade — Mas eu acho que ao invés de deixar você sozinho mais um pouco, seria melhor você conversar comigo.

— Não quero conversar com ninguém!

— Tem certeza? Gostamos de algumas coisas em comum, como desenhos e livros de fantasia...

— Minha mãe realmente falou com você sobre mim? — o rapaz abriu a porta, apenas um pouco.

— Sim! — Marinette sorriu.

— Acho que é a primeira vez que ela faz isso, eu deveria ficar feliz ou preocupado?

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Gabriel finalmente estava dentro do aeroporto.

Já tinha aceitado a ideia de estar lá sem a assistente indicando onde deveriam ir, os documentos que precisavam e coisas tão banais quanto que o Agreste nunca realmente deu importância. Por outro lado, ele estava começando a se lembrar do motivo de odiar viajar: Pessoas por todos os lados, andando falando e esbarrando nele. Barulhos incompreensíveis, incluindo o “locutor” com voz fanha dos autofalantes. Filas intermináveis para todo tipo de coisa...

Este último item, porém, ele não deu muita importância: se meteu na frente da primeira pessoa em um dos balcões de atendimento, estendeu o cartão e visita e encarou a atendente por cima dos óculos.

— Em que posso ajudar, senhor? — A moça, incerta se deveria ou não ignorar o que ele fez, tentou ao menos ser simpática.

— Não quero ajuda, quero entrar no avião e ir para a Austrália agora mesmo!

— Bem... — Ela pegou o cartão, analisou por alguns segundos e devolveu — Preciso de um documento com foto, passaporte e os números da sua passagem para...

— Não sabe ler? Não sabe quem eu sou!?

— Gabriel Agreste, correto? — Ela havia lido no cartão — Preciso dos documentos mesmo assim, é procedimento padrão.

— Eu sou um estilista internacionalmente reconhecido, não sigo padrões! Eu lanço tendências! — ofendido, o Agreste pegou o cartão novamente, segurou o pequeno Plagg com mais força e saiu andando. Não mereciam ele ali.

— O senhor também vai precisar de uma gaiola para o gato, senhor! — A atendente avisou quando ele já estava longe.

Gabriel, movido pelo desprezo, apenas ignorou e saiu andando procurando por algum outro guichê que fosse mais útil.

Aliás, o pequeno gato realmente precisava de algumas compras para a viagem...

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No pequeno quarto de empregados, Marinette estava sentada na cama com o Sancoeur praticamente no colo dela.

Félix é como uma criança grande, ou pelo menos foi assim que Marinette lidou com ele. Bastou alguns minutos de conversa com a mesma abordagem infantil que ela costumava usar para que o loiro ficasse à vontade com ela, chegando ao ponto de deixar ela mexer no cabelo dele enquanto ele contava sobre os últimos acontecimentos:

— E por culpa dela eu acabei torcendo o meu tornozelo, fiquei suspenso das minhas aulas extras nas férias e minha mãe ainda me colocou de castigo! Eu não tive culpa nenhuma nisso, mas ela não me escuta! — Ele fungou, mas já havia parado de chorar há tempo — Ela só se importa com o Adrien, é por isso que eu quis ficar aqui com ela: eu preciso garantir que deixem a minha mãe em paz! Ela é minha!

— Ela é sua mãe, mas ela também pode se preocupar com o Adrien...

— Não pode não!

— Ciúmes, é?

— Não! — O rapaz pensou um pouco melhor sobre o assunto — Não tenho motivo nenhum para sentir ciúmes de alguém tão idiota, sem noção e infantil quanto o Adrien! Aposto que minha mãe só aceitou isso por pena!

— Isso parece ser ciúme... — Marinette soltou uma risadinha.

— Eu não tenho ciúmes! Eu só não gosto de dividir as minhas coisas e a minha mãe é MINHA! Estou cuidando dela, só quero que eles deixem a minha mãe em paz! Eles precisam de limites!

— Mas eu soube que tem um rapazinho que vive saindo dos limites porque é ciumento... — ela disse risonha, apertando de leve uma das bochechas de Félix.

— Não sou não, eu sou comportado... Sou, mas só um pouquinho. — Ele acabou sorrindo, mostrando um espaço pequeno entre os dedos.

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Gorila estava se perguntando o que havia feito de tão errado na vida para chegar até aquele ponto, onde havia sido levado para uma saleta de interrogatório em um aeroporto acusado sabe-se lá de que. Talvez, mas apenas talvez, ele sair correndo atrás de Gabriel com uma maleta prateada de cantoneiras pretas cobrindo o rasgo da calça soou como algo suspeito.

— As malas que estava levando no carrinho foram para o depósito, não precisa se preocupar com elas... — informou o guarda — Mas por que não deixou essa maleta junto com as outras?

— Gosto dela. — o Grandalhão respondeu se abraçando ainda mais à maleta.

— E tem algo de especial nela?

— Sim...

— E essa coisa é tão especial ao ponto de você recusar passar pelo detector de metais com ela?

— Talvez.

— Está brincando comigo!? — O guarda bateu as mãos sobre a mesa — Eu não tenho o dia inteiro para perder com você! Tem várias pessoas cometendo crimes nesse aeroporto e você me faz gastar mais de um minuto da minha vida aqui, com essa conversa monossilábica!?

— Sim?

— Coloque a maleta sobre a mesa, eu vou verificar ela. Se eu encontrar qualquer coisa suspeita, a menor que seja, você está perdido! — disse o guarda com um tom autoritário.

O grandalhão colocou a maleta destravada sobre a mesa. Ele observou calado o guarda retirar a muda de roupas do interior e começar a procurar por fundos falsos e coisas do tipo. Não havia nada lá, ou melhor, nada além de uma forma de encaixe do carro em miniatura da coleção “Luxo sobre Rodas”.

— Você tem uma arma?

— Não.

— E essa formas de encaixe? São de que?

— Um brinquedo...

— Então você tem um “brinquedo” que não está no lugar, é isso!? — O guarda já estava sem um pingo de paciência — E por acaso esse seu “brinquedo” estava com o cara que você estava indo atrás, o esquisitão de branco!?

— Não! Quase certeza de que não está... provavelmente não — ele apertou as têmporas — Que não esteja com ele!

— Central, temos um suspeito, alerta de risco! — disse o guarda no aparelho de comunicação que levava preso ao bolso. Logo depois, ele olhou para Gorila e ameaçou: — Não ouse tentar fugir, vai ser pior para você! — Depois simplesmente saiu.

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Adrien estava assistindo Alya e Nino dançarem, ou melhor, estava se entupindo ao máximo com as guloseimas enquanto os amigos dançavam. O casal não tinha notado, estavam mais interessados em conseguir a pontuação máxima.

No final da música, quando Alya pulou nas costas de Nino nos últimos passos de Timber, a porta do quarto foi aberta. Como imaginaram ser apenas Marinette voltando para se divertir come eles, todos resolveram ignorar...

— Adrien Agreste! — Félix grunhiu assim que avistou o “irmãozinho” — OLHA A BESTEIRA QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO! — Era possível tocar a névoa de irritação que circulava o mais velho. Adrien demorou alguns segundos até entender o que havia feito de errado, tempo necessário para o irmão começar a ir até ele pronto para um ataque.

O Agreste enfiou todos os doces que conseguiu na boca e tentou fugir pulando o sofá, mas foi agarrado pelos pés antes de conseguir.

— COSPE! — Félix exigiu, chegando a apertar as bochechas do mais novo. Ele só não contava que Adrien era experiente em armazenar biscoitos nas bochechas, talento que lhe serviu agora.

— Ei, ei, ei! O que está fazendo com ele!? — Nino tentou intervir, esquecendo-se completamente da dança e de Alya.

— É só coisa de irmão mais velho, relaxa... — disse a morena.

— Adrien Agreste, você sabe que não pode comer nada disso! Cospe! — o mais velho mandou novamente, estava pronto para medidas mais extremas.

— Nhaum! — Adrien tentou afastar a mão dele, mas vendo que não tinha chances de agir sozinho, resolveu apelar: — Manhiette!

Nino estava pronto para ir socorrer o amigo, chegou a soltar Alya – que caiu no chão. Marinette, a babá, observava os dois tentando entender o que estava acontecendo: momentos atrás Félix era uma “criança indefesa” e agora parecia mais um animal selvagem capturando uma criaturinha inocente.

Sentindo todos aqueles olhares acusadores sobre si, Félix largou o “irmão”, suspirou e disse:

— ... Quer saber? Se quer mesmo, pode comer. Mas come logo tudo o que você tem vontade de uma vez só!

Sem precisar de uma segunda ordem, Adrien engoliu os doces que tinha na boca e começou a pegar mais alguns. Ele não entendeu ao certo o motivo de tudo ter “terminado”, mas também não queria saber.

— Ei, o que pensa que...! — Antes que o Lahiffe conseguisse completar a ameaça, Marinette o interrompeu:

— Félix, por que fez isso!? — a garota de maria-chiquinha perguntou de forma repreensiva, chegando a colocar as mãos na cintura.

— Porque o Adrien tem uma dieta muito rigorosa e balanceada por causa das várias alergias que ele tem. Eu só queria evitar um colapso logo agora que não tem nenhum adulto em casa para levar até um hospital ele quando o inchaço e a falta de ar começar... — o loiro respondeu com sua melhor performance de “gato arrependido” — Só estava preocupado com todos esses corantes e coisas do tipo, mas se ele realmente quer comer tudo de uma vez...

Adrien parou de colocar os doces na boca.

Nino, Marinette e Alya se entreolharam com certa culpa, afinal, nunca haviam imaginado consequências tão sérias em levar alguns doces até lá.

— Não precisa se preocupar, Adrien. Se você morrer, prometo falar para a minha mãe que valeu à pena porque você foi feliz enquanto se entupiu de porcarias! — Félix disse entre cinismo e doçura enquanto mexia nos cabelos do “irmãozinho“ que, a essa altura, já estava com os olhos marejados.

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Gabriel Agreste andou pelo aeroporto se perguntando onde estaria seu motorista com as bagagens, ou melhor, pensou vagamente sobre isso enquanto procurava por uma PetShop. Quando finalmente encontrou a tal loja de artigos animais, se decepcionou: era pequena, sem muitas variedades e nada realmente a altura de seu pequeno gato.

— Olá! Em que posso ajudar? — o atendente e proprietário da loja disse da forma mais prestativa possível assim que avistou o cliente.

— Não quero ajuda, quero comprar algumas coisas para o meu gato — Gabriel respondeu sem nem ao menos olhar para o rapaz, estava ocupado achando praticamente tudo daquele lugar horrível.

— Então talvez eu possa ajudar a se decidir, do que o senhor gostaria?

— De silêncio enquanto escolho.

— Certo... — Muito sem graça, o rapaz desviou o olhar e imaginou o quão difícil aquele cliente seria — Bom, qualquer coisa que precisar senhor...?

— Agreste, Gabriel Agreste — ele respondeu erguendo uma das sobrancelhas, qual o problema das pessoas em reconhecer um estilista famoso?

— Qualquer coisa que precisar, senhor Agreste, só falar comigo! Vou ficar muito feliz em servi-lo e ao pequeno... Er, desculpe, qual é mesmo o nome do gatinho? — Novamente o rapaz foi um completo inconveniente enchendo Gabriel de perguntas, mas não fez por mal: normalmente entravam lá perguntando sobre o que queriam, apresentando os animais e falando coisas sobre como seria a viagem...

— Gatos não tem nomes, eles sabem quem são e por isso não precisam de um nome — de forma fria e indiferente, o Agreste respondeu sentindo as últimas migalhas de paciência que ainda tinha irem embora.

— Uau, que profundo! Isso é poema, senhor Agreste?

— Não, li isso no livro da Coraline! — o mais velho respondeu de forma ríspida, finalmente conseguindo afastar aquele atendente irritante de si.

Gabriel caminhou pelos pequenos corredores da PetShop deixando extremamente claro pelas feições o desdém com o qual via todos os artigos nas prateleiras. Plagg também estava desinteressado com tudo, isso até ver uma gaiola enorme redonda. O gatinho esticou a pata na direção dela, como se tentasse pegar algum dos enfeites pendurados e, automaticamente, Gabriel entendeu que o gato queria aquela jaula diferenciada para si.

— Vou querer uma coisa dessa — apontou, o objeto estava em cima do balcão.

— Lamento senhor Agreste... — o rapaz suspirou, realmente lamentando por provavelmente perder uma boa venda — Só tenho essa aqui e ela é da mascote da loja.

— Pago o dobro então!

— Lamento muito mesmo...

— Triplo! — o Agreste ofereceu como última chance, impaciente.

Quiçá foi o jeito de “ comprador agressivo” de Gabriel ou até mesmo para fazer charme, a mascote da loja resolveu se apresentar. Era uma cacatua idosa, com penas faltando, mas que adorava se mostrar para os clientes pulando do poleiro – onde ficava tão parada quanto peça de decoração – para o balcão, abrindo bem as asas e gritando as palavras ensaiadas:

— Seja bem-vindo! Oi!

O Agreste não teve palavras para se expressar, apenas ações desmedidas: ele soltou um grunhido de susto enquanto praticamente pulou para trás – batendo e derrubando uma das prateleiras com sachês de ração. Plagg, que a essa altura já tinha pulado do colo em direção ao balcão, atacou a pobre cacatua. O atendente, sem saber o que fazer, tentou proteger a mascote a segurando no alto – só servindo para que Plagg pulasse em cima dele e o atacasse também.

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Adrien estava chorando nos braços de Nino, já tinha aceitado a morte horrível que teria por reação alérgica a todos os doces que havia comido. O amigo estava se controlando para não chorar, queria dar “força” no momento difícil.

Alya, reconhecendo aquela como uma das várias pegadinhas que irmãos mais velhos costumam fazer, resolveu ignorar ao drama dos dois e continuar jogando. Marinette, apesar de saber que foi tudo uma brincadeira de mal gosto, queria entender o motivo de Félix ter feito algo tão malvado.

— Félix, por que fez isso? O Adrien está chorando e acha que vai morrer! — a babá o questionou quando já estavam do lado de fora do quarto do Agreste.

— Você está brigando comigo por eu me preocupar com o Adrien? — ele perguntou da maneira mais sínica possível.

— Félix, explicações! — ela exigiu tentando imitar o “passo a passo” que havia recebido de Nathalie.

— Tá... — o loiro revirou os olhos — O Adrien tem um desfile marcado e fica se entupindo de biscoitos de madrugada, mais do que o metabolismo dele consegue queimar... Se ele comer mais besteiras, vai engordar e as roupas não vão caber nele, daí o pai dele vai colocar a culpa na minha mãe, entendeu?

— ... Acho que sim... — Na verdade, Marinette não tinha realmente entendido tudo aquilo, mas preferiu pensar que foi tudo uma “boa ação do jeito errado”.

— Mas se você não acredita em mim, tudo bem — ele fez a carinha de gato abandonado — Já estou acostumado, a minha mãe nunca acredita mesmo...

— Ela só deve ficar um pouco confusa, claro que ela acredita em você — A babá sorriu tentando fazer ele se sentir melhor — Quer ir jogar JustDance?

— Não costumo ser muito bom nessas coisas... — Félix disse tentando parecer tímido.

— Ensinamos a você, vem! — a garota sorriu, puxando ele pela mão.

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Gorila estava em silencio e se controlando ao máximo para não ter uma crise de risos.

Não importava mais as dificuldades que havia passado até aquele momento da vida porque tudo valeu a pena para ver Gabriel Agreste sendo arrastado por dois guardas para dentro de uma saleta para ser investigado, junto com a maldita fera felina enjaulada. No corredor, sentado em uma das cadeiras de espera, o grandalhão conseguiu ouvir perfeitamente os gritos histéricos do chefe:

— COMO ASSIM QUEM EU SOU!? SOU GABRIEL AGRESTE!

— Abaixe o tom, senhor! — respondeu o guarda tentando controlar a voz.

— EU QUERO OS MEUS ADVOGADOS AGORA MESMO! MELHOR: QUERO MINHA ASSISTENTE! — retrucou o estilista.

 


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Notas finais do capítulo

Desisto de colocar uma meta para o próximo capítulo. Quando eu estiver bem para escrever fanfics, eu vou escrever e postar, ok? Desculpem a demora...



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